Demigods Avengers

{Arco Gênesis} Capítulo Dez – Conciliando-se com o passado... [Percy]


Acampamento Meio-Sangue, Long Island – Horário: tarde, às 14h30min P.M

Quíron pediu para que não fosse embora sem falar com ele e eu voltei para minha cabana, uma das poucas sobreviventes. Ela estava bastante diferente, provavelmente culpa do cretino. Primeiro, eu iria escrever a carta, depois iria arrumar o resto das minhas coisas. No momento em que estava com a folha de papel em mãos para começar, notei meu porta-retrato de prata sobre o criado-mudo. Eu me aproximei e o peguei para olhar.

Na foto, estávamos eu, Nico e Thalia abraçados completamente sujos de poeira misturada com suor e icor, mas, sorríamos de orelha a orelha. Tracei delicadamente, com a ponta dos dedos, os contornos do rosto dela, parando sobre o seu sorriso – um dos raros momentos em que a vi sorrir tão abertamente – e sorri inconscientemente, mas, eram os olhos dela que sempre me chamaram a atenção. Eles possuíam uma tonalidade de azul-elétrico bastante intensa, era um de seus traços mais expressivos. E nesse instante, eu tive uma certeza.

“Eu não vou perder os meus amigos para aquele babaca.” Com uma caneta e uma folha em branco, eu comecei a escrever com detalhes sobre a traição, o Tritão e a conversa que eu ouvi, o meu súbito poder novo e a surra que eu dei no Mark, por fim, expliquei a minha penitência pelo que fiz. Em uma nota de rodapé, pedi para que desse um resumo da ópera para Grover, levando-se em conta que eu já teria partido quando ele voltasse com Juniper.

Escrevi uma carta – mais breve – a Rachel, pois, ela sabia da maioria dos detalhes. Pedi a ela que explicasse a situação ao Nico, pois, quando ele retornasse, eu já estaria exilado e deixei um lembrete ao final sobre como me encontrar no mundo mortal, explicando sobre o significado do selo. Estava terminando de selar as cartas, quando Rachel entrou na minha choupana como um furacão ruivo.

―Que bom. ―disse suspirando aliviada com a mão sobre o peito. ―Você não está morto. Pensei que Zeus fosse te mandar para o Tártaro sem direito a julgamento.

Ela possuía um semblante preocupado e, ao olhar para mim, tornou-se aliviado. Então, olhou ao redor notando a ausência do resto das minhas coisas e a carta em minhas mãos, seus olhos se arregalaram.

―Você foi banido?― perguntou chocada, ao tempo em que eu guardava a carta dentro de um bolso separado. ―Por quanto tempo?

―O termo correto seria exilado, porque, Zeus poderá revogar meu “castigo” quando quiser. ― respondi dando de ombros enquanto checava a minha bolsa para ter certeza de que não estava esquecendo nada. ―E, sim, eu fui exilado por tempo indeterminado, talvez até o dia em que eu morrer. ―expliquei tentando soar indiferente.

―Como você pode estar tão indiferente?! ― Rachel perguntou furiosa, cutucando meu peito com o indicador. ―Por acaso, não se importa com os amigos que vai deixar para trás?!

Ela começou a socar o meu peito, então eu segurei seus pulsos e lhe respondi o mais sério possível:

―Chorar e querer quebrar as coisas vai adiantar em algo, Rachel?― pra começar, foi isso que me meteu nessa roubada. ―Você precisa entender que eu me enfiei nessa confusão por um comportamento inconsequente e negar a minha parcela de culpa nisso é burrice. Eu vou encarar isso como homem que minha mãe educou.

“Como o Stark que meus pais sempre quiseram que eu fosse.” Pensei com um sorriso agridoce.

―Tem razão. ― retrucou fungando e esfregou o nariz com o topo da mão. ―No que eu posso te ajudar, então? ― perguntou tentando soar positiva.

―Agora, eu preciso ir falar com o Quíron. ―expliquei enquanto dava um abraço apertado em Rachel. Eu, com certeza, ia sentir falta dessa ruiva maluca ativista. ―Mas, depois, eu preciso deixar duas cartas que a minha mãe pediu pra eu deixar com você. ― contei a ela, mentindo descaradamente, e torci para Rachel entendesse a mensagem, então acrescentei: ―Uma é pra Thalia e a outra pra você, minha mãe disse que é uma carta de vocês e não confia em mim, porque acha que eu vou abri-la e vou zoar a Cara-de-Pinho com isso.

Rachel fez uma cara de que entendeu e, sorrindo de uma maneira doentiamente doce e afetada, falou:

―Claro, e você é capaz de fazer isso mesmo. ― então ela piscou o olho pra mim e eu sorri contente por ainda poder contar com ela antes de entra no personagem.

―Como você pode falar uma coisa dessas da minha pessoa, eu sou um anjo. ―retruquei com um sorriso angelical e minha melhor expressão inocente, fazendo-a gargalhar.

―Você tinha falado dessa carta na missão. ― então seu semblante adquiriu seriedade ao perguntar: ―Percy, o que significa o símbolo nas cartas?

―É o brasão da minha família. Agora, vamos que eu preciso ir à Casa Grande.

Rachel me olhou compreensiva e me deu um sorriso encorajador. Os outros campistas me olhavam temerosos, conforme eu passava com Rachel. Mas, a ruiva fazia questão de ignorar e me acompanhou até a Casa Grande, então acenou gritando:

―Pode ter certeza que eu vou entregar pessoalmente a ela!

Eu comecei a rir dela, mas, meu riso morreu quando percebi que Quíron me aguardava com uma expressão pesarosa. Ele me guiou até o escritório. Eu suspirei cansado enquanto me sentava de frente para ele.

―Percy, meu filho, você sabe que o que fez terá consequências aqui, não sabe?― Quíron perguntou de uma maneira paternal, “já disse que odeio quando usam esse tom?Provavelmente, não. O motivo é bem simples: sempre serve para chantagem emocional e faz com que a pessoa que fez merda – e sabe que a fez – se sinta ainda pior.” ―Eu não irei perguntar seus motivos até porque imagino que tenham sido bastante fortes para que você agisse daquela maneira, porém, muitos campistas estão atemorizados por sua causa. ―nesse instante, percebi uma certa ansiedade no tom de voz dele. ―Eu acho que, nesse momento, a melhor abordagem é tentarmos não mencionar seu nome enquanto esse incidente ainda está fresco na memória dos campistas. Espero que você não tome isso como uma ofensa pessoal.

―Eu entendo, Quíron. ― vou fazer o quê, se o erro também foi meu. Pessoas poderiam ter morrido com o desabamento das cabanas. ―Eu faria a mesma coisa na sua posição.

―Sério?Isso é incrivelmente maduro de sua parte, Percy. ― ok, vou tentar não me sentir ofendido pela surpresa explícita no rosto e no tom de voz dele. ―Mas, eu ainda me sinto no dever de explicar como vai funcionar. Eu vou preparar uma cerimônia com todos os campistas atuais e todos nós iremos jurar não mencionar o seu nome. Dessa forma, tudo vai cair no esquecimento e o seu legado permanece intocado por esse incidente, já que ninguém poderá mais comentar sobre isso. Entendeu?

―Eu entendo, Quíron. ― respondi calmamente, mas, Quíron ainda não parecia convencido da minha “maturidade”, eu suspirei, tentando não revirar os olhos, e disse sério: ―Eu realmente te entendo, Quíron. Mesmo se eu não tivesse sido exilado, a minha convivência aqui seria afetada pelo que aconteceu, de qualquer forma. Eu juro que não guardo nada contra você.

Quíron parecia orgulhoso de mim enquanto eu falava, eu realmente ia sentir saudade dele. Ele foi praticamente um segundo pai pra mim ainda mais depois que meu pai desapareceu. Ensinou-me sobre como ser um semideus e a acreditar em mim mesmo ainda que todos a minha volta estejam contra mim. Quíron não merecia o que eu fiz, mas, o que está feito, já está no passado.

―Você foi um dos meus melhores alunos, Percy. Espero que não se esqueça das lições aprendidas aqui. ― falou enquanto se aproximava para me abraçar e eu retribui o abraço com força, segurando a vontade chorar. ―Eu irei acompanhá-lo na sua saída e chamarei um táxi para você.

―Não precisa disso, não. Eu dou meu jeito.

―Eu faço questão de me despedir de você junto com alguns de seus amigos.

Acampamento Meio-Sangue, Long Island – Horário: tarde, às 15h30min P.M

Na “despedida”, de campistas, estavam: Rachel, Will, Chris, Clarisse, Drew – insere-se a maior expressão de espanto e assombro possível – e Mitchell, um novato que Rachel estava ensinando sobre o Acampamento. Junniper e Grover estavam fora do acampamento, visitando os parentes dela em alguma floresta da Geórgia, de acordo com nosso último contato. Consegui convencer o Quíron de que não precisava chamar um táxi na porta do Acampamento e que eu podia me virar para chegar em casa. Ô Centauro teimoso, cara, é pior que eu.

Zeus estava posicionado entre Sr. D e Quíron na entrada do Acampamento enquanto eu saia do lugar, onde construí a maior parte de minhas melhores lembranças. Do topo da colina, eu contemplei o Acampamento uma última vez com um sorriso agridoce e acenei para os meus amigos, os quais acenaram de volta, principalmente, a Rachel que parecia uma doida pulando e acenando. Virei às costas e me preparei para a longa caminhada até poder chamar um táxi para ir a Manhattan.

Casa do Percy, Manhattan – Horário: próximo de se iniciar o crepúsculo, às 16h45min P.M

Enquanto estava no táxi, passei pela rua do meu antigo apartamento – que, no momento, estamos alugando para um casal recém-casado – e, senti bater uma nova onda de nostalgia. Talvez seja por causa da data, hoje é o aniversário de sete anos de ausência do meu pai.

Faz tantos anos que já não tenho mais tanta certeza sobre a razão de seu sumiço. Acredito que tenha sido pouco tempo depois de eu ter sido seguido e quase sequestrado no colégio por um cara esquisito...

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Saint Jude’ School, Nova Iorque – Horário: Manhã, às 09h30min A.M

Eu havia terminado minha lição de geografia e estava indo para a biblioteca, me esconder das outras crianças da minha turma. Eu era aquela criança fechada e considerada esquisita demais para ter amigos, sem contar com as coisas estranhas que sempre aconteciam ao meu redor. Eu sabia que a grande maioria ali não gostava de mim e só ficava comigo por causa de seus pais que, provavelmente, as obrigavam. Então, a biblioteca se tornou um refúgio e eu aprendi a gostar de ler.

Eu caminhava calmamente quando ouvi passos atrás de mim, me virei parcialmente para encontrar o corredor vazio. Franzi o cenho e estreitei os olhos enquanto apurava os ouvidos, procurando alguma coisa fora do normal. Por um mísero instante, tive a impressão de ter visto uma sombra se mover, mas, tão rápido surgiu e, em seguida, desapareceu.

―Eu já devo estar ficando doido. ―murmurei para mim mesmo enquanto voltava a caminhar.

Crash!!

“Ok, eu definitivamente ouvi alguma coisa agora.” Pensei enquanto olhava o corredor novamente, eu sei que irei me arrepender do que vou fazer, mas,...

―Olá, tem alguém aí?―perguntei, temendo que realmente tivesse, e desejei que o meu pai estivesse comigo nesse momento. Meu pai seria capaz de botar medo no próprio medo. ―Olha, se isso for alguma brincadeira. Não é engraçado, gente. ― tentei soar ameaçador, mesmo eu me tremendo por dentro.

Quando uma sombra começou a tomar forma, era um homem incrivelmente alto e parecia assustador. Vestia-se com um sobretudo preto, calça social cinza e um chapéu fedora preto, cobrindo seus olhos. Minhas pernas tremiam tanto que eu não sabia como ainda estava de pé, mas, o choque não me permitia correr pela minha vida. Aproveitando-se disso, ele se aproximou de mim e se ajoelhou para olhar para o meu rosto enquanto segurava os meus ombros, impedindo-me de correr. Meus lábios começaram a tremer também e um nó se formou na minha garganta.

Nesse momento, eu vi que esse homem possuía somente um olho, como os ciclopes da história do Hércules, e ele me ergueu do chão. Eu entrei em pânico, sentindo meus olhos marejarem, tentei me debater inutilmente para escapar. Quando eu ia gritar, ele pôs a mão sobre a minha boca, abafando qualquer tentativa de conseguir socorro. O homem me carregou pelo corredor e eu chorava/esbravejava, ainda abafado pela mão dele, pensando nos meus pais. A cada passo dele, eu me tornava mais desesperado, então consegui empurrar a mão dele para baixo e a mordi com toda minha força até sentir gosto metálico. Era sangue.

Ele tentou me puxar pelo cabelo com a mão esquerda para que soltasse a outra mão, porém, eu me mantive preso pelos dentes por um tempo. Quando a soltei, aproveitei a distração dele, que agonizava segurando a mão ferida, e corri para longe gritando por socorro o mais alto que pude.

PAI!!!!!!

Meu grito parecia ter reverberado pelo colégio inteiro porque, no instante seguinte, o inspetor do corredor, Jonas, apareceu com o apito na boca e o celular no ouvido. O estranho ainda tentava correr atrás de mim quando o inspetor Jonas me viu. Os olhos do Jonas se arregalaram e eu pude ouvi-lo dizendo ao telefone “Liga para polícia! Estão tentando sequestrar o menino Stark!”

Saint Jude’ School, Nova Iorque – Horário: Manhã, às 11h30min A.M

O colégio estava cercado por todo departamento de polícia de Nova Iorque, mas, eu só queria que meus pais estivessem aqui. A professora falou que já havia chamado os meus pais e que eles estavam a caminho. Eu fiquei aguardando na sala de espera da diretoria, sendo examinado por um policial e um psicólogo. Eles não paravam de fazer perguntas sobre o incidente e não acreditaram em mim quando eu jurei que o ‘esquisitão’ tinha um olho só.

Os policiais colhiam os depoimentos de todos que trabalharam no local durante o quase sequestro. O conselho da diretoria estava aterrorizado com a possibilidade de que algum dos herdeiros das maiores fortunas de toda América pudesse ter sido sequestrado exitosamente. Eu ouvi a diretora falar que o que aconteceu comigo é inaceitável e que o meu pai ameaçou demolir a escola e construir uma filial da Stark se quando ele chegasse, ele encontrasse um arranhão em mim.

Eu estava encarando a janela quando o barulho de um helicóptero se aproximando tirou minha atenção e eu vi uma esquadrilha pousando no pátio do colégio. Eram quatro helicópteros com o logo da Stark. Minha mãe veio em um helicóptero diferente, provavelmente, meu pai mandou buscá-la enquanto já estava a caminho daqui. A aeronave mal pousou e meus pais saíram dela, desesperados, me procurando pela multidão, que se formou por causa da entrada da minha família.

Eu corri rapidamente para o pátio, agradecendo mentalmente pela sala de espera ser praticamente ao lado do pátio. Assim que eu cheguei ao local, vi o meu pai abrindo caminho em meio à multidão junto de minha mãe. Os dois emanavam uma aura imperiosa trajando suas roupas perfeitamente retas, sem nenhum amassado. Meu pai vestia um terno cinza-chumbo e sapatos sociais negros enquanto minha mãe usava uma saia social lápis cinza-grafite com camisa social branca e blazer cinza-grafite combinando com o scarpin cinza-chumbo. Não é à toa que eles são considerados um dos casais mais bem-sucedidos.

―Senhor!Senhor, espera, por favor! ― um dos empregados do colégio pedia enquanto corria atrás do meu pai. ―O senhor não pode entrar no colégio!

―Eu não posso entrar?Eu não posso entrar é o caralho!― meu pai estava furioso, minha mãe praticamente fuzilava o pobre empregado com os olhos e acenava concordando com o que meu pai dizia. ―A porra do meu filho quase foi sequestrado e agora você quer me impedir de vê-lo?!Você tem alguma ideia de quem eu sou e do que eu fiz pra chegar rápido aqui?!

―Nã-não, s-senhor. ―o pobre tartamudeou com medo, ele começou a suar e a tremer enquanto encarava os meus pais.

―Eu sou a porra do Edward James Howard Stark e eu posso muito bem mandar demolir essa merda se eu me irritar aqui!

Eu estava tão feliz por vê-lo, pois, imaginava que só seria minha mãe. Eu corri depressa e me joguei nos braços dele, para a surpresa dele. Meu pai me ergueu no ar antes de me prender em um abraço apertado enquanto minha mãe enchia o meu rosto de beijos.

―Meu campeão, o papai sente tanto que não estava com você quando mais precisou de mim. ―meu pai se desculpava quase chorando, uma coisa rara. ―O papai deveria ter protegido você desse tipo de situação.

―Meu amor, você deve ter se sentido tão assustado. ― minha mãe dizia preocupada acariciando minha bochecha com carinho. ―A mamãe e o papai vão contratar um segurança enquanto você estiver começando no curso de karatê. O que aconteceu hoje nunca mais vai se repetir. ―ela me assegurou com um sorriso acolhedor.

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Meus pais se tornaram ainda mais atenciosos comigo por medo de ocorrer um incidente semelhante novamente, até por que por que a Stark estava crescendo cada vez mais e se tornando uma força a ser temida. Quando meu pai sumiu no meio de uma madrugada misteriosamente. Lembro-me de um dia ter acordado em uma manhã com o choro da minha mãe. Eu desci desesperado para encontrar minha mãe chorando enquanto chamava meu pai pela casa.