– O que você esperava? Morrer de hipotermia? - Meu psiquiatra falou.
– É. Talvez. - Falei.
– E você ainda quer sair daqui. Você está muito instável. Mesmo com os remédios, continua impulsiva.
– Você não me entende! Meus pais nunca vem me visitar, não tenho amigos, perdi a única pessoa que se importava comigo. Eu não tenho nada. Mesmo quando eu sair daqui continuarei sem nada. Sou uma aberração.
– Você não é uma aberração. Você só é... diferente.
– E por eu ser diferente todos me odeiam. Não vale a pena viver nesse mundo.
– Vale, se você tiver motivos.
– Mas eu não tenho motivos. Você sabe como é legal ficar no meu quarto a maior parte do dia, só sair para comer ou ficar jogando damas? Eu estou mais louca aqui do que eu estava antes!
– O que você quer? - Ele falou.
– Eu quero sair, me divertir, ir para a praia...
– O que você realmente quer?
– Eu já falei!
– O que você realmente quer? - Ele repetiu.
– Eu quero o Dave! Eu sinto falta dele. - Comecei a chorar.

Quando finalmente pude voltar para meu quarto, tentei entrar no banheiro. Estava trancado, só posso usar ele agora quando tiver alguém comigo. Não aguento mais ficar aqui, droga! Me pus a chorar novamente. Eu quero ter meu baile, participar da formatura, dançar a noite inteira. Mas não posso. Vou ficar aqui por quanto tempo?

A porta se abriu e vieram me buscar para o almoço. Desci e fui para o refeitório, comi, depois fui para a recreação e depois voltei para meu quarto. Uma enfermeira ficou comigo para eu usar o banheiro, quando ela virou de costas, vi que ela tinha uns apetrechos no bolso. peguei o primeiro que apareceu, pus no bolso e puxei a descarga. Ela nem percebeu a falta daquela coisa.

Ela trancou a porta do banheiro e depois saiu, trancado a porta do meu quarto e apagando as luzes. Esperei ter certeza de que ninguém mais vinha, e peguei a coisa do meu bolso. Não conseguia enxergar nada, mas passando a mão levemente por aquilo, pude ver, ou melhor, sentir, que aquilo era um bisturi. Sei lá por que ela andava com aquilo no bolso, mas tanto faz.

Levantei a minha manga e escrevi no meu braço ''DEAD''. Depois, passei o bisturi e comecei a cortar. Mordi o lábio. Depois que terminei, enrolei uma camiseta envolta e tentei dormir mas não consegui. Quando parou o sangramento, joguei a camiseta pela janela.

''DEAD''. É assim que eu me sinto. Eu me sinto morta.