Por sorte, o vento deve ter levado a camisa longe e o meu corte não foi tão fundo a ponto de o sangramento não parar, quando acordei já estava se formando uma casquinha. Usei muitos casacos com o frio que estava fazendo, então ninguém desconfiou de nada.

Acho que ando muito ''deprê'', sei lá. Mas eu não estou num lugar onde eu me sinta bem. Estou sofrendo aqui, mais do que antes. Sei que eu sempre digo isso, mas a cada dia, as coisas pioram. E eu sinto falta do Dave. Mais do que qualquer pessoa. Ele foi o único que se importou comigo quando ninguém queria mais me ver. Quando ninguém queria mais me amar, ele me amou. E ele sofreu mais por se importar com alguém do que antes. As pessoas são muito hipócritas. Se algum parente próximo deles descobrisse que tem alguma doença, elas não os abandonariam. E fariam de tudo para não sofrer. Mas quando é com os outros, foda-se. Vamos fazer ele sofrer por se importar com alguém. Qual é a lógica disso?

Queria ver Dave por uma última vez. Dizer o quanto eu me importo com ele, o quanto até mesmo o amo. Mas ele só vai sofrer mais. Se ele me ama tanto quanto ele diz (ou melhor, dizia), iria sofrer por saber que nos amamos e que não poderíamos nos ver por conta da sociedade hipócrita.

Sim, eu o amo. Mais do que já amei Jack, ou qualquer namoradinho da segunda série. E eu tenho que ficar afastada dele, para o bem dele. E isso me dói. Nem ligo por meus pais não virem me visitar, sinceramente. Eles nunca foram do tipo paternais, sabe?

Queria poder abraçar Dave nas minhas noites sangrentas e perturbadas por monstros que eu mesma criei e que não sei como desfaze-los. Ouvir ele me dizer que tudo vai ficar bem, mesmo quando eu mesma não acreditaria mais nessa possibilidade.

Mas tenho que enfrentar os monstros sozinha. Tenho que tentar me fazer ouvir que vai ficar tudo bem. Que é tudo passageiro. Mas não é. Eu sei que não é.