Deadly Hunt

Orientações


"Parece que eu finalmente posso descansar minha cabeça em algo real
Eu gosto dessa sensação
É como se você me conhecesse melhor do que eu jamais me conheci
Eu amo como você consegue descrever
Todos os pedaços, pedaços, pedaços de mim
Todos os pedaços, pedaços, pedaços de mim.”
Ashlee Simpson – Pieces of Me

Capítulo XX – Orientações

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Ally estava determinada a descobrir o passado e desvendar todos os mistérios envolvendo Taynara. Eu não sabia dizer se essa era uma boa alternativa, elevando em consideração a situação em que nos encontramos. Não temos muito tempo até que uma nova guerra possa começar. Ainda estamos lidando com uma bactéria problemática e a gravidez de risco de Ally. Como marido, pai e rei, eu precisava presar pelo bem da minha família e de meu povo. Garantir que todos fiquem bem, saudáveis e seguros.

Mas eu conheço minha esposa o bastante para saber que nada do que eu diga a fará mudar de opinião. E ao mesmo tempo, eu também estava cansado de tantos segredos e desejava entender de uma vez por todas o que havia levado Krósvia a se tornar alvo de líderes tão vingativos. Muito além de um desejo de poder, eles buscavam por sangue e destruição completa de nossa família.

Encaro minha esposa com preocupação e encosto minha testa na dela, ponderando sobre o que eu deveria fazer naquele momento. Por fim, suspiro e volto a encarar seus olhos. Ally corresponde ao olhar com intensidade. Batidas na porta do escritório de Ally faz com que nossa atenção se volte para a entrada do lugar.

— Com licença. – Juliana abre a porta do escritório e entra, sendo acompanhada por Dez e Lawrence. Os três carregavam expressões curiosas pelo motivo de terem sido chamados tão repentinamente. – Você mandou nos chamar, Ally?

— Sim. Entrem e fechem a porta, por favor. – Pede Ally, levantando-se para se sentar em sua mesa.

Como orientado por minha esposa, Juliana, Lawrence e Dez entram na sala e fecham a porta para que tivéssemos privacidade em nossa conversa. Levanto-me e faço sinal para que eles se sentassem. Minha cabeça começava a doer pela falta de sono, cansaço e preocupação. Eu apenas esperava que a conversa com eles fosse mais tranquila do que a tida com Manu, Prince e Tyler. Ally já havia se estressado demais, o que não era bom para o bebê e menos ainda para ela.

— Aconteceu alguma coisa, Ally? – Pergunta Lawrence com preocupação.

— Eu darei uma missão importante ao Exército de Segurança Espiã de Krósvia e para vocês três. – Responde Ally, encarando nossos aliados com seriedade. Dez suspira, entendendo o que nós faríamos.

— Por acaso isso tem a ver com a sua saída às escondidas ontem à noite para se encontrar com Taynara, Ally? – Questiona Juliana, surpreendendo Lawrence, Dez e eu. Por outro lado, Ally continuava calma, como se já esperasse por aquela resposta.

— Você se encontrou com a Taynara ontem a noite, Ally? Por que não nos disse nada? Essa poderia ter sido a nossa chance de capturar essa...

— Ela não apareceria se vocês fossem e vocês sabem disso. Estudamos os movimentos de Taynara por anos para saber o padrão de ações dela. Assim como ocorreu na última guerra, ela preferiu se encontrar comigo primeiro em uma tentativa de me convencer a mudar de ideia antes de começar a agir. – Responde minha esposa, dando de ombros. – Mas eu realmente nunca me canso de ver suas habilidades em ação, Juliana. Eu tenho certeza de que você não estava me seguindo ontem, então como sabia que eu me encontrei com Taynara na noite anterior?

— Eu espalhei câmeras pelo perímetro ao redor do castelo. Agora de manhã, enquanto verificava as gravações, eu a vi deixando o castelo as espreitas. Além disso, eu ouvi a conversa de Manu e Tyler agora a pouco. Eles falavam sobre você ter se encontrado com Taynara. – Responde a espiã, dando de ombros.

— Bem, isso facilita um pouco a nossa conversa. – Responde Ally e mais uma vez ela se põe a contar tudo o que descobriu com Taynara na noite anterior.

Ao contrário do que ocorreu na conversa intensa com Manu e Prince, não houve nenhuma reação explosiva dos três ouvintes. Ainda que Lawrence estivesse incomodado com o fato de Ally ter se arriscado para se encontrar com Taynara com a gravidez que está enfrentando, o homem procurou se manter calado e calmo, ouvindo pacientemente todo o relato de minha esposa.

Ally também contou ao trio sobre sua conversa com o irmão e a cunhada, a reação agressiva de Manu e sua desconfiança sobre os motivos que levaram a guerra que ocorreu a quase trinta anos atrás e que acabou levando Prince, Manu e Tyler a fugirem de Krósvia. Em seguida, ela revela sobre a descoberta de meu cunhado e a esposa já desconfiarem sobre a inocência de Taynara na morte dos irmãos Santos.

— E o que planeja fazer agora, Ally? Como planeja usar a ESEK? – Indaga Dez, encarando minha esposa com intensidade, assim que ela termina de conta tudo o que se passava em sua mente e suas suposições.

— Nós iniciaremos uma investigação profunda sobre o passado de Victor, Taynara, os Fire Scars, Gavin e Thomas Darius. – Responde Ally, deixando o trio que a encarava confuso.

— Mas Ally, nós já estamos investigando Victor e Taynara. O Fire Scars acabou desde que você e Austin assumiram o trono. Gavin e Thomas já estão mortos. Não querendo questionar o que tem em mente. Você é a estrategista aqui e imagino que tenha um plano em mente, eu realmente não entendo como revirar a vida dos mortos possa nossa ajudar a lidar com Victor e Taynara. – Comenta Lawrence, encarando Ally com os olhos repletos de dúvida. Minha esposa me encara com um pequeno sorriso e eu me aproximo dela, analisando seu rosto. Ela estava um pouco mais pálida que o normal e isso me preocupava.

— Nós estamos investigando a localização de Victor e Taynara, não o passado deles. Talvez possa parecer uma perda de tempo para vocês, mas eu não quero deixar pontas soltas. Krósvia vem sofrendo com guerras e ataques constantes de nossos inimigos há mais de quarenta anos e tudo isso por culpa do meu pai. Todas as vezes que acho que acabou e que não poderia ficar pior, sempre aparece alguém me mostrando o monstro que meu pai foi e que sim, pode ficar pior. Não quero ter que meus filhos passem por essa tortura por causa de minha negligência. – Responde Ally, suspirando. Coloco minha mão sobre seu ombro e ela me encara, dando um fraco sorriso. – Eu não quero cometer o mesmo erro de dez anos atrás. E é por isso que antes de tomar qualquer atitude, eu quero entender todos os lados. Diferente do que Manu pensa, eu não quero justificar as ações de Taynara.

“Mas eu estou cansada de tantas lutas e vidas inocentes perdidas. Krósvia merece ter paz. Nós estamos em meio a uma pandemia sem respostas para todas as nossas dúvidas. Eu estou enfrentando uma gravidez complicada e ainda precisamos lidar com o tráfico de armas, drogas e espiões espalhados pelo governo. Eu estou exausta. Desde que nasci tenho que lidar com esse ambiente hostil. Tudo o que eu mais quero e sonho é ser capaz de construir um país onde as pessoas terão orgulho de viver com sua família.” – Explica minha esposa e encarando a todos com os olhos brilhando em determinação.

— Nós vamos tornar nosso sonho realidade. – Garanto, deixando um beijo na testa de Ally.

Assim como Ally, tudo o que eu mais desejava era ser capaz de trazer a paz para o nosso povo. A constante preocupação sobre o futuro de nossa família e reino era desgastante. Minha esposa tinha razão. Não podemos mais deixar pontas soltas. Se nós queremos garantir a segurança de nossos filhos, precisamos agir agora e de maneira correta.

— O que precisamos fazer, Ally? – Pergunta Juliana, parecendo determinada a seguir o plano de Ally.

— Manu e Prince citaram um tal de Scott Marchard. Ele era um membro da Fire Scars e parece ser um dos poucos que sabe toda a história do que aconteceu naquela época. Até alguns anos atrás, ele tinha uma pousada próximo de Füssen. Descubra tudo sobre a antiga resistência de Krósvia e como Taynara, Tony e Henry se envolveram com eles, motivos que os levavam a lutar contra a coroa, estratégias de ataque, aliados e inimigos, todas as informações possíveis sobre o que aconteceu antes e durante o ataque deles ao castelo, o que aconteceu com eles após a morte de Dandara. Enfim, eu quero tudo o que conseguir. Não deixe nada passar. Se possível, consiga uma forma de conversarmos com ele sem que Taynara, Victor, Bárbara ou Elena saibam. – Orienta minha esposa, encarando a espiã com seriedade.

— Como desejar. – Concorda Juliana, fazendo uma breve reverência.

— Lawrence, eu quero que você traga Vincent em segurança e descubra todas as informações que ele possui sobre Victor, Taynara e todos os envolvidos na guerra de vinte e oito anos atrás. Assim como Juliana, não deixe passar nada. Qualquer informação pode nos ajudar a entender o que acontecia nesse castelo antes de meu nascimento. Também descubra se ele sabe alguma coisa sobre Thomas e Gavin Darius. Quero o máximo de informações possíveis da estadia deles em Krósvia naquela época. Conte com a ajuda da ESEK para investigar isso. E por favor, ainda não diga nada a Manu, Tyler e Prince. – Pede Ally, observando meu antigo tutor de luta. – Eles estão muito envolvidos emocionalmente nessa história. Não quero que a raiva que eles sentem de Taynara, Gavin e todos os outros interfiram na investigação.

— Não se preocupe, Ally. Serei cuidadoso. – Garante Lawrence, também reverenciando Ally, como prova de sua lealdade.

— Enquanto a Dez, preciso que você se prepare para visitarmos Gregory. Consiga os melhores homens da ESEK para garantir a nossa segurança. Criem uma desculpa para irmos até Córdia sem que Taynara e Victor desconfie de nossa movimentação. E preciso que isso seja divulgado até o fim do dia como um evento oficial. – Ally se levanta e entrelaça sua mão na minha. – Gregory provavelmente terá todas as respostas que nós precisamos. Ele esteve presente e foi um dos homens de maior confiança de meu pai durante as maiores guerras de meu pai contra Edgar. Eu sinto que se alguém sabe sobre Gavin e Thomas, com certeza esse alguém é ele.

— Acho que essa visita veio no momento certo. – Responde Dez, atraindo nossa atenção. Ele pega um pequeno envelope do bolso interno de seu casaco e estende para Ally. Minha esposa me encara e o pega em desconfiança. – Nós acabamos de receber essa correspondência de um dos nossos espiões que estavam investigando Domynic. Leon Tolstoy começou a preparar seu exército. Ainda é algo interno deles, mas há boatos de que viram uma linda mulher se encontrando com o rei e no mesmo dia o exército de Domynic passou a ser treinado.

— Taynara... – Sussurra Lawrence, crispando os lábios.

Ally abre o envelope e suspira, enquanto lê o relatório e me entrega para que eu pudesse ver o conteúdo. Como Dez havia resumido, o exército de Domynic tem se movimentado mais do que de costume há uma semana. A descrição da mulher que visitou o rei batia exatamente com a aparência de Taynara. Também havia uma informação de que Taynara e Victor permaneceram escondidos por algum tempo em uma cidade interiorana de Elohim, que faz fronteira com Krósvia e fica somente há uns cinquenta quilômetros de Córdia. Suspiro e coloco a carta sobre a mesa de Ally. Dez parecia inquieto.

— O que foi? – Pergunto a meu melhor amigo que nos encara hesitante. – Dez? O que aconteceu?

— Eu... eu acho que Ansel pode ser um espião. – Revela o ruivo, surpreendendo-nos.

— Por que acha isso? Pensei que ele fosse alguém de confiança para você. – Comenta Ally, encarando o homem com surpresa.

— O que você viu, Dez? – Questiona Juliana, demonstrando um interesse que eu não esperava dela.

— Eu o vi com um relicário com o símbolo de Elpízoume, encarando a foto com intensidade no jardim. – Conta Dez, suspirando. – Ele disse: Eu os farei pagar pelo que ele fez com vocês, tia Julie. A sua morte, a de Olivia e Sofia não sairá impune.

— Julie, Olivia e Sofia? – Repete Lawrence, pensativo. – Essas não são...

— Esposa e as filhas de Victor Dobyne. – Completa Juliana com seriedade.

— Julie de La Trois. – Relembra Ally, suspirando frustrada. – Como foi que eu deixei um detalhe desse passar?

— A culpa foi minha, Ally. Você me pediu para investigar o passado dele e eu...

— A culpa não foi sua, Juliana. – Ally interrompe a mulher, dando um fraco sorriso compreensivo. – Com certeza ele possui alguma carta na manga que foi capaz de esconder o passado dele sem que a gente desconfiasse.

— Pediu para investigar Ansel sem me dizer nada? – Questiona Dez, parecendo magoado.

— Desculpa. Fiquei com medo de você ficar ofendido pela minha desconfiança. Quer dizer, ele era o aprendiz do seu pai. Você parecia ter um carinho enorme por ele. Por favor, não fique com raiva de mim. – Lamenta Ally e Dez suspira, massageando as têmporas.

— Tudo bem. – Murmura Dez, dando-se por vencido. – Eu fui ingênuo por acreditar tão facilmente nele.

— Não é o momento de apontarmos culpados pela infiltração de Ansel. Isso não importa. Agora, o que nós precisamos fazer é pensar em uma estratégia. O número de espiões entre nós está cada vez maior. Ao contrário de Bárbara e da minha tia, Ansel é discreto e observador. Era até mesmo possível que a gente nunca descobrisse do parentesco dele com Victor se não fosse por esse deslize dele. – Chamo a atenção de todos. – De qualquer forma, ainda precisamos ter certeza dessas informações. Precisamos descobrir se Ansel é mesmo sobrinho de Victor e o que ele planeja fazer.

— Eu farei isso. – Afirma Juliana com uma determinação intimidante. Seus olhos brilhavam em raiva. – É uma questão de honra. Eu vou descobrir toda a verdade por detrás desse maldito e o esmagar quando ele menos esperar.

— Contamos com você, Juliana. – Fala Ally, pensativa. – Mas Austin tem razão. Existem situações mais preocupante para tratarmos. Então fiquem de olho em Ansel, mas foquem em obter informações sobre o passado de Taynara, Victor e...

Antes que Ally continuasse as suas orientações, batidas intensas na porta chamam nossa atenção. Todos se viram para porta e eu resolver descobrir quem era o responsável por interromper nossa reunião e passar pelos soldados que vigiavam a porta e tinha ordens para não permitir que ninguém entrasse na sala. Assim que a abro, encontro Oliver com papeis em mãos e um olhar preocupado.

— O que aconteceu? – Pergunto, alarmado.

— Foi registrada a primeira morte pela LP em Krósvia. – Responde Oliver, entrando na sala. Ele parecia atordoado. – O último relatório que eu recebi dos mais das cem crianças mortas nas últimas horas em Boise mostrou que a bactéria apresentou uma mudança significativa. Apresentou traços de Acinetobacter. Isso não faz sentido. É uma mutação que não poderia ter ocorrido de forma natural.

— Está nos dizendo que alguém está modificando a bactéria sinteticamente? – Questiona Ally e Oliver assente, encarando a todos nós com preocupação. – Como?

— Eu não sei. – Responde Oliver, andando de um lado para o outro. – Mas o fato é que ela se tornou ainda mais perigosa e contagiosa. Ao que tudo indica, a primeira vítima da LP já contraiu a nova bactéria.

— Merda! – Exclamo com frustração.

— E quem foi a vítima de Krósvia? – Pergunta Ally, voltando a se sentar.

— Uma garota de nove anos do Orfanato Rosalina. – Revela Oliver, fazendo com que todos se encarassem preocupados. – Mais sete crianças confirmaram a infecção pela bactéria.

— Esse não foi o orfanato que o Austin, o Enzo e a Bárbara foram? – Questiona Lawrence, encarando-nos com preocupação.

— Sim. Ele é. – Afirmo, sentindo um nó entalado em minha garganta. Meu coração bate acelerado em completo desespero.

— Enzo!

Ally se levanta de uma vez e sem qualquer explicação, ela corre para fora da sala, provavelmente para ir atrás de nosso filho. Preocupado, sigo minha esposa, sendo acompanhado logo em seguida por Oliver, Juliana, Dez e Lawrence. Eu sabia que não adiantava em nada se desesperar, mas naquele momento, tudo o que nós mais queríamos era ter certeza de que nosso menino não havia sido infectado.