"Talvez estejamos perdendo toda a razão nas nossas brigas tolas
Talvez desta vez parecerá correto
Quero te falar sobre
O dia em que nos conhecemos e
Como eu me sinto quando você me abraça forte
Oh, e como você mudou minha vida.”
Tiago Iorc – Nothing But a Song

Capítulo XXI – Momentos

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Depois de crescer em um mundo caótico como o reino de Krósvia, havia poucas coisas que me causavam medo, mas naquele momento, o pavor me consumia. Enquanto corria pelo castelo em busca de meu filho, minha mente atuava como a minha maior inimiga. Somente a possibilidade de Enzo estar com a maldita bactéria faz meu coração gelar e o chão desaparecer debaixo de meus pés.

— Enzo! – Grito, abrindo a porta da sala em que ele estava tendo aula com Kathy, Lizzie, Eric, Tommy e minha sobrinha Diana.

A instrutora para de dar a aula e me encara assustada, assim como as crianças, que não entendiam nada do que acontecia. Não demora muito para que Austin, Lawrence, Juliana, Dez e Oliver aparecessem também para conferir o estado de saúde de Enzo. Ao nos ver, meu menino abre um enorme sorriso e corre em minha direção.

— Mamãe! – Ele comemora, assim que seus bracinhos finos rodeiam minhas pernas. – Eu estava com saudade.

Abaixo-me para ficar na altura de Enzo e passo a examinar seu pescoço e regiões sudoríficas, assim como eu me lembrava da explicação sobre os principais sintomas causados pela bactéria. Ainda que eu soubesse que o único que poderia detectar a bactéria seria Oliver, meu coração de mãe estava em desespero. Eu não me importava com o que poderia acontecer comigo, mas a situação muda completamente de figura quando se trata de meu menino. Eu daria a minha vida se fosse preciso para garantir sua felicidade, saúde e segurança.

— Mamãe? – Questiona Enzo, estranhando quando eu afiro sua temperatura e analiso seu rosto com atenção. Felizmente, ele estava com temperatura normal e não apresentava nenhuma alteração em seu corpo.

— Você está sentindo alguma coisa meu amor? Dói em algum lugar? – Pergunto, completamente aflita.

— Não, mamãe. Não estou sentindo dor. – Garante o garoto, encarando-me confuso.

— Você tem certeza disso, filho? – Austin se abaixa ao meu lado e observa nosso filho com a mesma aflição que eu. – Nenhum mal-estar? Você está realmente bem?

— Estou bem, papai. – Afirma Enzo, parecendo ficar preocupado. – O que foi, mamãe? Eu fiz alguma coisa que não devia?

— Não, meu amor. Você não fez nada de errado. – Respondo, abraçando-o apertado. Sem me importar com as recomendações de Oliver, levanto-me com Enzo em meu colo e inspiro o cheiro suave de seu perfume. Ainda que eu soubesse que isso não significava nada, ver que ele ainda não apresentava sintomas me deixava aliviada. Intensifico ainda mais o abraço ao sentir seus braços delicados corresponderem ao gesto. – Eu te amo tanto, filho. Tanto, tanto. Você é o meu bem mais precioso, sabia?

— Sabia, mamãe. – Afirma Enzo, fazendo com que eu desse uma risada anasalada, ainda sentindo-me afetada pelo susto. Ele se afasta um pouco e acaricia meu rosto, demonstrando toda a doçura que só ele parecia possuir. – Eu te amo muito mamãe. Eu te amo mais que chocolate.

— Eu também te amo mais que chocolate. – Declaro, beijando a pequena e macia mão de meu menino. Austin suspira e se aproxima, encarando-me com repreensão.

— Vem aqui, amigão. A mamãe não pode ficar segurando peso por muito tempo. – Austin pega Enzo dos meus braços e ele se aconchega no colo do pai. Meu marido também o aperta, demonstrando todo o alívio que sentia por ver que aparentemente ele estava bem.

— Com licença, Majestades. – Bella Hoult, a instrutora de história, se aproxima, parecendo envergonhada pela nossa intromissão. Nesse momento, percebo que os filhos de meus amigos também haviam corrido até os pais para os abraçar, assustados com a nossa atitude brusca. – Algum problema?

— Sinto muito pela intromissão, srta. Hoult. – Lamento, tentando me recuperar. – Nós vamos precisar levar o Enzo para fazer alguns exames. Você se importa de encerrar as aulas mais cedo hoje?

— De forma alguma, Majestade. – Responde Bella, sorrindo compreensiva.

— Obrigado, srta. Hoult. – Austin agradece, sorrindo gentil. Enquanto a mulher informa sobre o que as crianças deveriam estudar para a próxima aula, meu marido encara Oliver e nossos amigos. – O mais seguro agora seria realizar o exame em todos?

— É o recomendado. Eles não apresentam sintomas, mas quero verificar o estado de saúde deles para garantir que não deixei passar nada. – Explica Oliver, enquanto alterna seu olhar entre Austin, Lawrence, Dez e eu. – É apenas uma medida de segurança. Pelo que posso ver e depois de tanto estudar sobre a bactérias, as chances de seus filhos estarem com LP são quase nulas. Eles já teriam apresentado algum sintoma se já tivessem.

— Ainda assim, eu me sinto mais aliviado se puder verificar. – Afirma Lawrence, apertando os três filhos contra si.

— O que está acontecendo, papai? – Indaga Kathy com curiosidade.

— Por que não vamos ter mais aula hoje, papai? – Pergunta Eric, encarando Lawrence com intensidade.

— Nós iremos a uma festa? – Questiona Lizzie, animada com a possibilidade.

— Não, querida. Vocês não irão a uma festa. Mas iremos realizar alguns exames em vocês para garantir que não tem nenhum bichinho em vocês. – Responde Lawrence com doçura.

— Bichinho? Eca! – Exclama a caçula Lizzie, fazendo careta. Lawrence ri e aperta o nariz da filha com carinho.

— E quanto ao Ian e Peter? Seria melhor eles realizarem os exames de sangue também? – Questiona Dez, encarando Oliver com preocupação.

— Esse é o protocolo que eu sugiro seguir. – Afirma o cientista com seriedade. – Os estudos ainda estão sendo realizados e já tivemos alguns avanços quanto a medicamentos que podem retardar o progresso da doença. Se qualquer uma das crianças apresentarem a bactéria bem no início da infecção, talvez a gente consiga conter a bactéria antes que ela possa ser letal.

— Tia Ally, o que aconteceu? – Pergunta Diana, puxando a barra do meu vestido.

Abaixo-me para ficar na altura dela, assim como fiz com Enzo e acaricio seus cabelos castanhos com carinho. Aproveito para examinar brevemente minha sobrinha e ela me encara ainda mais confusa. Sorrio, tentando tranquilizá-la e deixo um beijo estralado em sua bochecha.

— Não se preocupe, querida. Está tudo bem. Vamos com a tia Ally até o laboratório do tio Oliver para fazer alguns exames. – Respondo e ela continua a exibir a expressão de quem não estava entendendo nada. Viro-me para Juliana, que parece entender que eu precisava de um favor seu. – Juliana, procure pelo meu irmão, minha cunhada, Trish e Jade e informe sobre o que está acontecendo. Avise que precisamos que elas levem Peter e Ian para o laboratório. Iremos realizar todos os exames necessário nas crianças.

— Como desejar, Ally. – Responde Juliana, fazendo uma breve reverência antes de seguir em busca de meus amigos e irmão.

Troco olhares com meu marido e passamos a conduzir todos para o laboratório de Oliver. Tentávamos a todo momento deixar as crianças calmas. Não queríamos assustá-las com alarme falso. Ainda assim, foi inevitável o pavor nos olhos de Jade, Manu e Trish assim que nos encontraram, já cientes de nossas suspeitas. Quando finalmente chegamos ao laboratório com as oito crianças, encontramos Ansel analisando alguma amostra pelo microscópio, enquanto fazia anotações em uma prancheta.

— Ansel, vamos realizar os exames das crianças para confirmar que nenhuma delas está com a LP. – Avisa Oliver, chamando a atenção do outro cientista.

— Tudo bem. Deixa só eu terminar de anotar as reações do Meropenem na LP. – Responde Ansel e Oliver assentem em concordância.

— Certo. Eu vou preparando o laboratório para realizar os exames. – Informa Oliver, passando a limpar as duas macas que havia no local e a buscar os instrumentos que eles iriam precisar.

O silêncio era quase enlouquecedor. Até mesmo as crianças pareciam cientes da gravidade da situação, ainda que não entendessem bem sobre o que elas iriam fazer. Minha cabeça parecia pesar uma tonelada com tanta preocupação. Mesmo que as crianças do castelo não estivessem infectadas, a LP já estava presente no reino. Oito crianças contraíram a doença e uma delas veio a óbito, isso apenas na capital do país. Se minhas suspeitas estiverem certas, a bactéria já estava espalhada por outras cidades de Krósvia.

Austin e eu precisamos agir para proteger o nosso povo. Agora, além de lidar com Taynara, Victor, Elena e Bárbara e a possível guerra que eles planejam iniciar, ainda teremos que lidar com a bactéria em ação. Por mais que eu precisasse ficar calma, era inevitável não sentir o peso dos acontecimentos em minhas costas. Uma crise biológica e desentendimentos políticos são as últimas coisas que eu precisava durante a minha complicada gravidez.

E agora eu tenho também a confirmação de minha desconfiança de Ansel. Ainda assim, havia algo no rapaz que me fazia acreditar que ele não era de todo ruim. Ele realmente tem ajudado nas pesquisas da LP e tem mostrado grandes avanços na tentativa de conter a bactéria. Por isso, eu não sabia dizer se ele era apenas um informante de Victor ou alguém que foi infiltrado para destruir a mim e a minha família de dentro do castelo.

— Pronto. Terminei. – Avisa Ansel, assim que termina de realizar as anotações e arrumar o laboratório para atender as crianças. Ele me encara com uma expressão calma e gentil, antes de se voltar a sua atenção para Oliver.

— Alguma melhora? Acha que a Meropenem pode ser a solução? – Questiona Oliver e Ansel parece incerto da resposta. Ele então entrega sua prancheta ao colega e suspira.

— Não funcionou para conter todas as bactérias. No entanto, creio que ele seria uma boa alternativa para retardar o avanço da bactéria. – Responde o homem de cabelos dourados, encarando Oliver com esperança.

— Continuaremos estudando outros antimicrobianos. – Oliver suspira, analisando os resultados. Ao mesmo tempo que suas palavras deveriam transmitir segurança por saber que já tínhamos antibióticos que poderiam diminuir a proliferação da bactéria, suas expressões insatisfeitas me mostravam que eles ainda não estavam felizes com os avanços que haviam conseguido com a pesquisa.

— Certo. – Ansel pega a prancheta e guarda em um dos armários do laboratório. – E como os exames irão funcionar?

— Examinaremos duas crianças por vez. Exames físicos e de sangue. – Explica Oliver, encarando Ansel, que assente em concordância. O cientista então se vira para todos que estavam no canto do laboratório, esperando pelas orientações dos dois homens. – Começaremos com Enzo e Diana, que são os mais velhos, seguindo pelos mais novos. Peço que apenas as crianças e os pais fiquem na sala para que a gente tenha mais espaço. O restante pode esperar na sala ao lado. Nós vamos avisando quando for a vez.

— Tudo bem. Vamos lá crianças. – Fala Jade, abrindo a porta para que todos saíssem. Ela então se aproxima de Manu, que segurava Peter com preocupação. – Deixa que eu fico com ele, enquanto você e Prince cuidam da Di.

— Obrigada, Jade. – Manu agradece, entregando o filho a amiga.

Depois disso, os exames se iniciaram. Eu estava tão aflita que nem mesmo conseguia dizer uma só palavra. Enquanto Oliver verificava qualquer sinal diferente em Enzo, eu permanecia ao lado, sentindo meu peito apertado. Austin me abraçava, dando o apoio que eu precisava para me acalmar um pouco, mas enquanto não tivesse o resultado dos exames em mãos com a confirmação de que meu menino estava fora de perigo, eu não conseguia ficar completamente segura.

— Vai doer, mamãe? – Pergunta Enzo, quando Oliver avisa que vai colher o sangue dele.

— Um pouquinho, filho. – Confesso, aproximando-me dele. Deixo um beijo demorado em sua testa e pego em sua mão que estava livre, levando até os meus lábios. – Mas você pode fazer um esforço e ser forte pela mamãe? Tenho certeza de que o tio Oliver não vai demorar e eu prometo que vou segurar a sua mão o tempo todo.

— Tudo bem, mamãe. Eu vou ser superforte assim como o papai. – Afirma Enzo, mas eu podia ver os seus lindos olhos hesitantes.

— Ah, mas você é muito mais forte do que eu, filho. – Garante Austin, acariciando os cabelos castanhos de Enzo.

— É sério, papai? – Questiona Enzo com os olhos brilhando.

— Com certeza. – Responde meu marido, encostando a testa na do filho por alguns instantes, antes de se afastar com um sorriso confiante nos lábios.

— Mesmo, mesmo? – Insiste o garoto, como se não tivesse tanta certeza das palavras do pai. Austin ri e me encara por alguns segundos. Sorrio e faço sinal para que Oliver se aproximasse e começasse a tirar o sangue de Enzo.

— Mesmo, mesmo. Você é muito mais forte do que o papai e a mamãe. Você não sabia disso? – Questiona Austin, atraindo por completo a atenção de nosso menino, que nega, impressionado com a fala do pai. – Quando eu era criança, eu sempre chorava para fazer exames, sabia?

— Você sentia dor, papai? – Pergunta Enzo com genuína preocupação.

— Não. É que eu era muito medroso. Assim como um gatinho com medo da água, todas as vezes que meus pais queriam me levar no médico, eu fugia o mais rápido que eu podia e quando eu era pego, sempre me jogava no chão e chorava como um bebê. – A narrativa de meu marido faz com que nosso filho gargalhasse ao imaginar a cena.

— Que medroso, papai! – Aponta Enzo, rindo com toda a sua doçura. Ele então encara o pai com seriedade. – Mas não se preocupe, papai. Eu vou proteger você e sempre que sentir medo pode segurar a minha mão.

— Mesmo, mesmo? – Pergunta Austin, repetindo a reação de nosso filho instantes antes. O garoto abre um enorme sorriso e desfaz o aperto de minha mão para segurar a mão do pai com intensidade.

— Mesmo, mesmo. – Afirma Enzo com aquele ar de quem era confiável. Acabo rindo de sua reação, no mesmo instante em que Oliver se afasta.

— Prontinho. Já terminamos, Enzo. Você já está liberado. – Avisa Oliver, surpreendo Enzo, que o encara com os olhos arregalados.

— Já terminou, tio Oliver? – Questiona meu filho, alternando o seu olhar entre o cientista, Austin e eu. O homem ri e assente.

— Foi rápido, não é? – Comenta Oliver, rindo. Enzo assente freneticamente. – E você foi realmente muito forte e corajoso. Estou impressionado.

— Como se fala, filho? – Pergunto, acariciando os cabelos macios de Enzo.

— Obrigado, tio Oliver. – Agradece, sorrindo orgulhoso. Oliver dá uma risada anasalada e estende um pirulito para o menino.

— Aqui. Um prêmio por sua bravura e educação. – O cientista explica, dando batidas amáveis no ombro de Enzo.

— Sério? Obrigado, tio Oliver! Olha, mamãe e papai! Eu ganhei um pirulito do tio Oliver. – Enzo mostra o pirulito com euforia.

— Parabéns, filho. – Respondo, enquanto Austin pega Enzo no colo. Viro-me para Oliver e sorrio agradecida. – E obrigada, Oliver.

— Não foi nada. E não se preocupe. Assim que terminar de colher todas as amostras de sangue das crianças, eu vou iniciar a investigação para garantir que todas fiquem bem. Creio que até o fim do dia, eu já tenha os resultados. Mas pelo que eu examinei de Enzo, ele não apresenta nenhum sintoma da bactéria. Sua temperatura está normal, sem manchas ou qualquer outra característica que todos aqueles que contraíram a LP apresentam.

— Obrigado. – Austin agradece, parecendo tão aliviado quanto eu. Ainda havia aquela incerteza e o medo de descobrirmos alguma alteração com o exame de sangue, mas era bom ver o rosto tranquilo de Oliver.

— Bom, nós precisamos cuidar de alguns assuntos urgentes agora, mas se precisar de nós, estaremos em meu escritório. – Aviso e Oliver aquiesce, fazendo algumas anotações em seu caderno.

— Tudo bem. Até mais tarde. – Despede-se, sorrindo gentilmente.

— Até mais, Ansel. – Despeço-me do cientista, enquanto sigo para fora do laboratório com Austin e Enzo. O homem se afasta de Diana, que choramingava pelo exame de sangue e sorri, assentindo.

— Até mais, Ally. – Responde, voltando a se concentrar em acalmar minha sobrinha, que reclamava com os pais pelo exame demorado e por ter que tirar sangue.

Observo a cena por alguns instantes e suspiro, saindo da sala. Ainda pude sentir o olhar de Manu sobre mim, mas eu sabia que naquele momento, a mulher precisava de um pouco de espaço. Informo aos meus amigos que estava na sala de espera com as crianças sobre o término do exame de Enzo e sigo com minha família para o meu escritório.

Assim que chegamos ao local, Austin e Enzo passam a brincar, enquanto eu crio o pronunciamento que teria que fazer sobre os casos de LP no país. Eu também precisava marcar uma reunião com o parlamento para decidir as próximas ações que nós tomaríamos para proteger a população e entrar em contato com os meus aliados para transmitir as últimas informações que nós tínhamos.

Provavelmente tudo aconteceria de madrugada. Como o Primeiro-Ministro já havia se pronunciado, informando a população que o pronunciamento oficial seria realizado pela manhã e que o futuro do país estava em debate, eu ainda tinha algum tempo para finalizar o meu discurso. No entanto, minha mente estava tão caótica que nada do que eu escrevia parecia ser bom o bastante.

— Afaste-se da princesa mamãe, monstro! – Ouço o grito de Enzo de repente, enquanto ele se aproxima de mim com sua espada de brinquedo. Ele se coloca em posição de defesa e encara o pai com seriedade. – Não vou deixar que você a machuque.

— Tarde demais! Com os meus poderes, eu vou destruir você e finalmente terei a princesa mamãe! – Responde Austin, entrando na fantasia de nosso filho.

— Oh, não! O que vamos fazer agora, grande herói Enzo? – Questiono, deixando a folha de meu discurso de lado para dar um pouco de atenção a meu filho e marido. Enzo se vira para mim e me encara com seriedade.

— Não se preocupe, princesa mamãe! Eu vou te proteger! – Grita Enzo, correndo com a espada erguida em direção ao pai.

Acabo rindo da atuação ridícula de Austin ao fingir que tinha sido atingido pela espada de nosso menino. Enzo exibia a expressão de orgulho e continuava a golpear o pai como se realmente estivesse em uma luta.

— Isso é para você aprender a não mexer com a princesa mamãe! – Avisa Enzo, fazendo com que eu gargalhasse ainda mais.

— Oh, não! Eu não sou forte o bastante para sobreviver a força do grande herói Enzo! – Grita Austin, fingindo estar morrendo.

— Muito bem, filho! Acaba com o monstro! – Incentivo, voltando a encarar o papel em minhas mãos.

Um sentimento de esperança toma conta de meu coração ao sentir o bebê se mexer em meu ventre, parecendo compartilhar da animação do pai e do irmão. Suspiro, e acaricio minha barriga. Eu sabia que o mundo estava caótico naquele momento e que meu povo precisava de mim mais do que nunca, mas naquele momento, eu desejava que no mundo existisse somente nós quatro. Enzo, Austin, eu e essa criança que em breve nascerá para colorir ainda mais o meu mundo.

Batidas na porta me despertam de meus pensamentos e é inevitável que um suspiro frustrado escape de meus lábios. É claro que eu sabia que não dava para fugir da realidade por muito tempo, eu realmente me sentia sobrecarregada naquele momento e esperava de verdade que quem estivesse do outro lado da porta trouxesse alguma boa notícia.

— Entre. – Digo, enquanto vejo Austin se recompor e pedir para Enzo esperar um pouco.

— Com licença, Ally. – Fala Juliana, entrando na sala. Ela fecha a porta e se aproxima, acenando docemente para Enzo, que corresponde com animação. – Tenho novidades sobre Scott Marchard.

— Pode falar. – Digo, vendo Austin se levantar com Enzo.

— Eu consegui localizá-lo. – Informa Juliana com seriedade. – Ele parece disposto a colaborar e concordou em conversar com vocês amanhã de madrugada.

— Isso é bom. Não esperava que isso fosse acontecer tão rápido. – Comento e Austin assente, parecendo concordar com o meu pensamento.

— Mas como faremos para realizar esse encontro? Com todo o caos que estamos lidando com os avanços da LP no país, não sei se conseguiremos sair tão cedo de Füssen. – Questiona Austin de maneira pensativa.

— Não se preocupe. Ele virá até o castelo, assim como vai acontecer com Gregory. – Explica Juliana, alternando seu olhar entre nós. – Contaremos com a força do ESEK para que seja possível uma reunião secreta.

— Excelente. Por enquanto, mantenha em segredo a reunião com Scott de outras pessoas além de Dez, Lawrence, Austin e eu. – Oriento e Juliana assente, concordando. Viro-me para Austin e suspiro, dando um fraco sorriso ao ver o rosto preocupado de nosso filho. Meu marido compartilha do mesmo sorriso, provavelmente sabendo o que se passava em minha mente. – Chegou a hora de enfrentar a realidade.