Deadline Circus

Esse é o doce da vitória, ou o amargo da derrota?


Segunda-feira, três horas da tarde.
Japão, Inazuma.

O último dia que Lorelai escutou música ao lado de seu irmão foi há dois anos.

Era uma simples comemoração por ele ter entrado na DLC, estavam apenas eles e os irmãos, já que os pais tinham ido dormir assim que parabenizaram e comemoraram a conquista do filho. Ele tinha colocado um CD no rádio enquanto escutavam quietos, apreciando a voz do vocalista de QUEEN. Era um dia normal para a garota, que nunca pensou que isso se tornaria uma lembrança maravilhosa de como era seu passado.

Hoje, ela estava ao lado Victor, escutando uma música sozinha em seus fones. Victor negou a escutar música com ela, o que ele nunca tinha feito antes. Claro que ela ficou triste, mas não demonstrou, apenas colocou um sorriso no rosto e escutou sozinha.

Atrás delas tinha as meninas conversando sobre estar ali. Lorelai não tinha muita vontade de falar com elas naquele momento, parecia tudo tão novo e não era acostumada a andar em grupinhos. Sempre foi alguém que participava de todos os grupinhos sociais da escola, por mais que seu melhor amigo não fosse ala de algum grupo escolar.

Suzuno Fuusuke. Esse é o nome de seu melhor amigo. Tem a mesma idade dela, entrando no Circus um ano atrás, quando Lorelai não pode entrar por ter ficado doente. É alguém frio e sarcástico, muitas vezes as palavras do mesmo machucam, mas com um tempo ele se solta e esse jeito frio acaba ficando de um jeito amável. Se não fosse Suzuno, ela não teria conhecido Nagumo Haruya, seu namorado.

Eles namoram há um ano, um recorde para Nagumo desde que suas três ex-namoradas foram apenas três meses, um em cada ano. Ela concorda, Nagumo tem seus ataques de ciúmes, mas nada se compara a Lorelai batendo o pé exalando raiva ao ver uma garota perto do Nagumo. Bem, ciumentos se entendem e talvez esse seja um dos motivos que ela e o ruivo podem durar bastante.

— Chegamos à casa dos Saotome. — disse Victor, parando de andar. Lorelai fez o mesmo.

Era uma casa normal. No quintal, tinha um cachorro deitado em sua casinha dormindo, e o quintal era bem cuidado. A casa era branca, de dois andares e parecia ser bem confortável a seu ver. Lorelai pensou por um momento que talvez a missão não seja tão difícil, até ver uma criança de cabelos brancos os observando na janela, e logo saindo correndo. Depois de um intervalo de tempo, a mesma criança abriu a porta e se sentou no degrau que tinha na frente da casa, sorrindo e esperando eles virem.

— A missão é difícil, por mais que aparente ser fácil. — disse Victor, tirando a Lorelai de sua viagem olhando para a casa. — Ela também é importante e esse tipo de missão nunca vem sempre a um grupo novato. É muito avançada, um dos motivos de ser importante.

— Tem outros motivos? — perguntou Yuume. — Você não quer ficar mal na fita para o chefe, certo? Esse é o outro motivo.

— Não, eu já estou na lista negra. Preocupo-me com vocês, não podem decepcionar o chefe nessa missão ao menos que queiram me fazer companhia na lista negra, ou terem o “Todo poderoso” como inimigo. — Victor falou, e todas ficaram confusas. — Essa missão foi uma ordem exclusiva de Pavel, o filho caçula da família Morozov.

Ele olhou para trás, apontando ao menino de longe. O garoto ficou confuso, mas logo sorriu e acenou a todos. Era pálido como o pai, de cabelos brancos e olhos em um vermelho escuro. Não era parecido como os olhos de um vampiro como o de Savannah, eram suaves e o deixava com uma aparência inocente, de algum modo. Era magro, aparentemente alto para a sua idade e não teria menos de treze ou catorze anos.

— Aquele pirralho? — Lorelai perguntou surpresa. Lembrava-se de pouco sobre Pavel, não era chegada a ele como era aos outros. Ao contrário de sua irmã, Vanilla, que tinha o mesmo como o melhor amigo, sem falar que ambos estudam na mesma escola. Logo olhou o garoto se distrair com uma borboleta que passava por ali, e ficou sem entender direito aquilo.

— Ele se distraiu com uma... — Yasmin parou no meio da frase. — Desisto de ser caçadora. Adeus.

Seirin segurou a Yasmin. Todos foram andando na direção do menino, que sorria olhando a borboleta que tinha pousado ali perto, e logo saiu ao sentir alguém chegando perto, o que fez o menino os olhar sorrindo.

— Nunca tinha visto uma borboleta de perto. Principalmente uma azul. — ele comentou animado. — Sabia que as borboletas são o símbolo da Teoria do Caos?

As meninas se entreolharam. Ficou um grande silêncio por um longo tempo, até Pavel quebrar o gelo com seu inocente sorriso.

— A ideia da Teoria do Caos é que uma pequena mudança no início de um evento totalmente aleatório pode trazer consequências aleatórias e desconhecidas no futuro. Assim, esses eventos seriam meio que imprevisíveis, e caóticos. — Pavel explicou. —É como se um bater de asas de uma borboleta no Japão pode fazer um furacão, tempos depois, nos Estados Unidos! Incrível, certo?

Elas ficaram em silêncio por um tempo, e Victor riu.

— Ninguém quer um furacão. — Victor falou a ele. Pavel concordou, sorrindo. — Então, Pavel. Vamos precisar que você vá embora.

— Ele não vai embora.

Eles olharam para frente. Um menino do tamanho de Pavel, de olhos dourados e cabelos longos batendo na cintura na cor roxa. Estava vestido com as roupas do colégio, assim como Pavel. Provavelmente tinham acabado de chegar.

— Eu não tenho medo com ele aqui perto. Confio nele.

Lorelai ficou confusa, e logo olhou Savannah ao seu lado que estava confusa também. Talvez elas estivessem assustadoras? Nenhuma parecia estar armada, já que as armas estão escondidas dentro de suas vestes.

— Então pode ficar. — o de cabelos brancos sorriu com a fala de Victor. — Entretanto, deverá obedecer quando eu disser que você tem que ir para casa. Seu pai me bate se souber que estou deixando você ficar, então imagine o que ele pode fazer se você perder uma refeição do dia? Afinal, avisou a sua mãe que almoçou aqui?

— Sim. — Pavel fez bico, não gostando de ser tratado como criança. — Vamos, Takuya. — falou ao garoto de cabelos longos, entrando com ele.

— O que foi isso agora? — Lorelai perguntou.

— Takuya tem fobia a caçadores e conflitos envolvendo vampiros. O único que confia é o Pavel, que ainda nem é um caçador. — Victor disse a irmã. — O pai dele foi vítima de uma bala perdida numa batalha entre vampiros e caçadores. Ele viu tudo. E nesse momento ele está assustado porque um vampiro tentou matar ele e a mãe, mas o vampiro sumiu do nada.

E assim eles entraram em casa, meio ressentidos devido ao garoto. Estava uma bagunça, por isso devem ter escutado uma voz feminina dizendo para subirem ao segundo andar e não repararem na bagunça.

A morena viu que Pavel e Takuya estavam na sala vendo um filme que não conseguiu reconhecer, e depois seguiu os outros para o segundo andar. Em seu fone, ela percebeu que escutava “If I Lose Myself” do ONEREPLUBIC, deu uma cantarolada antes de desligar a música e tirar os fones. Colocou o celular no bolso escondido do, sobretudo preto que usava, assim como o fone.

Eles entraram num quarto onde tinha uma mulher de jaleco preto, mexendo em alguns líquidos e anotando algumas coisas. Ela parou, tirando os óculos grandes que tinha e sorriu a eles.

— Sou Saotome Nana, uma pesquisadora sobre vampiros. — a mulher se apresentou, tirando as luvas que usava para apertar as mãos deles. —Muito obrigada por terem vindo. Vou agradecer depois Pavel por chamá-los.

— O que exatamente aconteceu naquela noite? — perguntou Victor, e Nana sorriu meio forçado.

— Por favor, sentem. — apontou a uma mesa cheia de livros. — Desculpe por eles. É somente ignorar.

A mesma fechou os livros antes mesmo que qualquer pessoa pudesse ler o que ela estava pesquisando naquele momento. Ela colocou os livros empilhados no chão, e todos se sentaram nas cadeiras que tinha em volta deles.

— Bem, Takuya estava estudando dentro do quarto. Eu estava parando de trabalhar para ir prepara algo para a janta. — Nana disse. — Quando entrei na cozinha, lá estava o vampiro. Ele me atacou, mas eu consegui o distrai sai correndo na direção contrária a do Takuya, para ele não atacar o meu filho.

Ela fez uma pausa.

— Só que Takuya desceu as escadas, e então fui obrigada a ir até ele e o segurar no colo, correndo do vampiro e tentando fugir. Foi tudo muito rápido depois disso e... — ela começou a falar rápido, então respirou um pouco e os olhou. — Eu entrei em um quarto sem saída, tranquei a porta. Mas ao me virar, ele tentou me atacar. Eu fechei os olhos e Takuya também, mas então não sentimos nada. O vampiro tinha sumido!

Lorelai olhou as outras anotando o que ela falava, e então se afundou na cadeira ao ver que não tinha nada para anotar. Ela olhou a pesquisadora.

— Isso foi há quantos dias? — Lorelai perguntou, e Victor a olhou piscando de leve um dos olhos. Talvez ele gostasse do fato de não ser o único a ficar fazendo perguntas no meio de tantas garotas que apenas anotam.

—Faz três meses.

— Três meses? — Savannah se surpreendeu. — Porque não contatou antes?

— Não achei que seria necessário, e então vi que meu filho ficou com medo e não conseguia dormir, por isso chamei vocês. — Nana comentou.

— Nunca mais faça isso. Ele poderia ter voltado. Você tem muita sorte. — Seirin falou a mesma, olhando Lorelai. — Se quiser pode ver as minhas anotações. — falou baixinho para apenas ela escutar.

Lorelai sorriu a menina ao seu lado, olhando as anotações. Nana começou a falar e ficar trêmula, tanto que Yuume desceu até para pegar um copo com água para ela.

— Seu marido morreu há quanto tempo? — Carolina perguntou.

Nana ia falar, e Yuume voltou com a água. A mesma bebeu, mas não respondeu a pergunta da menina. Por isso que, provavelmente, Carolina fingiu esquecer-se da pergunta. Lorelai viu Seirin anotar algo que a chamou atenção um pouco. Ela analisou Nana, que começou a chorar.

Mesmo com aquele choro todo, Lorelai pode perceber que Seirin estava certa na anotação. Nana estava escondendo algo relacionado ao marido, mas não disse nada, afinal a senhora chorava de soluçar na frente deles.

Eles se retiraram, pedindo desculpas e que voltariam amanhã para mais detalhes. Disseram que iam ficar vigiando a casa para ver se algum vampiro não ia entrar, e assim saíram da casa enquanto Takuya entrava correndo e abraçando a mãe.

Logo Pavel foi atrás deles, dizendo que ia para casa também. Ele segurou a mão de Lorelai, que apenas sorriu ao mesmo. A morena olhou para a escada que dava ao segundo andar, olhou Seirin que parecia preocupada com aquilo.

Ao abrirem a porta, viu o melhor grupo do Deadline Circus parecendo esperar por eles. Dimitri era chamativo com aquela postura de um líder perfeito e a cicatriz no rosto. Mas o que mais chamou a atenção dela foi o namorado.

O Tramp, em homenagem ao estilo de palhaço conhecido como Tramp, era composto por apenas meninos, e o líder era Dimitri Morozov. Dos integrantes, tinha Nagumo Haruya, Suzuno Fuusuke, Kidou Yuuto, Goenji Shuuya, Hiroto Kiyama e Fubuki Shirou.

Ela soltou a mão de Pavel e correu aos braços de Nagumo, pulando e o abraçando fortemente. Pode escutar alguns rindo e Victor os mandando irem alugar um quarto, porque isso já estava ficando meloso logo de primeira. Ela deu um riso.

— Não somos tão melosos. — nesse momento, Nagumo deu um leve beijo na cabeça dela.

— Apenas grudentos. — Dimitri comentou.

— Oh, é a Yuume. — Suzuno disse, olhando a garota. Ela o olhou. — Oi.

Lorelai soltou do Nagumo, cruzando os braços e deu um puxão de orelha no Suzuno.

— Está me trocando? Quer outra melhor amiga? — Yuume arqueou a sobrancelha com o ciúme de Lorelai com Suzuno.

— Eu a conheço desde infância. Somos amigos. — Suzuno falou. — Espera, não lhe devo explicações. Não sou seu namorado.

— Está sentindo ciúmes dele? —Nagumo cruzou os braços.

Ficaram todos calados, e logo começaram a rir.

Mesmo com aquela distração, ela não pode deixar de pensar se algo ruim poderia acontecer por ela e Seirin terem optado a não contar sobre que suspeitaram de Nana estar escondendo algo. Respirou fundo, fechando os olhos abraçando o namorado e tentando esquecer aquilo.

****

Terça-feira, oito horas da manhã.
Japão, Inazuma.

Eles ficaram desde meia noite até agora vigiando a casa dos Saotome. Estavam espalhados por todos os lugares onde vampiros poderiam passar, mas nada acontecia. Lorelai estava na porta da casa da família, quase dormindo sentada e encostada no portão.

Mas logo escutou seu celular apitar junto ao de todos os membros espalhados pela a rua. Finalmente eram oito horas e nada tinha acontecido. Ela se levantou, pulando de alegria e se virou ao escutar a porta se abrindo.

Takuya saiu dali, com as roupas de verão do colégio. Lorelai sorriu de leve, se lembrando de quando estudava na Teikoku após ter sido expulsa da Raimon por milhares de motivos que a maldita abelha rainha Natsumi Raimon armou a ela. Respirou fundo, tentando lembrar-se de apenas dos momentos felizes que passou a Teikoku.

— Obrigada por tudo. Minha mãe está indo se deitar. Ela perguntou se vocês poderiam não ficar por aqui hoje, ela quer ter um momento de paz comigo apenas hoje. — Lorelai olhou o irmão chegando primeiro que as outras, que logo chegaram e escutou o menino. — É raro nós ficarmos juntos sem ser na janta. Muitas vezes sou eu que preparo o meu café da manhã e o almoço, pois ela trabalha até a noite e, quando eu me levanto para tomar café, ela está indo dormir. Hoje eu vou voltar da escola e nós vamos ficar o dia todo juntos.

Lorelai olhou Victor. Por um segundo, se identificou. Os Salazar nunca ficaram muitos juntos, era algo raro, pois seus pais sempre foram muito ocupados, os momentos em que ficavam com eles era apenas em datas comemorativas ou alguma comemoração.

Bem, quando eles se lembravam disso.

— Claro. — Victor sorriu. — Estamos exaustos também. — disse apontando a Yuume que aparentava que ia dormir em pé ali.

Takuya sorriu e se despediu, acenando. Eles acenaram de leve ao mesmo, e bocejaram juntos. Foram a caminho do Deadline Circus apenas para dar sinal de vida, e ela pegou o celular e o fone para tentar afastar esses pensamentos, e Victor desacelerou o passo até que ficasse na mesma altura que Lorelai.

— Posso escutar com você? — Victor perguntou, e sorriu. Lorelai ficou parada por um tempo, mas logo sorriu e afirmou, entregando rapidamente um os fones para ele.