Deadline Circus

Lágrimas não são o fim dos seus pecados.


Quarta-feira, dez horas.
Japão, Inazuma.

Savannah nunca ia entender o fato de o Tramp ser considerado o melhor grupo, ou um dos melhores.

Segundo Victor, eles não são os melhores caçadores. De algum modo, Savannah mentalmente discordava isso devido a Victor não responder o porquê deles não serem os melhores, apenas a mandou aprender mais sobre o que acontecia no grupo e o que aconteceu antes.

Também não são tão gentis, principalmente Dimitri que, assim como o Victor o descreveu, é a prova viva que homem também tem TPM quando querem. Poderia considerar o fato de o líder ser Morozov, mas ele é quase odiado pela a metade do DLC por algum motivo que ela desistiu de entender as explicações sem lógica dos caçadores. Os outros membros até são aturáveis, mas não são do tipo que deixaria você feliz sempre.

Seus pensamentos se esvaíram quando Carolina sentou junto a Yasmin ao seu lado, colocando uma lata de refrigerante em sua frente. Logo Yuume, Yasmin e Seirin se juntaram, enquanto os irmãos Salazar estavam sentados no canto escutando música juntos, sem falar nada.

—Sinto inveja deles. — Yasmin disse, colocando uma bala na boca. Ofereceu a todas, que negaram.

— O líder e a Lorelai? — Carolina perguntou.

— Não, os Tramp. — Yasmin respondeu, respirando fundo. — São os melhores, as coisas são fáceis e não deixam com receio de que algo ruim vai acontecer.

— Nem para tanto. — Yuume disse, e as meninas a olharam. — Segundo Pavel, o melhor grupo de caçadores do Deadline Circus era, e ainda é, o “Mimo-clown”. Era o maior grupo, de dez pessoas, e elas eram comandadas pelo o sobrinho do chefe, o Czar.

— Eu achava que não tinha nenhum grupo com esse nome. — Savannah comentou. — Eles acabaram?

—Sim. Há dois anos, ouve um massacre e muitos caçadores morreram. — Yuume mordeu o lábio. — De dez membros, apenas três sobreviveram, que foram o Dimitri, uma caçadora chamada Giulia Santiago e o líder Czar, mas ele perdeu uma das pernas, e agora é professor de aprendizes. Dizem que ele é muito bom, mas o fato dele ter uma prótese as vezes é uma desvantagem.

Ela fez uma pausa.

— Depois de um tempo, foi criado o Tramp, uma junção de alguns caçadores que foram entrando nos últimos anos. Os integrantes são todos meninos que foram aprendizes de Czar, e é liderado por Dimitri, que era do Mimo-Clown. — Yuume sorriu. — E o Tramp é apenas o Tramp por isso, eles foram criados para ser um dos melhores grupos, se não o melhor.

— E Giulia? — Savannah perguntou. Yuume mudou suas feições, as deixando como se estivesse com pena.

— Giulia é caçadora reserva do DLC, as pessoas não gostam dela por a acharem louca. Dizem que seu irmão morreu, mas ela ainda nega que ele tenha morrido achando que ele esta vivo, já que não acharam o corpo dele. — Yuume torceu o lábio. — Pavel diz o contrário, fala que coisas surpreendentes acontecem todo o dia.

“Coisas surpreendentes acontecem todo dia.” De algum modo Savannah gostou da frase, e estranhamente escutou ele falando aquilo em sua cabeça. Ela achava Pavel inocente demais, e como ele era aprendiz de caçador, imaginava como seria ele numa luta.

Todas pararam com o Victor levantando e tacando o fone em cima de Lorelai. Foi andando até Seirin, aparentemente irritado, mas logo bateu na mesa. Todos do refeitório da DLC, onde eles estavam sentados, pararam e olharam o grupo.

— Ih, Victor se irritou. — foi escutado de algumas pessoas. Sussurros falavam a mesma coisa, e podiam ser ouvidos pelo o silêncio do local.

—Não sei perceber sentimentos das pessoas, raramente percebo o que as pessoas estão sentindo nesse exato momento. Por exemplo, não sei se vocês estão felizes agora ou não. Na realidade, nem sei e pouco me importa sobre isso. É um problema que tenho desde que nasci. — Victor comentou. — Então, espero que sejam muito honestas comigo, porque eu posso não perceber sarcasmos ou coisas assim, mas eu sou bom em facas e em acabar totalmente com missões. Se descobrir que mentiram, eu acabo com a vida profissional de vocês, e até mesmo com a vida.

Lorelai se levantou, ficando parada num canto.

— Alguém percebeu, além da Lorelai e da Seirin, algo estranho na mãe de Takuya? — Victor perguntou.

As meninas se entreolharam, e Carolina pareceu confusa. Savannah olhou Victor, e depois Seirin e Lorelai. Por fim, Carolina bateu a mão na cabeça.

— Que bosta. Acho que percebi, mas nem notei. — Savannah olhou a menina, que parecia se sentir um pouco culpada. — A mãe estava tentando esconder algo sobre o pai.

Savannah arregalou os olhos. Na realidade, todas tinham percebido, entretanto não falaram nada e nem comentaram sobre isso. Apenas naquele exato momento, quando um Victor aparentemente furioso, veio falar com elas.

O menino aplaudiu, e começou a rir. Parecia irritado, principalmente pelo o fato de ter pegado a latinha vazia de Savannah e amassado, depois a tacando na parede. Ele parecia querer fazer aquilo com alguém, mas tentava se controlar.

— Vamos para casa deles agora. Nem vamos esperar dar algum tempo depois do almoço. — Victor passou a mão nos cabelos. —E quero que todos voltem a prestar atenção em outras coisas, ok? — os outros caçadores voltaram a o que estavam fazendo.

— Mas o que houve? Ela talvez não queira comentar s... — Yuume foi interrompida, enquanto levantava para ir com todas elas atrás de Victor.

— O que houve? Vou lhe dizer o que houve. — Victor se virou a elas. — Nós perdemos. E eu sou infantil, e o que mais odeio é perder.

***

Quarta-feira, dez e vinte.
Japão, Inazuma.

Savannah não entendia o porquê da raiva de Victor até o momento em que entrou na casa. A porta da frente aberta não estava muito convidativa, sem falar que Pavel tinha falado por telefone que Takuya não tinha ido à aula. Eles tinham se dividido em grupos: Victor, Carolina e Yuume viam se Nana e Takuya estavam no segundo andar, enquanto ela e as outras procuravam no primeiro.

Ela tinha colocado as mãos nas espadas logo assim que entrou na sala, se assustando com o próprio reflexo de seu rosto no espelho. A sala estava uma zona, sem falar que a pizza estava aparentemente boa para os mosquitos, que talvez estivessem ali desde ontem de tarde.

— Era de calabresa. — Lorelai se lamentou, fazendo um bico que Savannah tinha raiva de admitir que seja fofo.

— Prefiro Mussarela. — Seirin comentou, e Lorelai reclamou que era modinha gostar de mussarela, já que antigamente todos faziam caretas e diziam que mussarela era sem graça.

— Caladas. — disse Yasmin ao escutar um grito. Lorelai colocou a mão dentro de seu, sobretudo, retirando duas bombas.

Lorelai se preparou para acender, mas era apenas Nana na cozinha. Ela parecia bem feliz, por mais que aparentasse estar meio bêbada devido às várias latinhas caídas em cima da mesa e o copo que ela estava em mãos.

— Olá meninas! — falou, cambaleando. Yasmin colocou-a sentada em uma cadeira, para a mesma não cair. Todas guardaram as armas, sorrindo de leve a Nana, que parecia bem feliz mesmo que estivesse ao efeito do álcool. — Vocês não vão acreditar no que eu consegui!

— Vou chamar os outros. — Savannah disse, se virando de costas quando Nana ofereceu cerveja a Lorelai, que disse que era menor de idade.

Savannah subiu as escadas, e ao chegar ao topo da escada e andar apenas dois passos, olhou a cena mais estranha de sua vida. Um vampiro sem cabeça, e não quer comentar o fato dela estar rolando em sua direção naquele momento. Se levantando estava Carolina, resmungando algo que ela não entendeu.

Victor permaneceu em silêncio, parecia não ter se importado. De algum modo ele parecia tranquilo, ao contrário de Yuume que estava horrorizada atrás dele, olhando rapidamente a Carolina.

— O que houve aqui?

— Um vampiro estava na casa. — Yuume disse e saiu correndo, descendo as escadas. — Me lembre de nunca ficar sozinha perto deles, por favor.

Savannah podia ver o medo de Yuume nos olhos assim que ela saiu correndo. Ela olhou confusa para Victor e Carolina, que tiraram os olhos do corpo do vampiro se desfazendo aos poucos e foram andando até ela.

— Acharam o que? — Victor perguntou.

— Bem... Ah, sim! — ela se lembrou do que ia falar. — Nana está na cozinha. Bêbada, mas na cozinha.

— Pessoas bêbadas falam verdades mais fácil, certo? — Savannah olhou Victor estranho, que apenas revirou os olhos e saiu andando, dando um leve empurrão em seu ombro sem querer, já que ele fez sinal de desculpas mesmo que parecia forçado.

— Vamos!

Carolina sorriu, pegando no braço de Savannah e descendo junto a ela pela as escadas. Foram andando até a cozinha, por mais que Savannah estava quase sendo arrastada. Carolina fez uma careta ao ver a pizza cheia de moscas, e assim entrou na cozinha, tampando o nariz talvez pelo o cheiro de álcool no ar.

Mas tinha algo diferente ao invés de cervejas em cima da mesa. Tinha uma gaiola, com algo dentro. Parecia um humano esquelético, com os longos cabelos grisalhos tampando o seu rosto, mas dava para ver que ele mordia o próprio braço. Por mais que dê para narrar, era algo mil vezes pior.

— O que é isso? — Savannah perguntou de boca aberta com a visão, assim como as outras. Victor virou um pouco o rosto, depois olhando Nana.

—Um vampiro criado em laboratório! — Nana falou alegre. — Agora que eu sei como fazer um vampiro, posso descobrir como matar um.

Savannah poderia estar se sentindo feliz, mas não conseguiu. A cena era horrorosa, e o fedor que o bicho exalava era enorme e podre, como se algum humano estivesse morrido naquele exato momento.

Ela chegou mais perto, assim como os outros.

— Ele fala. — Nana comentou. — Vamos, vampirinho, fale.

O bicho encarou Savannah nos olhos, mas ela não podia ver se realmente estavam olhando para ela devido ao cabelo em seu rosto.

— Oi! — ela tentou parecer o mais gentil possível, tirando o rosto de nojo. Logo escutou um grunhido baixinho vindo daquilo.

— Caçadora... — disse o bicho, baixinho. Logo ele aumentou a voz, se afastando de todos. — Pa...Pavel... Cadê? E-eu preciso dele aqui... Estou com medo.

Savannah arregalou os olhos enquanto as suas pupilas mostravam o estado de choque da menina. Não, é coisa minha. Pensou isso muitas vezes, mas não adiantou.

— Nana... — Savannah falou arrastado. — Você fez outros experimentos desses?

— Sim, três anos atrás. Entretanto eu errei em algo que não me recordo no momento. — Nana disse, e mesmo da distância que estava de Nana, podia sentir o bafo de cerveja dela.

— E quando seu marido morreu? — perguntou, cerrando o punho.

Nana parou e pensou um pouco, tomando o último gole da latinha de cerveja. Ela falou meio embolada com as suas palavras, se levantando e andando um pouco, com a mão no queixo.

— Faz três anos. — ela respondeu, mexendo nas gavetas.

Yasmin não tinha notado, então tampou a boca lacrimejando um pouco. Lorelai a virou de costas, sorrindo e tentando a acalmar mesmo que aparentava ser a mais assustada naquele momento.

Savannah se afastou do bicho, andando até Nana e colocando as mãos na espada sem que ela percebesse.

— E cadê seu filho?

Nana olhou Savannah com um sorriso, fechando uma gaveta. Estava próxima a uma faca de cozinha, e assim a mesma pegou e olhou a criatura engaiolada, foi até ela e cortou o pulso, colocando o braço dentro da gaiola para o bicho beber, o que ele fez com cuidado.

— Esse é o meu filho. — A mesma falou, e Savannah ficou atrás dela, retirando a espada. — Odeio pessoas que entendem as coisas rápido demais.

Nana se virou, atacando Savannah rapidamente. Savannah por pouco se desviou, e se afastou da mulher, pulando na pia e indo para a saída.

— Lorelai!

A Salazar entendeu na hora, retirando a bomba acesa de dentro do sobretudo e pegando a gaiola onde estava o vampiro, a fechando e tacando em Nana. Saiu correndo junto a todos, e Victor fechou a porta atrás dela. Savannah chegou perto deles, e virou a cabeça ao escutar o estouro da bomba dentro do local, no qual destruiu a parede, mas por sorte não acertou a nenhum deles.

Lorelai colocou um pano por cima da gaiola onde Takuya estava, e entregou a Yuume, que saiu correndo para fora da casa segurando aquilo. Olharam o local, e viram que Nana estava quase morrendo. Victor e Savannah foram até ela, que ria mesmo estando com a metade do corpo soterrado.

Victor olhou todas, pegando o celular e indo ligar para alguém que Savannah não sabia quem era.

— Vocês vão se arrepender de me matar. — falou Nana, tossindo sangue. — Eu sou importante.

— Não é. Você destruiu a própria família para uma experiência. — Savannah falou, com raiva da mesma.

— Eu sei de uma coisa que vocês não sabem, e todas as pessoas que sabiam vocês mataram. E dando um conselho... — ela fez uma pausa, parecendo perder o ar aos poucos. — Melhor ligarem ao certo caçula.

Ambos arregalaram os olhos, e Victor parou de discar a quem estava e começou a tentar ligar a Pavel. Chamava, e ninguém atendia. Ele desligou e olhou a mulher, que acabava de morrer naquele momento.

— Acho que vamos ficar desempregados. — Savannah comentou baixo.