Fred havia acabado de chegar a conclusão de que sua vida era um lixo, uma verdadeira porcaria! Não era largado no mundo, mas se considerava assim. Seus pais quase não paravam em casa, e quando paravam, ele estava dormindo. Seus irmãos eram outro caso a parte. Maria e Fabio ficavam o dia inteiro com os amigos, e esqueciam do irmão caçula.

Mas diferente do que pensava, Fred tinha amigos, dois amigos, dois grandes amigos. Diego e Simone, os dois eram colegas de classe de Fred, e eles adoravam passar o tempo juntos, falando besteiras e contando piadas.

Adoravam tanto esse tempo juntos que resolveram firmar um namoro. Já fazia dois meses que Diego e Simone estavam namorando, e haviam excluído Fred de seus encontros. De vez em quando eles o chamavam para ir ao cinema, ou algo do tipo, mas ele sempre recusava, não queria ficar de "Vela".

Fred estava no banheiro, havia acabado de sair do banho. Adorava pensar na vida durante os longos minutos que passava de baixo do chuveiro. Ali não tinha ninguém para incomoda-lo, ficava em casa praticamente o dia todo sozinho, a sua única companhia era o gato herdado de sua avó, depois da morte dela.

Ele fechou o registro, a água do chuveiro secou. Quando abriu a porta pode sentir o vento frio invadindo o banheiro quente. Teve um leve sobressalto e decidiu ignorar aquilo. Andou semi-nu até a sala, não tinha ninguém para ver suas genitálias, e pelo o que sabia, gatos não reclamavam.

Andou até o seu quarto, terminou de se trocar lá.

Não sabia para onde ir, mas não queria ficar em casa. Estava de recesso na escola, e não podia ficar em casa todos os 30 dias, iria parecer uma velha antissocial.

–Tchau, bichano.– Ele disse quando acariciou as costas do gato.

O animal não fez nada em resposta, o que não surpreendera Fred, já que ele sempre estava com a mesma expressão, parecia sempre estar triste.

Antes de sair, Fred olhou seu reflexo em um espelho que ficava perto da porta. Ele era um jovem de dezesseis anos como qualquer outro, não se achava feio, mas também não se achava muito bonito. Seus cabelos castanhos eram caídos para frente, devido a preguiça de corta-los. Seus olhos eram escuros e suas bochechas eram pontilhadas por espinhas que ele provavelmente nunca iria espremer.

Ele saiu da casa onde morava e sentiu a leve brisa balançando seus cabelos. O lugar onde vivia era perto de um parque aberto, e já sabia para onde poderia ir passar a tarde. Talvez se entretece vendo os típicos velhinhos jogando dominó na pracinha.

Caminhou até a rua que dividia seu quarteirão até o quarteirão da Praça Dimas. A rua era larga, e carros passavam a todo o instante, mas Fred não se intimidava, atravessava ali praticamente todo dia para ir à escola, e nunca tivera problema algum.

Ele não esperou o sinal de carros ficar vermelho e se apressou ao atravessar. Estava no meio da rua quando uma van desgovernada virou.

Pode se ouvir o barulho de um tiro. Seu sangue gelou. Fred ficou estático no meio da rua, não sabia se atravessava ou se abaixava. Não era comum haver perseguições na sua cidade, era uma cidade de interior, pacata, conhecida pela baixa taxa de assaltos. Quase não tinha crimes, quanto mais perseguições policiais.

Na janela da van, uma pessoa colocou meio torço para fora. Era um homem, fora a única coisa que Fred viu, ele tinha um capuz que o tampava o rosto inteiro. O bandido estava segurando um fuzil, ele começou a atirar contra o carro de policia que os seguia.

Um, dois, três, Fred perdeu as costas que quantos disparos foram.

Ele resolveu se mexer, ainda estava no meio da rua. Mas antes que fizesse algo, a Van o atingiu.

Fora arremessado para longe, mas antes de cair no chão Fred havia perdido a consciência.