Dead Players

Capitulo 1- O Jogo


Fred abriu os olhos. Sua visão era turva, mas mesmo assim conseguiu enxergar envolta de si. Estava em um pequeno cômodo, parecia a sala de estar de um apartamento. O carpete no qual estava deitado era cinza, e os sofás eram de couro escuro. Dava para ver a cozinha através do balcão, e a direta ficava uma janela para a sacada.

Ele decidiu que não ganharia nada ficando deitado do jeito que estava, se levantou. Sentiu uma tontura passageira quando se situou de pé, mas logo o mal-estar fora embora.

Onde estava?

Essa pergunta o martelou a cabeça. Ali não era a casa onde morava, muito menos a casa de algum conhecido. Tentou se lembrar de como teria ido parar lá, mas não conseguiu lembrar de nada. A visão mais próxima que teve foi dele acariciando as costas de Pipile, ou como ele carinhosamente apelidara, bichano. Depois dessa memória tudo se apagava.

Resolveu fazer algo.

Andou até o sofá, pegou o controle remoto, apontou para a televisão que ficava no canto do aposento, apertou o botão de ligar. Nada. O televisor continuou desligado. Tentou ligar o aparelho manualmente, mas ainda não ligava. Jogou o controle contra as aparentemente confortáveis almofadas do sofá.

Fred se pôs a andar em círculos. Se perguntou o que estava acontecendo, e o mais importante, por que estava ali...

Andou até o interruptor peto da porta de saída, apertou, nada se acendeu. Depois disso percebeu que provavelmente estaria sem luz. Primeiro mistério solucionado, pensou.

Resolveu andar até a única fonte de luz que tinha ali, a sacada. Fred tinha medo de lugares altos, devido ao incidente com seu tio materno. O tio Pepe, como era chamado, havia caído de uma janela quando Fred ainda era criança. Fred nunca soube por que, mas sempre teve um bloqueio contra janelas desde aquilo, só ia a uma janela para jogar papel de bala fora.

Deixando os medos de lado, ele jogou as cortinas para o lado e entrou na sacada. Era alta, decimo andar, palpitou, a cidade estava parada. Fora quando percebeu duas coisas de diferente, o céu era completamente cinza, e aquela não era a sua cidade. Ele morava no interior do estado de São Paulo, em uma cidade pouco conhecida. Não tinham prédios grandes como aquele que estava, a maioria das moradias eram as tradicionais e velhas casas.

Fred quase caiu para trás quando viu algo se mexer lá embaixo, não conseguiu distinguir o que era, mas não era uma pessoa. Era quadrupede, pelos tão escuros quando sombras e olhos púrpuros. A criatura encarou Fred por alguns instantes, mas logo em seguida virou o rosto e entrou em um beco.

Decidiu sair dali, não sabia o que aquilo era, não estava com cara de amigo.

Ao sair da sacada, Fred não via outro lugar para ir se não embora. Estava em uma casa que não era sua, muito menos sabia quem era o dono do lugar, não seria certo ficar lá. O menino se dirigiu a porta, estava aberta.

O corredor que sucedera era úmido e largo, Fred apertou o botão do elevador, mas como já esperava, nada aconteceu. Teve que usar as escadas. Os degraus eram cinzas, assim como o restante de todo o piso, as pequenas janelas deixavam entrar a luz cinza que vinha de fora. Teve a impressão de dar um passo em falso, mas era somente o térreo.

Ele não fez muita cerimonia para sair daquele lugar. Passou por uma antessala com duas cadeiras de madeira e um espelho na parede.

Já na rua, Fred reparou que todas as placas tinham setas, e elas apontavam para um lugar só, resolveu seguir.

Fred caminhou exatos trinta minutos, para então chegar a um praça aberta. Era um lugar enorme, somava ao todo dois quarteirões. Era aberto, cheio de grama e árvoresa altas verdes, e alguns caminhos de piso levavam para um circulo central. Resolveu seguir.

As árvores eram tão grandes, e de folhas tão espessas que tampavam a entrada da luz cinza, parecia estar de noite dentro do parque. Fred teve a impressão que viu algo se mexer atrás de si, olhou. Viu apenas um vulto passando, saiu de uma moita e entrou para outra, os olhos purpuras ainda o fuzilavam.

Mesmo com medo, decidiu continuar seguindo. Se voltasse talvez o mostro o atacasse. O corredor de árvores ficou mais escuro, agora parecia não entrar nenhum feixe de luz sequer, mas logo a frente Fred conseguira avistar um pouco de luz, e mesmo ainda sendo aquela luz cinza e sem esprerança, resolveu continuar a andar. Acelerou o passo e chegou rapidamente ao final da trilha.

O caminho acabava em uma espécie de clareira, ali era o centro da praça. Era um circulo de vinte metros de raio, Fred não estava acostumado com corridas desesperadoras como aquela que tinha acabado de fazer, quando chegou ao local começou a arfar.

Quando levantou a cabeça percebeu que tinham outras pessoas ali, totalizavam treze, e todas estavam em frente a um corredor. Eles iriam se mover para cumprimentar uns aos outros, mas surpreendendo todos ali, algo apareceu no centro circulo.

Era uma fumaça escura, tremula e não cheirava a nada. Mas logo essa fumaça tomou-se forma, virou um manto preto, e quem estava por debaixo do manto parecia ser uma mulher. Por alguns instantes Fred pensou que fora o único a ver o rosto dela claramente, já que ela estava de frente para ele, nenhum centímetro a mais, nenhum a menos.

Ela o encarava com seus olhos cinzentos, da mesma cor de sua pele. Um jovem que estava em frente ao corredor de Fred, ele iria falar algo, mas ela o interrompeu.

– Olá, jogadores.–Ela falou, seu tom era tão baixo que quase ninguém ali a escutou.

Todos ali tinham muitas perguntas para fazer, mas se mantiveram calados, talvez fosse o medo de que aquela entidade fizesse algo com eles.

– Sei que vocês tem muitas perguntas. –Ela começou a rodar no mesmo lugar, para ver melhor o rosto de cada pessoa. –E eu tenho todas as respostas.–Os lábios dela se contorceram para um sorriso sádico.

– Onde estamos? –Um menino que ficava no corredor à esquerda de Fred perguntou. Ele era diferente do que Fred já havia visto, tinha pele avermelhada e longos cabelos escuros que comprovavam sua descendência indígena, nas orelhas ele tinha um fone de ouvido azul com desenhos de bolhas. Olhava séria e atentamente para todos, como se tivesse os analisando.

– Vocês estão mortos. –Ela voltou a falar, dessa vez com tom ríspido.

– Mortos? –Uma menina perguntou. Ela era alta, os curtos cabelos loiros terminavam no final do pescoço, e pelas as roupas que vestia, Fred deduziu que seria um patricinha rica metida a besta.–Não me lembro de ter morrido.

– É claro não se lembram da morte de vocês, a morte é um evento muito traumático na vida de qualquer pessoa. –A entidade levantou o dedo indicador da mão direita, o dedo era seco e esquelético, assim como ela.

– Se estamos mortos, por que estamos aqui? –Perguntou um menino. Era tinha um porte atlético, a pele era morena e os olhos eram escondidos atrás de um par de lentes finas e discretas, os cabelos eram bem curtos, quase raspados.

– Agora você chegou ao ponto chave. –A mulher falou em meio a risadas que mais pareciam tosses. –Vocês estão no Jogo.

– Jogo? –A menina loira repetiu.

– Sim, o meu jogo. O Jogo da Morte. –Ela abriu os braços. –As regras são simples. Vocês estão já numerados, todos os treze terão que se matar, para então só um poder voltar à vida. Vocês tem exatamente cento e vinte horas para fazer isso. –Ela estreitou a vista. –ou então todos são eliminados.

– Espera. –A menina loira a interrompeu. –Primeiro, onde estamos? Que cidade é essa?

– Eu chamo isso aqui de Tabuleiro. –A Morte riu novamente. –O tabuleiro favorece alguns, enquanto dificulta para os outros.

– Então isso é serio? –Falou um outro jovem, de todos ali parecia o mais velho, aparentava ter vinte anos. Os cabelos escuros eram penteados para frente e terminavam em um topete, o rosto era fino e os olhos eram claros como diamantes.– Estamos mesmo mortos e em um jogo de sobrevivência? Temos que matar uns aos outros?

– Vocês não terão que se preocupar somente com esses jogadores, – Ela devolveu o sorriso sádico ao rosto. –Os Perdedores ainda vagam por ai, e eles ainda tem sede de sangue. Acho que já expliquei demais. Quem comecem os jogos.

No instante que disse isso, a voz da entidade ecoou pelo local, ela voltou a ser fumaça escura e desapareceu em segundos. As árvores da clareira se fecharam, assim tampando totalmente a luz cinzenta do céu.

Uma dúzia de olhos purpuras aparecem subitamente, eles olhavam fixamente não só para Fred, mas para todos os que estavam presentes ali. Pode se ouvir o grito de uma menina, pelo tom de voz, provavelmente era da loira.

Fred decidiu não ficar parado, começou a correr para a frente, entrou em um túnel e desapareceu na escuridão.