De Janeiro a Janeiro

Capítulo 21 "Encontro Duplo"


Beatriz

—Essa foi, sem dúvidas, a coisa mais estúpida que você já me disse.

—Por qual motivo? -Viviane perguntou, e nesse momento senti vontade de tapar os ouvidos para não precisar ouvir mais nada.

Um encontro duplo! Essa era a sugestão fabulosa que Vivi havia dado dessa vez, sempre as melhores ideias!

—O Samuca concordou com isso? -perguntei a ela, porque de acordo com ela “todo mundo já tinha concordado, menos eu”.

—Bom… -Ela faz aquela expressão “mais ou menos” que eu conheço bem. Nesse mesmo momento, avistamos Samuca no final do corredor, de frente para seu armário, comecei a andar rapidamente em sua direção, Vivi me seguiu.

—Você concordou com isso? -fechei seu armário com força, para que ele pudesse nos ver. Ele fez uma expressão confusa, ergueu as sobrancelhas, e depois se virou para Vivi.

—O encontro que eu te falei. -ela explicou, e só quando ele finalmente entendeu tudo, se virou novamente para mim:

—Ela veio até mim, com aquele olhar de cachorrinho sem dono, e aquele sorrisinho, eu tive que concordar! -Ele me explica, como se Vivi tivesse o conduzido a concordar. Eu conheço bem o olhar e o sorriso que só minha melhor amiga possui, por isso não o julgo. Mas eu não iria cair naquela.

—Eu não vou! -afirmei, enquanto revezava o olhar entre os dois. Samuca e Cinderela estão juntos há apenas três dias, e ela já exige esse encontro duplo ridículo com eu e Duda. -Arrumem outro casal, poxa! -continuei.

—Mas o Duda adorou a ideia. -ela falou, me fazendo respirar fundo.

—Você disse a ele sobre essa besteira? -perguntei, me virando para ela.

—Eu já te disse que todo mundo já concordou! -ela retrucou, e eu tenho certeza que ela também induziu Duda a concordar, afinal, ninguém em sã consciência concordaria com isso.

—Eu achei que o “todo mundo” se referia a ViMuca, não a mim e ao Duda. -falei, já utilizando o apelido que eu havia inventado para o mais novo casal do momento.

—Bom… -ela faz aquela expressão novamente, mas dessa vez é a própria quem começa a andar rapidamente em direção a nossa sala de aula, eu a segui depois de lançar um último olhar mortal para o Samuca, porque sabia que agora Vivi não iria tirar aquilo da cabeça.

Assim que chegamos a sala, ela vai imediatamente até Duda, que por sua vez, está conversando com Janjão em um canto, mas Vivi não se importa, apenas o cutuca, para que ele se virasse para nós duas.

—Diga a ela que concordou com o encontro. -Vivi disse assim que ele se virou.

—Concordei, parece divertido. -respondeu o meu rapaz na maior inocência.

—Não, não, não! -reclamei o julgando. -Daqui a pouco ela vai nos fazer usar camisetas combinando. -eu sei exatamente do que Vivi é capaz, mas os dois apenas riram do meu “exagero”.

—Não seja boba, Bia. -Vivi disse, com um sorriso suspeito, e logo em seguida vai para seu lugar na sala de aula.

—Não devia ter concordado. -eu disse ao Duda, quando ficamos só nós dois.

—Quando eu namorava com a Janu tinha que sair com ela e suas amigas sempre, era algo comum, então acredite, eu não me importo mesmo em participar disso.

—Você é um fofo, mas sair com a Vivi… -virei os olhos para ela. -Ela já deve estar planejando um casamento duplo, e se você odiar…

—Relaxa, vai dar tudo certo. -ele diz de forma tão fofa que quase acredito, mas logo depois o professor chegou, pedindo que todos se sentassem em seus lugares.

Viviane

Você não está mesmo namorando sério com ele.

—E você não está mesmo conversando comigo sobre isto, está?

Janjão estava me seguindo pela quadra desde que eu entrei para o ensaio das líderes, ele realmente parecia não acreditar que eu estava com Samuca, e eu não conseguia entender como ele poderia dizer aquelas coisas sem nem conhecer o garoto. Aliás, ele não trocou uma palavra comigo desde que o abandonei naquele encontro horrível, e agora está agindo como se fôssemos amigos de infância.

—Eu sei que não conheço o cara, mas ele não parece fazer seu tipo. -Janjão se explica, ainda não me convencendo. O que ele pode saber sobre o meu “tipo”?

—E qual é o meu tipo?

—Bom, você sabe, caras como o Mathias Santiago, o David Baker e… -ele pareceu estar pensando duas vezes. -Eu… -ele continuou, me fazendo dar uma risada alta e verdadeira.

—Acredite, você não faz meu tipo! E agora eu consigo finalmente ver que esses outros garotos também não faziam. -eu respondi, sendo sincera porque sei que nunca senti nada parecido com meus outros namorados, e eles também não pareciam sentir o mesmo que Samuca sentia por mim. Meus ex´s estavam mais preocupados sobre como estavam sendo vistos pelo resto da escola.

—Mas… -Janjão recomeça, mas logo é interrompido:

—Vivi, a coordenadora está te chamando na sala dela. -Janu me avisou, se aproximando.

—O que você acha? -Janjão logo se virou para ela.

—Sobre? -Janu perguntou a ele.

—Ela estar mesmo namorando com aquele garoto comum do terceiro ano. -Janjão explica a situação a Janu, que se vira para mim com os olhos arregalados, mas um segundo depois, fica calma novamente.

—Eu me importaria, mas com você namorando um nerd… Minhas chances de ser a rainha do baile do segundo ano com certeza são maiores, então, obrigada. -ela falou e logo em seguida se afastou de nós dois.

—Vamos ter um baile?! -penso alto, confusa, mas amando a ideia.

—Eu posso ser seu par se você terminar com aquele… -interrompi Janjão imediatamente.

—Você só está com o ego machucado porque eu não fiquei com você, e enfim percebeu o quão idiota foi. Agora poderia, por favor, me deixar em paz? -perguntei a ele, e dessa vez foi eu quem me afastei, precisava saber oque a coordenadora queria comigo.

(…)

—Pode andar mais rápido, por favor?! -eu disse a Bia, que parecia estar andando com passinhos de tartarugas.

—Ainda não acredito que estou mesmo sendo arrastada para isso. -ela reclamou mais uma vez, mas eu a ignorei. Já estávamos na porta da pista de boliche, onde encontraríamos os garotos para o encontro duplo.

—Vai ser muito divertido! -eu afirmei enquanto finalmente passávamos pela porta.

Mas os garotos não estavam ali…

—Eles devem ter se atrasado! -eu falei, me virando para Bia.

—Eles podem ter fugido, por que eu não tive essa ideia antes? Podia ter me escondido em algum lugar… Droga! -Bia brincou, mas eu a ignorei novamente.

Nós duas nos sentamos na mesa que havia ali perto para esperar os garotos, quando eu virei meus olhos para a porta e dei um longo suspiro, o que fez Bia me olhar esquisito. Mas logo em seguida, nós duas rimos feito idiotas.

—Eu me sinto tão… apaixonada! Isso não é estranho? -expliquei o motivo do meu suspiro, era incrível como as rosas pareciam mais vermelhas, e o céu mais azul.

—Apaixonada? -Bia me perguntou, como se estivesse confusa com aquilo.

—Sim, como você e o Duda. -respondi.

—Apaixonada? -ela repetiu, e agora era eu quem estava confusa.

—Você gosta dele, não gosta?

—Muito, mas…

—O problema é que ele ainda não te pediu, por isso esta confusa, certo? -perguntei a ela.

—Pedir oquê? -ela parecia mesmo perdida, então a encarei.

—Te pedir em namoro. -respondi, e ela pareceu se assustar com aquilo.

—Ah. -eu conhecia muito bem aquele “ah”.

—Bia, o que você tem?

—Nós estamos tão bem do jeito que estamos, eu não quero mais nada. Você sabe que eu não gosto de pressão.

—Eu entendo. Eu que devo ser romântica demais, sempre sonhei com essas besteiras. E agora com o baile… Aliás, eu te contei do baile?

—Baile? -Samuca e Duda finalmente chegam.

—Sim, vamos ter um baile. -aviso a todos eles, que tem reações diferentes: Bia revira os olhos, Samuca olha para o chão e Duda faz uma careta de leve.

—Qual é pessoal, é o um baile! Por que só eu estou empolgada?

—Porque seu apelido é Cinderela por uma razão. -Bia me dá a resposta, me fazendo dar de ombros.

—Então, vamos jogar? -Duda pergunta e todos concordam.