De Janeiro a Janeiro

Capítulo 22 "Encontro Duplo part.2"


Beatriz

—Você deveria jogar no time da escola. -Duda diz a Samuca, quando é sua vez de jogar.

—Futebol? Eu jogava futebol quando morava com meus pais. -Tanto eu, quanto Vivi olhamos para Samuca. -Digamos que eu não gostava muito, meu negócio sempre foi a música. -ele finalmente joga a bola pela pista, e consegue um strake, o primeiro do jogo. Ele e Vivi comemoraram, agora estavam ganhando.

—Então você toca Bon Jovi? -Duda perguntou, fazendo referência a uma banda de rock.

—E ainda grito no refrão de It’s My Life. -Samuca respondeu.

If you told me to cry for you I could; If you told me to die for you I would —não consigo evitar não cantar. Lembro que meu pai costumava ouvir isso. Os garotos aplaudem quando eu termino, e eu faço uma saudação ainda na brincadeira. -Okay. É minha vez, acho que chega de deixar vocês ganharem. -eu digo confiante, enquanto pego a bola.

—Vai lá. -Vivi me motiva com tom de deboche.

Jogo a bola com força pela pista, mas só acerto dois pinos. Até mesmo Duda dá risada pela minha confiança exagerada no boliche.

—Vamos para outro lugar? Esse jogo é péssimo. -reclamei, após minha derrota.

—O jogo? Tem certeza? -Vivi brincou, apesar do fato dela também não ter acertado muitos na sua vez.

—A gente podia ir pra praia. Rafa e Binho estão lá, disseram que tem uma fogueira, pessoas tocando… -Samuca avisou, enquanto lia a mensagem que tinha recebido a pouco tempo de Binho.

—Dá última vez que fomos em uma fogueira, essa daí não conseguiu se controlar. -Duda diz olhando para mim, me lembrando da vez que o beijei para fazer raiva em Janu, e logo depois ele me mostrou seu “lugar secreto” e conversamos a noite toda. Dou de língua para ele, que retribuí.

—Parece legal. -Vivi diz voltando a falar sobre a sugestão de Samuca.

—Então, vamos!

(...)

Quando chegamos todos estão cantando o refrão de Flashlight. Nos sentamos junto com todos, e Samuca rapidamente consegue violões para nós dois. Assim que a música acaba, ele não hesita em começar rapidamente a tocar Brighter Than Sunshine. Olho para Vivi antes de começar a acompanhá-lo, afinal, é uma das músicas prediletas dela.

—Eu fiz ele assistir De Repente É Amor comigo. -Vivi explica sussurrando e dá de ombros. Mas ela está sorrindo feito uma boba para Samuca. E eu sei que ele canta pra ela.

I never understood before. I never knew what love was for, My heart was broke my head was sore, What a feeling.. (Eu nunca entendi antes. Nunca compreendi pra que servia o amor. Meu coração estava partido, minha cabeça doendo... Que sensação!)

Poucas pessoas conhecem a música, mas ninguém parece se importar em ouvir. Quando acaba todos aplaudem. Duda se vira para mim.

—Você certamente vai ficar surpresa, mas não sabe muito sobre mim. -ele disse, me deixando confusa, mas logo depois pega o violão das minhas mãos.

Ele não… Ele começa a tocar.

Sim, ele toca!

Ele começa “Longe De Você” do Charlie Brown Jr, e isso me deixa tão encantada que mal consigo me mover ou tirar os olhos dele.

(…)

—Não precisa me levar até em casa. -repito pela segunda vez, mas Duda parece mesmo não se importar nem um pouco.

—Não é a primeira vez que te trago. Lembra no dia do jogo? Estava chovendo depois do jogo, foi a primeira vez que você me assistiu jogar em muito tempo. E eu te ofereci uma carona, mas você ficou fingindo recusar.

Não consigo evitar a risada.

—Parece que foi em outra década. -comentei enquanto sorria. -Você me perguntou se eu acreditava em amor, eu te achava um bobo. -eu disse, mas me lembro vagamente de ter adorado a sensação dele me olhando até eu fechar a porta de casa e finalmente entrar.

—Então nada mudou. -ele brinca, me fazendo rir novamente. Era tão fácil sorrir com ele.

—Quando pretendia me contar que toca violão? -mudei o assunto, curiosa sobre aquilo.

—Foi na época que eu e Janjão queríamos montar uma banda, ele me emprestava o seu violão e ficava na bateria velha que seu pai tinha no porão. Mas foi antes que nosso mundo fosse apenas futebol. -ele contou, e eu ouvi atenção, mas não respondi. –Então, um baile…? -ele diz lentamente e depois se cala, como se esperasse que eu fizesse algum comentário.

—A última vez que eu fui a um baile foi com Alex Feels, no quinto ano. -contei a ele, citando meu primeiro e único namorado no ensino fundamental.

—Aquele nerd? -Duda perguntou, fazendo uma expressão de quem tentava se lembrar.

—Todo mundo zoava ele, por conta dos cabelos longos, então eu fui lá e convidei ele pro baile. -Duda sorriu quando eu terminei de falar, ele parou de caminhar por alguns segundos e depois olhou para mim, ainda sorrindo.

—Não faça isso.

—O que? -ele perguntou, ainda parado e sorrindo.

—Sorrir como se eu fosse sua pessoa preferida no mundo. -respondi, agora eu também o encarava.

—Você é. Definitivamente é.

—Não pode dizer essas coisas pra mim. -agora estou emburrada, começo a andar na frente dele, sem controle do meu próprio corpo.

—Por que?

—Eu não sei como reagir. -digo com sinceridade.

—Você não sabe como reagir a elogios? -ele segura meu braço, me impedindo de andar, mas eu ainda não tenho coragem de olhar em seus olhos depois da frase.

—Não sei como reagir aos seus elogios. E você também me dá medo.

—Por que? -ele questionou, confuso.

—Sou sincera demais com você. Eu sinto como se você tivesse tirado toda a capa protetora que eu usava por cima do meu coração, e eu tenho muito medo disso.

—Beatriz Gomes… Quer ir ao baile estúpido do nosso colégio idiota comigo?

Olho em seus olhos, e sem sequer hesitar eu o beijo. Com todo o meu coração.

—É claro que eu quero. -respondi entre os beijos.

—Se você não aceitasse, eu teria que convidar a Janu. Seria constrangedor. -ele brincou enquanto colocava seus braços em volta de mim, fazendo com andassémos os poucos passos que faltavam abraçados.

Quando chego na porta de casa, desejo que o caminho fosse maior.

—Obrigada por me trazer.

—Eu que agradeço. -ele diz, fazendo um gesto de reverência, revirei os olhos e depois me virei para entrar em casa. Ele espera até que eu entre. Vivi tinha razão, foi o melhor encontro duplo de todos.

—Quem era ele? -minha mãe pergunta, aparecendo detrás das cortinas, do nada. Ela estava me espionando? Sim, ela estava! Não sei o porquê, mas dou risada disso.

—Ninguém. -respondi, começando a andar rapidamente para meu quarto.

—Não, eu conheço muitos ninguém's e aquele definitivamente era alguém. Ele estava te abraçando?!

—Amanhã, mãe. Amanhã!

—Nada disso mocinha. Eu quero saber ago… -ela para a frase no meio, e para de vir atrás de mim. Me viro para observá-la, agora ela está com os braços cruzados. -Aquele garoto… era o filho do José Almeida Campos? -ela pergunta extremamente séria.

—Não. -minto, mas ela me conhece mais do que eu mesma.

—A Vivi me disse algo um dia desses. Era o Duda?

—Tá bom, era ele. Agora posso me retirar?

—Não quero você andando com os Almeida Campos. -ela diz de repente, e soa como uma ordem.

—Não andei com os Almeida Campos, eu andei com o Duda.

—E qual é o sobrenome dele? -odeio quando minha mãe dá uma de advogada pra cima de mim, mas naquilo ela não iria ganhar.

—Olha, eu sei que o pai dele é um chato, me dá arrepios. Mas ele é o garoto legal, é importante que você goste dele. -levei para o lado emocional, afinal, nós duas sabemos que não sou o tipo de garota que anda abraçada com qualquer um.

—Vocês estão saindo a quanto tempo? -ela aumentou a voz ao me perguntar.

—Não sei, pouco. -respondi, sincera.

—Ótimo, não vai ser estranho quando você dizer a ele que acabou tudo.

—Não… Mãe… -agora sou eu quem a persigo pela casa, enquanto ela foge de mim. -Isso não vai acontecer!

—Beatriz, eu te deixo ser a adolescente anti-social que insiste em fingir que é por muito tempo, te deixo fazer pirraças desnecessárias quanto á ser líder de torcida e ir a festas, te deixo até tocar guitarra até duas da manhã, acordando os vizinhos. Eu sou obrigada a lidar com tudo isso. Mas não, você não vai continuar saindo com esse garoto! -ela ordena, me assustando, irritando e surpreendendo ao mesmo tempo. Minha mãe nunca fala dessa maneira comigo.

—POR QUE? -gritei em resposta. Minha mãe nunca gostou da família Almeida Campos, mas fazer toda aquela peça dramática era exagero. Se ela queria que eu terminasse oque eu mal havia começado com Duda, tinha ao menos que explicar o motivo.

Mas ela fica em silêncio.

—Queria uma adolescente do tipo que briga com a mãe por causa dos namorados? Bom.. acabou de ganhar uma! -afirmei, e em seguida voltei a porta da frente, saindo da casa e batendo com força a porta. Irritada e confusa são palavras que poderiam facilmente me definir naquele momento.