O salão era comprido e largo, e cheio de sombras e meias-luzes; pilares poderosos sustentavam o teto alto. Mas em alguns pontos a luz do sol caía em raios bruxuleantes das janelas orientais, altas sob os profundos beirais. Através das gelosias do teto, sobre os fios tênues de fumaça que subiam, o céu se mostrava claro e azul. Conforme desviaram os olhos, os viajantes perceberam que o chão era pavimentado com pedras de várias tonalidades; runas trabalhadas e estranhos objetos se entrelaçavam sob seus Pés. Viram nesse momento que os pilares eram ricamente entalhados, reluzindo veladamente em ouro e cores meio imperceptíveis. Muitas estampas tecidas pendiam das paredes, e sobre seus amplos espaços marchavam figuras de lendas antigas, algumas apagadas pelos anos algumas escurecidas pela sombra. Mas sobre uma das formas a luz do sol batia: um cavalo no campo amarelo. A cabeça do cavalo estava erguida, e as narinas se abriam vermelhas enquanto relinchava, sentindo o cheiro da batalha à sua frente.

Os cinco companheiros avançaram, passando pela chama viva que ardia sobre a longa lareira no meio do salão. Então pararam. Na outra extremidade da casa, além da lareira e virado para o norte na direção das portas, estava um estrado com três degraus; no meio do estrado havia uma grande cadeira dourada. Nela sentava-se um homem curvado e relaxado em seu trono; mas seus longos cabelos eram loiros e grossos, caindo em grandes tranças que surgiam de um fino diadema de ouro e rubi que lhe cingia a fronte. No centro da testa, brilhava um único rubi vermelho. A barba era pontuda e caía sobre as clavículas, mas em seus olhos verdes ainda queimava uma luz clara, que faiscou quando olharam para os forasteiros. Atrás de sua cadeira estava um imperial moreno, vestindo roupas de bronze-escuro, com o rosto ornamentado por um bigode fino. Do outro lado, um homem em vestes de mago apoiava-se com uma mão no trono. Nas laterais de suas mandíbulas uma barba crespa era escondida pelo capuz, e olhava para a Companhia suspeito e alegre ao mesmo tempo, como julgou Ralof.

Irileth conduziu Ralof à presença deles, e o Jarl deu-lhe boas-vindas. O mago não disse uma palavra, mas ficou observando longamente seu rosto.

— Sente-se agora perto de mim, Ralof de Riverwood! — disse o Jarl Balgruuf. — Quando todos tiverem chegado conversaremos juntos.

Cumprimentou cada um dos membros da Companhia com cortesia, chamando-os pelo nome quando entravam. — Bem-vindo, Vorstag, filho de Rorstag! — disse ele. — Somam-se vinte e sete anos do mundo lá fora desde que esteve nesta terra, e esses anos pesam muito para você. Mas o fim está próximo, seja bom seja ruim. Enquanto estiver aqui, coloque de lado o fardo que carrega! Bem-vindo, filho de Glonagoth! Muito raramente os elfos nobres de Valenwood abandonam suas terras. Bem-vindo, Kharjo, associado de Ri’saad! Realmente faz muito tempo que vimos alguém do povo de Elsweyr dentro da Fortaleza do Dragão. Mas hoje quebramos nossa antiga lei. Que isso possa ser um sinal de que, embora o mundo esteja escuro atualmente, melhores dias estão próximos, e de que a amizade entre nossos povos será renovada. — Kharjo fez uma grande reverência.

Quando todos os convidados estavam sentados diante de sua cadeira, o Jarl olhou-os de novo. — Aqui estão cinco — disse ele. — sete, incluindo uma montaria, deveriam ter partido: assim diziam as mensagens. Mas talvez tenha havido alguma mudança nos planos, sobre a qual não ouvimos. Os Barbacinza estão distantes, e a escuridão se adensa entre nós; durante todo este ano as sombras cresceram ainda mais.

— Não, não houve nenhuma mudança nos planos — disse Farengar Fogo-Secreto, o mago que estava ao lado do Jarl, falando pela primeira vez. Tinha uma voz que falhava constantemente, mas mais grossa do que o habitual. — Savos Aren, Arque-Mago do Colégio de Winterhold, partiu com a Companhia, mas não passou as fronteiras desta terra. Agora, contem-nos onde está, pois eu desejava muito conversar com ele outra vez. Mas não posso vê-lo de longe, a não ser que entre nos limites de Whiterun: uma grande névoa o envolve, e os caminhos de seus pés e de sua mente estão ocultos para mim.

— Infelizmente! — disse Vorstag. — Savos Aren foi soterrado nas sombras, permaneceu nas Cataratas Ermas e não conseguiu escapar.

Ao ouvir essas palavras, uma sombra de dor e surpresa cobriu os olhos do Jarl Balgruuf. — Essa é uma péssima notícia. A pior que já foi anunciada aqui em longos anos repletos de acontecimentos tristes — voltou-se para Irileth. — Por que nada disso me foi contado antes? — perguntou ele.

— Nós não conversamos com Peragon ou Irileth sobre nossos feitos e propósitos — disse Faendal. — Primeiro porque estávamos cansados e o perigo estava muito próximo, e depois nós quase esquecemos nossa dor por um tempo, percorrendo felizes os belos caminhos de Whiterun.

— Apesar disso, nosso sofrimento é grande, e nossa perda não pode ser reparada — disse Ralof. — Savos era nosso guia, e nos conduziu através das Cataratas Ermas. Quando nossa fuga parecia impossível, ele nos salvou, e sucumbiu.

— Conte-nos agora a história inteira — disse Balgruuf.

Vorstag contou então tudo o que tinha acontecido na passagem do Vento Gritante e nos dias que se seguiram; falou também de Balfring e seus túmulos, da aranha, de Arvel e seus ladrões, e da luta na Câmara dos Mortos, e do fogo azul, e da ponte estreita, e da chegada do Terror. — Parecia um mal do Mundo Antigo, que eu nunca tinha visto antes — disse Vorstag. — Era ao mesmo tempo uma sombra e uma chama, poderosa e terrível.

— Era um Sacerdote Dracônico chamado Morokei — disse Faendal. — A mais mortal das maldições que afligem os homens, com exceção daquele que está nas Torres de Skuldafn... ou mais além.

— De fato, eu vi sobre a ponte aquele que assombra nossos piores sonhos. Eu vi sua máscara de prata — disse Kharjo em voz baixa, com os olhos animalescos cheios de terror.

— Isso é muito triste! — disse o Jarl Balgruuf. — Há muito tempo já temíamos que existisse um terror adormecido rondando pelas Terras de Skyrim. Mas se eu soubesse que os mortos tinham acordado esse mal nas Cataratas Ermas outra vez, teria proibido que você passasse pelas estradas que conduzem às nossas terras, você e todos os que o acompanham. E se isso fosse possível, talvez se pudesse dizer que Savos, no último momento da sabedoria caiu na loucura, entrando sem necessidade nas entranhas das Cataratas Ermas e caindo na sombra.

— Dizer isso seria realmente precipitado — disse Farengar gravemente. — Nenhum dos feitos de Savos Aren foi desnecessário em toda sua vida. Aqueles que o seguiam não sabiam o que passava pela sua cabeça e não podem prestar contas de seus propósitos. Mas o que quer que tenha acontecido com o guia, seus seguidores não têm culpa. Não se arrependa de ter dado boas-vindas à Companhia.

Finalmente, depois de alguns minutos, Balgruuf falou de novo. — Eu não sabia que sua situação era tão delicada — disse ele. — Que Vorstag e seus amigos esqueçam as palavras precipitadas: falei com o coração confuso. Farei o que puder para ajudá-los, a cada um de acordo com suas necessidades e desejos, mas especialmente ao que carrega o fardo de derrotar o dragão.

— Sua demanda é conhecida por nós — disse Farengar, olhando para Ralof. — Mas não conversaremos sobre ela mais abertamente neste local. Mesmo assim, talvez o fato de terem vindo até aqui procurando ajuda não terá sido em vão, e fica claro agora que esses eram os próprios propósitos de Savos. Pois o Jarl de Whiterun é considerado o mais forte de todos os jarls de Skyrim, agora que Torygg passou desta vida, capaz de dar presentes acima do poder dos mais poderosos reis. Fui eu quem pela primeira vez reuniu o Conselho de Winterhold, que organizou uma expedição a fundo para o Labyrinthian, onde o terrível Morokei costumava viver. E se os planos de Atmah não tivessem falhado, o Conselho teria sido governado por Savos Aren, e então talvez as coisas tivessem acontecido de outra forma. Mas mesmo assim ainda resta esperança. Não vou lhes dar conselho, dizendo “façam isto”, “façam aquilo”. Pois não é fazendo ou planejando, nem escolhendo entre um ou outro caminho, que posso ser de ajuda; posso ajudá-los sabendo o que aconteceu e acontece e, em parte, o que vai acontecer, Mas vou lhes dizer isto: sua Demanda está sobre o fio de uma faca. Desviem só um pouco do caminho, e nada dará certo, para a ruína de todos. Mas a esperança ainda permanece, enquanto toda a Companhia for sincera.

E com essas palavras ele os segurou com seu olhar, e em silêncio ficou olhando e perscrutando cada um deles, um após o outro. Nenhum, a não ser Faendal e Vorstag, pôde suportar o olhar do mago por muito tempo. Ralof corou rapidamente e baixou a cabeça.

Finalmente Farengar Fogo-Secreto os liberou de seus olhos e sorriu. Não permitam que seus corações fiquem consternados — disse ele. — Esta noite dormirão em paz. — Então eles suspiraram e se sentiram subitamente cansados, como alguém que tivesse sido interrogado longa e detalhadamente, embora nenhuma palavra tivesse sido pronunciada.

— Podem ir agora! — disse Balgruuf. — Vocês estão exaustos com tanta tristeza e de tanto caminharem. Mesmo que sua Demanda não nos interessasse muito, vocês teriam refúgio nesta Cidade, até que estivessem curados e reconfortados. Agora devem descansar, e vamos evitar de falar, por um tempo, da estrada que os espera.

Naquela noite, a Companhia dormiu nos aposentos do palácio, para a grande tristeza de Ralof, que esperava poder visitar a Bandeira da Égua. Por alguns momentos, os companheiros conversaram sobre a viagem daquele dia, sobre o dragão e Vorstag, e sobre o Jarl e o Mago, pois ainda não tinham tido a coragem de lembrar o que tinha ficado mais para trás.

Todos eles pareciam ter tido uma experiência semelhante: cada um sentiu, pelos moderes psíquicos de Farengar, que havia sido um Mestre Mago do Colégio no passado, que se lhe oferecia uma escolha entre uma sombra cheia de medo, que se encontrava lá na frente, e alguma coisa profundamente desejada, que se apresentava clara aos olhos do espírito, e que para tê-la bastava desviar-se da estrada e deixar a Demanda e a guerra contra Alduin para outros.

— Tive também a sensação — disse Kharjo — de que minha escolha permaneceria em segredo e seria apenas de meu próprio conhecimento.

— Para mim pareceu muito estranho — disse Erik. — Talvez tenha sido apenas um teste, e ele pensou em ler nossos pensamentos para seus próprios propósitos. Mas quase poderia dizer que ele estava nos tentando, e oferecendo o que ele fingia ter o poder de nos dar. Não é preciso dizer que me recusei a escutar. Os homens de Solitude dizem palavras verdadeiras. — Mas o que ele achava que Farengar tinha lhe oferecido, Erik não disse.

Quanto a Ralof, não dizia nada, embora Erik o pressionasse com perguntas. — Ele o fitou por mais tempo, soldado — disse ele.

— Sim — disse Ralof —, mas o que quer que tenha entrado em minha mente, lá deve ficar.

— Bem, tenha cuidado! — disse Erik. — Não me sinto muito seguro a respeito desse Mago da Corte e de seus propósitos.

— Não fale mal de Farengar Fogo-Secreto! — disse Vorstag com severidade. — Você não sabe o que está dizendo. Não existe maldade nele ou nesta terra, a não ser que um homem o traga aqui ele mesmo. Se for assim, que ele tome cuidado! Mas esta noite poderei dormir sem medo pela primeira vez desde que deixei a Alta Hrothgar. E poderei dormir profundamente, e esquecer um pouco meu sofrimento! Sinto o coração e o corpo cansados. — Jogou-se sobre seu colchão e adormeceu imediatamente, num longo sono.

Os outros logo fizeram o mesmo, e nenhum som ou sonho perturbaram seu sono. Quando acordaram, viram que a luz do dia se espalhava sobre a grama diante do pavilhão, e a fonte subia e caía, reluzindo ao sol. Permaneceram alguns dias em Whiterun, pelo que puderam dizer ou lembrar. Durante todo o tempo em que moraram ali, o sol brilhou intensamente, a não ser por uma chuva suave que às vezes caía e passava, deixando todas as coisas novas e limpas. Os soldados agora partiam os ossos do dragão e Farengar os examinava. O ar era fresco e suave, como no início da primavera; apesar disso, sentiam ao redor a quietude profunda e pensativa do inverno. Tinham a impressão de que faziam pouca coisa além de comer e beber e descansar, e caminhar por entre as árvores, e isso era o suficiente.

Não tinham visto o Jarl outra vez, e tinham pouca conversa com os soldados, pois eles eram muito ocupados. Peragon lhes acenara um adeus e retornara para as fronteiras no Sul com o Comandante Caius, onde uma grande guarda estava montada desde que a Companhia trouxera as notícias sobre as Cataratas Ermas.

Faendal estava distante, com os soldados de Whiterun, e depois da primeira noite não dormiu com os outros companheiros, embora voltasse para comer e conversar com eles. Sempre levava Kharjo consigo quando ia passear pelo lugar, e os outros ficaram surpresos com essa mudança.

Agora, quando os companheiros se sentavam ou passeavam, conversavam sobre Savos e tudo o que cada um tinha descoberto ou observado nele ficava claro em suas mentes. À medida que se curavam da dor e do cansaço do corpo, o sofrimento pela perda ficava mais intenso. Freqüentemente escutavam por perto vozes cantando, e sabiam que eles estavam fazendo canções de pesar por sua perda, pois podiam entender o nome dele entre as doces palavras tristes que não conseguiam captar.

Quando Jenassa, uma guardiã de Whiterun, que antes servira na Guarda da Alvorada por dois anos soube das notícias por Vorstag, fez uma canção de lamento. Khosith, muhrith, oh Mago Peregrino! Pois assim gostavam de chamá-lo. Mas mesmo quando Faendal, que conhecia muitos dialetos, estava com a Companhia, não interpretava as canções para eles, dizendo que não tinha habilidade para isso, e que para ele o sofrimento ainda era muito recente, um assunto para lágrimas e não ainda para canções.

Foi Ralof quem primeiro colocou alguma coisa de sua mágoa em palavras pausadas. Raramente sentia vontade de fazer uma canção ou uma rima; mesmo quando estava em Riverwood, tinha escutado mas não as cantava, embora sua memória estivesse repleta de muitas coisas que outros tinham feito antes dele. Mas agora, sentado ao lado da fonte da Fortaleza do Dragão e escutando ao redor as vozes dos homens, seu pensamento tomou forma numa canção que lhe parecia bonita; apesar disso, quando tentava repeti-la para Kharjo, apenas pequenos trechos permaneciam, apagados como um monte de folhas murchas.

Na noite escura de Winterhold seus pés se ouviram na colina;

sem sol, sem lua partiu calado em viagem longa na surdina.

De Winterhold a Markarth, do monte Sul ao vazio Norte,

passando pelo Labyrinthian, na caverna escura andou sua sorte.

Homens, elfos, khajiits, mortais criaturas e imortais,

ave em galho, fera em grotões, interpelou com seus sinais.

O dorso curvo sob sua carga, a mão que cura, o fio da espada,

voz de clarim, do,fogo a marca, um peregrino só na estrada.

Um elfo sábio entronizado, de fácil ira e riso bom,

Suas vestes eram surradas, curvadas sobre seu bordão.

De pé na ponte estava só, a Fogo e Sombra em desafio;

quebrou o bordão de encontro à mó em Morokei seu fim se viu.

No momento em que falava, os dois viram, como se viesse em resposta àquelas palavras, Farengar Fogo-Secreto se aproximando. Alto, sábio e azulado em seu manto, caminhava por entre as escadas. Não disse nada, mas acenou para Ralof. Mudando de direção, conduziu-o escada acima de volta para a Fortaleza do Dragão, e, passando pelo grande corredor de entrada, viraram à direita num grande cômodo, enquanto Kharjo permaneceu na fonte, assustado com a água como costumeiro de felinos. Ali, no cômodo para onde Farengar levou Ralof, não havia nenhum trono, mas uma grande mesa cheia de artefatos e gemas. No canto, uma figura muito parecida com aquela do Encapuzado na primeira vez que Ralof o encontrou estava em pé, curvada como uma velha senhora, analisando um livro dourado. Ela nada disse, nem olhou para Ralof.

— Este é o meu salão — disse Farengar. — Trouxe-os aqui para que possa examiná-lo, se quiser. Bem, não consigo mais falar disso agora. Não consigo suportar a idéia de dar-lhe a notícia.

O ar estava quieto e o salão, escuro; o mago, ao lado de Ralof, era alto e pálido. O próprio mago pareceu não dar atenção à figura encapuzada. — Que eu vou procurar, e o que eu vou ver? — perguntou Ralof, cheio de assombro.

— Posso revelar para você muitas coisas — respondeu ele. — E para algumas pessoas posso mostrar o que desejam ver. Mas minha sabedoria também revelará fatos que não foram ordenados, e estes são sempre mais estranhos e compensadores do que as coisas que desejamos ver. O que acontecerá, não posso dizer. Pois a minha sabedoria revela coisas já passadas, coisas que estão acontecendo, e coisas que ainda podem acontecer. Por muito tempo, trabalhei com Savos Aren no Colégio de Winterhold, mas decidi que minha magia funcionaria melhor aqui, onde posso ser útil para a Cidade. Num emaranhado de pensamentos, a minha magia às vezes permita que eu... veja as coisas. Isso é o que o seu povo chamaria de profecia, eu acho. Não, não. Adivinhação. Bem, seja como for, é sabido por mim e pelo Jarl que você é um soldado veterano do exército de Windhelm, da rebelião do Jarl Ulfric Stormcloak, e diria que um grande patriota, se minhas visões que remetem a você estão certas. Windhelm estava sendo queimada por dragões – três deles, em minha última visão — e conforme Farengar disse isso, o rosto de Ralof foi tomado por terror. — Mas como posso saber se já aconteceu, está acontecendo ou ainda vai acontecer? O que eu estranho é que até onde Savos me contou, Alduin retornou, mas ele havia sido banido, e não assassinado como todos os outros dragões. Agora outro dragão surgiu da floresta, e seu túmulo estava destruído e a terra que o cobria estava espalhada para todos os lados; o dragão saiu de sua tumba. Isso eu vi – um dragão negro dizia terríveis palavras e vários dragões saíam do chão. Quando tive essa visão, imediatamente enviei uma mensagem para Savos falando sobre a Pedra Dracônica, e que ela estava nas Cataratas Ermas, e acho que tenha sido este o motivo da passagem de vocês por lá.

— Farengar! — gritou Ralof aliviado. — Eu a tenho!

Então Ralof correu para seus aposentos, arrancou a Pedra Dracônica de sua mochila e retornou para o Salão de Farengar. A figura encapuzada olhou com interesse. A Pedra Dracônica agora era bela, numa beleza que em meio a tanto luto Ralof até então não tivera tempo para reparar ou perceber. Era um trabalho talhado antigo dos nórdicos em pedra lisa. Nela, acima do desenho de uma grande coroa, estava entalhado detalhadamente um mapa de Skyrim com vários pontos espalhados por ela.

— Ah — Farengar contemplou a Pedra, e a figura encapuzada se levantou, fechando o livro dourado, uma ótima cópia de Propriedades do Jarl Gjalund — A Pedra Dracônica. Sei o que você viu por último nas Cataratas Ermas — disse ele —, pois está também em minha mente. Não tenha medo! Mas não pense que é apenas com pequenas lanças e cavaleiros, ou só por meio de flechas frágeis e arcos fortes que nós da terra de Whiterun nos defendemos nos guardamos de Alduin. Digo a você, Ralof, que neste exato momento em que conversamos eu percebo o Devorador de Mundos sei o que se passa na mente dele, ou pelo menos tudo que se relaciona ao meu povo. E ele, por meio de seus servos nojentos, sempre se insinua para me ver e ler meus pensamentos. Mas a porta ainda está fechada. Agora o seu trabalho termina e o trabalho da mente, desvalorizado totalmente nas Terras de Skyrim, começa.

— Sim — disse a figura encapuzada. — Não é permitido falar disso, e Arngeir não o faria. Mas não se pode esconder da Companhia dos Barbacinza, e de alguém que tenha visto o Dovah. É verdade, na Pedra Dracônica, nas mãos deste mago, permanece um dos segredos que pode ser revelador na busca pela destruição do dragão. Este assunto interessa a mim, pois sou uma guardiã desta ordem. Ele, Alduin, suspeita, mas não sabe... ainda não. Entende agora por que sua vinda aqui representa para nós a passada do Destino? Pois, se você falhar, então seremos expostos ao Devorador de Mundos, e Skyrim desaparecerá, e as marés do tempo a levarão embora. Partiremos para o Sul, ou seremos reduzidos a um povo rústico de vale e caverna, para lentamente esquecermos e sermos esquecidos. Alduin não ficará contente em retomar o Reino de Skyrim para si; ele quer Tamriel, Yokuda; Nirn!

Ralof deixou cair a cabeça. — E o que a senhora deseja? — perguntou ele finalmente.

— Que aconteça o que deve acontecer — respondeu ela. — O amor dos nórdicos por sua terra e seus trabalhos é mais profundo que as profundezas do Mar das Assombrações, sua tristeza é eterna e nunca poderá ser completamente abrandada. Mesmo assim, jogarão tudo fora se a outra opção for a submissão a Alduin: pois agora os nórdicos sabem que ele é malicioso e terrível. Você não deve responder pelo destino de Whiterun ou Skyrim, mas apenas pelo desempenho de sua própria tarefa. Apesar disso, eu poderia desejar que, se isso adiantasse de alguma coisa, Alduin não tivesse um local exato para retornar, ou que continuasse perdido para sempre.

— A senhora é sábia, destemida e ousada — disse Ralof. — Dar-lhe-ei a tarefa se assim o desejar. Esse peso é demais para mim, e você tem lanceiros e arqueiros muito mais capacitados.

A mulher encapuzada riu, com uma risada súbita e cristalina. — Sábia, eu posso ser — disse ela —, mas aqui eu encontrei alguém à altura de Farengar em toda a sua cortesia. Agora começa a enxergar com olhos agudos. Não vou negar que meu coração desejou muito pedir o que está oferecendo. Por muitos longos anos, pensei o que faria, caso o Grande Dovah retornasse, pois assim diziam as profecias, e veja! Ele está agora ao meu alcance. O mal que foi concebido há muito tempo continua agindo de muitas maneiras, quer o próprio Alduin ainda estivesse banido no tempo ou não. Savos Aren esclareceu muitas coisas para a minha Ordem. E agora finalmente ele chega. Você me oferece esta missão livremente! No lugar de um grupo de desconhecidos errantes, você coloca a devida facção, os Blades, os assassinos dos dragões. E nós não seremos assassinos furtivos e ladinos como vocês, mas um grande exército se reformando para voltar à antiga glória! Bela como o Mar e o Sol e a Neve sobre a Montanha serei eu, e serei a grande Capitã deste exército. Aterrorizante será a morte deles e desonroso seu enterro novamente. — Ficou diante de Ralof e parecia agora de uma altura incalculável, e de uma beleza insuportável, terrível e digna de adoração, mas fechou os olhos e se curvou novamente. — Passei pelo teste — disse ela. — Vou diminuir e me dirigir para o Sul, continuando a ser eu mesma, e não quem sonho todas as noites.

Ficaram em silêncio por um longo tempo. Finalmente Farengar falou outra vez. —Vamos voltar! — disse ele. — Amanhã cedo você deve partir, pois agora já fizemos nossa escolha, e as marés do tempo estão fluindo.