No dia seguinte, Ralof acordou cedo, sentindo-se bem e descansado.

Caminhou ao longo dos terraços debruçados sobre a ruidosa Garganta do Mundo, e assistiu ao sol pálido, fresco, erguer-se tão perto dele como ele nunca vira e emitir sobre o mundo seus raios, que se inclinavam através da fina névoa de prata; o orvalho luzia na neve, e teias entrelaçadas cintilavam em todos os cantos.

Num assento talhado na pedra ao lado de uma curva do caminho, encontrou Savos Aren e Gwilin numa conversa compenetrada.

— Olá! Bom dia! — disse Gwilin. — Sente-se preparado para o grande conselho, meu amigo Ralof? Teve uma boa noite de sono, eu espero.

— Sinto-me preparado para qualquer coisa — respondeu Ralof. — Mas a coisa que eu mais queria era fazer hoje uma caminhada para explorar o monastério. Gostaria de entrar naquelas encostas montanhosas lá em cima.

— Você pode ter uma oportunidade mais tarde — disse Savos Aren, colocando suas mãos escuras sob o ombro de Ralof. — Mas ainda não podemos fazer nenhum plano. Há muitas coisas para ouvir e decidir hoje.

De repente, enquanto conversavam, um sino tocou. — Esse é o sino de chamada para o Conselho dos Barbacinza — disse Savos. — Venham agora! Você foi requisitado com muita urgência.

Savos o conduziu até o alpendre onde Ralof tinha encontrado os amigos na noite anterior. A luz da clara manhã de outono brilhava agora através das janelas de vidro fosco. O ruído do vento forte assobiava frequentemente. Pássaros cantavam, e uma paz benfazeja se deitava sobre a terra. Para Ralof, sua fuga perigosa e os rumores da escuridão crescendo no mundo lá fora já pareciam apenas lembranças de um sonho ruim; mas os rostos que se voltaram para eles quando entraram estavam sérios.

Arngeir estava ali, e muitos outros se sentavam em silêncio em torno dele. Ralof viu a Senhora Serana e Dro’marash, e num canto, sozinho, estava Vorstag, vestido na mesma armadura, pelo visto, mas esta tinha uma grande ombreira de metal no ombro direito. Arngeir chamou Ralof para se sentar ao seu lado, e o apresentou ao grupo, dizendo:

— Aqui, meus amigos, está o soldado, Ralof de Riverwood, do exército de Ulfric Stormcloak, Jarl de Windhelm. Poucos chegaram aqui, passando por perigos maiores, ou em missão mais urgente.

Então apontou e nomeou aqueles que Ralof ainda não tinha encontrado. Havia um khajiit mais jovem ao lado de Dro’marash: seu companheiro de viagens, Kharjo. Ao lado de Arngeir estavam todos os outros Barbacinza, que eram quatro, os quais não podiam falar, pois a Voz era poderosa demais. Haviam também um mensageiro dos Thalmor, que se chamava Lorcalin; com ele estava Merildor, um alto elfo da embaixada, que tinha vindo numa missão a pedido de Elenwen, a embaixatriz dos Thalmor. Havia também um elfo da floresta estranho, vestido de amarelo e vermelho, Faendal, mensageiro de seu pai, Glonagoth, um grande nobre de Falinesti, a cidade errante do Rei Elfo em Valenwood. E, sentado um pouco à parte, estava um homem de rosto belo e nobre, de cabelos alaranjados e olhos cinzentos, altivo e de olhar severo.

Estava com capa e botas, como se fosse fazer uma viagem a cavalo; na verdade, apesar de suas vestes serem luxuosas, e a capa revestida de pele, estavam manchadas por uma longa viagem. Tinha um colar de prata no qual havia uma única pedra; os cabelos cacheados estavam cortados à altura dos ombros. Nas costas, trazia um grande escudo vermelho com o desenho de o rosto de um lobo em preto, que agora colocara sobre os joelhos. Olhou para Ralof com súbito desdém quando Arngeir mencionou sua afiliação à Windhelm.

— Aqui — disse Arngeir, voltando-se para Savos Aren —, aqui está Erik, o príncipe do Oeste. Primogênito do falecido Rei Torygg. Chegou no início da manhã, e procura aconselhamento. Pedi a ele que estivesse presente, pois aqui as perguntas que tem a fazer serão respondidas.

Nem tudo o que foi falado e debatido no Conselho precisa ser contado aqui. Muito se falou a respeito dos acontecimentos no mundo lá fora, especialmente no Sul, e nas amplas regiões a Leste das Montanhas. Dessas coisas, Ralof já tinha escutado muitos rumores; mas a história de Dro’marash era nova para ele, e quando o khajiit falou, escutou com atenção. Parecia que em meio ao esplendor de suas viagens e vendas, os corações dos khajiits de Skyrim estavam preocupados.

— Agora já faz muitos anos — disse Dro’marash —, que uma sombra de inquietude caiu sobre nosso povo. De onde vinha, não percebemos a princípio. As palavras começaram a ser sussurradas em segredo: dizia-se que estávamos presos num lugar estranho, frio e fechado, e que riquezas e esplendores maiores seriam encontrados num mundo mais vasto. Alguns falavam de Elsweyr: as grandes construções de nossos pais; e declarava-se que agora, finalmente, tínhamos a força e o número suficiente para retornar. — Dro’marash suspirou. — Elsweyr! Elsweyr! Maravilha da Beleza da Alvorada. Por muito tempo, aquelas vastas mansões de areia dura tinham permanecido vazias, e o vento não batia nas imensas palmeiras, desde que Ri’saad e sua caravana fugiram para Cyrodiil. Mas agora falávamos de tudo aquilo com saudade outra vez e, apesar disso, com medo. Nenhum khajiit tinha ousado ultrapassar a Passagem Branca durante a vida de vários reis, a não ser Ri’Shajiir, o Ousado, e ele pereceu. Finalmente, entretanto, Ahkari escutou os rumores e resolveu ir; e embora Ri’saad relutasse em consentir, Ahkari levou consigo nossa querida Zaynabi, rumando para o Sul - isso foi há mais de cinco anos. Por um tempo, tivemos notícias e tudo parecia bem: mensagens contavam que eles haviam entrado em Cyrodiil, e lucravam como nunca. Depois, fez-se silêncio, e nenhuma palavra veio de Ahkari desde então. Depois, cerca de um ano atrás, um mensageiro veio até Ri’saad, mas não de Cyrodiil. De Skuldafn: um cavaleiro chegou à noite, chamando Ri’saad até o portão. O Senhor Nahkriin, o Grande, dizia ele, desejava nossa amizade. Em troca daria riquezas, e nunca mais teríamos de vender, apenas comprar. E o mensageiro queria muito saber a respeito do povo de Helgen, como eles eram e para onde eles tinham fugido. “Pois Nahkriin sabe”, dizia ele, “que bastante vocês viajam e podem encontrar algum com muita facilidade.” Ao ouvirmos isso, ficamos muito preocupados, e não demos resposta, E então sua voz maléfica ficou mais baixa, e ele a teria suavizado, se pudesse. “Apenas como um pequeno sinal de sua amizade, Nahkriin e seu Senhor pedem isto”, disse ele: “que encontrem esses fugitivos”, foi essa a palavra que usou, “e tragam-no para Skuldafn. É um capricho de meus Senhores, e uma prova da boa vontade de vocês. Encontrem-no, e três navios partirão de Windhelm e darão a volta por Tamriel, e poderão voltar para Elsweyr e lá ficar para sempre. Encontrem apenas notícias dos sobreviventes, se ainda estão vivos e aonde, e terão grande recompensa e a eterna amizade do Senhor. Recusem a oferta, e as coisas não vão ficar muito bem. Recusam-se?” Com isso sentimos seu hálito, semelhante ao silvo das serpentes, e todos os que estavam ali tremeram, mas Ri’saad disse:

— “Não digo sim nem não. Preciso pensar na mensagem, e no que está por trás desse belo disfarce.”

— “Pense bem, mas não por muito tempo”, disse ele.

— “Levo qualquer tempo com meu pensamento”, respondeu Ri’saad.

— “Por enquanto”, disse ele, e cavalgou para dentro da escuridão.

— Os corações de nossos líderes ficaram pesados desde aquela noite. — continuou Dro’marash. — Não precisávamos da voz maligna do mensageiro para nos avisar que as palavras dele continham ameaça e engano, pois já sabíamos que o poder que outra vez invadira Skuldafn não tinha mudado, e que esse poder sempre fora maligno. O mensageiro voltou duas vezes, e se foi sem resposta. “A terceira e última vez”, dizia ele, “está por chegar, antes do fim do ano.” E então fui enviado finalmente por Ri’saad, para avisar Ralof que ele está na mira desse Senhor de Skuldafn, e para saber, se for possível, por que ele deseja sua vida, uma coisa tão comum. Também pedimos o conselho dos Barbacinza. Pois a Sombra cresce e se aproxima. Descobrimos que os mensageiros também foram enviados à Jarl Idgrod, em Morthal, e que ela está com medo. Tememos que possa ceder. A guerra já está se formando na fronteira Leste. Se não dermos resposta, o Inimigo poderá enviar os homens sob seu comando para atacar Morthal, e também Ri’saad.

— Fez bem em ter vindo — disse Arngeir. — Hoje você ouvirá tudo o que precisa para entender os propósitos de Skuldafn, e que Nahkriin não é o Senhor de Skuldafn. Não há nada que possa fazer, a não ser resistir, com ou sem esperança. Mas você não está só. Saberá que seu problema é apenas parte do problema de todo o mundo. Alduin! Que devemos fazer com o dragão que retornou? É isso que devemos considerar. Este é o propósito de todos terem sido chamados aqui. Chamados, eu digo, embora eu não tenha chamado vocês até mim, estrangeiros de terras distantes. Vocês vieram e estão aqui reunidos, neste exato momento, por acaso, como pode parecer. Mas não é assim. Acreditem que foi ordenado que nós, que estamos aqui sentados, e ninguém mais, encontremos uma solução para o perigo do mundo. Agora, portanto, as coisas que foram até este dia ocultadas de todos, por alguns, devem ser mencionadas abertamente. E começando, para que todos possam entender qual é o perigo, a História do Devorador de Mundos será contada desde o início até o momento presente. E eu devo começar, embora outros possam terminá-la.

Então todos escutaram, enquanto Arngeir, com sua voz falha de homem idoso, falava de Akatosh e seus primogênitos, e de sua revolta contra os Homens na Era Merética do mundo, e da Guerra dos Dragões que se seguiu. Uma parte da história era conhecida por alguns ali, mas a história completa ninguém conhecia, e muitos olhos se voltavam para Arngeir com medo e surpresa, enquanto ele contava sobre as destruições de Meyjunwuth, e de sua amizade com Alduin, e de sua avidez de guerra, através da qual Alduin seduziu ele e seu povo e os ensinou a sabedoria. Pois, naquela época, ainda não era declaradamente mau, e eles aceitaram sua ajuda, tornando-se hábeis e espertos, e souberam se comunicar e guerrear com sabedoria, enquanto Alduin tomava todos por seus inferiores, e construía junto com seus aliados uma liderança para dominar todos os outros. Mas Paarthurnax sabia das verdadeiras intenções de Alduin, e sob a influência de Kynareth, auxiliou os homens mortais na batalha contra Alduin; então houve guerra, e a terra foi arrasada, e a Garganta do Mundo foi fechada.

Depois disso, através de todos os dias que se seguiram, Alduin procurou Paarthurnax, seu tenente, que recrutava aliados em rebeldia; mas já que essa história é recontada em outro lugar, pois o próprio Arngeir a registrou em seus livros de estudo, não será recordada aqui. Pois é uma longa história, cheia de feitos grandiosos e terríveis, e embora Arngeir falasse de modo breve, o sol subiu no céu, e a manhã já estava no fim quando ele terminou.

Falou de Atmora, de sua glória e queda, e do retorno dos Reis dos Homens à Tamriel, vindos do outro lado do mar, carregados pelas asas da tempestade. Então Ysgramor, e seus poderosos filhos, Yngol e Ylgar, tornaram-se grandes senhores, e retomaram o Reino do Norte em Saarthal dos elfos da neve, e expandiram seu reino. Mas foi Ysgramor de Atmora que trouxe, com sua Companhia de Cinco Mil, a cultura de adoração aos dragões. E os descendentes desses Cinco Mil os adoraram até demais, e Oito deles eram os mais fiéis Sacerdotes do Devorador de Mundos, e comandavam exércitos de centenas de milhares de homens sob as ordens de Alduin, o Negro.

Nesse momento, Arngeir parou um pouco e suspirou. — Muito contam do esplendor da espada de Gormlaith Cabo-Dourado, Fendegelo — disse ele. — Atacou Alduin com força com a ajuda do machado de Hakon e da espada de Felldir, na ocasião em que o Pergaminho foi usado, e as Vozes pensaram que o mal tinha acabado para sempre; mas isso não era verdade. O Jarl Hakon Um-Olho foi um esgueirador, como ele mesmo se define em seus registros, de Gormlaith e seus companheiros de exílio. Eles estiveram na Batalha de Ivarstead, abaixo dos trovões negros da Garganta do Mundo, onde os aliados fiéis de Alduin eram um por um assassinados pela formosa guerreira dourada. Nos registros do Jarl, estão escritos os últimos combates nas encostas da Garganta do Mundo, onde Gormlaith morreu, e Hakon caiu, e Felldir o Velho usou o Pergaminho Antigo para banir Alduin e deixá-lo vagando no Tempo para sempre.

Ao ouvir isso, o estrangeiro, Erik, interrompeu-o. — Então foi isso que aconteceu com o Devorador de Mundos! — gritou ele. — Se alguma vez essa história foi contada no Oeste, já foi há muito esquecida. Ouvi falar do Grande Dragão, e daquele que não nomeamos, mas acreditávamos que tinha desaparecido do mundo nas ruínas da Era Merética. Ele foi banido! Isso realmente é novidade.

— Infelizmente, sim — disse Arngeir. — Felldir o baniu sem saber como, ou com pouco auxílio dos Magos do Colégio, e isso não deveria ter acontecido. O dragão deveria ter sido aprisionado e enfraquecido, exatamente como fizera o Jarl Olaf Um-Olho com Numinex, o dragão de Whiterun, e só então Alduin poderia ser assassinado. Mas poucos perceberam o que Felldir fez. Ele tinha ficado sozinho ao lado de Hakon no confronto final; e havia seguido poucos conselhos, pois estava com muita pressa. Ele não deu ouvidos à muitos sábios conselhos, embora tivesse considerado todos muito bem. Essas informações só vieram para os Sábios, e apenas para alguns. Não é de admirar que você não saiba de nada, Erik. Da ruína da Montanha Anthor, onde o último da linhagem dos Um-Olho sucumbiu tentando defender os dragões amigos dos Akavir, apenas três homens voltaram pelas montanhas, depois de muito vagarem. Um destes foi Ulrar, o escudeiro de Dathman Um-Olho, que trazia os pedaços do Machado de Whiterun e o único exemplar de O Conto das Vozes; e ele os trouxe para Andrelheim, o Enorme, que virou Jarl de Whiterun, cuja linhagem perdura até hoje no trono da Fortaleza do Dragão, e este deu para seu filho, Horstar, que passou por gerações e gerações até chegar a Hallvaror, que foi um aprendiz na Alta Hrothgar na Terceira Era, e aqui o livro está até hoje. Chamei de infrutífera a vitória da Companhia de Gormlaith? Não inteiramente, embora não tenha alcançado seus objetivos. O poder de Alduin ficou ausente, mas não foi destruido. O dragão estava perdido, mas não derrotado. Muitos homens e dragões poderosos, e muitos de seus amigos, morreram na guerra. Gormlaith foi morta, e Helvius Otiustiris foi morto; Hakon e Felldir morreram nas conseqüências da Guerra. Nunca mais haverá uma aliança semelhante entre homens e dragões, pois os homens se multiplicam, e os dragões estão extintos, e os dois povos, agora no retorno do segundo, não poderiam estar mais distantes. E então os sobreviventes foram para o Oeste, e vivem em Solitude desde então, e somente histórias sobre fogo de dragão ainda são contadas. Foi assim por multas vidas de homens. Mas os Senhores de Solitude ainda lutam, desafiando nossos inimigos, mantendo a passagem do Rio desde A Companhia do Leste até o Mar. E agora a parte da história que devo contar chega a um fim. Mas agora, nestes últimos dias, estão em perigo novamente, pois, para nossa tristeza, Alduin foi encontrado. Outros devem falar do achado, pois neste ponto tive um papel pequeno.

Ele parou, mas imediatamente Erik se levantou, alto e imponente diante deles.

— Dê-me permissão, Mestre Arngeir — disse ele —, primeiro para dizer mais sobre Solitude, pois exatamente de lá eu venho. E seria bom para todos saber o que se passa ali. Poucos sabem, pelo que vejo, de nossos feitos, e, portanto adivinham pouca coisa do perigo que os ameaça, se viéssemos a falhar. Não creiam que na terra de Solitude o sangue de Cyrodiil por parte de Pelagius III esteja dissipado, nem que toda sua dignidade e esplendor foram esquecidos. Por nossos esforços, o povo selvagem do Leste ainda não avançou, e o terror de Windhelm é mantido sob controle; só assim são mantidas a paz e a liberdade nas terras atrás de nós, que somos o baluarte do Oeste. Mas se as passagens do Rio fossem tomadas, o que aconteceria? Mas talvez essa hora não esteja longe. O Devorador de Mundos se levanta outra vez. A fumaça ainda sobe de Helgen, que chamamos de Cidade Queimada. Os poderes das terras do Extremo Leste crescem, e estamos sendo duramente acossados. Quando o Devorador de Mundos voltou, nosso povo foi massacrado e queimado horrivelmente em Helgen, nosso belo domínio a Leste do Lago, embora tenhamos mantido lá um Ponto de apoio e força de armas. Mas neste mesmo ano, nos dias de meio-ano, uma guerra repentina nos sobreveio de Skuldafn, e fomos expulsos de vez também dos Acampamentos de Marchaleste. Estávamos em menor número, pois Skuldafn se aliou aos vampiros e aos cruéis rubroguardas com suas espadas curvas; mas não foi pelo número que fomos derrotados. Havia ali um poder que nunca sentíramos antes. Alguns diziam que era visível, na forma de um grande esqueleto de ouro, uma sombra escura porém brilhante sob a lua. Onde quer que ele aparecesse, nossos inimigos ficavam furiosos, enquanto o medo dominava nossos guerreiros mais corajosos, de modo que homens e cavalos cediam e fugiam. Apenas uma parte restante de nossa força no Leste voltou. Eu estava nesse grupo no Acampamento de Marchaleste, até que ele foi destruído atrás de nós. Apenas quatro se salvaram nadando pelos pântanos: meu escudeiro, eu, e outros dois. Mas continuamos lutando, mantendo o domínio dos fortes, principalmente o da Vigília da Névoa; aqueles que se abrigam atrás de nós nos elogiam: elogiam muito, mas não ajudam em nada. Atualmente, apenas de Falkreath viria algum homem quando pedíssemos socorro. Nesta hora maligna, eu vim numa missão, atravessando muitas milhas perigosas, até Arngeir: cento e dez dias viajei completamente sozinho. Mas não procuro aliados para a guerra. O poder dos Barbacinza está em sua sabedoria, não nas armas, como se diz. Vim pedir aconselhamento e ajuda para desvendar palavras duras. Pois na véspera do ataque súbito, minha mãe teve um sonho durante um sono agitado; e depois disso tinha freqüentemente um sonho semelhante, e uma vez eu também tive. Nesse sonho, vi o céu do Leste ficar cinza-escuro, e havia um trovão crescente, mas no Oeste uma luz pálida permanecia, e vindo dela eu escutava uma voz, remota, mas clara, gritando:

Procure a Espada e a Voz do Dragão

Em Mohnaven onde vivem os Sábios elas estão;

Mais fortes que feitiços daédricos você receberá

Todos os Sábios conselhos que podem lhe oferecer por lá

E lá serão revelados os detalhes do Final

Que vem chegando, aterrorizando o Mundo Mortal

E o Devorador dos Mundos já vai surgir,

E o que tem a alma de um dragão para derrotá-lo há de vir.

Dessas palavras, pudemos entender pouca coisa, e falamos com a feiticeira da corte, Sybille Stentor, de Cyrodiil, sábia nas tradições do Norte. Ele só disse que Mohnaven fora, há muito tempo, o nome usado pelos dragões para um monastério na Garganta do Mundo, acima de Ivarstead, onde Arngeir, o Barbacinza, e os outros quatro de sua Ordem moravam, os maiores dos eruditos na tradição. Portanto, minha mãe, vendo o desespero de nossa necessidade, estava ansiosa para atender ao que dizia o sonho, e procurar Mohnaven; mas, já que o caminho era cheio de dúvidas e perigos, encarreguei-me da viagem. Minha mãe relutou em dar permissão para minha partida, e muito vaguei por estradas abandonadas, procurando a casa de Arngeir, da qual muitos tinham ouvido falar, mas poucos sabiam onde ficava.

— E aqui, na casa dos Barbacinza, mais coisas lhe serão esclarecidas — disse Vorstag, levantando-se. Colocou sua espada sobre a mesa diante de Arngeir, e a lâmina era grande e afiada. — Aqui está a Espada do Dragão! A Espada de Uriel Septim III e de todos seus descendentes! — disse ele.

— E quem é você, e o que tem a ver com Solitude? — perguntou Erik, olhando surpreso para o rosto magro do Guardião da Alvorada e para sua armadura marrom com a ombreira de metal brilhante.

— Ele é Vorstag, filho de Rorstag — disse Arngeir —, e descende, através de muitas gerações de Talos, o Dragão do Norte. É o chefe dos Guardiões da Alvorada de Riften; poucos restam agora desse povo.

— Então a tarefa pertence a você e não a mim! — gritou Ralof surpreso, levantando-se, como se esperasse que alguém pedisse a obrigação de enfrentar o Devorador de Mundos imediatamente.

— Ela não pertence a nenhum de nós — disse Vorstag. — Mas foi ordenado que você guardasse a descrição do dragão por um período, nada além disso, meu querido amigo.

— Grite, Vorstag! — disse Savos Aren solenemente. — A hora chegou. Revele-se, e então Erik entenderá o restante do enigma.

Fez-se silêncio e todos voltaram os olhos para Vorstag. Ele foi tomado de repente pela vergonha e pelo medo, sentindo uma grande relutância em fazer aquilo, e uma grande aversão ao seu poder. Desejou estar bem longe. Abriu a boca lentamente, e todos os pares de olhos da sala olharam para ele. Os olhos amarelados de Serana transmitiam confiança, e foi isso que o motivou. Lentamente, a sala tomada foi tomada por sua Voz.

Laas Yah Nir

Os olhos de Erik reluziram quando todos os presentes na sala passaram a emanar como se de dentro de suas vestes um brilho avermelhado, como se as palavras com voz sombria que saíram da boca do Guardião tivessem revelado a cada um a própria aura, o próprio espírito.

— A Voz do Dragão! — gaguejou ele, quando o brilho se apagou. — Então o fim de Solitude finalmente chegou? Mas por que então devíamos procurar uma espada do dragão? Que utilidade teria uma espada, ainda que seu nome tivesse tanto poder assim contra os mensageiros das trevas?

— As palavras não eram o fim de Solitude — disse Vorstag. — Mas o fim e grandes feitos se aproximam realmente. Pois a Espada do Dragão é a Uriel Septim, que foi retirada dele na Batalha de Ichidag. Foi guardada por herdeiros, quando todo o resto da herança foi perdido; disseram-nos que após o final da Terceira Era ela demoraria muito para ser usada, mas parece que a hora chegou. Agora que você viu a espada que procurava, o que dirá? Deseja que a Casa do Rei Mantiarco, pai de Uriel III retorne à Terra de Solitude?

— Não fui enviado para implorar nenhum favor, mas apenas para procurar o significado de um enigma — respondeu Erik orgulhosamente. — Mas estamos sendo fortemente pressionados, e a Espada de Septim seria uma ajuda além de nossas expectativas... se uma coisa dessas pudesse realmente voltar das sombras do passado. — Olhou de novo para Vorstag, cheio de dúvidas.

Vorstag sorriu para Erik. — De minha parte, perdôo sua dúvida — disse ele. — Sou pouco semelhante às figuras de Talos que estão entalhadas em sua majestade no Templo dos Divinos da Graciosa Elisif. Sou apenas um herdeiro de Tiber Septim, não Tiber Septim em pessoa. Tive uma vida dura e longa; e as milhas que se estendem entre este lugar e Solitude são uma pequena fração na soma de minhas viagens. Atravessei muitas montanhas e muitos rios, e pisei em muitas planícies, chegando até mesmo às regiões distantes de Yokuda, onde as estrelas são estranhas. Mas minha casa, a meu ver, fica em Skyrim. Pois aqui os herdeiros de Enman Septim sempre viveram depois da fuga de Cyrodiil, quando a Alvorada Mítica caçava os Septim para fazer oferendas hereges a príncipes daédricos cujos nomes não ouso mencionar aqui, mas sim, aqui vivemos, numa longa linhagem contínua de pai para filho por muitas gerações. Nossos dias escureceram e diminuímos em número; mas sempre a espada era passada para um novo guardião. E isto direi a você, Erik, antes de terminar. Somos homens solitários, guardiões das estradas, caçadores - mas sempre caçamos os servidores do Inimigo; pois estes podem ser encontrados em muitos lugares, e não apenas em Skuldafn. Se Solitude, Erik, tem sido uma torre robusta, nós tivemos outra função. Existem muitas coisas más que nossas muralhas fortes e espadas brilhantes não aguentam. Você sabe pouco sobre as terras além de suas fronteiras. Paz e liberdade, você diz? O Norte mal saberia o que são essas coisas se não fosse por nós. O medo destruiria a todos. Mas quando os seres escuros vêm das colinas desabitadas, ou se esgueiram por florestas sem sol, fogem de nós. Que estradas qualquer um ousaria pisar, que segurança haveria nos lugares pacíficos, ou nas casas dos homens simples à noite, se os Guardiões da Alvorada estivessem dormindo, ou tivessem todos ido para o túmulo? Mesmo assim, recebemos menos agradecimentos que vocês. Os viajantes nos desprezam, e os homens das cidades nos dão nomes pejorativos. Sou “Encapuzado” para uma mulher magricela que vive num lugar a apenas um dia de marcha de inimigos que congelariam seu coração, ou deixariam sua pequena cidade em ruínas, se não fosse guardado continuamente. Mesmo assim, não aceitaríamos outro tipo de vida. Se as pessoas estão livres do medo e da preocupação, é porque são simples, e devemos mantê-las assim em segredo. Essa tem sido a tarefa de meu povo, enquanto os anos vão se alongando e o capim vai crescendo. Mas agora o mundo está mudando outra vez. Uma nova hora se aproxima. O Devorador de Mundos retornou. A Batalha está chegando. A Espada será reforjada. Irei a Solitude.

— Você diz que o Devorador de Mundos retornou — disse Erik. — Todos vimos um dragão voando para o leste há mais de um ano; mas todos que já tenham visto Alduin morreram muito antes de esta era do mundo começar. Como os Sábios podem saber que esse dragão é ele? E como ele passou todos esses anos, até ser trazido aqui numa data tão estranha?

— Isso será contado — disse Arngeir.

— É, até agora já contamos uma longa história — disse Ralof. — Mas ainda sinto que está muito mais longe de estar completa do que parece. Ainda quero saber muita coisa, especialmente sobre Savos Aren.

Merildor da Embaixada dos Thalmor, sentado ao lado, escutou o que dizia. — Você também fala por mim — disse ele; e voltando-se para Arngeir, falou: — Os sábios podem ter bons motivos para considerar que o Terror de Helgen é realmente o Devorador de Mundos tão debatido, embora isso pareça improvável para aqueles que sabem menos. Mas não podemos ouvir as provas? E eu também perguntaria o seguinte: E Ancano? Ele e Savos Aren sempre estiveram encabeçando essa questão dos dragões, e é o mais erudito nessa questão de todos os do Colégio de Winterhold, pelo o que os relatos dele dizem, e apesar disso não está entre nós. O que diria, se soubesse das coisas que ouvimos?

— As perguntas que faz, Merildor, estão entrelaçadas — disse Arngeir. — Não as negligenciei, e elas serão respondidas. Mas essas coisas competem a Savos Aren esclarecer, e eu o chamo por último, pois esse é o lugar de honra, e em toda essa questão ele tem sido o chefe.

— Alguns, Merildor — disse Savos, em suas vestes de arque-mago —, pensariam que as notícias de Dro’marash e a perseguição de Ralof são provas suficientes de que os dois sobreviventes de Helgen são de grande valor para Nahkriin, que até onde os estudos alcançam, servia a Alduin, principalmente. Apesar disso, é apenas um dragão. E então? Bate com as descrições de Alduin em livros e canções, e todos os dragãos que conhecemos a localização das tumbas permanecem enterrados. Os Sacerdotes Dracônicos não estão mais em suas tumbas, dizem os Guardiões da Alvorada. Quem além do Devorador de Mundos teria poder para trazê-los de volta à vida? — Com isso Dro’marash se mexeu na cadeira, mas nada falou. — Quem seria então este dragão tão poderoso, se não Alduin? Nenhum teria um poder tão grande para causar tanto estrago como o que aconteceu em Helgen. Na verdade, existe um grande lapso de tempo entre a Garganta e Helgen, entre a perda e o achado. Mas a falha no conhecimento dos Magos foi sanada finalmente. Mas muito devagar. Pois aqueles que servem ao Devorador de Mundos vinham logo atrás, mais próximo até do que eu temia, e esta volta já estava premeditada muito antes de seu retorno. E é bom que só tenha conhecido a verdade inteira neste último ano; ao que parece, neste verão. Alguns aqui poderão recordar que, muitos anos atrás, eu mesmo ousei atravessar as portas do Mago Arcano no Labirynthian, e explorei em segredo suas práticas, e assim descobri que nossos temores eram fundados: ele não era ninguém menos que o próprio Morokei, um fiel servidor do antigo inimigo, o Devorador de Mundos, finalmente tornando forma e recuperando o poder outra vez. Alguns também poderão lembrar que Girduin tentou nos dissuadir de fazer algo abertamente contra ele, e por muito tempo apenas o vigiamos. Mas finalmente, à medida que as sombras cresciam, Girduin cedeu, e o Colégio de Winterhold reuniu suas forças e incapaz de aniquilar o mal, o aprisionou no Labirynthian, e desta infeliz expedição, eu fui o único sobrevivente. Mas estávamos muito atrasados, como Casnar, o antigo arque-mago, previra. Os outros Sacerdotes também estiveram nos vigiando, e se preparavam havia muito tempo para nosso golpe, governando Skuldafn à distância, de suas respectivas tumbas, onde fingiam descansar, até que tudo estivesse pronto. Então Morokei foi derrotado e fingiu desespero, mas sua ascensão acabou sendo somente uma distração. Logo Nahkriin depois chegou às Torres de Skuldafn, e declarou-se abertamente. Então, pela última vez, o Conselho de Winterhold se reuniu, pois nesse momento soubemos que as profecias deveriam estar se aproximando da realização. Tememos na época que eles soubessem alguma coisa que ainda ignorávamos. Mas Ancano, que havia acabado de ser introduzido no Colégio, disse que não, e repetiu o que viria a nos dizer muitas vezes mais: que o dragão jamais seria encontrado outra vez em Nirn.

“Na pior das hipóteses”, dizia ele, “os Sacerdotes Dracônicos estão encarregados de realizar o trabalho de Alduin em terra enquanto o dragão o realiza em outro plano. Mas acham que o que foi banido pode ser retornado. Nada temam! A esperança que têm vai traí-los. Então eu não estudei essa questão minuciosamente? Alduin foi banido no Tempo, e ele será forçado a observar as eras se passarem para sempre. Deixemo-lo ficar ali até o Fim.”

Savos Aren ficou quieto, olhando para o Leste através do alpendre, examinando os picos distantes das montanhas, em cujas grandes raízes o perigo do mundo por tanto tempo se ocultara. Ele suspirou.

— Nesse ponto, falhei — disse ele. — Fui ludibriado pelas palavras de Ancano, o Sábio; deveria ter procurado a verdade antes, e agora nosso perigo seria menor.

— Todos nós falhamos — disse Arngeir. — E se não fosse por sua vigilância, talvez a Escuridão já tivesse caído sobre nós. Mas continue!

— Desde o início, meu coração pressentia o que contrariava toda a razão que eu conhecia — disse Savos. — E eu desejava saber como os Pergaminhos Antigos poderiam falhar e por quanto tempo seus efeitos poderiam ser efetivos. Então comecei a procurar meu velho associado Septimus Signus, supondo que logo apareceria para efetivar suas pesquisas, que na verdade nunca terminaram, e de fato apareceu, mas escapou e não foi encontrado. E então, infelizmente, deixei o assunto descansar, apenas vigiando e esperando, como fizemos muitas vezes. O tempo passou, com muitas apreensões, até que minhas dúvidas despertaram de novo, transformando-se num medo repentino. Onde estaria o Pergaminho Antigo? Septimus já o teria visto? E onde o guardava, estaria além do alcance dos inimigos? Essas coisas eu tinha de decidir. Mas não falei a ninguém de meus temores, sabendo do perigo de uma menção inoportuna, caso chegasse aos ouvidos errados. Em todas as longas guerras, a traição sempre foi nosso maior inimigo. Isso foi há dezessete anos. Logo soube que espiões de toda sorte, até animais e pássaros, reuniam-se em torno do Condado, e meu medo cresceu. Pedi o auxílio da Guarda da Alvorada, que redobraram sua vigilância; abri meu coração para Vorstag, o herdeiro de Tiber Septim.

— E eu — disse Vorstag —, achei melhor procurarmos Septimus Signus, embora parecesse muito tarde. E, uma vez que parecia adequado que o herdeiro de Tiber Septim tentasse realizar grandes feitos como seus antepassados, empreendi com Savos uma busca longa e infrutífera.

Então Savos contou que tinham explorado toda a região além de Winterhold, chegando até mesmo às Rochas da Serpente e descendo, para as fronteiras de Skuldafn.

— Ali escutamos rumores sobre ele, e supusemos que tinha morado por longo tempo lá, nas colinas escuras; mas não o encontramos, e finalmente perdi as esperanças. Então pensei outra vez num teste que poderia dispensar a localização de Septimus Signus. Meu próprio castelo poderia me dizer onde estava o Pergaminho. A lembrança das palavras pronunciadas no Conselho voltou à minha memória: palavras de Ancano, semi-ocultas na ocasião. Agora eu as escutava claramente em meu coração. “São uma, duas, três”, dizia ele, “todas contém uma pequena imensa parte do Tempo e da Roda. Sumiram da Biblioteca Imperial para se espalhar por todos os lugares de Mundus. Ninguém desde então tem pesquisado por tal assunto.” Quais eram esses lugares ele não dizia. Quem poderia saber agora? Quem o fez. E Ancano? Embora seu conhecimento pudesse ser muito grande, devia se originar de alguma fonte. Que outra mão, fora a dos Padres Moth de Cyrodiil, teriam escrito sobre esses objetos, antes que fossem perdidos? Apenas a de Septimus Signus. Pensando nisso, abandonei a busca, e fui rapidamente para Solitude, onde estavam a maioria das ruminações escritas por Septimus. Nos primeiros tempos, os membros de minha ordem eram bem recebidos lá, mas Ancano sempre merecia as honras maiores. Freqüentemente ficava ali, como hóspede do Alto Rei. Não fui tão bem recebido por Jarl Elisif dessa vez como antigamente e com má vontade ela permitiu que eu vasculhasse entre os livros e pergaminhos que guardava como relíquias.

“Se é verdade que você só está procurando registros dos tempos antigos e das origens de seus problemas, como diz, vá em frente!”, disse ela, “pois, para mim, o que passou foi menos sombrio do que o que está por vir, e essa é minha preocupação. Mas, a não ser que você tenha mais habilidade que o próprio Ancano, que estudou aqui muito tempo, não achará nada que não seja bem conhecido por Sybille, que é uma mestre nas tradições da Província.”

— Assim falou Jarl Elisif, a Bela. E mesmo assim, em sua posse há muitos registros que agora apenas alguns conseguem ler, até mesmo entre os mestres nas tradições, pois suas escritas e línguas se tornaram obscuras para os homens que vieram depois. E, Erik, acho que ainda existe em Solitude um manuscrito que não foi lido por ninguém, a não ser por Ancano e por mim, feito pelo próprio Septimus Signus. Porque os Pergaminhos Antigos não foram roubados da Biblioteca Imperial, como dizem alguns.

— Alguns no Leste, talvez — interrompeu Erik. — Todos em Solitude sabem que seria impossível que tivessem sido roubados. Os Padres Moth deixaram claro que por ação dos Divinos eles simplesmente desapareceram e foram espalhados por Tamriel, ou além.

— Mas foi justamente nessa época que Septimus fez esse manuscrito — disse Savos. — E isso não é lembrado em Solitude nem em Winterhold, pelo que parece. A obra se chama “Ruminações nos Pergaminhos Antigos” e explica de um jeito incerto e muito vago que os Pergaminhos Antigos tem muitas funções diferentes, e que apenas contam e realizam uma história. Mas enfatizava que tudo que envolvia os Pergaminhos necessitava de um equilíbrio. Alduin não poderia ficar preso para sempre. Mas se isso ainda não for prova suficiente, Merildor, ainda há o outro teste que mencionei. Imediatamente, despedi-me de Elisif, mas no mesmo momento em que me dirigia para o Norte mensagens chegavam até mim vindas de Whiterun, dizendo que Farengar precisava da minha ajuda para encontrar um objeto, e que estava pesquisando sobre um artefato muito antigo chamado Pedra Dracônica. Portanto, fui primeiro encontrá-lo e ouvir sua história. Os registros indicavam apenas que nesta pedra havia um mapa seguido das seguintes inscrições:

Het nok un

mahlaan drogge

erei suleyk se

Alduin vokrii

A mudança na voz do mago era assombrosa. De repente ficou ameaçadora, poderosa, dura como pedra. Uma sombra pareceu passar sobre as fogueiras espalhadas pelo salão, e tudo ficou escurecido por uns momentos. Todos tremeram.

— Nunca antes uma voz ousou pronunciar esse tipo de palavras nessa língua em Alta Hrothgar, Savos Aren — disse Arngeir, quando a sombra passou e o grupo pôde respirar outra vez.

— E esperemos que ninguém jamais fale essas coisas aqui de novo — respondeu Savos. — Não obstante isso, não peço suas desculpas, Mestre Arngeir. Pois se essa língua não estiver prestes a ser ouvida em todos os cantos de Skyrim, então que todos deixem de lado a dúvida de que esse objeto é realmente o que Farengar Fogo-Secreto declarou: o que o Devorador de Mundos precisa; e nele está o mapa dos antigos túmulos dracônicos. Vêm dos anos seguintes ao fim da Guerra dos Dragões, quando o reinado de Alduin foi destituído e os dragões caçados como ovelhas. Aqui jazem nossos senhores caídos, o poder furioso de Alduin revive, foi isso que ouviram. Septimus Signus diria que não devemos procurar os Pergaminhos Antigos, mas esta Pedra. E agora responderei às outras perguntas de Merildor. E Ancano? Que diria ele nesta hora? Essa história preciso contar inteira, pois apenas Arngeir a conhece, e resumida, mas ela terá conseqüências em tudo o que decidirmos. É o último capítulo da história da Crise dos Dragões, até o presente momento. No fim de meio-ano eu estava em Riverwood, mas uma nuvem de ansiedade cobria minha mente, e eu fui até a fronteira Noroeste da pequena terra; pois tinha pressentimento de algum perigo, ainda oculto, mas que se aproximava. Ali, mensagens chegaram até mim, contando sobre guerra e derrota em Solitude, e quando ouvi sobre o Esqueleto Dourado, senti um frio no coração. Mas nada encontrei; mesmo assim tive a impressão de que sentiam um medo que não mencionavam. Fui então e viajei ao longo da Estrada; não muito longe de Whiterun, encontrei um viajante sentado num barranco à beira da estrada, e seu cavalo pastando atrás dele. Era o próprio Septimus, e eu decidi não espantá-lo, pois ele poderia sair correndo, e eu não o via fazia muitos anos.

“Savos”, disse ele, para a minha surpresa. “Estava procurando você. Mas sou um estranho nestas partes. Tudo o que sabia é que você poderia ser encontrado numa região selvagem, com o nome esquisito de Riverwood.”

“Sua informação estava certa”, disse eu. “Mas não fale assim, se encontrar algum habitante de lá. Você está perto da fronteira de Riverwood agora. E o que quer comigo? Deve ser importante. Você nunca procurou ninguém, a não ser por grande necessidade.”

“Tenho uma missão urgente”, disse ele. “Minha notícia é má.” Então olhou ao redor, como se as cercas-vivas tivessem ouvidos. “Sacerdotes Dracônicos” sussurrou ele. “Os Oito, pelo menos Sete deles, estão de novo à solta. Estão saindo de suas tumbas e indo para o Escuro Leste.”

— Soube então do que temia sem saber.

“Nahkriin deve ter alguma necessidade ou propósito importante”, disse Septimus; “mas o que o faz olhar em direção a estas partes distantes e desoladas, não posso adivinhar.”

“O que está querendo dizer?”, disse eu.

“Disseram-me que, aonde quer que cheguem, os Cavaleiros pedem notícias de uma terra chamada Riverwood.”

“Riverwood”, disse eu, e meu coração ficou pesado. Pois mesmo os mais poderosos podem ter medo de enfrentar os Oito, quando estão reunidos e sob o comando de seu líder mortal. Antigamente, ele foi um grande rei e feiticeiro, e agora emana um pavor mortal. “Quem lhe disse isso, e quem o enviou?”, perguntei.

“Ancano, o Thalmor”, respondeu Septimus Signus. “E me recomendou que dissesse a você que pode ajudá-lo se precisar; mas que você deve procurar sua ajuda imediatamente, ou será tarde demais.”

— E essa mensagem me trouxe esperança. Pois Ancano é depois de mim o mais sábio de minha ordem, meu fiel conselheiro. Septimus, claro, é um mago valoroso, um mestre das antiguidades e dos Pergaminhos; tem muito conhecimento das tradições, e os pássaros em especial são seus amigos. Mas Ancano vem estudando há muito tempo as artes dos Pergaminhos também, e estava mais introduzido no assunto do dragão do que Septimus, e desse modo conseguimos muitas vezes antecipar-nos. Foi pelos métodos de Ancano que expulsamos vários inimigos de Saarthal. Podia ser que ele tivesse descoberto armas para rechaçar os Sacerdotes Dracônicos.

“Irei até Ancano”, disse eu.

“Então deve ir agora”, disse Septimus, “pois perdi tempo procurando você, e os dias estão se acabando. Recomendou-me que o encontrasse antes do final do mês, e esse dia está chegando. Mesmo que você parta daqui, será difícil alcançá-lo antes que os Oito descubram a terra que procuram. Dizem que estão usando vampiros. Quanto a mim, voltarei imediatamente para lugar nenhum e para todos os lugares.” E com isso montou no cavalo e teria partido naquele instante.

“Espere um minuto”, disse eu. “Vamos precisar de sua ajuda, e da ajuda de todos os seres que possam cooperar. Envie mensagens a todos os que são seus amigos. Diga-lhes para trazerem notícias de tudo o que se relacione a esse assunto de Ancano e Savos Aren. Envie mensagens ao Colégio de Winterhold.”

“Farei isso”, disse ele, e partiu como se o Devorador de Mundos estivesse em seu encalço.

— Não pude segui-lo naquele momento e daquele lugar. Já tinha cavalgado muito longe naquele dia, e estava tão cansado quanto meu cavalo, e precisava pensar nas coisas. Passei a noite em Whiterun, e decidi que não tinha tempo para voltar até Riverwood. Nunca cometi um erro tão grande! Entretanto, escrevi uma mensagem para Ralof, e confiei-a a minha amiga, a estalajadeira, para enviá-la. Parti na manhã do dia seguinte; e finalmente cheguei à minha casa, o Colégio de Winterhold. Uma noite, bem tarde, cheguei ao portão do castelo. Estava fortemente guardado. Mas os guardas estavam vigiando, à minha espera, e me disseram que Ancano me aguardava. Passei por baixo do arco, Faralda, a guarda do portão, me guiou com um semblante estranho e o portão se fechou silenciosamente atrás de mim; de repente senti medo, embora não conhecesse motivo para isso.

“Então, você veio, Savos Aren”, disse-me ele num tom rouco; mas em seus olhos parecia haver uma luz branca, como se um riso frio estivesse em seu coração. “É engraçado como é uma raridade que o Arque-Mago do Colégio esteja presente no estabelecimento tão raras vezes durante o ano.”

“Sim, eu vim”, disse eu, ignorando seu último comentário. “Vim pedir sua ajuda, Ancano dos Thalmors.” Esse título pareceu enraivecê-lo.

“É mesmo, Savos dos Nórdicos?”, zombou ele. “Ajuda? É raro se ouvir que Savos, o Arque-Mago, pediu ajuda a alguém, uma pessoa tão inteligente e sábia, vagando pelas terras e se intrometendo em todas as coisas, quer lhe digam respeito ou não.”

Olhei para ele, surpreso. “Mas se não estou enganado”, disse eu, “estão acontecendo coisas que irão requerer a união de todas as nossas forças.”

“Pode ser”, disse ele, “mas esse pensamento lhe ocorreu tarde demais. “Pergunto-me quanto tempo escondeu de mim, seu conselheiro, um assunto da maior importância. O que o traz aqui agora, vindo de seu ponto de espreita em Riverwood?”

“Os Oito avançaram de novo”, respondi. “Atravessaram o Leste e estão indo para Skuldafn, coincidentemente agora, depois do aparecimento do dragão. Assim me disse Septimus Signus.”

“Septimus, o Louco!”, riu Ancano, não mais escondendo o desprezo que sentia. “Septimus, o Viajante! Septimus, o Simplório! Septimus, o Escritor de Tolices! Mas pelo menos teve a capacidade de desempenhar a função que lhe designei. Você veio, e esse foi o propósito de minha mensagem. E aqui você permanecerá, Savos Aren, para descansar das viagens. Pois sou Ancano, o Sábio, Ancano, o Mago Élfico, Ancano, o Arque-Mago!”

— Olhei então e vi que as roupas que vestia, que tinham parecido o seu comum uniforme preto-dourado, não era o uniforme, mas uma variação dessas duas cores das roupas que eu estou vestindo agora, de modo que os olhos ficavam confusos. Eram os trajes de um arque-mago.

“Eu gostava mais do antigo”, disse eu.

“Antigo!”, zombou ele. “O antigo, como o nome diz, é o passado. O futuro pode ser escrito. Pode-se escrever sobre a página em branco que é o futuro, pode-se viver o futuro no presente também, mas não no passado. Eu sou o futuro, eu sou fabuloso.”

“E nesse caso deixa de ser futuro”, disse eu. “E aquele que quebra uma coisa para descobrir o que ela é deixou o caminho da sabedoria.”

“Não precisa falar comigo do modo como se dirige aos tolos que tem por amigos”, disse ele. “Não o trouxe até aqui para receber instruções suas, mas para lhe dar uma escolha.” Pôs-se de pé e então começou a declamar, como se estivesse fazendo um discurso longamente ensaiado. “A Terceira Era se foi. A Quarta Era está passando. A Quinta está começando. A época dos homens se acabou, mas nosso tempo está chegando: o mundo dos altmers, que devemos governar. Mas precisamos de poder, poder para ordenar todas as coisas como queremos, para o bem que apenas os Magos podem enxergar. E ouça bem, Savos Aren, meu velho amigo e professor!”, disse ele, vindo em minha direção e falando agora com uma voz mais suave. “Eu disse nós, pois poderá ser nós, se quiser se unir a mim. Um novo Poder se levanta, o poder do Devorador de Mundos, pois sei que é ele, você também sabe. Contra ele, as velhas alianças e políticas não nos ajudarão em nada. Não há mais esperança nos imperiais ou nos agonizantes nórdicos. Esta então é uma escolha diante de você, diante de nós. Podemos nos unir a esse Poder. Seria uma sábia decisão, Savos Aren. Existe esperança por esse caminho. A vitória dele se aproxima, e haverá grandes recompensas para aqueles que o ajudarem. Enquanto o Poder crescer, os que se mostrarem seus amigos também crescerão; e os Magos, como você e eu, poderão, com paciência, vir finalmente a governar seus rumos, e a controlá-lo. Podemos esperar nossa hora, podemos guardar o que pensamos em nossos corações, talvez deplorando as maldades feitas incidentalmente, mas aprovando o propósito final e mais alto: Conhecimento, Liderança, Ordem; todas as coisas que até agora lutamos em vão para conseguir, mais atrapalhados que ajudados por nossos amigos fracos e inúteis. Não precisaria haver, e não haveria, qualquer mudança em nossos propósitos, só em nossos meios.”.

“Ancano”, disse eu. “Já escutei discursos desse tipo antes, mas apenas das bocas dos emissários enviados de Skuldafn para enganar os ignorantes. Não posso crer que tenha me trazido de tão longe só para me cansar.”

Lançou-me um olhar oblíquo, e parou um pouco, pensando. “Bem, vejo que este caminho sábio não funciona no seu caso”, disse ele. “Ainda não? Não se uma maneira melhor puder ser criada?”

Aproximou-se alto e colocou a mão dourada e longa sobre meu braço. “E por que não, Savos?”, sussurrou ele. “Por que não? O dragão Alduin? Se pudéssemos ajudá-lo, então o Poder passaria para nós. Foi por isso, na verdade, que o trouxe até aqui. Pois tenho muitos olhos trabalhando para mim, e acredito que você sabe agora onde esse imenso poder está se escondendo agora que imergiu do banimento. Não é verdade? Ou então, por que os Sete querem saber sobre Riverwood, e qual é o interesse que você tem lá?” E enquanto dizia isso, um desejo ardente que ele não podia ocultar brilhava em seus olhos.

“Ancano”, disse eu, afastando-me dele, “só um tipo de poder pode governar sobre Skuldafn, e ele é ruim, e você sabe disso muito bem; então não se preocupe em dizer nós! Mas eu não o ajudaria, nunca! Não daria nem notícias sobre ele, agora que sei o que se passa na sua cabeça. Você foi um sábio e incrível conselheiro, mas desmascarou a si mesmo finalmente. Bem, as opções são ao que parece submeter-me a Alduin ou a você. Não escolho nenhuma das duas. Não têm outras para oferecer?”

Agora ele estava frio e perigoso. “Sim”, disse ele. “Não esperava que demonstrasse sabedoria, mesmo para sua própria vantagem; mas dei-lhe a chance de me ajudar por bem, e de se poupar de muitos problemas e sofrimentos. A terceira opção é ficar aqui, até o fim.”

“Até o fim?”

“Até que me revele onde o Devorador de Mundos pode ser encontrado. Posso procurar meios de persuadi-lo. Ou até que eu o encontre sozinho para oferecer minha lealdade, e o Devorador de Mundos possa se voltar para questões mais leves: encontrar, vamos dizer, uma recompensa adequada para a falta de colaboração e a insolência de Savos Aren.”

“Essa pode acabar não sendo uma das questões mais leves”, disse eu. Ele riu de mim, pois minhas palavras eram vazias, e ele sabia disso.

— Os guardas de Winterhold, sob algum comando mágico de Ancano, levaram-me e me colocaram no topo do castelo, no lugar onde Ancano costumava olhar as estrelas. Não há por onde descer, a não ser por uma escada estreita de muitos milhares de degraus, e o vale lá embaixo parece muito distante. Olhei para ele e vi que, embora já tivesse sido verde e belo, estava agora cheio de neve e cinza. Várias velas estavam espalhadas pelo topo do castelo onde eu estava, pois Ancano estava convocando dremoras, construindo uma grande força por sua própria conta. Sobre todas as suas construções, uma fumaça escura pairava e se adensava em torno das paredes do Colégio. Fiquei sozinho, numa ilha em meio às nuvens; não tinha chance de escapar, e meus dias foram amargos. O frio me atravessava os ossos, e eu só tinha um pequeno espaço para andar de um lado para o outro, pensando na chegada dos Sacerdotes Dracônicos. De que os Sacerdotes tinham de fato se levantado, eu tinha certeza, mesmo sem as palavras de Ancano, que poderiam ser mentirosas. Muito antes de chegar a Winterhold eu tinha escutado notícias que não poderiam ser falsas. O medo pelos meus amigos de Riverwood era constante em meu coração; mas eu ainda tinha alguma esperança. Tinha esperança de que Ralof tivesse partido imediatamente, como minha carta pedia, e que tivesse chegado a Alta Hrothgar antes que a perseguição fatal começasse. E tanto meu medo quanto minha esperança acabaram se mostrando infundados. Pois minha esperança se fundava numa mulher esquecida de Whiterun, e meu medo na esperteza de Alduin. Mas mulheres velhas que vendem cerveja têm muitos pedidos para atender, e o poder de Alduin ainda é menor do que o medo nos faz crer. Porém, no topo do meu próprio castelo, preso e solitário, seria difícil pensar que os caçadores, diante dos quais todos fugiram ou caíram, falhariam na distante Riverwood. Eu estava numa situação péssima. E os que me conhecem concordarão que raramente fiquei numa situação de tanta necessidade, e que não suporto bem um infortúnio desses. Savos Aren, preso como uma mosca na teia traiçoeira de uma aranha! Mas mesmo as aranhas mais caprichosas podem deixar um fio frouxo. Primeiro pensei, como Ancano sem dúvida pretendia, que Septimus Signus também fosse um traidor. Mas não tinha percebido nada de errado em sua voz ou em seus olhos quando nos encontramos. Se tivesse, jamais teria ido a Winterhold, ou teria sido mais cauteloso. Assim Ancano supunha, e tinha escondido seus pensamentos e enganado o mensageiro. Teria sido inútil, de qualquer forma, tentar convencer o honesto Septimus a se aliar a um projeto de maldade e traição. Procurou- me de boa-fé, e assim me convenceu. Essa foi a ruína do plano de Ancano. Pois Septimus não via motivos para não fazer o que eu pedira, e cavalgou até a floresta, onde tinha muitos amigos antigos. E os pássaros se espalharam, e viram muitas coisas: os Sacerdotes viajando para o Leste, a sombra que cobria o lugar e a mim mesmo, no topo do castelo. E enviaram um mensageiro para me trazer as novas. Foi assim que, quando o verão terminava, veio uma noite enluarada, e um tordo chegou ao Mestre Mago Tolfdir, meu mais fiel amigo, e o contou sobre minha situação. Tolfdir, alarmado, chegou inesperadamente à mim. Então falei com ele, que me carregou embora, antes que Ancano soubesse. Eu já estava longe de Winterhold, quando os guardas de Winterhold saíram pelo portão à minha procura.

“Até onde pode me levar?”, perguntei a Tolfdir.

“Por muitas milhas”, disse ele, “mas não até o fim do mundo. Ancano não pode saber de minha fuga. Vou te levar até onde estiver seguro.”

“Então vou precisar de um cavalo quando pararmos”, disse eu. “E um cavalo extraordinariamente rápido, pois nunca precisei tanto da velocidade antes.”

“Se é assim, vou levá-lo à Riften, onde Maven Black-Briar tem cavalos em suas diversas casas”, disse ele, “pois esse lugar fica longe o suficiente daqui.”

“Acha que ainda se pode confiar nos Homens de Riften?”, perguntei a Tolfdir, pois a traição de Ancano abalara minha fé.

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“Eles pagam um tributo em cavalos”, respondeu ele, “e enviam muitos a Skuldafn anualmente; pelo menos é o que se diz; mas não estão submetidos àquele jugo. Whiterun também. Mas se Ancano se tornou mau, como me diz, então a desgraça deles não pode ser postergada por muito tempo.”

— Deixou-me na terra de Riften antes do amanhecer; e agora me alonguei demais na minha história. O resto será mais breve. Em Riften, já encontrei o mal em ação: as mentiras de Ancano; a jarl daquela região não deu ouvidos às minhas advertências. Disse-me que pegasse um cavalo e fosse embora, e escolhi um bem ao meu gosto, mas nada ao gosto dela. Peguei o melhor cavalo que havia, e nunca vi outro igual.

— Então deve ser um animal realmente nobre — disse Vorstag. — E me entristece, muito mais que outras notícias que possam parecer piores, saber que Riften e Whiterun oferecem tais tributos. Não era assim quando estive por lá.

— Nem é agora, posso jurar — disse Erik. — Essa é uma mentira que vem da boca dos servos do Devorador de Mundos. Conheço os homens de Whiterun, verdadeiros e destemidos, e em breve deverão ser nossos aliados.

— A sombra de Skuldafn alcança terras distantes — disse Vorstag. — Ancano foi subjugado por ela. Whiterun está cercada. Quem sabe o que você poderia encontrar por lá se um dia decidisse voltar?

— Pelo menos, isso não — disse Erik. — Que compram as vidas com cavalos. Aquele povo ama seus animais quase como os seus familiares. E não sem razão, pois os cavalos estão nos estandartes de Whiterun, e representam a Cidade Amarela.

— Mas ainda assim o medo crescia em mim à medida que avançava com o cavalo. — continuou Savos. — Logo que cheguei ao Sul, ouvi notícias dos cavaleiros, e, embora me aproximasse deles dia após dia, estavam sempre na minha frente. Soube que tinham dividido suas forças: alguns permaneciam na fronteira Leste, não muito distante da estrada, e alguns invadiram Riverwood partindo do Oeste. Cheguei à Riverwood e Ralof tinha partido; mas conversei com o velho Alvor. Muitas palavras, e poucas que me interessavam.

“Não posso suportar mudanças”, dizia ele, “não na minha idade, muito menos mudanças para pior.” “Mudanças para pior”, repetia ele muitas vezes.

“Pior é uma palavra ruim”, disse-lhe eu. “E espero que não viva para ver o que é pior.” Mas em meio a toda a conversa, descobri finalmente que Ralof tinha deixado Riverwood menos de uma semana antes, e que um vampiro tinha vindo até a região na mesma noite. Então parti apavorado. Cheguei à Whiterun e encontrei o lugar em tumulto, as pessoas agitadas como formigas que tiveram seu formigueiro remexido por uma bengala. Fui à casa na Fazenda Pelagia e a encontrei aberta e vazia. Então, por uns momentos, perdi as esperanças, e não esperei para saber mais coisas, ou teria sido consolado. Cavalguei seguindo a trilha dos vampiros. Era difícil fazê-lo, pois as pegadas iam por muitos caminhos, e fiquei perdido. Mas me pareceu que um ou dois tinham ido na direção de Whiterun; e por ali fui, pois pensava em palavras que poderiam ser ditas ao estalajadeiro.

“Ora, Hulda”, pensava eu. “Se essa demora foi culpa dela, vou espetá-la com todos os espinhos do mundo. Vou assar a velha idiota em fogo brando.”

— Ela não esperava menos, e quando viu meu rosto caiu dura, e começou a derreter ali mesmo.

— Que fez com ela? — perguntou Ralof alarmado. — Foi muito gentil comigo, e fez tudo o que pôde.

Savos Aren riu. — Não tenha medo! — disse ele. — Não mordi, e lati muito pouco. Fiquei tão contente com as notícias que me deu quando parou de tremer, que abracei a velha camarada. Como isso aconteceu, não pude adivinhar naquela hora, mas soube que você estivera em Whiterun na noite anterior, e tinha partido naquela manhã com o Encapuzado.

“Encapuzado!”, gritei de alegria.

“Sim, senhor. Receio que sim, senhor”, disse Hulda, não me compreendendo. “Ele o abordou, apesar de tudo o que fiz, e foram juntos. Comportaram-se de modo muito estranho durante todo o tempo em que estiveram aqui: teimosos, pode-se dizer.”

“Idiota! Tola! Três vezes valorosa e querida Hulda!”, disse eu. “Esta é a melhor notícia que ouço desde o fim do mês: vale pelo menos dez septims. Que sua cerveja fique sob um encantamento de extraordinária qualidade por sete anos!”, disse eu. “Agora posso ter uma noite de descanso, a primeira desde já me esqueci quando.”

— Então passei ali a noite, pensando muito no que teria acontecido aos vampiros; pois ali em Whiterun só havia notícia de dois deles, ao que parecia. Mas durante a noite ouvimos mais. Pelo menos cinco vieram do Oeste; derrubaram os portões e passaram por Whiterun como um vento avassalador; e o povo de Whiterun ainda está tremendo, esperando o fim do mundo. Levantei-me antes de amanhecer e fui atrás deles. Não tenho certeza, mas me parece óbvio que foi isto que aconteceu: o vampiro rei permaneceu em segredo, ao Sul de Whiterun, enquanto dois avançaram através da cidade, e outros quatro invadiram Riverwood. Mas quando estes não tiveram êxito em Whiterun e em Riverwood, voltaram para encontrar o vampiro rei e lhe dar notícias, deixando assim a estrada livre por um período, a não ser pela presença dos espiões. O vampiro rei enviou alguns em direção ao Leste, atravessando diretamente o campo, e ele próprio, juntamente com o resto, cavalgou ao longo da estrada cheio de ira. Galopei até as Torres Valtheim como um raio, e cheguei antes do pôr-do-sol do meu segundo dia de viagem depois de Whiterun - e eles estavam ali, na minha frente. Afastaram-se de mim, pois sentiram meu ódio crescer, e não ousaram enfrentá-lo à luz do dia. Mas se aproximaram de noite, e fui acuado no topo da colina, nas velhas ruínas da Torre Sul. Mas foi difícil me enfrentar: tamanhas luzes e chamas não foram vistas na Torres Valtheim há muito tempo. Minha mágica estava forte. Mas foi assim que cheguei a Alta Hrothgar só três dias antes de Ralof, quando notícias dos perigos que corria já tinham chegado aqui - por sinal verdadeiras. E este, Ralof, é o fim de meu relato. Que Arngeir e os outros desculpem o tempo que tomei. Mas nada assim tinha acontecido antes, de Savos Aren faltar a um compromisso e não chegar no momento prometido. Acho que o você merecia um relato de um acontecimento tão estranho. Bem, agora a História foi contada, do início ao fim. Aqui estamos todos, e sabemos do perigo, mas ainda não chegamos nem perto de nosso propósito. Que será feito de Alduin?

Fez-se silêncio. Finalmente, Merildor da Embaixada dos Thalmors tomou de novo a palavra.

— Essa notícia sobre Ancano é muito triste — disse ele. — Confiávamos nele, e sempre demos atenção especial aos seus conselhos. É perigoso aprofundar-se demais nas artes antigas, para o bem ou para o mal, pois os tempos antigos eram em geral um tempo maligno. Mas quedas e traições desse tipo, infelizmente, já ocorreram antes. O mundo mudou muito desde que estive pela última vez nas estradas que conduzem ao Sul. Sobre Alduin, é claro que quatro eras foram o suficiente para o mundo restabelecer sua paz, e oito serão mais ainda! Talvez devêssemos ter chamado esse Septimus Signus de quem fala para este Conselho, e ele poderia nos ajudar no auxílio do uso do Pergaminho contra o dragão.

— Não teria vindo — disse Savos.

— Não poderíamos, mesmo assim, enviar mensagens a ele e pedir sua ajuda? — perguntou Lorcalin. — Parece que tem conhecimento sobre o uso desses Pergaminhos, uma Companhia de thalmors seria o suficiente para procurar toda Tamriel se fosse preciso achar os Pergaminhos Antigos para banir Alduin novamente.

— Não, eu não colocaria as coisas dessa forma — disse Savos. — É melhor dizer que nada tem poder sobre ele. Ele é seu próprio senhor. Mas não pode saber do uso dos Pergaminhos, pois nunca tocou ou viu um, eu acho. E agora se retirou para uma região pequena, dentro de limites que ele mesmo fixou, embora ninguém consiga achá-lo, talvez esperando uma mudança dos dias, e não sai dali.

— Mas, dentro desses limites, nada parece achá-lo — disse Lorcalin. — Ele não poderia, se nós achássemos esse Pergaminho, guardá-lo ali e estudá-lo, até achar uma resposta?

— Não — disse Savos Aren. — Não estaria disposto a isso. Não faria porque é orgulhoso, se achassem o Pergaminho para ele, nunca mais teria descanso. Além disso, não usaria o Pergaminho para esse objetivo. Provavelmente o destruiria. Não sei. É o único que poderia aprender a usá-lo, mas seria um péssimo guardião, se é que queremos preservar os Pergaminhos. Logo que terminasse a pesquisa se esqueceria do Pergaminho, ou mais provavelmente iria jogá-lo fora. A mente dele está muito perturbada. Seria um guardião arriscado, e isso já é resposta suficiente.

— Mas, de qualquer forma — disse Serana, descruzando as pernas —, banir Alduin novamente seria apenas postergar o dia do mal. Novamente. Septimus Signus está distante. Não poderíamos levar-lhe o Pergaminho, ou sequer procurá-lo, sem que isso fosse objeto de suspeita ou observação de algum espião. E, mesmo que pudéssemos, mais cedo ou mais tarde o Devorador de Mundos saberia do esconderijo, e avançaria com todo o seu poder naquela direção. Poderíamos contar com o inconstante esconderijo de um homem, por mais caro que nos seja, que nosso querido Savos chegou a afirmar encontrar perto de um barranco, por acaso? Acho que não. Acho que, no fim, se todo o resto for conquistado, Septimus sucumbirá como todos vocês. Nem mesmo um poder como o meu seria capaz de derrotá-lo; eu seria mantida prisioneira para sempre. Um Pergaminho Antigo está nos salões do meu Castelo, pois meu pai já o desejou usar para fins terríveis, assim como vocês estão, sem saber, desejando. Acreditam fielmente que saberão o lugar correto para banir Alduin, e que daqui a quatro eras as coisas estarão exatamente como vocês esperam estar.

— Você tem um Pergaminho Antigo? — perguntou Lorcalin, surpreso. — Como aconteceu de o povo élfico da Embaixada não saber disso, se é que não sabemos? E por que estamos falando sobre procurar toda a Tamriel por um Pergaminho se uma das pessoas que sentam neste Conselho o possui?

— Possuo, — disse Serana, com um olhar austero — mas este Pergaminho não viria ser de muita utilidade, segundo Dexion Evicus, um Padre Moth. Foi usado durante o Julgamento do senhor meu pai, e não terá participação, nem mesmo que quiséssemos nessa Crise dos Dragões. Cada pergaminho tem sua própria utilidade. Ainda que um Padre Moth são e não este Septimus de quem falamos fosse se aprofundar neste assunto, falharíamos horrivelmente. Sugiro, bons senhores, que ignorem esta alternativa.

— Sei pouco sobre os Pergaminhos além do nome — disse Merildor. — Mas acho que ela está certa. O poder para desafiar o Devorador de Mundos não está neles, a não ser que tenham outras utilidades. E, mesmo assim, podemos ver que Alduin tem o poder de destruir qualquer coisa, e não seria pego pelas mesmas emboscadas mais de uma vez. O poder que ainda resta está conosco, aqui na Alta Hrothgar, ou nas Ilhas do Pôr do Sol, ou em Cyrodiil. Mas será que eles têm a força; será que nós aqui temos a força para resistir ao Devorador de Mundos, à última investida de Alduin, quando todo o resto estiver destruido?

— Nós não temos a força — disse Arngeir. — Nem eles.

— Então, se não se pode evitar que ele já esteja efetivando seu retorno, nem pela força — disse Serana —, restam apenas duas coisas a fazer: marchar contra Skuldafn ou destruir Alduin.

— Mas Savos Aren nos revelou que não se pode destruí-lo com nenhum poder que possuamos — disse Arngeir. — E os exércitos de Skuldafn crescem cada vez mais. Draugrs, vampiros, mercenários. Os Sacerdotes Dracônicos querem construir exércitos tão grandes quanto os que tinham no passado.

— Então — disse Lorcalin —, vamos aprisioná-lo em Whiterun, e assim, transformar as mentiras de Ancano em verdades. Pois agora está claro que, mesmo quando ele ainda era um Thalmor, pois estão incertas suas afiliações agora, seus pés trilhavam um caminho tortuoso. Sabia que o dragão não estava perdido para sempre, mas queria que pensássemos assim, pois começou a planejar o que fazer em seu retorno. Mas muitas vezes a verdade se esconde nas mentiras: na Fortaleza do Dragão, onde Numinex foi aprisionado, Alduin seria forçado a ver as eras passar e teríamos controle sobre ele.

— Não para sempre, nem por muito tempo — disse Savos. — As ações dos homens são muito traiçoeiras. Se ele mesmo não se libertasse sozinho das velhas correntes, algum homem ambicioso procurando Poder o libertaria. Não é nossa função aqui fazer planos que só durem uma estação, ou algumas vidas dos homens, ou uma era passageira do mundo. Devemos buscar um fim definitivo para essa ameaça, mesmo que não tenhamos esperança de alcançar tal objetivo.

— E essa esperança não poderemos encontrar nas estradas que vão para Skuldafn — disse Merildor. — Se o retorno ao banimento foi considerado perigoso demais, então um ataque aberto está agora repleto dos perigos mais graves. Meu coração me diz que Alduin vai esperar que tomemos o caminho do Leste, quando souber o que aconteceu. Logo saberá. Os Oito destituíram a aliança com os vampiros da Cripta da Caverna Escura, e todos eles provavelmente serão, ou já foram punidos por Alduin, mas isso é apenas momentâneo, até que encontrem novos aliados, ainda mais terríveis. Apenas o poder enfraquecido de Solitude reunindo os exércitos dos Estados e das Cidades está entre ele e uma força em marcha ao longo do continente, dirigindo-se para o Oeste; se ele vier e atacar Riften e Windhelm, que são as cidades mais próximas de Skuldafn, depois disso ninguém terá mais escapatória das sombras que se estendem por Tamriel.

— Mas essa marcha vai ser atrasada por um bom tempo — disse Erik. — Você disse que Solitude está perdendo as forças. Mas Solitude ainda está de pé, e mesmo o fim de sua força ainda é muito forte.

— Então — disse Lorcalin —, só há dois caminhos, como já declarou Serana: atacar Skuldafn ou o dragão. Mas ambas as coisas estão além de nosso poder. Quem nos poderia desvendar esse enigma?

— Ninguém aqui pode — disse Arngeir, com uma voz grave. — Pelo menos, ninguém pode predizer o que virá a acontecer, se tomarmos esta ou aquela estrada. A estrada em direção ao Oeste, para ajudar Solitude se um ataque vier, ao invés de levar o ataque para o Leste, parece mais fácil. Portanto, deve ser descartada. Será vigiada. Agora, no mínimo, devemos tomar uma estrada difícil, uma estrada imprevista. Ali está nossa esperança, se é que chega a ser uma esperança. Caminhar em direção ao perigo - para Skuldafnr. Precisamos destruir Alduin, se é que isso é possível.

Novamente se fez silêncio. Ralof, mesmo naquela bela casa, que dava para um pico iluminado pelo sol, cheio do ruído de ventos fortes, sentia uma escuridão mortal tomar-lhe o coração. Erik se mexeu na cadeira, e Ralof olhou para ele. Estava mexendo em seu escudo com os dedos, de cenho franzido. Finalmente falou.

— Não entendo tudo isso — disse ele. — Este Ancano, do Domínio Aldmeri, é um traidor, mas será que não teve um lance de sabedoria? Por que vocês só falam em guerrear ou destruir? Por que não considerar que o Devorador de Mundos possa ter vindo para nos servir exatamente nesta hora de necessidade? Controlando-o, os Senhores de Skyrim e das Ilhas do Pôr-do-Sol podem conquistar todo o resto de Tamriel. Considero que um dragão seria capaz de aniquilar qualquer exército de províncias rebeldes que tem causado conflitos e perturbações. Os homens de Solitude são valorosos, e nunca vão se submeter; mas podem ser derrotados. O valor precisa, em primeiro lugar, de força, e depois de uma arma. Deixem que o dragão seja nossa arma, se tem tanto poder como dizem. Vamos tomá-lo e avançar para a vitória!

— Infelizmente não — disse Arngeir. — Embora eu os aconselhe a tomar o caminho da guerra, o Caminho da Voz é contra isso. Além do mais, nunca poderíamos usar Alduin como uma arma, nem como nada. Disso sabemos muito bem. Ele é o seu próprio senhor, e para ele, o senhor do mundo, e é totalmente maligno. A força que ele tem, Erik, é grande demais para qualquer um controlar por sua própria vontade. Se algum exército derrotasse com esse dragão uma outra província, usando as próprias artes, então se colocaria no trono de Alduin, e já estaria começando o Devorar de Mundos. E esta é outra razão pela qual o dragão deve ser destruído: enquanto permanecer no mundo, representará um perigo mesmo para seus aliados. Pois nada é mau no início. Até mesmo Alduin não era.

Erik olhou para eles com dúvidas, mas abaixou a cabeça. — Que assim seja! — disse ele. — Então, em Solitude, teremos de confiar nas armas que temos. E no mínimo, enquanto Alduin fica mais forte, continuaremos lutando. Talvez a Espada do Dragão possa lutar contra a maré - se a mão que a empunha não tiver obtido apenas uma herança, mas a fibra dos Imperadores da Casa de Tiber Septim.

— Quem poderá dizer? — disse Vorstag. — Mas vamos testar um dia.

— Que o dia não demore muito — disse Erik. — Pois, embora eu não esteja pedindo ajuda, precisamos dela. Seria um consolo saber que outros também lutaram com todos os meios que possuem.

— Então sinta-se consolado — disse Arngeir. — Pois existem outros poderes e reinos que não conhece; ocultos de seu conhecimento. Os grandes Rios passam por muitos lugares, antes de chegarem até A Companhia Oeste e os Portões de Solitude.

— Mesmo assim, seria melhor para todos — disse Dro’marash, o khajiit — se de fato alguma força de dragão fosse reunida, e os poderes de cada um fossem usados em aliança. Se como vocês dizem, Alduin tem ressuscitado seus Capitães e seus soldados, com certeza ele ressuscitará seus mais poderosos aliados: os dragões. Não seria difícil achar rebeldes entre os ressuscitados, pois seu povo já fez isso há muito tempo, se o que contaram aqui é verídico. Dizem que Alduin não cairá na mesma emboscada duas vezes, mas também dizem que nada é certo. Seja como for, ter dragões como aliados, do jeito que Vossa Graça sugeriu — e olhou para Erik curvando-se levemente na cadeira —, seria um trunfo para todos nós. Mais do que isso.

— Não acharão aliados rebeldes entre aqueles que Alduin ressuscitar — disse Savos. — Os dragões se rebelaram contra o seu Senhor apenas porque foi a vontade de Kynareth, que assoprou bom conselho nos ouvidos de Paarthurnax, irmão de Alduin, mas da localização de Paarthurnax ninguém sabe, e de qualquer modo, os dragões tem um senso de lealdade muito grande: se depois de tantas Eras forem ressuscitados, não acho que se virarão contra aquele que lhes deu a vida novamente.

— Que infelicidade! — disse Dro’marash. — Quando chegará o dia em que nossas probabilidades se tornarão boas? Mas ainda podemos unificar toda Tamriel para lutar contra este mal. Onde está a autoridade que os Thalmor tem lutado tanto para conquistar? Os Senhores Élficos hoje já não têm domínio sobre quase todo o continente? Seria inútil dar ordens para que todos os exércitos se unificassem como um? Vejo Senhores Élficos aqui. Eles não vão se pronunciar? Mas então o que aconteceria, se o Primogênito de Akatosh fosse destruído, com planejamos?

— Não sabemos ao certo — respondeu Arngeir com tristeza. — Alguns têm esperança de que tudo que Alduin maculou caia junto com ele; todos os soldados mortos que dizem andar à noite nas criptas, todos seus Sacerdotes. Mas talvez eles perdurem, e é disso que tenho medo se executarmos um plano ladino para derrotar o dragão: ainda teríamos que enfrentar todo o exército de vampiros, mercenários e um número exorbitando de draugrs e outras criaturas mais terríveis, inclusive os dragões, que então se dispersariam e causariam um caos no caos.

— Mesmo assim, todos estão dispostos a arriscar essa possibilidade — disse Serana —, se através dela o poder de Alduin puder ser desfeito, e o terror de seu domínio puder ser banido para sempre.

— Então voltamos novamente à destruição de Alduin — disse Lorcalin. — E mesmo assim, ainda estamos onde começamos. Que força possuímos para encontrar uma arma que o derrote? Esse é o caminho do desespero. Da tolice, eu diria, se a longa sabedoria de Arngeir não me proibisse.

— Desespero, ou tolice? — disse Savos Aren — Desespero não, pois o desespero é para aqueles que enxergam o fim como fato consumado. Não, não. É sábio reconhecer a necessidade, quando todas as outras soluções já foram ponderadas, embora possa parecer tolice para aqueles que têm falsas esperanças. Bem, que a tolice seja nosso disfarce, um véu diante dos olhos do Devorador de Mundos! Pois ele é muito sábio, e pondera todas as coisas com exatidão nas balanças de sua malícia. Mas a única medida que conhece é o desejo, desejo de poder; e assim julga que são todos os corações. Pensa que todos vão correr dele, ou desejar unir-se a ele. Se tentarmos destruí-lo, vamos despistá-lo.

— Pelo menos por um tempo — disse Arngeir. — A estrada deve ser percorrida, mas será muito difícil. E nem a força nem a sabedoria nos levarão muito longe, caminhando por ela. Essa busca deve ser empreendida pelos fracos com a mesma esperança dos fortes. Mas é sempre assim o curso dos fatos que movem as rodas do mundo: as mãos pequenas os realizam porque precisam, enquanto os olhos dos grandes estão voltados para outros lugares.

— Exatamente! — disse Gwilin. — E de quem são essas mãos pequenas? Parece-me que é isto que este Conselho precisa decidir; aliás, é tudo o que precisa decidir. Os altos elfos podem se alimentar apenas de palavras, e os khajiits suportam grandes cansaços; mas eu sou apenas um elfo da floresta, e preciso comer ao meio-dia. Não pode propor alguns nomes agora? Ou adiar a decisão até depois do almoço?

Ninguém respondeu. O sino do meio-dia tocou. Mesmo assim, ninguém falava nada. Ralof olhou para todos os rostos, mas eles não estavam voltados para ele. Todo o Conselho se sentava com os olhos para baixo, pensando profundamente. Um grande pavor o dominou, como se estivesse aguardando o pronunciamento de alguma sentença que ele tinha previsto havia muito tempo, e esperado em vão que afinal de contas nunca fosse pronunciada. Um desejo incontrolável de descansar e permanecer em paz ao lado de Ulfric em Windhelm encheu-lhe o coração. Finalmente, com um esforço, falou, e ficou surpreso ao ouvir as próprias palavras, como se alguma outra vontade estivesse usando sua voz rouca.

— Eu irei até Skuldafn, como Hromir foi até Aelfendura, e talvez não pelo meu machado, mas pela minha esperteza, e uma pequena ajuda dos deuses, isso possa dar certo — disse ele.

— Se entendo bem tudo o que foi dito — disse Arngeir —, penso que essa tarefa é destinada a você, Ralof; e que, se você não achar o caminho, ninguém saberá. É chegada a hora do povo do Norte, quando deve se levantar de seus campos pacíficos para abalar as torres e as deliberações dos Grandes. Isso aconteceu com Hakon Um-Olho uma vez, e agora com você. Quem, entre todos os Magos e Barbacinzas, poderiam prever isto? Mas o fardo é pesado. Tão pesado que ninguém poderia impô-lo a outra pessoa. Não o imponho a você. Mas se o toma livremente, direi que sua escolha foi acertada.