Numa rua escura e fria um certo homem andava silencioso e com olhares atentos. Parecia saber muito bem o motivo da caminhada. Era um senhor com rosto enrrugado. Parecia a muito tempo não sorrir. Olhou para o lado, e observou por um tempo uma casa humilde amarela com flores em volta, Qualquer ruído era um alerta pra ele, até mesmo um gato que passeava no muro era suspeito. Alguma coisa não estava acontecendo do jeito que ele queria.

Enfim, olhou para o céu e deu seu primeiro sorriso da noite. Era como se aquele teto escuro significasse alguma coisa importante para ele. Deu um longo suspiro e fechou os olhos. Ia patir dessa para outra.

Não, não. Ele não morreu. Ele apenas se viu num lugar muito diferente do anterior.

Era uma neblina diferente das outras. Parecia mais leve, mais suave, com uma leve umidade. Ele começou a dar pequenos passos, sempre atento e de cabeça baixa e pensativa. Aquele lugar era muito iluminado, e bem debaixo da neblina esbranquiçada, parecia haver uma especie de trilha pouco visível e lá longe um senhor tão barbudo como ele, olhando atentamente para o outro. Ele continuava a andar de cabeça baixa, e apesar de andar vagarosamente, continuava a chegar mais rapido ao homem... e cada vez mais...

- voltou cedo hoje, hein? Como está lá embaixo?

- tudo normal, Fiel, tudo estranhamente normal...

- engraçado um coisa ser estranha e normal, não acha? - Fiel piscou com um ar ironico.

- talvez engraçado, talvez perigoso... os tempos não são mais como eram antes, jovem, não mais. Desde aquele tempo, parece que todos os Anjos Caídos resolveram se zangar conosco, como se nós tivéssemos mera culpa..

- bom, que eles não eram com a nossa cara, disso eu sabia. Mas eles estão tentando fazer um tipo de revolução ou motim, meu senhor?

- pior do que isso, Fiel, muito pior, tenha uma boa noite.

- para o senhor também. Durma com os anjos!

- ar isso com certeza...

E foi andando a caminho de uma alta ponte de ferro, e não dava para ver o final. Fiel observou o senhor manco subir as escadas, sem pressa alguma. Observou também o traje que estava usando: um manto branco simples, parecia ser feito a mão. Fiel mantinha o sorriso aberto, um sorriso esperançoso. Depois, deu meia volta e se sentou em uma pedra dourada, havia muitas em volta. Se sentou e observou a imensidão azul em frente, com estrelas em cada canto, e continuou sua vigia noturna na entrada do enorme portão.