Na rua dos Marinhos, como
era chamado aquele bairro, costumavam as árvores estarem secas e rentes, mas no momento estavam banhadas de verde-abacate. Era o verão se aproximando. Pelo menos era o que Helena achava vendo aquela vista do seu quarto no segundo andar, sempre com janelas fechadas e uma brecha de luz saindo da cortina entreaberta. Helena era diferente das outras garotas. Enquanto meninas animadas da sua turma iam para festas e faziam sexo, ´´eu não chego a esse nível`` dizia, como, por exemplo, naquele exato momento estava lendo um livro de ficção sendo legível
apenas pela luz fraca que saía da janela. Ela admirava as meninas que sabiam curtir a vida. Mas não conseguia seguir os exemplos delas. Seja qual for a razão, não conseguia gostar de matines e bebidas. Beber mesmo nunca bebeu na vida. A vida não lhe deu a ´´honra``.

- vamos, filha. Sai desse
quarto! Vai ficar mofando aqui o dia inteiro?

- não necessariamente
mofando – falou com os olhos ainda grudados no livro ´´ Formaturas Infernais``.
Não é bom pensar no futuro?

- olha na próxima não vou
tolerar esse hábito! Tudo escuro, mas olha! Que menina doida...

Ela olhou desanimada a tia
abrindo as cortinas, sempre com a sua matinal dor de cabeça. Na luz ficava mais clara a aparência e Helena. ´´cabelos médios e negros com franja encima do olho esquerdo. Tinha olhos bem claros, cinzas; e a pele bem clara, mostrando ausência de sol.

- sem essa escuridão, você
é bem mais bonita! Veja esses olhos, essa pele sem espinhas, pele perfeita! Ah se um dia, quando você se tornar vaidosa, vai se ver como uma verdadeira mulher!

- ainda não sou? Ah
obrigada por me lembrar – disse se levantando da cama com um sorriso irônico. – tia por acaso você vai sair hoje?

- vou sim, filha, tenho serviços importantes para cuidar. E você, vai fazer o que hoje?

- o de sempre. Ficar aqui em casa, passar lápis de olho o dia todo e ler ´´ Formaturas Infernais``.

A tia olhou com um olhar
de censura pra sobrinha. Estava claro que ela não tinha gostado da resposta.
Mas Helena nunca ligava com o que a tia achava ou não

- vai tomar o café pelo
menos?

- adivinha. – e saiu do
quarto dando um beijinho sem gosto na tia.

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Já era quase noite e Helena não tinha voltado. Não não, ela não tava tomando droga. Só não tinha vontade de ficar em casa. Quando tinha quatro anos, recebeu a notícia que era adotada. Aos sete, um menino lhe chamou de esquisita e ela lascou uma pedra na cara dele que ele nunca mais esqueceu, disso ela tinha certeza.

Naquele exato momento estava sentada sozinha
num beco próximo a sua casa. Olhava a lua atentamente como se ela fosse dizer alguma coisa. Quando a luz começou a falhar num poste de luz próximo não deu muita atenção, só quando respectivamente as luzes dos outros postes começaram a falhar e, da mesma forma, apagaram as cinco seguintes. Estava sozinha na escuridão. Viu uma sombra se formando no muro. Estava só ela e a sombra. Num intuito, se levantou e começou a andar por um sentido oposto, a sombra continuando a crescer e a seguir ela. Ela apressou o passo, e sombra continuava na mesma velocidade, apavorada, fez o que a maioria das mulheres fariam naquele exato
momento.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA - ok temos que admitir que isso foi previsível, mas assim que ela gritou a sombra se
desmanchou, Helana caiu, e no lugar da sombra ela ouviu uma voz falar.

- não a faça mal! – uma voz masculina falou, e em seguida apareceu um rapaz que mesmo ás escuras, parecia estar brilhando, com aqueles cabelos loiros emaranhados apontados para todos os lados; estava todo vestido de branco e parecia apontar para alguém com alguma coisa brilhando na ponta dos dedos.

Helena estava paralisada, não ia se era por causa da mão sangrando ou era por causa dele ser misterioso meio-humano. Ela adorava coisas meio humanas!

- quem- quem é você?..

- ah desculpe não te vi no
chão. – respondeu – ele te fez alguma coisa?

- quem de-deveria ter me
feito alguma coisa?

- na verdade, ninguém lhe
deveria ter feito nada. Que bom, não é? – disse me levantando pela mão
esquerda. A direita tava arranhada.

- então Helena, é o seguinte - com naturalidade – eu cuido do seu arranhão, te levo pra casa, você assina um papel e te levo pro chefão cuidar de você diante das suas dificuldades.
A mão que estava apoiada
nos dedos do garoto se retirou. Como assim? Levar pra onde? Assinar papéis e levar pro ´´chefão``?!

- quem é você?! Escute você não vai me levar pra lugar nenhum! E como voce sabe meu nome?

- Helena eu sempre soube seu nome – o menino lhe olhava com olhares assustados – espera! Voce não sabe de nada??

escuta eu não sei do que voce ta falando seu maluco! e eu ão preciso da sua ajuda. posso me cuidar sozinha.

E andou emburrada deixando
o loiro a olhando. Só por alguns segundos, antes do rapaz lhe segurar pelos
braços forte, a machucando um pouco. Ela ia responder alguma coisa bem mal
educada mas ele falou antes.

- acontece que você
precisa sim da minha ajuda, sou seu conselheiro! – falou, mas vendo que não deu
um nada, já que a menina continuava a olhá-lo confusa ele falou:

- Helena, você é um Anjo
da Morte.