Desde que havia trocado de visual, Betty havia atraído a curiosidade das colegas, elogios de clientes, mas não esperava por isso:

—Boa tarde!

—Boa tarde! O que deseja?

—E você quem é?

—Ojojo! Não me reconhece, dona Maria Liñarez? Sou Beatriz.

—Beatriz Pinzón?

—Sim.

—Mas... você não era assim, bonita.

—Não diria bonita, mas arrumada. Ojojo!

A senhora, esposa do dono do escritório, a olhou de cima abaixo. Não havia gostado nada daquilo.

Enquanto isso:

—Pois não?

—Queremos falar com Daniel Valencia.

—O senhor tem hora marcada? -perguntou Wilson

—Creio que não há necessidade disso. Diga-lhe que é o delegado Thompson.

Wilson transmite o recado.

—Quem, Francesca? –perguntou Daniel.

—Um tal de delegado Thompson.

—O que esse idiota quer?

—Disse que falar com o senhor.

—Tem um mandado?

—Vou perguntar!

Enquanto Francesca foi perguntar, Olarte coçou nervosamente o nariz.

—Doutor, não era melhor ver logo o que ele quer?

—Não.

—Esta coisa está ficando perigosa.

—Vai arregar agora, Mário?

—Daniel, acho...

—Com licença, Daniel.

—Doutor Valencia, Francesca!

—Doutor Valencia, ele não tem mandado, mas gostaria de conversar com o senhor.

—Estão vendo? -riu –Não há porque temer, ele não tem mandado nem nada! Delegadozinho metretrefe.

—Era melhor que conversasse com ele para ver o que quer.

—Não tenho tempo para perder tempo. Deixe-me em paz!

—Ele pode estar desconfiado de algo.

—De quê? Pode ir, Francesca. De quê? Somos pessoas honestas e decentes, acima de qualquer suspeita.

—Doutor, talvez don Mário tenha razão.

—Vai se acovardar agora, Olarte? Fala sério! O que estamos fazendo de errado? Acaso alguém sabe? Há alguém que saiba? Intimo alguém a provar algo!

—Doutor, tem...

—Cala a boca, Olarte! As paredes tem ouvidos! Trabalho para o governo, sou um homem acima de qualquer suspeita! Trabalho para o Governo!

—Disse para dispensar estas horrorosas do quartel!

—Pois vou ter uma conversa séria com elas. Não posso dispensá-las de uma vez! Quem quiser ficar aqui, tem que ser segundo minha cartilha.

—__

Na portaria:

—Então, vou poder subir?

—Sinto muito, doutor Thompson, mas don Daniel Valencia não permitiu que suba. –disse Wilson.

—Disse que era para conversar apenas?

—Perguntou se o senhor tinha um mandado.

—Pois bem. Grato!

Romualdo estava paquerando Aura Maria.

—Vamos, Romualdo, hora de trabalhar! Boa tarde, senhorita.

—Tchau! Nos vemos, boneca. Não vamos subir?

—Não. Daniel Valencia não deixou.

—Quê?

—Disse que não tenho um mandado.

—Bem, não temos.

—Só queria conversar, olhar nos olhos dele e ver se tem algo mesmo, como olhei nos olhos do Mendoza, pai e filho. Mas já vi que como foge. Logo, colocaremos a mão nele.

—Só uma?

—___________

Haviam passado alguns dias, não foi fácil para o delegado, mas finalmente estava com um mandado em mãos, agora Daniel não poderia impedir-lhe de entrar na empresa e não seria de bom tom negar-se a conversar com ele.

—Doutor Valencia! Aqui está o mandado! Agora podemos ter aquele papo que o senhor adiou há alguns dias?

—Ah, creio que posso ceder alguns minutos.

—Para que tanta hostilidade para com agentes da Lei como nós?

—E você quem é?

—Inspetor Romualdo.

—Deixe, Romualdo, creio que doutor Valencia age assim por ser uma pessoa muito ocupada.

—Sou um empresário importante, acha que tenho tempo para conversinhas?

—Sempre temos tempo, doutor, ainda mas não é uma simples conversinha, sabe bem.

—Bem, fale logo o que quer! Francesca! Desejam tomar algo?

—Er.

—Eu quero café.

—Água.

—Dois cafés e uma água e pode retirar-se. Muito bem, estou a postos.

—Sabe que existem denúncias referentes à agência de Rachel Watz, grande parceira de Eco moda, não?

—Sei por alto.

—E que a mesma agência, é agora parceira de Eco moda.

—Temos parceria com várias empresas, entre elas, Maxcolor, Panlene, enfim, onde quer chegar?

—Sabia do envolvimento da Ragtela no fornecimento de tecidos para confecção de roupas para que tais moças se apresentassem aos clientes?

—Somos empresas parceiras, não cuido de assuntos internos das empresas para as quais trabalho.

—Não sabia, então, do envolvimento de Miguel Robles?

—Não.

—Sabe onde eram fabricadas as roupas com tais tecidos?

—Onde está querendo chegar?

—Uma simples pergunta.

—Está parecendo um interrogatório. Acaso sabe ou acusa Ecomoda de ter envolvimento?

—Não, não estou acusando de nada. Apenas cumprindo meu trabalho, por quê? Ecomoda tem algo com isso?

Daniel riu com deboche.

—Ecomoda é uma grande empresa, tem muitos parceiros, não é possível saber tudo que acontece com parceiros.

—Isto sei.

—Se sabe o que veio fazer aqui? Acha que Ecomoda tem algo com isso? Sou um homem íntegro, de moral ilibada, trabalho para o governo, já tive carreira militar, sou formado em economia e administração. Crê que um homem como eu não sabe o que é certo ou errado? Que me envolveria com algo tão sujo como os que dizem que Miguel Robles estava?

—Não estou afirmando nada!

Neste momento aparece Mário e Olarte, que não sabiam que Daniel estava conversando com os policiais.

—Daniel.

Ao ver o conhecido delegado e tremem. Olarte começa a coçar o nariz.

—Er, não sabia que estava ocupado, doutor!

—Tampouco eu. –disse Mário

—Os senhores?

—São apenas executivos, vai querer imputar neles a acusação?

—Acusação? -disse Mário.

—Imagina que os policiais estão aqui para investigar o envolvimento de um funcionário da alta cúpula do governo com rede internacional de prostituição.

Mário arregala os olhos.

—Sabe muito bem que não é uma acusação, doutor Valência, apenas uma investigação. Sei que o senhor tendo uma moral tão pura como disse não se envolveria com coisa tão suja como exploração sexual, inclusive de menores. –disse o delegado.

—Não mesmo.

—Moças enganadas com a promessa de brilhar na passarela, vidas destruídas. Não, o senhor, os senhores esta empresa não se envolveriam com algo tão sujo. Algo que poderia ruir com esta empresa.

—Não mesmo.

—Mas sabe, Ragtela, assim como a X-models de Rachel também tinham moral impoluta e olha onde estão seus parceiros.

—Depois diz que não veio acusar?

—Não me conhece quando estou acusando.

Olhou com olhos acusadores para Mário e Olarte. Olarte apenas coçou o nariz, já Mário tremeu. Sabia que ele tinha algo com isso.

—Estou apenas averiguando –disse a Daniel – Confio no seu bom senso. Abriu recentemente concursos para jovens terem a oportunidade de desfilar?

—Acaso isto também é proibido?

—Não, de forma alguma.

—Acaso dar oportunidades para jovens realizarem seus sonhos não é mais caridade e sim crime? Que inversão de valores é essa?

—Algumas pessoas em sua empresa acham estranho que Ecomoda não tenha mais um elenco de modelos da casa e ao contrário a cada lançamento façam uso de novos rostos. Tampouco tem uma cara, uma modelo com alguma identificação com a empresa.

—Não sabia que moda era uma de suas especialidades. Diga-me, quem foram estas pessoas?

—Está em sigilo de justiça, ainda mais é apenas uma pergunta.

—Creio que é melhor deixá-los a sós.

—Outra questão levantada é que faça uso de menores, que embora sejam autorizadas pelos pais, não tem permissão para viajarem e trabalharem em outros países, segundo nossa legislação.

—Como disse, os pais autorizaram, quem sou eu como executivo da empresa para me opor?

Mário estava saindo.

—O senhor? Como se chama?

—Mário Caldeirón.

—Vice presidente comercial.

—Ah, o responsável pelas compras dos tecidos?

—S-sim. –Mário viu nos olhos de Thompson algo que não gostou nada.

—Sim, não só isso. Também cuido de tudo relacionado à compra e venda.

—Entendo.

—Com licença.

Thompson continuou com o interrogatório mesmo depois que Mário e depois Olarte saíram.

Depois da conversa com Daniel, |Romualdo sabia que o amigo e chefe havia pescado algo. Do lado de fora.

—Então, chefe?

—Melhor conversarmos só na delegacia.

Mário havia ficado chocado com a visita dos policiais, de modo que sentia taquicardia e havia pedido a sua nova secretária para cancelar os compromissos para a tarde.. Assim, saía pela recepção quando deu de cara com os policiais.

—Boa tarde, dr.

—Er.

—O senhor está bem? Quer que eu te ajude?

—Não, não obrigado.

Mário passou por Wilson e pegou o carro.

—Senhorita?

—Sim.

—Qual o nome deste senhor?

—Este é o nome deste senhor?

—É o dr. Caldeirón.

—Ah sim, Mário Caldeirón!

—Pode fazer um favor, senhorita?

—Sim.

—Entregue-lhe este cartão?

—Sim. Mas é algo sério?

—Não, imagina. Quero ajudá-lo, bem posso lhe pedir descrição? Que entregue este cartão só para ele? E não conte a ninguém?

—Sim.

—Grato. –Thompson deu um sinal a Romualdo, que captou a mensagem e ele começou a conversar com Aura Maria, a moça guardou o cartão.

—Guarde este para entregar a quem deve. E o meu para você. Ligue-me para sairmos.

—Sim, triplepapito lindo.

—Não confunda os cartões!

—Jamais! -colocando o cartão de Romualdonos seios.

Nesta hora, chega Freddy que não gosta nada, Romualdo lhe dá uma piscada.

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