Armando estava que não se continha, ela o havia prometido e não iria negar-lhe nesta noite. Tinha uma ideia na cabeça. Não podia levá-la a seu apartamento, tampouco ir com ela a restaurantes ou lugares públicos aquele dia, tendo em vista que sabia que Marcela o perseguia, como não fazia há algum tempo. Mas como dizia, os inúmeros recados em sua secretária eletrônica –ela iria a seu apartamento para voltar a fazer o que sempre faziam e havia aprendido mais coisas que o fariam ficar louco na cama. Em outros tempos, isto o despertaria a desejá-la, mas desde meses só desejava ter Beatriz nos seus braços e fazer-lhes amor enlouquecedoramente. Para evitar encontrar-se com Marcela ou outra que quisesse lhe fazer `o favor`de presentear-lhe com seu corpo, ele dormiu em um hotel econômico, para ficar incógnito sob um pseudônimo duas noites antes. Mas não levaria Beatriz a este hotelzinho. Não, já sabia onde levá-la.

—Não! Não! Hoje não poderão sair!

A negativa de don Hermes o desconsertou, assim, como desconsertou Beatriz, que estava especialmente feliz em ter a honra de ser escolhida por ele para comemorar seu aniversário. Iria mimá-lo muito e ceder às suas petições. Afinal. Não seria todo dia que um homem tão triplepapito lhe pediria para fazer amor e o que amava.

Não havia nada que convencesse Don Hermes a deixar que Betty fosse sair com ele, como faziam todas as sextas. E esto porque estavam recebendo a visita das Tias Pinzón.

—Mas papai...

—Não e não! Saem juntos todas as semanas e as tias não vem aqui há mais de cinco anos, portanto, senhorita e senhor Mendoza nada de saída desta semana!

Armando saiu desolado aquela noite. Se sentia como se fosse o adolescente em que o pai da namorada lhe nega um encontro com ela. E assim era, se sentia como um adolescente que queria estrear sua vida sexual e seguia virgem. Nunca pensou que passaria por isso.

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Em seu quarto, abraçada ao Beto da Vila Sésamo, Betty, com desejo de estar com ele, lembrava-se da noite em que estiveram juntos e ela negou-se estar com ele intimamente.

Flashback

Depois de irem ao teatro, Armando a levou a um hotel, onde depois de pedirem um jantar, começou a beijá-la e tocá-la.

—Beatriz, não sabe quanto a desejo! –dizia Armando.

—Ai, don Armando, o amo!

—Sim, Betty!

—Deixe-me que seja eu, prometo que serei um cavalheiro doce e carinhoso. Crê em mim?

—Sim, mas não sei porque quer fazer amor comigo.

—Me desperta coisas que nenhuma me desperta.

—Não posso compreender...

—Deixe-me demonstrar-lhe, Betty–continua a beijá-la, os beijos deixam de ser tão doces para se tornarem mais apaixonados, logo, ele desabotoa sua blusa e toca com a ponta dos dedos cada pedaço daquela pele que desejava há meses.

—Ah, Betty, é tão macia.

A aperta contra ele.

Beatriz sente em seus braços sensações que nunca sentiu, sente como se fosse derreter, por tudo que ele lhe provoca.

—Deixe-me, deixe-me ser o primeiro, o que vai te ensinar a amar!

—Sim.

Mas logo algo vem a sua mente e se afasta dele.

—Que foi? Fiz algo errado?

—Não. Você é perfeito. Doce, carinhoso.

—Então quê?

—Sou eu. –está chorando um pouco.

—Não chore.

Fui um selvagem é isso?

Ela quer dizer que não, mas não consegue falar.

—Por favor, me leva para casa!

—Mas é muito mais cedo que disse que te levaria.

—Estraguei sua noite. Pode ter a chance de arrumar uma companhia melhor.

—Mas que companhia melhor, o quê! Você é minha namorada, não?

—Ainda me quer depois de mais este vexame?

—Beatriz, tenho muita vontade de fazer amor contigo, mas sei que talvez não é seu momento.

Beatriz queria dizer o que passava com ela, mas abaixou a cabeça, envergonhada. Queria fugir dali quanto antes.

—Melhor que eu tome um táxi!

—Disse que ficasse comigo um pouco, só temos que ir para casa depois! Fique comigo ou vou entender como rejeição. Aqui! –bate na cama com as mãos -Não vou abusar de você ou fazer algo que não queira.

Beatriz se sente mal. Como queria dizer-lhe que não sente medo dele tampouco é falta de desejo, queria muito desligar sua mente e deixar que seu coração e seu corpo a comandasse.

Aos beijos, Beatriz deitou-se ao lado de Armando que agarrou-se ao corpo dela, cochilando de conchinha. Estavam seminus cobertos pela manta. Armando mal dormiu, seu coração estava a mil galopando e sua excitação queria rasgar sua cueca. Estar junto dela sem poder fazer o que desejava o estava deixando louco. A viu de olhos fechados, levantou a coberta para apreciar aquele corpo de menina que não sabia como, o deixava louco. Não sabia como ela se resistia, sabia que vibrava em seus braços tanto quanto ele. Olhou-a de novo, estava de olhos fechados, parecendo estar dormida. Então, encostado em seu corpo afastou a coberta e com a ponta de seus dedos longos e começou a desenhar suas formas pelo lado de fora do tecido. Ela se mexeu. Ele, com medo, se afastou. Mas continuava dormindo ou parecia. Assim, recomeçou a desenhá-la até chegar a sua entreperna. Como uma mariposa que pousava começou a tocá-la por sobre a saia comprida, sentia um calor que saía de sua intimidade. Queria ser ousado e adentrar seus dedos e fazê-la se entregar a ele de qualquer forma, agindo de forma mais baixa. Mas nunca havia feito isso e não faria com Beatriz não colocaria tudo a perder. Ela era muito estreita e se chatearia com ele. Mal sabia que a moça desfrutava de seus carinhos e que desde que sentiu seus dedos em seu corpo não conseguiu mais dormir, tampouco protestar. Estava desfrutando tão ou mais que ele.

Fim do flashback

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Beatriz havia decidido dar a Armando o que ele tanto desejava, deixar que ele a amasse, sem impedimento, Não ia ter mais medo do passado. Iria se entregar a ele de corpo e alma. Mas seu pai, justo aquele dia, tinha que convidar as tias PInzón.

A campainha toca na Casa dos Pinzón.

—Oi, minha filha, como está bonita! –disse uma das tias.

—Nem tanto tia ojojo

—Sim, parece comigo quando tinha sua idade. –disse a mais nova

—Mas nos abandonou! Nem foi nos visitar quando seus pais foram. –disse a mais velha.

—É o trabalho.

—E do que trabalha?

—Em um escritório que presta assessoria para empresas.

—O melhor de Bogotá! -Hermes fez o característico barulho com a boca. –A menina vai longe.

—Mesmo que não saia do lugar ojojo.

Dona Júlia havia preparado todo tipo de guloseimas e ao contrário de seu marido, as tias a ajudavam na cozinha, enquanto, ele tocava seus discos de tango, fazendo com que Betty rodopiasse nos seus braços. Betty não podia aguentar mais, adorava suas tias, mas aquele dia era aniversário de don Armando, sabia que se sentia sozinho, pois seus pais não estavam ali, para fazerem algo para ele. Também ficou pensando um monte de coisas, talvez ele estivesse comemorando nos braços de alguma mamacita.

—Não pense nisso, Betty.

De fato, depois de tomar uns tragos no apartamento e ouvir tanta insistência de Mário, resolveu sair para tomar uns tragos, afinal, era seu aniversário. No local, até tinham umas mulheres e trocaram uns amasos, mas Armando parecia ter feito voto de castidade, não conseguia ir além de uns beijos e mesmo os beijos não pareciam ser tão saborosos quanto os de sua menina.

—Deus me livre de algo assim! Olha, vou fazer promessa para você levar esta mulher para a cama ou a coisa não vai prestar.

—Não me perturba, Caldeirón!

—Faz o seguinte: vai até a casa desta mulher amanhã e a leva a um motel desses e dá-lhe de jeito. Seguro que passa tão a logo a tenha. Vaio ver como passa o encantamento, feitiço ou como queira chamar. E volta a xser o Armando de antes, o tigre de Bogotá!

Mas apesar de tudo, Armando seguiu o conselho dele como sempre e foi até à casa de Betty no diaseguinte, logo pela manhã. Não havia dormido nada, apenas tomou um banho e caprichou no look e na loção, que sabia que deixava as mulheres loucos e quem sabe, Betty, a que queria para curar sua recente impotência.

Na casa de Palermo, Beatriz colocava a mesa do café com sua mãe, as tias estavam sentadas, Hermes lia o jornal, quando a campainha soou. Júlia parou o que estava fazendo e foi abrir a porta.

—Deve ser o inútil de Microlax!

Mas era don Armando.

—Doutor Mendoza!

—Bom dia, dona Júlia!

—O senhor aqui, doutor?

—Bom dia, don Hermes!

—Dou... tor...

—Bom dia, Beatriz!

—Feliz aniversário atrasado. –disse Beatriz, sorrindo-o, com os olhos brilhantes.

—Quem é este moço bonito? -perguntou uma das tias.

—Esse é Armando Mendoza!

—Prazer, senhora! –disse beijando uma de suas mãos.

—Deixe-me ver o moço bonito. –disse outra tia, levantando-se do sofá.

—Ojojo.

—Prazer, senhora! -disse Armando, com aquele sorriso que encantava a todas.

—Ele é bonito mesmo.

—Mas o que faz aqui, doutor? Não disse que esta semana não sairia com a menina?

—Éee. Não estava falando só de sexta, don Hermes?

—Não, não. As tias ainda estão aqui.

—Este rapaz bonito é seu amigo, Bettica? =perguntou Clarisse, dando a volta em Armando, reparando em sua figura.

—Sim, meu amigo.

—Não me respondeu, doutor Mendoza!

—Sim, don Hermes, o senhor disse que ontem não, mas imaginava que hoje deixaria que saíssemos.

—Se não deixei ontem, hoje também não!

—Não deixou a menina sair com este moço por conta da nossa visita? -perguntou a tia Ana Beatriz.

—Sim, não é todo dia que vocês vem aqui!

—Imagina. Mas vamos ficar muitos dias.

—Mesmo assim. Para quê, ah? Para quê precisa sair com a menina toda semana?

—Você sai com ele toda semana? -perguntou Clarisse com olhos arregalados.

—Sim. Ojojo –disse ajeitando os óculos. É que, é que...

—Isto que não está certo. Não há esta necessidade toda! –disse Hermes.

—E o que fazem e onde vão? -perguntou Ana Beatriz.

—Ela é minha amiga, vamos ao cinema, teatro, a ouvir jazz. –respondeu ele.

—Estão vendo? E esta semana eu disse que não, pois estariam nos visitando. –disse Hermes, de mal humor. -E agora, não entendo o que faz aqui.

—É que hoje não vim para convidar Beatriz para sair!

—Ah não?

—Não. E -eu vou encontrar com um cliente e precisa que Beatriz me ajude com a assinatura de uns contratos.

—No sábado?

—Todo dia é dia de trabalho no Mundo da Moda, don Hermes!

—Mas sinto muito, doutor, mas não vai levar a menina para trabalhar hoje!

—Mas papai. –disse Beatriz olhando para Armando desesperado.

—Ah Hermes! Deixa a menina sair. –disse tia Clarisse.

—Não e não. Ela é uma senhorita de família e eu disse que não poderia, pois você vieram nos visitar.

—Ah mas se é por causa de nós não precisa se incomodar. –disse Ana Beatriz.

—Não deixa de sair por causa de nós. –disse Clarisse

—Trabalhar, vamos trabalhar. –insistiu Armando.

—Sim, deixa a menina ir trabalhar com o bonitão. –disse Clarisse.

Hermes ia falar alguma coisa, mas as tias, o puxaram e pediram para mostrar as fotos do velho tio Lázaro.

—Talvez o doutor também queira ver.

—Trabalhar, seu Hermes, temos que trabalhar. –disse Armando, quase saindo pela porta.

—Vamos antes que ele mude de ideia. –disse Beatriz puxando Armando. –Tchau, mãe.

—Ufa! Pensei que não ia conseguir. –disse do lado de fora, abrindo a porta do carro para ela.

—Ojojo –disse Betty sentando-se no banco- Minhas tias gostaram de você e nos ajudaram.

—De verdade?

—Sim. Assim como minha mãe. Está conquistando todas as Pinzón.

—Todas, mesmo? E quanto a que me interessa conquistar?

—Esta já conquistou!

—Mesmo?

—Sim. –Ela passa o braço pelos ombros dela e a beija com vontade. -Então, onde iremos? Disse que é para fechar um contrato.

—Sim, mas mais tarde. Antes quero ir em um lugar.

Armando a leva ao Jardim Botânico, um de seus lugares favoritos. Onde entrem as espécies raras quase se beijam. Mas Betty é muito envergonhada e foge dele entre as árvores, ele entra no jogo, indo atrás dela.

—A verdade é que queria te levar para... namorarmos.

—Mas e o contrato? Era verdade ou inventou para que deixassem sair comigo?

—Queria que fosse, mas de verdade, temos uma reunião importantíssima!

O almoço de negócios era com duas empresárias, uma delas estava encantada e paquerava Armando descaradamente. Betty não estava gostando nada daquilo, pois Armando parecia corresponder. Mas na verdade, fazia parte de seu charme natural para fechar negócios. Beatriz deu-lhe vários pizões por baixo da mesa.

—Bem, contrato fechado, podíamos sair esta noite para comemorar, Armando?

—Er, er –disse constrangido para Betty -infelizmente não vai ser possível, Ellen, vou ter que fazer uma viagem.

—Ah sim? Que pena! –disse passando o dedo do colarinho dele e descendo pelo pescoço.

—Deixemos para a próxima, sim?

Ao saírem do restaurante, Armando percebeu que a cara de Betty não era das melhores. Por mais que puxasse assunto, permanecia calada, até que resolveu falar.

—Me deixa em casa. O contrato já está fechado.

—Não. Quero ficar o dia todo contigo, afinal, era para ficarmos juntos ontem como você prometeu. –Betty fez o famoso bico. –Que foi, Betty? Não tenho culpa da Ellen ter me assediado.

—O senhor não tem culpa de uma mulher bonita paquerá-lo, mesmo que tivesse acompanhado, pois quem iria imaginar que ojojo tivesse algo com uma feia como eu?

—Beatriz, não gosto que se deprecie.

—Ela é uma mulher muito bonita!

—Sim, é! Mas não a mulher que quero!–passa o braço sobre sua cintura para aproximá-la dele.

—Doutor!

Aproveitou o sinal fechado para apoderar-se de sua boca. Só se separam por conta de respirarem.

—Ojojo Feliz aniversário!

—Podemos comemorar hoje?

—Éee...

—Por favor –disse com a voz rouca- Estou desesperado. –a beija profundamente e ela deixa que ele se apoderasse de sua boca. Ele a aperta para si, passando a mão no corpo dela.

—Ah...

De repente as buzinas começaram a soar por todos os lados.

—Ojojo!

—E quer que te leve para casa? Ou...

—Irei onde o senhor quiser. –disse com vontade de satisfazê-lo.

Armando sorriu, engatou a marcha e a levou para um lugar longe, onde pudesse estar com ela, pois era apesar de estar louco por ela, era de dia e alguém poderia reconhecê-lo em algum lugar público. Ainda mais temia que Marcela os encontrasse no seu apartamento ou estivesse seguindo-o por aí para dar-lhe `algum presente de aniversário. O lugar onde foi era uma antiga casinha de família. O local era tão afastado que a moça caiu no sono e se acomodou no ombro dele. Armando sorriu, sentiu ternura, um sentimento que não tinha sentido antes, ao menos não por uma mulher que queria levar para a cama. Na verdade, a única pessoa que o fazia sentir ternura era sua mãe e sua irmã.

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