Dangerous

You Bury Me Alive


—Vai me responder, Red, ou não?-Perguntei. Estava esperando Ressler chegar pra me levar pra casa. –Por que passou a noite no hospital?

—Quem mais ficaria aí com você? O agente Ressler estava ocupado. Aliás, ele é um péssimo namorado. Em vez de ficar aí com você...

—Red, você sabe que Ress ama o trabalho dele. –Calcei os sapatos com a mão livre.

—A namorada dele devia vir em primeiro lugar. –Revirei os olhos.

—Por que parece que você não gosta de Donald?

—Por que eu não gosto. Como você está?

—Bem melhor. Tive algumas crises de nervosismo horas atrás, mas estou ótima agora.

—Preciso conversar com você, mas não agora. –Estranhei o tom sério.

—Tudo bem. Vou ficar um tempo fora do trabalho, então apareça quando puder.

—Ok. –Desligou. Suspirei, odiava essa mania dele.

Devolvi o telefone para a enfermeira gentil, e agradeci. Logo Ressler chegou, e eu fui liberada pra ir pra casa.

Donald não pode ficar. Todo mundo estava muito focado no desaparecimento de Cooper, que não parecia ter solução, então todos os agentes (menos eu) eram necessários. Ao que parecia, Red ficaria calado sobre sua lista um tempo.

Confiando que eu ficaria bem, Ress me deixou no apartamento dele, e saiu.

Com isso, me sentei no sofá e fiquei mudando os canais. Gostava de ficar ali, mas no momento, ficar sozinha não estava sendo bom.

Houve algumas batidas na porta, me apressei para espiar pelo olho mágico.

—Red. -Abri a porta e dei espaço para que entrasse. –Como sabia que eu estava aqui?

—Sei de muitas coisas. –Se sentou no sofá. Me sentei ao lado dele.

—Jura? Então, sobre o que queria falar?

—Seu sequestro. –Suspirei.

—Estão todos mortos. Eu matei os três irmãos. Não há mais nada para...

—Jen, acha mesmo que havia apenas os três como seus inimigos? Acha que a Dangerous não deixou ninguém de lado, alguém que queira se vingar?

—A equipe se foi.

—Resta você.

—O que me sugere? Vou ter que esperar e ver o que acontece. Já passou do tempo de sair por aí matando sem pensar. Trabalho diretamente para o FBI agora, não posso fazer mais isso.

—Não estou sugerindo que os cace. Sugiro que desapareça enquanto eu lido com a situação. –Me levantei.

—O que?

***

—Como foi o trabalho?-Perguntei, enquanto Ress deixava a arma na cômoda. –Acharam alguma pista de Cooper?

—Nada. É como se ele tivesse... Sido engolido pela terra.

—Já falaram com Reddington? Ele pode ajudar. O cara conhece milhares de pessoas, pode saber de algo.

—Meera falou com ele, Keen falou com ele, e eu também. Nada. Talvez essa situação seja melhor. Meera não impõe tanta coisa como Cooper fazia. Red está mais livre agora, e some quando quer.

—Isso é verdade. Mas sempre pode fazer uma troca, não é? Um acordo extra... Alguma coisa.

—Se dermos muito espaço, Reddington vai acabar dominando o FBI. –Ri.

—Seria bem a cara dele. –Suspirou, sentando perto de mim na cama.

—Não sei por que ainda não o enfiamos dentro daquela caixa.

—Se o fizerem, ele não vai falar. É melhor tê-lo solto, e fazendo exigências, do que trancado e sem falar nada. Red é durão, não vai falar mesmo que o torturem.

—Acho que pode cuidar disso, Dangerous. –Sorri.

—Meus dias de Dangerous acabaram, Ress. Acabou. Já era hora de não ser mais um perigo para sociedade.

—Você não era ruim.

—Não. Só saia por aí atirando na cabeça das pessoas.

—De criminosos. –Olhei pra ele, curiosa.

—Agora aceita meu trabalho?

—Comecei a entendê-lo, e a entender você.

—Que bom. Estava na hora, agente Ressler. Cabeça dura.

—Eu? E você? Ainda faz as coisas sem pensar.

—Vou tentar melhorar, prometo. –O beijei. –Sabe, se não estiver muito cansado, eu acho que tenho umas ideias. –Sorriu.

—Que ideias?

—Umas bem legais...

*** POR RESSLER ***

Meera ligou cinco e meia da manhã. Disse que novas investigações começariam, sobre o caso do desaparecimento de Cooper.

Me levantei, tentando não acordar Jen. Ela ainda teria que ficar alguns dias em casa, até termos certeza de que estava bem o suficiente para voltar ao trabalho. Com problemas psicológicos, ela teria que ser afastada permanentemente, mas eu sabia que ela estava bem.

Me vesti rapidamente, pegando o celular e minha arma. Me aproximei de Jen, para dar um beijo nela antes de sair, então reparei algo errado.

—Jen?-Sequer se mexeu. –Jenna?-Toquei o pulso dela, sem pulsação. –Jenna.

Ela não estava respirando. Estava morta.

***

—Ressler, o que está fazendo aqui?-Meera perguntou. –Sua namorada acabou de ser enterrada, não precisava vir pra cá.

—Precisam de mim aqui.

—Vá para casa, pelo menos hoje.

—Se eu ficar lá, vou ficar lembrando dela.

Jen havia sido enterrada duas horas atrás. Eu não conseguia me imaginar ficando em casa, sem ter nada pra fazer, e apenas lembrar dela.

Os médicos disseram que o coração dela havia falhado. Como? Ela não era nova demais pra isso? Eu não conseguia entender.

Não gostava de Jenna Mhoritz no começo. Quando Cooper explicou quem era ela e o que fazia antes, gostei menos ainda. A conheci quando a base da Dangerous foi invadida. Eu a levei para o hospital, mas não considerei ficar e falar com ela.

Ela era só uma assassina, e sequer fazia parte do FBI. Então, começou a fazer parte da equipe. E... Era terrível e insuportável. Tirava qualquer um do sério, e fez o mesmo comigo, como na vez em que perdi a cabeça e a agredi.

Então... Deu pra ver que havia uma mulher no meio de tanto comportamento desagradável e tanta grosseira. Aí eu comecei a gostar dela. Nunca pude imaginar que ela gostava de mim também. Acho que não teria imaginado se ela não tivesse me beijado naquele contêiner e depois me ignorado, praticamente fugido, na verdade.

Ela não era um tipo fácil de se lidar. Era terrivelmente afiada, e às vezes mal humorada. Mas... Isso era ela. Não havia Jenna Mhoritz sem tudo aquilo, sem a irresponsabilidade em horas erradas, sem as respostas grossas, e sem a natureza destrutiva. Se não houvesse isso... Não era Jenna, minha Jenna.

—Como está?-Keen perguntou, sentando do outro lado da minha mesa.

—Como deveria estar?

—Não se supera uma morte facilmente. Deveria estar em casa, e não trabalhando.

—Se eu ficasse em casa, choramingando, Jenna ressuscitaria pra me dar um soco.

—É bem a cara dela. Jen ia querer que ficasse bem, e que lidasse com isso.

—Não tem como lidar facilmente com isso. Ela está morta. Simplesmente... Se foi. E nem foi em um tiroteio, ou por alguma ação estúpida e impensada. Ela... Simplesmente morreu.

—Talvez tenha sido melhor assim. Ela... Não morreu sofrendo.

—Keen, isso não está ajudando. –Suspirou.

—Acho que nada ajudará. –Se levantou. –Se precisar conversar, avise. –Assenti.

Não queria conversar.

Jen havia morrido. Como lidaria com isso?