DIA ANTERIOR

—O que me sugere? Vou ter que esperar e ver o que acontece. Já passou do tempo de sair por aí matando sem pensar. Trabalho diretamente para o FBI agora, não posso fazer mais isso.

—Não estou sugerindo que os cace. Sugiro que desapareça enquanto eu lido com a situação. –Me levantei.

—O que?

—Se forjar sua morte...

—Forjar minha morte? Ficou louco?

—Enquanto inimigos da Dangerous não desaparecerem, você corre riscos. Mas eles não vão caçá-la se estiver morta.

—Não posso fazer isso.

—Pode. Vai sumir. Consigo outra identidade, escondo você, e quando acabar... Retorna. Claro que ninguém pode saber que está viva.

—Nem mesmo...

—Nem mesmo o agente Ressler.

—Não vou fazer isso. –Cruzei os braços. –Red, é loucura...

—Dessa vez, eles a atingiram diretamente. E se da próxima vez usarem Donald para te ferir? O que vai fazer? Você consegue lidar com a situação, mas ele pode?

—Forjar uma morte é um crime gravíssimo...

—Matar também, e até hoje não puniram você.

—Dessa vez é diferente. Eu não tenho mais imunidade. Posso ser presa.

—Não se eu protegê-la. –Suspirei.

—Reddington...

—Essa é sua decisão. Apenas responda, e eu a ajudo. –Respirei fundo.

—Não farei isso por mim, mas tem razão. Ress pode se machucar. E eu nunca me perdoaria. Mas... Eu tenho que contar pra ele.

—Não.

—Red!

—Contar pra ele seria expor o plano, e coloca-lo em perigo também. Só eu saberei disso, e você.

—Mas...

—É pegar ou largar.

—Tá. Eu aceito. Como... Vamos fazer isso?

***

HORAS ANTES

Acordei, e quase entrei em pânico. Estava num espaço apertado e escuro, que só podia ser um caixão. Tentei respirar devagar e me acalmar. Tudo o que me faltava era que Red tivesse me enganado. Por que daí eu morreria de verdade.

Pouco depois, ouvi vozes e o caixão foi aberto. Olhei em volta.

—Onde estamos?

—No necrotério. –Red respondeu, estendendo a mão pra me ajudar a sair do caixão.

—Já enterraram Jenna Mhoritz.

—Quem sou eu então?

—Katherine Fray. –Sorri, mesmo nervosa.

—É um bom nome.

—Aqui. –Me entregou uma bolsa. –Se vista, temos que ir.

—Tá. –Olhei pras roupas dentro da bolsa, então pra ele. –Pode sair? Tipo assim, não vai querer me ver trocando de roupa, né?

—Claro que não. –Saiu.

Me troquei o mais rápido possível, então saí, puxando o capuz do casaco pra cobrir a cabeça. Então segui Reddington até o carro que nos esperava.

—Sabe como Ress está?-Perguntei.

—Quer mesmo saber?

—Não. Acho melhor não. –Isso só serviria pra me deixar culpada e me torturar. Claro que Ressler não estava bem. A namorada dele tinha “morrido”. Eu, no lugar dele, sofreria muito. Se eu contasse a verdade, ele ia me odiar. –Quanto tempo acha que vai levar?

—Não sei. Mas fique tranquila. Ressler vai entender quando souber que está viva.

—Não tenho tanta certeza. –Suspirei. –Vou ter que sair do país?

—Acho que não. Pode ficar em uma das minhas casas.

—Uma “das”? Quantas casas você tem no país?

—Algumas.

—Uau. Não sei por que estou surpresa. –Encostei a cabeça na janela. –Red, aquela coisa que você me fez beber não tem efeitos colaterais, tem?

—Acho que não. –Arregalei os olhos. –Não, não tem. Talvez te dê sono.

—Já está dando. –Bocejei. –Não consigo parar de pensar em Ressler.

—Não pense. Tente se concentrar em você agora.

—Vou tentar. –Fechei os olhos e adormeci.

***

A “operação” de Red contra os inimigos da Dangerous durou um mês. Achei pouco, mas tudo bem. Nem todos foram mortos, até porque nem todos pareciam querer fazer algo contra mim, e alguns nem sabiam que eu existia.

O problema era: como eu ia contar à Ressler que estava viva?

Tentar imaginar isso não era fácil.

Eu estava acertando um saco de areia em um quarto que Red liberou pra mim, enquanto ouvi uma movimentação no corredor. De repente, a porta foi aberta com violência. Ouvi Red chamar quem havia entrado. Ressler. Achei que meu coração pararia.

—Jen?-Não me virei, apenas abaixei a cabeça. –Jenna, olha pra mim. Jenna Mhoritz, olhe pra mim. –Comprimi os lábios, com uma vontade inesperada de chorar. Ele estava... Furioso, dava pra notar. –Jenna... –Não me movi. Ressler agarrou meu braço e me fez virar. Esperei por uma explosão de xingamentos ou algo assim. Nada aconteceu.

—Ress... –Parei. O que ia dizer? Donald ficou ali, olhando pra mim sem falar nada. Eu podia sentir a raiva, a decepção e a dor emanando dele. Então, se virou e saiu rapidamente. Corri atrás dele.

—Ressler! Ressler, espera!-Parei, ele já tinha ido.

Me encostei na parede, deixando as lágrimas escorrerem. Ele me odiava. Estava claro. Pra ele, passei um mês morta. E então estava ali, viva. Sem nem imaginar como podia contar tudo.

Não havia desculpa. Não havia explicação. Não havia como voltar atrás.

—Jenna. –Red chamou, parando ao meu lado. –Lamento. Tentei impedi-lo de entrar, mas não consegui.

—Ele me odeia. Me odeia e não vai me perdoar por isso.

—Você estava o protegendo. Se ele não pode entender isso, não merece você.

—Talvez eu não o mereça.

—Jenna, você cometeu um crime para salvar Ressler, para deixá-lo em segurança. Abandonou sua vida. Deixou o cara que você ama para trás, tudo por ele. Acha que é pouco?

—Não importa o que eu fiz. Ele me odeia mesmo assim. Vi isso nos olhos dele. Ele me odeia.

—Então ele é mais idiota do que pensei. –Se virou e saiu, me deixando sozinha no longo corredor.

***

Era como se Red estivesse abrindo o mar para passarmos. Todos os agentes que cruzavam nosso caminho recuavam, olhando em completo choque para nós. Eu sabia o que era. Jenna Mhoritz, para todos, estava morta. Então, ali estava eu, cruzando o esconderijo do FBI, com Raymond Reddington.

Meera estava com Keen e Ressler. Eles não pareciam tão surpresos como os outros. Acho que Ress estava mais surpreso por eu estar ali, e apenas isso. Ele já sabia da farsa toda.

—Jenna, pode explicar isso?-Meera perguntou.

—É bem simples. –Red intrometeu-se. –Jenna teve que forjar a própria morte, para manter em segurança a si mesma e pessoas que ela conhece. Enquanto isso, me encarreguei de tirar do caminho todos os inimigos da Dangerous.

—Forjar a própria morte é um crime...

—Corte essa, Malik. Eu exijo que Jenna Mhoritz seja aceita novamente, como se nada tivesse acontecido.

—Jenna não é mais imune.

—Não. Mas eu sou. E eu estou mandando que a aceitem novamente. Ela é da minha equipe, e se a chutarem... Creio que ficarão sem minha lista.

—Está nos chantageando...

—Não. Estou trocando. E não é como se o FBI nunca tivesse feito planos sujos para cuidar dos seus. –Olhou para os três agentes. –Jenna está de volta?-Sem resposta. Red entrelaçou o braço no meu. –Vamos, Jen, vamos sumir. –Se virou, me puxando para a saída. –O que acha de Londres? Já esteve lá?

—Reddington. –Nos viramos. Meera suspirou. –Mhoritz, você está de volta.

—Perfeito. –Red sorriu. –Não é tudo mais simples quando colaboramos uns com os outros?

Ressler olhou pra mim e saiu. Keen fez o mesmo pouco depois, seguindo na mesma direção do agente. Respirei fundo. O que é que eu esperava? Ress me odiava agora. Ia ter que me acostumar com isso.