Mesmo contrariada, eu me arrumei naquela manhã e segui para o endereço que Cooper me entregou no dia anterior. Meera Malik me guiou pela confusão que era a base do FBI.

Encontrei Harold com três pessoas. Uma delas eu conhecia. Minha mão foi direto para o coldre.

—Antes que pense em atirar, Reddington nos dá informações agora. –Cooper avisou.

—Foi por isso que mandou a Dangerous largar o caso?-Fez que sim. Revirei os olhos.

—E agora, - Reddington começou. –você é da minha equipe. –Cruzei os braços. –Suas habilidades de Dangerous serão úteis. –Olhei para o diretor assistente.

—Ele está brincando, não está?

—Não, não estou. E se eu fosse você, ia me preparando. Vou te colocar na linha de frente.

Harold.

—Precisamos conversar. –Foi tudo o que ele disse.

Reddington decidiu entregar diversos criminosos que estavam em sua “Lista Negra”. O nome de agora, era de um estranho serial killer apelidado no submundo do crime como “Jack Estripador”, que além de matar as vítimas, vendia partes dos corpos.

—E onde o encontramos?-Perguntei.

—Reddington disse que Marco escolhe as vítimas apenas em boates. –A agente Keen respondeu. –O que leva a um pequeno problema.

—Como descobrir exatamente onde ele vai atacar?

—Não, nós temos a exata localização. Red quer que você e Ressler se disfarcem e vão até lá.

—Esse cara está querendo demais para um criminoso. –Me apoiei em uma mesa.

—Você não fazia esse tipo de coisa como Dangerous?

—Fazia. –Raymond apareceu com uma sacola de papel, que estendeu pra mim. –O que é isso?

—Um disfarce. –Respondeu. –Ficará ótima nele. –Espiei o conteúdo da sacola, um tecido vermelho brilhante.

—Isso é uma roupa de stripper?

Dançarina. –Quis sacar a arma e atirar nele, mas me segurei. Que tipo de boate aquele louco ia me colocar? –Agora vamos acertar os detalhes.

Respirei fundo. O que aconteceria se eu atirasse na cabeça de Reddington?

***

—Quando foi que montaram essa sala?-Ressler perguntou, parado na porta. Olhei pra ele.

—Faz umas... Quatro horas, eu acho.

Reddington tinha mandado montarem tudo, uma sala com um maldito poste de pole dance. É, ele queria ferrar com a minha vida, completamente. Acho que era uma pequena vingança pessoal por eu tê-lo caçado.

Voltei para o meu ensaio. Ressler parecia levemente espantado, e permaneceu ali, atento.

—Há quanto tempo faz isso?

—Três horas. –Respondi, ficando de ponta cabeça, me segurando ao poste apenas com as pernas. –Vi uns vídeos na internet e comecei a tentar copiar. Deu nisso. –Deslizei até o chão e respirei fundo. Com Dangerous, eu geralmente assimilava coisas novas com facilidade.

—É... Impressionante.

—Ah, é sim. E cansativo. Ah, aqui. –Peguei minha arma na bolsa e entreguei pra ele. –Leve isso.

—Eu já tenho uma arma.

—Essa é pra mim. Com aquela roupa de vadia eu não vou conseguir escondê-la.

—Espero que esteja pronta. –Meera disse, parando ao lado de Ressler. –A missão começa em uma hora. Reddington mandou avisar.

—Ele é muito metido pra alguém que pode levar um tiro na cabeça em qualquer segundo. –Murmurei.

Treinei por mais uns vinte minutos, então fui me arrumar, xingando Reddington enquanto o fazia. A roupa era muito, muito... Difícil de se usar. Era apenas um top brilhante, e uma calcinha do mesmo tipo com uma cauda que chegava até meus tornozelos. Como eu ia sobreviver usando aquilo era um mistério. Terminei colocando saltos gigantes e uma peruca curta loira, tão loira que era quase branca. Então saí.

—Eu disse que ela ficaria ótima. –Reddington comentou, enquanto eu me aproximava.

—Vai pro inferno. –Mandei, cruzando os braços. –Alguém pelo menos pode me dar um casaco?

***

Ajeitei o fone no ouvido antes de entrar em um dos pequenos palcos espalhados pela pista. Keen e Reddington, junto com uma equipe extra, estavam fora da boate, acompanhando tudo pelas câmeras. E claro que Raymond fazia comentários o tempo todo, o que era irritante.

Assim que terminei a maldita performance, feliz por não ter caído nem me quebrado, olhei em volta, forçando um sorriso. Ressler, afastado, ergueu um maço de dinheiro. Fui até ele, pegando as notas e enfiando no top, então me sentei no colo do agente.

—Está vendo Marco?-Perguntei.

—Não. Ele ainda não chegou.

—Droga. –Bufei. Então olhei pro agente. –O que é que está fazendo?

—O que?

—Você me pagou pra vir até aqui, finja direito, idiota. Coloque as mãos na minha cintura.

O que?

—Vamos logo, imbecil. –Ressler obedeceu. –Amadores.

—Estou no FBI há mais tempo que você.

—Isso não significa nada.

—Podem calar a boca?-Reddington perguntou, no fone. –Parem com isso, discutam depois. –Me segurei para não revirar os olhos. –Marco entrou.

—Está vendo?

—Perto da porta. –Ressler respondeu. –Está indo para o segundo andar, com uma garota. –Olhei por cima do ombro.

—Vamos. –Levantei, puxando o agente comigo. –Finja que está feliz, tem uma garota bonita com você. –Ele suspirou. –Vamos logo. –Subimos atrás de Marco. Já no corredor, ele tinha parado enquanto a garota abria a porta de um dos quartos. Puxei Ressler, beijando-o, o que o pegou de surpresa. Dã, fazia parte do disfarce! Decisões como essas são tomadas em segundos. Não há tempo pra pensar. Quando Marco e a stripper entraram, me soltei do agente.

—O que foi isso?

—O disfarce. Stripper prostituta e cliente, lembra?

—Já disse que você é uma dançarina!-Reddington lembrou. Revirei os olhos e peguei minha arma de dentro do casaco de Ressler.

—Vamos.

Parei em frente à porta e fiz um gesto com a cabeça. Donald chutou a porta e nós entramos. Marco estava em cima da stripper, que estava inconsciente. O homem tinha uma faca em mãos, o pegamos no meio do golpe. Ressler abriu a boca pra falar alguma coisa, mas eu fui mais rápida, atirando na cabeça de Marco, que caiu, morto.

—O que foi que você fez?-Ressler gritou, passando por mim e dando uma longa olhada no cara morto no chão.

—O que eu fiz? Atirei nele.

—Você não está mais na Dangerous, não pode atirar se não for necessário.

—Ele ia matar a garota!-Alguns agentes entraram no quarto, inclusive Keen. Ela olhou para Marco, para a garota na cama, para Ressler, então pra mim.

—O que aconteceu aqui?-Perguntou. –Ele tentou reagir?

—Não. –Ressler respondeu, guardando a arma. –Ela simplesmente atirou. Do nada.

—O que queria que eu fizesse?-Gritei. Eu tinha alguns probleminhas em controlar a raiva. –Ele. Era. Um. Assassino. Que mal há nisso?

—Você agora trabalha para o FBI, não é mais da Dangerous.

—Dane-se!-Me virei e saí, os saltos batendo com força no chão.

***

—Você só arruma confusão, não é, Mhoritz?-Cooper perguntou. Olhei pra ele, estava sentada num canto da sala onde havia ensaiado horas atrás.

—Um pouquinho.

—Sabe que errou hoje.

—É o que dizem. –Sorri, ele suspirou. Eu o conhecia desde que o projeto Dangerous havia começado. Ele sabia que eu não era a pessoa mais equilibrada, sensata e responsável que podiam escolher. Com 28 anos, eu ainda parecia uma adolescente, porque simplesmente não tive uma adolescência normal. –O que precisa?

—De um relatório. Sobre o que aconteceu essa noite.

—Não faço relatórios.

—Agora faz.

—Harold... –Me entregou um caderno e uma caneta.

—É melhor começar. E quero à mão.

—O que? Isso é algum tipo de punição por ter estourado os miolos daquele cara?

—Pode se dizer que sim. –E saiu. Olhei feio na direção dele, mas sabia que tinha que obedecer. O problema era que eu me acostumei a não seguir regras, e a não ter que responder a ninguém.

Fiz o relatório o mais rápido que consegui, Cooper teria problemas em entender minha letra, mas eu não estava preocupada. Ninguém mandou me fazer o relatório à mão. Custava me dar uma sala e um computador? Era o FBI que pagava meu salário de Dangerous, e ele era alto.

Saí da sala, coçando a cabeça, a peruca estava começando a incomodar.

—Ainda está vestida assim?-Ressler perguntou, andando ao meu lado.

—É, eu nem tinha percebido. –Deixei o caderno na mesa de Cooper e voltei para o corredor. –Por que todo mundo está olhando pra mim?

—Tem que admitir que essa roupa chama atenção.

—A roupa ou a falta dela?-Cruzei os braços, o visual vadia stripper estava se tornando constrangedor, já que alguns agentes não conseguiam disfarçar ao olhar pra mim. Senti algo nos meus ombros, o paletó de Ressler. –Obrigada.

—Até que foi bem, para um primeiro dia. Tirando o fato que atirou na cabeça de Marco.

—Faço isso desde os dezoito anos, me acostumei. Então... Qual é a de Reddington e Keen? Eles estão juntos ou algo assim?

—Não. Ele... Reddington disse que daria os nomes da lista apenas para Keen, então temos que mantê-la por perto.

—Por que a preferência?

—Ninguém sabe. Agora entendi porque ele quer você aqui também.

—Por quê?-Olhei pra ele, curiosa.

—Ele disse: “Vou te colocar na linha de frente”. Ele sabe que as coisas não ficarão boas, precisa de alguém que possa cumprir as missões, e se machucar. Ele não quer que Keen leve um tiro ou algo assim.

—Dangerous foram feitos para encarar a morte. Ele acha que me colocando no lugar de Keen, nas missões, vai impedi-la de se machucar. Se eu morrer... Bem, serei eu, não ela. –Sorri. –O desgraçado é esperto. Eu sou o pião, sou colocada na frente para morrer se necessário. Keen é a ponte entre Reddington e o FBI. E você, agente Ressler, o que você é?

—Alguém em quem Reddington pisa. –Ri.

—Quase senti sua pena. Quase.