Dangerous

Missão Los Angeles parte. 2


Voltei para o trabalho quatro dias depois. E não escapei da Friedman.
—Como se sente, Jenna?
—Uma assassina de crianças indefesas. –Respondi, me mexendo incomodada na cadeira. Se eu não falasse com ela, seria suspensa. E isso também poderia acontecer, dependendo do que ela dissesse para Meera sobre mim.
—Mas o que aconteceu há quatro dias não foi sua culpa.
—Não foi? Se eu não tivesse ido até lá, não teria levado aquele tiro, e isso não teria matado a criança que eu estava carregando. Então se conclui que eu sou a culpada.
—Você não acha que a culpa é de quem atirou em você?
—Não importa quem aperta o gatilho. Se eu não tivesse lá, não teria acontecido.
—Muitas coisas que aconteceram recentemente têm afetado você.
—Sim. Tem.
—Como lida com isso?
—Com raiva. Raiva me mantém em movimento. Esses caras, assassinos, pedófilos, sequestradores... Eles me deixam com raiva, e com raiva deles eu tenho vontade de pegá-los. E é isso que me faz continuar. Estou indo bem.
—O caso das meninas obrigadas a se prostituir, e das crianças sequestradas mexeu muito com você.
—Sim, e a raiva me fez ir adiante. Se um dia isso não funcionar... Posso dar outro jeito.
***
—Não foi tão ruim, foi?-Keen perguntou. –Ela só estava fazendo o trabalho dela e tentando ajudar você.
—Se ela dizer pra Meera que acha que eu surtei, ela vai me colocar na rua?
—Pode pedir seu afastamento. Mas não acho que você tenha surtado. Parece bem normal.
—Você deve saber do que está falando, lê as pessoas. Me avise se um dia achar que pirei.
—O problema não é pirar, Jen. É guardar tudo dentro de si e não se permitir sentir nada.
—Olha quem fala, a garota que nunca explode. Eu chuto coisas, grito, xingo, eu faço isso, não guardo nada pra mim.
—Jen, você não está triste pelo seu filho.
—Pra mim, eu nem estava grávida. Não se perde algo que nunca se teve. É horrível? É. Mas o que se espera de mim?
—Mais do que imagina.
***
—Cadê a Keen?-Perguntei, me sentando na mesa de Aram. Ele nem reclamou ou olhou de forma repreensiva. Todo mundo estava agindo gentilmente comigo, como se eu merecesse.
—Ninguém sabe. –Ressler disse. –Mas liguei e ela disse que está bem.
—Nada de nomes até Elizabeth chegar aqui. –Red disse, cruzando os braços.
—Como assim...
—Tá, Red, que seja. –Interrompi, antes que Donald começasse um discurso. –Ninguém liga.
—Eu ligo. –Ress cruzou os braços.
—Ok, será que podemos acalmar os ânimos agora?
—Gente. –Aram chamou. –Temos um problema.
—Base invadida de novo?
—Não. Isso. –Uma imagem apareceu no telão. Uma menina pequena, cabelos cacheados, pele clara. Mandy, a menina de Los Angeles. Invadi a casa dela.
—Preciso de ajuda. –Ela dizia, no vídeo. Parecia assustada. –Quero voltar pra minha mãe. Por favor, alguém me tira daqui. Não é minha casa. O endereço é...
—Essa garotinha estava na missão de Los Angeles!-Comentei. –Como ela... De onde...
—Foi enviado por meio de denuncia anônima. –Aram respondeu.
—Ressler, Mhoritz, quero os dois no próximo voo para Los Angeles. –Meera disse. –Tragam a menina para cá.
—Certo. –Murmurei, saindo de cima da mesa. –É Red, parece que sua lista... –Olhei em volta. –Cadê o Reddington?
—Ele estava ali agora mesmo. –Franzi a testa.
—Tem algo errado aqui. Vamos, Ressler, a menina precisa de ajuda.
***
—Nem perguntei como foi ontem com a Friedman. –Donald disse, se virando pra olhar pra mim.
—Normal. –Olhei pela janela enquanto o avião decolava. –Ela não disse nada que indicasse que fui péssima e que Meera vai me suspender por isso.
—Achei que surtaria quando te mandaram falar com ela.
—Qual é, eu não sou doida, por que tenho que fazer isso? Lido com estresse e coisas ruins do meu jeito.
O voo foi tranquilo, e chegamos à Los Angeles sem problemas. No caminho para a casa de Mandy, fiquei me perguntando qual a ligação do caso com Red. Ele havia nos mandado ficar de olho na casa, mas nunca disse por quê. E agora a menina manda uma mensagem de socorro? Suspeito demais.
—Não acha muito estranho tudo isso?-Perguntei, verificando se minha arma estava carregada. Ress se mantinha atento à estrada. –Red nos manda ficar de olho na mesma casa onde essa menina mora, e então ela pede ajuda?
—É estranho. E por que Reddington sumiu assim que ela deu a mensagem?
—Acho que ele está aprontando alguma coisa.
—Posso dizer algo que provavelmente vai te irritar?
—Hã... Sim.
—Depois do que Reddington fez, por que você não o odeia? Vi Lizzy reclamando dele desde que começamos a trabalhar juntos, mas os dois não se desgrudam. Agora é o mesmo, só que com você.
—Red consegue fazer uma teia impressionante e te prender nela. Não tem como escapar dele. O odeio, às vezes, e às vezes... Esqueço o que ele fez. Mas nem tudo o que ele fez é ruim. Ele ajudou minha mãe e me ajudou... Na maior parte do tempo eu nem sei o que sentir.
—Fico surpreso por não ter atirado nele.
—Mas eu queria, não se esqueça disso. Ele... É quase como se fosse duas pessoas diferentes. O Reddington que cuidou de mim, ajudou minha mãe, me salvou... E o Reddington que matou minha equipe, me manipulou, me deixou ir presa... E que me mandou para São Petersburgo pra matar meu próprio irmão. Nunca vou saber o que sentir por Raymond Reddington, juro.
—Talvez um dia descubra.
—Talvez. Ou Lizzy e eu vamos acabar matando-o. - Sorriu.
—Se precisar de ajuda...
—Ah, o chamaremos, garanto. –Estacionou o carro perto do nosso alvo. Era noite agora, mas logo amanheceria. –Tem gente na casa.
—Entre pelos fundos, eu vou pela frente.
—Ok.
Saí do carro, puxando a arma do coldre e dando a volta na casa. Pude ouvir exatamente quando Ressler chutou a porta principal, gritando. Arrombei a porta dos fundos e entrei, verificando cada cômodo rapidamente e indo pra sala.
Dois homens estavam de joelhos, mãos atrás da cabeça. Ressler fez um gesto rápido, a arma mirada nos suspeitos. O gesto era claro: “Verifique o resto”. Assenti e me virei, voltando para os cômodos anteriores. O último foi o quarto de Mandy. Olhei em volta, ela não estava ali. A não ser que...
Me abaixei e afastei a colcha rosa de flores. A menina estava embaixo da cama, encolhida e tremendo. Guardei a arma.
—Oi, eu vim te ajudar. Pode sair daí agora. –Ela fez que sim e rastejou na minha direção. A puxei dali, verificando se estava machucada. –Você está bem?
—Sim. –Piscou algumas vezes. –Você parece com a minha mãe.
—Preciso saber, quantas pessoas, fora você, tem nessa casa hoje?
—Duas. Dois homens. –Assenti. Então tudo estava limpo.
—Vem. –Levantei e peguei a mão dela, levando-a até a sala. Os homens estavam algemados agora. Outro agente estava auxiliando Ressler a levá-los pra fora. –Aonde você vai?
—Vou levá-los até a base mais próxima, volto logo. –Respondeu. –Vai ficar bem aqui?
—Vou. –Saiu. Sentei Mandy no sofá e peguei meu celular. –Qual é o nome da sua mãe?
—Jasmine Perez. –Respondeu. Disquei o número de Aram.
—Agente Mhoritz?-Perguntou.
—Sim. Preciso que identifique Jasmine Perez. A menina no vídeo é filha dela.
—Certo. O agente Ressler acabou de informar que está saindo para a base mais próxima.
—Isso mesmo.
—Aviso assim que tiver notícias.
—Obrigada.
O céu começou a clarear. Mandy ficou no sofá, quietinha, enquanto eu andava de um lado para o outro. Por que Ressler estava demorando tanto? Resolvi ligar para ver se ele estava chegando, quando houve um estouro alto e fumaça encheu a sala.
—Mandy!-Chamei, tossindo. –Mandy, onde você está?
A fumaça me fez engasgar, e me deixou tonta. Caí de joelhos, tentando ver alguma coisa. Mandy deu um grito alto, em algum lugar naquele caos. Vi um vulto grande, que não podia ser ela, correr.
—Mandy!-Saquei a arma, mas a derrubei e não consegui achá-la. Tudo estava girando.
Me apoiei na parede e levantei. Consegui achar a porta principal e saí. Um homem tinha Mandy no colo e correu para o carro. Estava todo de preto, capuz cobrindo o rosto. Apenas uma parte de pele era visível, o pulso, onde havia uma tatuagem familiar.
Caí de novo, antes que conseguisse fazer alguma coisa.
***
—Jen? Jen, acorda. –Rolei pro lado, tendo uma crise de tosse. Quando acabou, me sentei.
—Onde estamos?-Perguntei, Ressler me estendeu uma garrafa de água.
—Na base de apoio. O que aconteceu?
—Jogaram uma bomba de fumaça. Levaram Mandy. Apaguei. –Tossi mais uma vez. –Conseguiram informações?
—Perdi o contato com Aram, alguma coisa está interferindo no sinal da cidade toda. Temos que voltar. Você está bem?
—Vou ficar assim que tiver informações.
Conseguimos um vôo de última hora. Um minuto atrasados e teríamos que esperar horas e horas.
Alguma coisa naquele caso estava me incomodando. Quando finalmente chegamos a Washington, eu sabia o que era.
—Aram, conseguiu descobrir o que pedi?-Perguntei, me aproximando da mesa dele.
—Jasmine Perez é uma agente do FBI. Ela está em missão fora do país há quase dois anos. Nem mesmo a base dela, em Las Vegas, consegue entrar em contato com ela.
—Onde ela está?
—Parece que em algum lugar perto da Síria.
—Se ela não entra em contato, - Ressler perguntou. –então como sabem se ela está viva?
—Eles não sabem. –Isso não era nada bom. –Talvez o novo sequestro de Miranda seja uma retaliação de alguém contra a missão dela?
—Miranda?-Perguntei.
—O nome da menina.
—Ah. Não acho que seja isso. –Até porque eu tinha minhas suspeitas quanto ao novo sequestro. –Se a agente Perez está fora há dois anos, então a menina não tinha desaparecido ainda pela primeira vez.
—Não. Registros afirmam que ela foi sequestrada há um ano.
—Estranho que Reddington tenha nos mandando vigiar justo a casa onde Miranda Perez estava sendo mantida. –Ressler comentou. Eu não achava estranho, tinha entendido tudo.
—Preciso ir. –Avisei.
—Onde?
—Tenho uma coisa pra fazer, urgente.
—Jen...
—Volto logo.
***
—Me deixe passar, Demetri. –Mandei. Ele estava em frente à porta e não queria sair. –Agora.
—Não posso fazer isso.
—Eu vou atirar em você. Não se esqueça que sou do FBI e posso mandar prendê-lo. –Suspirou, então saiu da frente da porta. Passei por ele, que aproveitou e tirou minha arma do coldre. Red deve ter dito pra Demetri e Dembe me desarmarem sempre que eu parecesse irritada. E eu estava. –Onde ela está, Raymond?
—Ah, Jenna, não chegue gritando desse jeito. –Pediu, levantando do sofá. Uma figura pequena estava sentada, com um caderno de desenho em mãos, e vários lápis ao lado. Miranda Perez.
—Você a sequestrou! Eu sabia!
—Jenna...
—Por quê? Por que fez isso? A agente Perez também caçou você?-Se afastou da menina, me puxando para longe dela. Me soltei, indignada. –Comece a falar.
—Eu não sequestrei a menina. Eu a salvei. Mandei você e o agente Ressler para Los Angeles para verificar a localização da menina, e vocês localizaram. Li seu relatório. Foi então que eu soube onde ela estava. Então esperei. Como soube que tinha sido eu?
—A tatuagem no pulso de Demetri. Foi o que o entregou. O que vai fazer com a menina?
—Devolver para a mãe dela.
—E onde está a mãe dela?
—É o que eu pretendo descobrir. –Cruzou os braços. –Vai me entregar para o FBI?
—Não. Vou fazer pior. E já fiz, na verdade.
—O que você fez, Mhoritz?
—Te entreguei para Elizabeth Keen. E ela está furiosa.
—Sequestrar uma criança?-Lizzy gritou, entrando na sala. Mandy arregalou os olhos. –Como você pode, Red?-Sorri.
—Boa sorte.
Fui em direção à porta, enquanto Keen gritava com Red. Demetri me barrou e entregou minha arma.
—Posso falar com você?-Perguntou. Assenti, então o segui para longe do alcance das pessoas discutindo na sala.
—O que foi?
—Sobre o que houve...
—Não deveria ter acontecido, e não vai acontecer de novo.
—Jen...
—Demetri, aquilo com um erro. Eu amo Donald, não posso... Isso não pode continuar.
—Mas, Jen... Aquela... Foi a melhor noite da minha vida.
—Lamento, mas não vai se repetir. Se quiser, podemos continuar a sermos amigos, e vamos nos encontrar o tempo todo, até Dembe voltar. Então... Seria melhor que entendesse que nada maior pode acontecer.
—Jenna...
—Espero que entenda. –Me virei e saí.
***
—Alguém viu a agente Keen?-Aram perguntou. Segurei o riso.
—Não. –Menti. O homem deu de ombros e voltou a digitar.
—Deixe-me adivinhar. –Ressler pediu. –Você não vai dizer onde estava.
—Acertou. E o caso de Miranda Perez?
—Meera passou para outra equipe, afinal... Somos a equipe da “Lista Negra”.
—Certo. Equipe de Red. - Deu um passo na minha direção, tocando meu rosto.
—Não devia ter te deixado sozinha.
—Eu estou bem. Não tentaram me machucar. –Como Demetri era o “sequestrador”, eu duvidei que ele fosse fazer isso. –Está tudo certo. –Alguém limpou a garganta, era Meera, parada perto de nós. Ressler e eu nos afastamos rapidamente.
—Mhoritz, Friedman veio falar comigo. –Ela avisou. Ih, já era.
—E...?
—Muito bem. Não vou dispensá-la ou demiti-la. Você parece bem. Apenas aconselho que continue a ir falar com a Dra. Friedman. –Ah, mas não mesmo!
—Tá. Tudo bem.
—Ótimo. –Se virou e saiu.
Me perguntei se Lizzy já tinha terminado de gritar com Red.