—Me deixem em paz!-Gritei, acertando um tapa no espelho.

Um corte de abriu na palma da minha mão, e vidro se espalhou pela pia do banheiro. Me sentei no chão, sangue e lágrimas escorriam. Eu não estava bem.

Dias atrás conversei com Red, após tentar me matar com medicamentos, e ele me avisou que eu estava sendo assombrada por meus próprios fantasmas. Ele também disse ser impressionante que eu não tinha pirado ainda, depois de tanta coisa que fiz.

Era melhor ignorar isso, mas eu não conseguia. Meera me afastou por mais algum tempo, dizendo que eu precisava me “acalmar” antes de voltar ao trabalho. Isso me deixou zangada. Eu não estava louca. Estava apenas passando por uma fase ruim. Bem ruim.

Enfaixei a mão machucada e fui para a cozinha, pegando uma garrafa de bebida do armário. Dan havia me dado de presente no meu último aniversário.

Eu não era muito de beber, mas no momento parecia ser a melhor opção, considerando o estado que fiquei quando enchi a cara com Daniel e Paul uma vez. Cheguei até a esquecer meu nome. Seria perfeito no momento.

Após terminar a garrafa, peguei minha carteira e fui para o mercadinho mais próximo. Peguei uma nova garrafa e me sentei numa praça. O corte na minha mão ardia, mas não podia fazer nada. Era melhor deixar assim, por enquanto.

***

—Jenna. –Me sentei, olhando em volta. Eu estava encostada em uma árvore, onde devia ter dormido. Ressler estava na minha frente, mais preocupado impossível. As coisas pareciam borradas, e eu estava meio tonta. Ainda devia estar sobre os efeitos do álcool.

—Ress, que é?

—Estão te procurando há três dias.

—Três? Fiquei tudo isso apagada?-Esfreguei a testa.

—Não. Testemunhas disseram que você está bebendo aqui há três dias. –Uau, eu não me lembrava de nada, devia estar mesmo bêbada.

—Ah.

—Vem. –Estendeu a mão. –Você precisa ir pra casa.

—Não. -Recuei. –Eu tô legal.

—Jen, vamos.

—Sai daqui, Ressler. –Dei um tapa na mão dele. –Não vou a lugar algum.

—Você saiu de casa e está bêbada. Precisa voltar.

—Eu não quero. Lá os fantasmas gritam mais alto.

—Que fantasmas?

—Aqueles que eu matei em vida. –Abracei os joelhos. –Eu sou uma assassina, não sabia? Eu matei muita gente.

—Jen. –Me afastei mais um pouco. Eu estava bem suja, e com um cheiro nada bom. Com certeza passei três dias caída por aí, bebendo. –Você só está bêbada.

—Estou com a consciência pesada, eu diria. Mas não importa. A bebida me ajuda. Ela é boa comigo. –Ressler suspirou.

—Você não sabe o que está dizendo.

—Não, eu sei sim. Eu... Você tem dinheiro com você? Acho que perdi minha carteira.

—Acho que não perdeu, apenas gastou tudo em bebida. –Revirei os olhos.

—Dez dólares serve. Quando puder te pago.

—Jen.

—O que? Eu não vou voltar pra casa. –Me levantei, precisando me apoiar na árvore, então comecei a me afastar.

—Jenna!

—Me. Deixa. Em. Paz. Você não pode ter nada comigo, Ress. Eu não estou bem. Sou maluca. Fique com uma garota normal.

—Talvez eu não queira uma garota normal. –Dei de ombros.

—Sinto muito. Mas eu não sou boa pra você. Nem pra ninguém. É melhor não me seguir, sério.

***

—Jenna?-Olhei pra cima. Keen se aproximou, devagar. –Você está bem?

—Acho que sim. –Eu estava deitada em um banco, abraçando uma garrafa quase vazia de bebida. Me sentei. Como é que fui parar ali?

—Tem que ir pra casa. Precisa de ajuda.

—Eu tô bem. Enquanto estiver bêbada, tô salva dos fantasmas.

—Jenna, você está três dias na rua. –Apontou pra mim. –Onde estão seus sapatos?

—Devo ter vendido pra conseguir comprar bebida. –Dei de ombros. –Tô bem sem eles.

—Você não está bem.

—Claro que tô. Sem fantasmas eu fico bem. E eles não podem falar comigo quando estou assim. –Dei um último gole na garrafa. Um rapaz se aproximou.

—Consigo outra dessas se tiver mais alguma coisa pra trocar. –Ele disse. Acho que vendi meus sapatos pra ele anteriormente.

—Eu... –Keen puxou algo do bolso, mostrando pro rapaz.

—FBI. Se não sair daqui agora, prendo você por tráfico. –Foi tudo o que ela disse. O rapaz saiu correndo.

—Elizabeth! Cara, agora onde eu vou arrumar outra garrafa?

—Simples, não vai. Beber não faz bem à saúde.

—Virou médica agora? Vai embora, Keen, eu tô bem.

—Jenna...

—Vai. Vai. Me deixa em paz. Eu me viro. –Ela suspirou, e foi embora.

***

Empurrei a porta. Não abriu. Eu tinha perdido as chaves do apartamento. Ótimo.

Desci até o primeiro andar, batendo no balcão para chamar a atenção do porteiro. Ele logo apareceu, parecendo surpreso em me ver. Me apoiei na ponta dos pés, os dois estavam cortados e doendo muito.

—Preciso da chave extra.

—Ah, só um segundo. –Procurou em uma gaveta, então me entregou. –Aqui.

—Tá. –Me virei pra subir a escada, parei. –Hã... Qual é o número do meu apartamento mesmo?

—Trezentos e dois, senhorita.

—Ah. Valeu.

Subi o mais rápido que meus pés machucados permitiam. Entrei no apartamento e fui direto para a cozinha, procurando alguma coisa com álcool. Não encontrei.

—Olá, Jenna. –Me virei, colocando a mão no peito.

—Quase me matou de susto, inferno.

—Procurando por isso?-Apontou com a cabeça para a garrafa de Natasha ao seu lado. Tentei alcança-la, mas Red a tirou de perto de mim. –Sabe que não pode beber.

—Eu sei?-Estendi a mão. –Me dá, só um pouquinho. A gente divide.

—Jenna, está indo longe demais.

—Eu só quero calar os fantasmas.

—Beber não vai ajudar. Só vai piorar a situação daqui pra frente.

—Então o que sugere? Você pode me ajudar?

—Posso.

—Com a garrafa?-Ele suspirou e a atirou no chão. Me joguei perto dos cacos, querendo recuperar o líquido. Sabia que era idiotice, mas eu estava bêbada ainda. –Red!

—Você não está tentando apenas calar os fantasmas, Jenna, está tentando morrer lentamente.

—Eu não sei lidar com isso.

—Isso o que?

—Culpa. –Algumas lágrimas escaparam. Reddington se abaixou ao meu lado.

—Vou ajudar você.

—Vai me ajudar a calar essas coisas?

—Sim.

—Eu posso confiar em você?

—Pode.

—Então tá. Me ajude, por favor.

O mundo girou. Fechei os olhos, abraçando a escuridão.

***

Abri os olhos e me sentei, estava em um quarto totalmente estranho.

Me levantei, saindo por uma porta de vidro, que dava em um jardim. Meus pés estavam enfaixados, e eu não lembrava por que. Toquei a água da piscina com o pé. Estava fria.

Não muito longe estava o mar, agitado. Franzi o cenho. Onde estava?

—Algumas pessoas se acalmam na praia. –Red disse. Ele estava sentado, não muito longe de mim. –Talvez você seja uma delas.

—Raymond. O que estou fazendo aqui?

—Você não queria ajuda?-Me aproximei dele.

—Não lembro muito bem. Vai mesmo fazer isso? Me ajudar?

—Sim.

—Por quê?

—Por que você é especial, Jenna. –Cruzei os braços.

—Especial como?

—Vai saber. Agora, - Se levantou. –vamos começar.

—Começar com o que?

***

SEMANAS DEPOIS...

—Jenna?

—Oi. –Murmurei. –Reddington não avisou que eu estava voltando?

—Avisou, eu só não esperava vê-la tão rápido. –Meera deixou uma pasta na mesa e cruzou os braços. –Como está?

—Bem, eu acho. –Olhei em volta. –Ressler está por aí?

—Na sala dele.

—Obrigada. –Me afastei, seguindo na direção da sala de Ress. Eu não sabia como ele reagiria com a minha volta, mas ia descobrir. Bati na porta. Ele parecia bem surpreso. –Posso entrar?

—Pode, claro.

—Eu... –Limpei a garganta. –Não sou boa com essas coisas, então... É... Será que pode me dar uma segunda chance?