Dangerous

Fantasma Renascido


—Essa é uma grande diferença entre você e Donald. –Red comentou, jogando xadrez com seu “capanga”. Sim, eu sei que ele não era realmente isso aí, e sim um segurança particular, mas eu não podia evitar chama-lo assim, principalmente por não saber o nome dele. –Ele não atirou no cara que considerou responsável pela morte de Audrey, mas você atirou no cara que matou Ressler.

—Ele não está morto. –Parou no meio de uma jogada, a rainha ficou no ar. –Eu o vi, há dois dias. Estava ferido, mas vivo.

—Precisamos conversar, a sós. –O homem à sua frente saiu, Red fez um gesto que para que eu sentasse no lugar dele, então começou a arrumar o jogo. –Não andou bebendo de novo, não é?

—Não estava bêbada. Estava perseguindo o “entregador” do seu criminoso. O perdi de vista, então Ress estava lá. Ele correu, eu corri... Mas ele sumiu.

—Jen...

—Era ele, Raymond. Eu sei que era.

—Pelo jeito não contou a ninguém. –Apontou para o tabuleiro, já organizado. Fiz a primeira jogada, não lembrando da função de cada peça.

—Iam me achar louca.

—Então por que contou a mim?

—Por que você me acha louca, mas me ouve. –Tirou um dos meus piões do jogo. Movi outra peça.

—Isso é verdade. –Outro pião meu fora. Suspirei. –Vou mandar alguém procurar. Prometo.

—Então acredita em mim?-Mais um pião perdido.

—Acredito. Onde o viu?

—Naquela ruazinha estreita entre o restaurante chinês e a boate nova, perto da praça.

—Ok. Xeque-mate. –Olhei para o tabuleiro.

—Nem vou perguntar como fez isso.

***

Só falei para Red mesmo sobre Ressler estar (supostamente) vivo. Keen não me chamaria de louca na cara dura, mas não acreditaria em mim. Meera me afastaria do trabalho de vez. E... Pra quem mais eu contaria?

Naquela semana foi bem difícil trabalhar. Acho que liguei de dez em dez minutos para Reddington, perguntando se ele havia encontrado Ressler. Ele devia ter uma paciência enorme, pois atendeu todas as vezes só pra dizer que não. Queria saber por que ele me tratava tão bem.

“-Vai mesmo fazer isso? Me ajudar?

—Sim.

—Por quê?

—Por que você é especial, Jenna. –Cruzei os braços.

—Especial como?

—Vai saber.”

Que papo era aquele, ein? Foi bem bizarro.

Voltando: ninguém sabia de nada, e Meera não entendeu quando pedi licença para resolver um assunto pessoal urgentemente. Assim que ela me liberou, corri para casa de Red.

—E então?-Perguntei. Ele tirou alguns papéis de uma gaveta e jogou na mesa entre nós. Fotos de Ressler e algumas pessoas que eu não conhecia.

—Donald foi salvo por uma viúva e seus filhos mais velhos. Não se lembra de nada, e fugiu de quem o ajudou, sem explicações. Desde então está rondando por aí, sem saber quem é, ou o que aconteceu.

—Não o levaram a um médico?

—A mulher era enfermeira, e cuidou dele. Não teve muitos ferimentos tirando o ferimento da bala. Ao que parece, bateu a cabeça numa pedra e esqueceu de tudo.

—Alguém está atrás dele?

—Sim. Nesse exato momento dez pessoas contratadas por mim estão vasculhando a cidade atrás dele. Quando o encontrarem, você será a segunda a saber.

—Tudo bem. –Olhei para as fotos. Tinha que encontra-lo.

***

Eu simplesmente não aguentei esperar por notícias. Saí atrás de Ress sozinha, indo aos lugares que vi nas fotos. Donald tinha que estar em algum deles.

Acabei deixando o carro num estacionamento qualquer, e fui andando. Assim seria mais fácil, porém mais cansativo. Dane-se, por Ressler eu andaria descalço no fogo se fosse preciso.

Mostrei a foto dele pra algumas pessoas, muitas sacudiam a cabeça negativamente, mas um ou outro afirmaram que haviam o visto, e apontavam, sempre para direções diferentes.

Continuei andando, já devia passar da meia noite, mas eu não ia pra casa sem Ressler.

Em uma rua qualquer, distraída, bati com tudo em alguém. Por alguns segundos pensei que o destino estava me ajudando e me fez esbarrar em Donald, mas quando ergui a cabeça... Só pude me afastar, de boca aberta. Não era Ress, era um fantasma.

—Não... Você... Você está morto.

—Jen?

—Tem três segundos pra explicar tudo, ou vou te dar um tiro.

—Jen, sou eu. –Me puxou pra frente, me abraçando. Fechei os olhos, respirando fundo. Daniel. Daniel estava ali. Vivo. Quando é que as pessoas iam parar de aparecer, mortas primeiro e vivas depois?

—Você foi assassinado... Na base... Eu... Eu vi.

—Posso explicar, mas... –Olhou em volta. –Não aqui. Vem comigo, e eu te digo tudo.

—Eu... Eu não posso, estou procurando...

—Jenna, por favor. Me deixe explicar.

—Tá. –Ele segurou minha mão, me puxando para dentro de um prédio. Entramos em um apartamento pequeno e bagunçado no terceiro andar. Verifiquei meu celular, sem chamadas ou mensagens de Red, ou seja: nada de Donald.

—Senta. –Me joguei em um sofá marrom e esfreguei o rosto com as mãos. Minha vida estava parecendo uma série policial fantasiosa e isso não era bom.

—Dan... Sério, que diabos aconteceu? Eu te vi morto. Vi todos... Os outros, eles estão vivos também?

—Não. Infelizmente não. –Se sentou ao meu lado, pegando minha mão de novo. –Sobrevivi ao ataque contra nossa equipe, mas... Aqueles tiros pegaram partes importantes de mim, então tive que ficar fora de cena por um tempo. Passei muito tempo em um hospital na Carolina do Norte...

—O que estava fazendo lá? Por que não aqui?

—Por que fomos atacados, Jen! Eu não sabia quem havia feito aquilo, mas pensei que podiam voltar. Achei que todos estavam mortos, então... Era melhor ficar longe. Mas então descobri que você estava viva e vim atrás de você.

—Há quanto tempo voltou?

—Dois meses.

—Por que não me procurou antes?-Deu de ombros.

—Você achava que eu tinha morrido. Eu não podia simplesmente voltar, não é?-Olhou para nossas mãos, então sorriu. –Só tenho você agora, Jen. O importante é que voltei.

—Não sei se te dou um tiro ou um abraço. –Riu.

—Você não mudou nada.

—Mudei, não faz ideia do quanto.

—O que está fazendo agora?

—Cooper me chamou. Agente do FBI.

—Jura? Não consigo te imaginar fazendo relatórios e obedecendo ordens.

—Imagine, porque é real.

—Agora que voltei... Agora que sei que está viva e bem... Tenho que contar uma coisa.

—O que? Não me dê notícias ruins, Dan, depois de tanta droga acontecendo comigo nos últimos dias, se me der uma notícia ruim eu vou me matar.

—É boa, eu acho. Depende do ponto de vista...

—Que?-Mal pisquei e Daniel já tinha soltado minha mão e tinha me puxado para me beijar. Recuei segundos depois, levantando.

—Jen... O que foi?

—Eu... É que...

—Eu te amo, ok? Te amo desde que iniciaram o projeto.

—... Eu to apai... Que?-Olhei pra ele, saindo da minha linha anterior de raciocínio: eu amava Ressler. –Éramos amigos, Dan.

—Por que você recuou, desde o início. –Levantou também, se aproximando. Dei um passo para trás.

—Tenho uma novidade: estou namorando e apaixonada. Não posso... E... Nesse momento as coisas estão bem confusas. –Meu celular tocou.

—Jen, só me ouve...

—É que eu... Só um segundo. –Atendi. –Sim?

—Achei seu namorado. –Reddington avisou. –Está bem onde o achou da última vez.

—Mas... Estou bem perto, já estou indo.

—Se apresse.

—Tá. –Desliguei. –Eu tenho que ir. –Fui pra porta.

—Jenna... –Daniel começou.

—Eu realmente tenho ir, Dan. –Ele me seguiu. Apressei o passo. Ressler estava ali perto. Pouco antes de chegar, Daniel puxou meu braço.

—Precisamos conversar.

—Não agora. Eu... Sério, estou no meio de um problema. Tenho que encontrar alguém.

—Jen...

—Não. Agora não, Daniel. Por favor. –Soltei meu braço e continuei andando.

Parei próxima à rua onde encontrei Ressler, então olhei em volta. Uma figura familiar chamou minha atenção. Donald estava sentado no chão, a cabeça encostada em uma parede atrás de si. Parecia muito mal.

—Ress. –Chamei. Ele levantou e recuou. Pude ouvir Daniel atrás de mim, mas ignorei. Tinha que me focar em Ressler agora. –Está tudo bem. Você não se lembra de nada, mas eu sim. Conheço você, e você me conhece. Só quero ajudá-lo. –Recuou um pouco mais. Fiquei tentada em correr e abraça-lo. –Não vou te machucar. Pode confiar em mim. Éramos muito, muito próximos. –Estendi a mão, devagar. –Vem comigo, e eu vou ajudar você.

Ele parou, só olhando pra mim. Prendi a respiração. Ele ia correr, não ia? Exatamente como fez da última vez. Daniel ainda estava atrás de mim, mas nem se mexeu, sabendo que sua presença estava deixando Ress ainda mais intimidado.

—Jen. –Donald murmurou, dando alguns passos pra frente. –Jenna. –Não resisti, e acabei dando os passos necessários e o abraçando. Ele retribuiu. –Jenna. Jenna.

—Tudo bem. Vou cuidar de você, prometo.

***

—Parece coisa de filme. –Keen comentou, parada na porta. Eu estava ao lado dela, vendo enquanto uma enfermeira terminava de lidar com Ress. Ele não se lembrava de nada além de mim, e me pediu para ficar ali. –Não acredito que o achou e que ele se lembra de você.

—Tudo tá parecendo um filme recentemente. –Achei melhor não falar sobre Daniel. Ele havia ido embora assim que liguei para Red, pedindo ajuda. –Acho que vou pirar. –A enfermeira veio até nós, lançando um rápido olhar por cima do ombro.

—Ele vai ficar bem, só precisa descansar agora. –Avisou.

—Eu posso ficar?

—Claro que sim. –Saiu. Keen se despediu e fez o mesmo. Me aproximei de Ressler, devagar.

—Se importa se eu ficar aqui com você?-Fez que não. Me sentei na poltrona ao lado da cama. –Sabe, uma vez você se machucou, e teve que ficar em coma induzido. Fiquei com você no hospital.

—O que quis dizer com “próximos”, antes?-Perguntou.

—Somos namorados.

—Sério?-Sorri.

—Me deixe te contar uma história sobre uma assassina mal educada e um agente irritantemente loiro do FBI...