Dangerous

Expostos Pela Luz


Notei algo errado assim que saí do elevador. Todo mundo parecia agitado, quase como estavam quando Cooper havia desaparecido.
Aram estava digitando rapidamente no computador, como se fosse seu objetivo de vida, era até meio assustador. Ressler andava de um lado para o outro falando no celular, assim como Keen e Meera. Tinha alguma coisa acontecendo, e não era bom.
—Quem sequestraram agora?-Perguntei. –Não me digam que é Reddington.
—É quase pior. –Aram disse, então imagens apareceram no grande telão. Quase engasguei. Não. Podia. Ser.
—Ah, merda.
Eram imagens da Dangerous. Eu, Paul, Ivan, Luke e Daniel. Nossos alvos, pastas que não deveriam estar nas mãos de ninguém... Informações sobre a Dangerous... Tudo exposto na mídia.
—O que... Como...?
—Simplesmente apareceu no jornal, sem aviso. –Aram respondeu. –O mundo todo está falando sobre isso. –A legenda abaixo das imagens era tão preocupante quando a imagem: “Estados Unidos mantém organização assassina”.
—Como eles conseguiram essas fotos e esses documentos? Como?
—Ninguém sabe. Estamos tentando entrar em contato com as emissoras que estão transmitindo essas coisas, mas nenhuma delas quer comentar o caso.
—Emissoras? É mais de uma?
—Todos os jornais estão falando sobre isso. Até os digitais e os impressos. –Me entregou um exemplar do The Washington Post, onde a primeira página já mostrava sobre a Dangerous: “Assassinos pagos pelo FBI: saiba tudo sobre a organização conhecida como Dangerous”.
—Isso não é nada bom. –Larguei o jornal na mesa. –Esses arquivos... Eles não foram destruídos quando o FBI me transferiu, encerrando o projeto?
—Achávamos que sim. –Cobri o rosto com as mãos. Depois de anos agindo nas sombras... Fomos expostos pela luz.
—Jen. –Ress chamou, me fazendo virar para encará-lo. –Está bem?
—Todo mundo sabe sobre mim agora. –Disse. –Isso não é nada bom. Eles... Fui exposta, Donald. Completamente exposta.
Movimentos na rua e na internet começaram. Todos contra Dangerous. Todos querendo respostas. Todos enfurecidos com os assassinos. Por que era isso o que éramos: assassinos.
Respostas estavam sendo exigidas do governo. O presidente estava sendo pressionado, mas ele não sabia de nada, nenhum presidente jamais soube da Dangerous. Nós éramos problema do FBI, apenas isso. E agora que a ligação estava exposta, eles também estavam sendo cobrados.
A CIA se meteu, querendo saber por que o FBI mantinha uma “organização assassina”. Eu teria os mandado para o inferno, mas as relações entre FBI e CIA não iam muito bem, então todo cuidado era necessário. Meera estava se dobrando em duas para conseguir uma explicação plausível, sendo que até eu entrar pra equipe, ela não sabia sobre ela.
—Quem devia estar fazendo isso é Cooper. –Ela reclamou, se preparando para outra ligação.
Muita gente estava ocupada tentando fazer com que a mídia parasse de divulgar informações sobre a Dangerous, mas depois que o FBI foi identificado como responsável pela equipe, era difícil fazer alguma coisa.
Quem havia vazado as informações? Quem havia feito tudo isso? Quem começou aquele caos?
Havia apenas três pessoas vivas (e não desaparecidas) que tinham acesso à tantas informações assim sobre a Dangerous: eu, o diretor do FBI, e Daniel. Eu nunca faria algo assim, e o diretor não ganharia nada complicando sua organização. Sobrava Daniel.
***
—Foi você, não foi?-Perguntei, sentada em frente a ele. Daniel olhou pra mim, através do vidro.
—Do que está me acusando agora?
—Informações sobre a Dangerous vazaram. O mundo todo está falando disso, e ninguém está contente. Você fez isso? Entregou as informações para a mídia?
—O que? Acha que sou doido? Estou em uma cela especial desde que vim pra cá, porque se algum preso me reconhecer como Dangerous, eu vou ser morto. E isso tem muito mais chance de acontecer agora que a mídia está falando disso.
—Tem TV aqui?
—Tem. –Franzi a testa. Que tipo de presídio colocaram Daniel? Ele devia ter sido colocado num que ficasse no deserto, onde os presos quebravam pedras e coisas assim. Ou, melhor ainda, num presídio brasileiro, onde enfiam trinta presos onde só cabe cinco. Daniel suspirou. –Vão me matar aqui dentro.
—O destino é vingativo.
—Não tem pena? Costumávamos ser amigos.
—Você atirou na cabeça de Paul, Ivan e Luke. Eram amigos também. Então não me venha falar em amizade, Daniel Vidar.
—Jen... –Coloquei o telefone no lugar, me preparando parar ir. Daniel pôs a mão no vidro, o olhar estranho. Havia algo errado com ele, eu só não conseguia imaginar o que era. Apontou para o telefone, insistindo na conversa. Fiz que não com a cabeça e me afastei. Ele bateu com as mãos no vidro, largando o telefone ao lado dele.
Saí sem olhar para trás. Se ficasse... Talvez esquecesse tudo o que ele havia feito.
***
—Então é aí que se escondeu. –Olhei pro lado. Reddington entrou na sala e sentou ao meu lado, tirando o chapéu. Eu tinha ido até um dos pequenos depósitos da base, onde sabia que ninguém ia com toda confusão que estava acontecendo. –Não está fácil, não é?
—Fui exposta.
—Sei como se sente. –Olhei pra ele.
—Já traíram você?
—Alguém muito próximo a mim tentou me matar. Foi o responsável, na verdade. Uma operação muito grande, que não é necessária te contar agora. Mas sim, já me traíram. Vou te ajudar, Jenna. Vamos encontrar quem fez isso.
—Por que está sempre me ajudando?
—Você não é uma Dangerous? Descubra. –Passamos alguns segundos em silêncio.
—Todo mundo lá fora me odeia.
—Eles não te odeiam, eles te temem. O medo faz as pessoas fazerem coisas idiotas.
—Então eles estão com medo de mim?
—O diferente assusta. Você é diferente.
—Não sou a única assassina do mundo.
—Não. Mas é a única que tem ligação com organizações que protegem. Nunca se viu uma situação assim. –Assenti, olhando pro chão. –E então, vai ficar parada aqui tentando não chorar, ou se levantar e caçar quem expôs você?
—Não estou tentando não chorar.
—Estava. Frustração te dá vontade de chorar. –Abri a boca, mas nada saiu por um tempo.
—Como sabe disso?-Deu de ombros.
—Conheço você, Mhoritz, mais do que imagina. –Se levantou e colocou o chapéu, enquanto eu tentava entender o que ele quis dizer com aquilo. –Vamos?-Respirei fundo.
—Vamos.
***
—Quem são todas essas pessoas?-Perguntei, olhando em volta.
—Ninguém com quem deva se importar. Todos estão rastreando e hackeando sites e emails dos jornais que estão falando sobre a Dangerous.
—E estão fazendo isso desde quando?
—Desde hoje cedo. –Cruzei os braços.
—Como sabia que eu ia aceitar “caçar” os responsáveis pelo vazamento das informações?
—Apenas sabia.
Estreitei os olhos na direção dele. Fui ignorada, enquanto Red andou até um cara de óculos que estava perto de nós, digitando em um computador. Caramba, Raymond tinha sua própria agência. Por que não caçar os criminosos de sua lista sozinho? Era óbvio que ele podia fazer algo assim.
—Ao que parece, - Começou, se aproximando de novo. –o Nottice foi o primeiro jornal a receber as informações sobre a Dangerous.
—E essas informações vieram de onde?
—Isso nós já vamos descobrir.
***
—O senhor Calliar não pode recebê-los agora. –A recepcionista disse, olhando de modo desconfiado e assustado para Red e eu. Mexi nos óculos escuros que estava usando, independente de ser noite. Além disso, o capuz ajudava a esconder um pouco quem eu era. Não podia sair por aí livremente depois do mundo inteiro saber que sou uma Dangerous.
—Ah, mas ele vai nos receber. –Red avisou, indo até o elevador.
—Senhor, eu não posso deixá-lo subir. –Ela se levantou e ficou no caminho dele.
—Não estamos pedindo permissão. Estamos avisando que vamos subir e ver Michael.
—Isso não vai poder acontecer. Tenho que perguntar primeiro se o senhor Calliar... –Red bufou, fazendo um gesto pra mim de “vá na frente”. Me aproximei da mulher e acertei um soco nela, fazendo-a cair, apagada.
—Devia ter feito isso antes.
—Fica quieto. –Mandei, seguindo-o até o elevador.
Michael Calliar era o único no prédio da Nottice, nome do jornal impresso e audiovisual, do qual ele era dono. Red e eu subimos até o último andar e entramos na sala de Michael, que pareceu muito nervoso do nada após olhar para Reddington e eu. O que? Estávamos assustando os outros? Devíamos ser uma dupla e tanto. Um cinquentão elegante e uma garota sem expressão tocam o terror mais do que se pode imaginar.
—Boa noite, Michael.
—Vou chamar os seguranças se não saírem. –Avisou. Red olhou pra mim por alguns segundos e suspirou.
—Seus seguranças estão adormecidos lá em baixo. –Comuniquei. –Não vão poder te ajudar. –Tirei os óculos e abaixei o capuz do casaco. Michael arregalou os olhos. –Pela expressão de medo, você me reconheceu. –Engoliu seco.
—O que querem aqui?
—Conversar. –Red respondeu, puxando uma cadeira e sentando. Me apoiei no encosto da cadeira dele, olhando atentamente para Michael. –Como conseguiu as informações sobre a Dangerous?
—Não sei.
—Precisa que Jenna refresque sua memória?–Sorri.
—Eu adoraria. –Alertei.
—Acho que não posso impedi-la, caso ela tente.
—Eu já disse que não sei!-Michael gritou, a expressão de medo no rosto dele era verdadeira. Ele realmente nos via como ameaças.
—Não sabe ou não pode falar?
—Ele disse que mataria minha mulher e meus filhos caso contasse alguma coisa. Mandou que eu divulgasse as notícias ou faria isso.
—Ele quem?-Silêncio. As mãos de Michael tremiam. –Se colaborar, ajudamos sua família. Damos proteção a todos. E acredite, eu posso fazer isso. –Tentei não demonstrar surpresa. Red estava falando sério?
—Shane Kammil. Ele me passou as informações. –Não reconheci o nome, mas Reddington sim. Assentiu, se levantando. Michael parecia não ter forças pra fazer o mesmo.
—Ótimo. –Coloquei os óculos, me preparando pra sair. –Mais uma coisa...
Foi muito rápido. Quando vi Red já tinha a arma em mãos e disparou contra a cabeça de Michael. Isso com certeza foi espantoso.
—Por que essa cara, Jenna?-Perguntou, guardando a arma.
—É fácil esquecer que você é um criminoso. –Sorriu.
—Vamos encontrar Shane. –Fomos para o elevador.
—Você o conhece?
—Sim, e aposto que sei onde ele está.
***
—Pra quem você está trabalhando agora?
—Pra ninguém!
—Então quem te passou as informações?
No caminho para o apartamento sujo e bagunçado de Shane, Red me contou que ele não era a mente por atrás de tudo. Kammil trabalhava como... O faz-tudo de criminosos de grande porte. Se alguém precisava passar informações, Shane passava. Se alguém precisava sumir com uma testemunha, Shane sumia. Carros roubados? Shane roubava. Armas e drogas? Sim, com Shane.
—Só vou perguntar mais uma vez antes de estourar sua cabeça. –Red avisou. Eu estava chocada em ver esse lado dele, se bem que nem devia. Sabia que Raymond Reddington não era o mocinho, mas ver o vilão dele era chocante. –Quem. Passou. As. Informações. Sobre. A. Dangerous? Quem queria que isso vazasse?
—Clint! Clint Abernathy!-Gritou, chorando. Era meio surpreendente ver um cara de quase três metros, todo tatuado e com músculos chorando de medo. –Ele tá puto porque a Dangerous matou o filho dele. Disse que ia ferrar com tudo e me mandou entregar as informações pro Calliar e manda-lo passar pra frente, pro resto da galera da TV e dos impressos.
Tentei me lembrar do nome dito por Shane. Não conhecia nenhum Clint Abernathy, mas ele devia ser pai de Robert Abernathy, um traficante de crianças e mulheres que matei diretamente no tempo de Dangerous.
Red pareceu satisfeito, havia conseguido a informação. Então, quando Shane parecia prestes a se acalmar... Levou um tiro na cabeça, o que me surpreendeu de novo. Cara, Reddington estava muito irado pelo jeito, saindo por aí, atirando na cabeça dos outros. Nem eu, afetada por tudo, estava daquele jeito.
—Continua surpresa por me ver matar?-Red perguntou, chutando a cadeira onde amarrei Shane, fazendo-a cair no chão com o homem.
—Sinceramente? Sim. Depois de tanto tempo de convivência... Acho que me esqueci das coisas que faz. Onde encontramos Abernathy?
—É o que vou descobrir agora. –Saímos do prédio, entrando no carro. Logo estávamos na estrada. Meu celular tocou. Ressler. Rejeitei a ligação. –Não vai atender?
—E dizer o que? Que estamos rodando a cidade e matando pessoas? Ele vai surtar. –Guardei o celular no bolso.
Ress ia ter que esperar essa caçada louca terminar.
***
Clint Abernathy morava em Miami. Red me fez ir até lá com ele. Era o desfecho da nossa caçada.
—Então você é Clint Abernathy, o homem responsável por expor a Dangerous. –O homem se virou, surpreso em ver Reddington e eu sentados em seu sofá. Ambos com armas em mãos. Ele era alto, devia ter uns sessenta anos, cabelos grisalhos... Nada parecido com quem eu imaginava ser seu filho.
—E essa é Jenna Mhoritz. –Olhou pra mim. –Você eu não sei quem é.
—Nem vou me apresentar, não é necessário. Por que isso tudo? Por que coletar informações sobre a Dangerous e jogar tudo na mídia?–Clint apontou pra mim, sem me olhar.
—Ela matou meu filho. Matou Robert.
—Ele era um traficante de mulheres e crianças. –Comentei. –O que queria que eu fizesse? Desse um troféu?
—Robert fazia coisas erradas, mas mesmo assim era meu filho.
—Devia tê-lo educado melhor. Coisa que percebi que não fez.
—Sua... –Red atirou, Clint caiu de joelhos. O tiro pegou na coxa.
—Não gosto que falem dessa maneira com Jenna. –Avisou, calmamente, como se não tivesse atirado no cara. –Peça desculpas. –Pisquei, confusa, mas não disse nada. –Estamos esperando.
—Nunca. –Atirou na outra coxa de Clint. Caramba, eu convivia quase diariamente com Red, e havia me esquecido da natureza dele. Agora, com o que estava acontecendo... Ele estava ali, me lembrando de quem realmente era.
—Vou atirar de novo. Posso fazer isso a noite toda.
—D-desculpa. –Um tiro no ombro.
—Mais alto.
—Desculpa. –Red sorriu.
—Ótimo, melhor assim. –E atirou na cabeça de Clint.