Dangerous

Esconderijo Invadido de Novo


Sem surpresa alguma, Ressler passou a me ignorar. Mesmo que estivéssemos juntos grande parte do tempo, por causa da lista de Red. Keen parecia ter me aceitado de volta sem problemas e sem mágoas, mas Ress não. Ele estava com muita raiva.

Tentei me focar só no meu trabalho, perseguir criminosos e prendê-los. Mas não estava fácil. Bem que podia existir um botão na nossa cabeça, que desativava os sentimentos. Isso seria útil.

Depois de uma semana com Ressler me dirigindo poucas palavras (necessárias) e olhares frios, eu desabei. Sabia que tinha o magoado, que tinha mentido e desaparecido, mas não precisava ser assim. Caramba, podíamos apenas conversar e tentar nos acertar, certo? Não pra ele.

Naquele dia, enquanto todos se ocupavam com relatórios, eu estava em uma das salas, atirando contra alvos. Tinha que colocar tudo pra fora, e sabia que como não era de conversar, certamente atirar em algo ia me fazer bem. Keen até se ofereceu pra me ajudar, mas eu acabei dispensando.

—Posso mesmo falar com Ressler, se isso ajuda. –Ela insistiu, parada na porta enquanto eu recarregava a arma. –Posso tentar pelo menos... Convence-lo a falar com você.

—Não precisa.

—Sério, Jenna. Ele falou comigo, está muito chateado. Posso aconselhá-lo a falar com você.

—Ele não vai te ouvir.

—Não custa tentar.

—Deixe como está. –Me posicionei e comecei a atirar. Elizabeth entendeu a deixa e saiu rapidamente.

Não sei quanto tempo fiquei ali, acertando a cabeça dos alvos. Só sei que em algum momento, lágrimas começaram a escorrer. Era nisso que eu estava me transformando agora: numa sentimental. Dê-me um amor, tire-o de mim, e eu viro uma garotinha chorona. Ótimo.

Larguei a arma e sentei no chão, encostada na parede. Por que simplesmente não conseguia parar de chorar?

Alguém se sentou ao meu lado e passou os braços ao redor de mim, me abraçando. Fechei os olhos, sabendo quem era. Ressler.

—Não vai mais fazer isso, não é?-Perguntou. Fiz que não.

—Desculpa. Desculpa. Red disse... Que você ficaria seguro, e então eu... Eu tive que fazer, entende? Sei que está com raiva...

—Jen. Acabou, tudo bem.

—Você nunca vai me perdoar de verdade, vai?

—Já perdoei. –Me soltei, olhando pra ele e me obrigando a parar de chorar. –Mas precisa entender que o que fez foi errado. –Olhou pra baixo, acho que pensando no que dizer, então voltou a olhar pra mim. –Sabe que fui casado e me divorciei, certo?

—Ouvi algo assim.

—Voltei com minha ex-mulher. Algum tempo depois ela morreu. Me vi na mesma situação com você. Mas você estava, está, viva.

—Sinto muito. Posso imaginar como... Foi difícil. Sou uma idiota mesmo, não pensei em...

—Jen, não. Passou. Vamos encerrar isso, aqui. Tudo bem?-Fiz que sim. –Melhor assim. –O abracei de novo, ignorando a movimentação barulhenta da base.

***

—Tem mesmo que sentar aí?-Aram perguntou. Eu estava sentada ao lado do computador que ele estava usando, simplesmente, como fazia sempre, mas em outra mesa. Sorri pra ele.

—Sim. E se reclamar, sento no seu lugar. –Suspirou.

—Dangerous. –E voltou a digitar. Ressler se encostou ao meu lado.

—Você gosta de infernizar, não é?-Perguntou, dei de ombros. Keen, Red e Meera se aproximaram, falando baixo uns com os outros. De repente, Aram fez um barulho de surpresa, e tudo apagou.

—O que aconteceu?-Perguntei.

—A base ficou no escuro.

—Jura?-Catei meu celular no bolso e tentei ligá-lo, não consegui. –Merda, acho que acabou a bateria.

—O meu também não está ligando.

—Nem o meu. –Keen disse, mais pessoas disseram o mesmo.

—Sem querer deixar ninguém em pânico, -Aram começou. –mas segundos antes desse apagão, recebemos uma mensagem bem preocupante.

—Explique. –Pedi.

—A base apagou inteira, saídas foram fechadas, e bombas foram colocadas aqui dentro. –O clima começou a mudar, podia sentir Ressler ficando alerta.

—E os celulares não estão funcionando...

—Qual o problema com vocês?-Red perguntou, não muito longe. –Sempre alguém invade isso que chamam de “esconderijo”.

—Já invadiram isso aqui?

—Umas trezentas vezes.

—Não exagera. –Keen disse. –Bem, aconteceu, mas não tanto.

—A base da Dangerous nunca foi invadida. –Comentei orgulhosa.

—Mas quando aconteceu, -Meera disse. –foi a primeira e a última, não é?

—Sem comentários. –Algumas lanternas foram ligadas e rádios foram entregues. –Bem, estou indo.

—Aonde?-Ressler perguntou.

—Procurar as bombas, dã.

—Agora faz parte do Esquadrão Antibombas?-Suspirei.

—Não vou ficar aqui parada, esperando ir pelos ares. Meera, mande uma equipe tentar abrir as portas, nem que seja à força. Enquanto isso, tentem ligar a energia.

—Sabemos agir nesse tipo de emergência. –Meera retrucou.

—Então por que não estão agindo?-Sorri e comecei a andar, Ress me seguiu.

—Pare aí, Mhoritz, agora. –Mandou.

—Ressler, menos. Só estou indo procurar bombas, e não pra guerra.

—Jenna. –Me virei, fazendo-o esbarrar em mim. Meu pequeno descontrole de raiva estava começando. Me desafie e veja a merda acontecer. Ia acontecer, mesmo sendo com Ressler.

—Estou falando sério, não tente me impedir. Sabe como é o meu temperamento.

—Sei. Mas não posso deixá-la ir. –Revirei os olhos.

—O que acha que vou fazer? Detonar as bombas? Por favor, menos.

—Jen...

Eu nem planejei, sabe. Foi... Automático. Quando vi, já tinha acertado um soco em Ressler. Todos em volta prenderam a respiração. Red parecia entretido. Suspirei, sabendo que tinha mesmo que tomar uns chás calmantes.

—Desculpa. –Pedi.

Depois de mais uma série de desculpas, Ressler e eu fomos pra sala dele, onde tentei lidar com o corte que meu anel abriu em seu rosto. Eu geralmente não usava acessório algum, e não sei por que decidi começar naquele dia.

—Foi mal, de verdade...

—Jen. –Ressler interrompeu. –Você já desculpou quarenta e sete vezes.

—Sabe que eu não fiz de propósito, não sabe? Foi bem automático, juro.

—Esqueça. –Terminei de limpar o corte. –Não vai mesmo procurar aquelas bombas, vai?

—Vou.

—Não posso deixá-la fazer isso. É loucura.

—Ress...

Sabe, quando fazemos coisas idiotas, geralmente as pessoas brigam com a gente. Eu estava esperando por um sermão longo, mas tudo o que Donald fez foi me beijar.

Me perguntei porque exatamente ele estava fazendo isso, quando senti alguma coisa no meu pulso. Recuei e olhei pra baixo.

—Ress, me solta, agora!-Gritei, puxando o braço. Ele tinha me algemado!-Ressler!

—Não vou deixá-la fazer uma besteira. Quando conseguirmos sair, te tiro daqui. -Se levantou.

—Não se atreva a me deixar presa aqui, Donald Ressler!

—Agora sabe como me senti quando me algemou naquele dia.

—Ress!-Saiu. Puxei mais algumas vezes, tentando soltar meu pulso direito. Não consegui. –Ressler, volta aqui agora!

—Vocês dois tem uma relação bem interessante. –Red disse, parando na porta. –Parece que gostam de algemas.

—Red, me tira daqui.

—Você vai atrás daquelas bombas, não vai?-Suspirei.

—Você sabe a resposta. –Sorriu e se aproximou, soltando a algema com uma chave pequena.

—Pronto. Pode ir à sua caça às bombas. –Esfreguei o pulso.

—Às vezes me pergunto qual é a sua, e não sei responder. –Riu. Me virei pra pegar a arma na mesa, então ouvi um som alto. Olhei bem a tempo de ver alguém encapuzado e armado na porta. Olhei pra Red, ele estava com uma mancha vermelha no peito. –Red!

O atirador sumiu. Segurei Reddington antes que ele caísse e o coloquei no chão, me abaixando ao lado dele.

—Mas que merda!-Alcancei o rádio, tirando o casaco pra colocar sobre o ferimento. –Temos um atirador na base, ele atirou em Red. Estamos na sala de Ressler. Alguém tem que vir pra cá agora. –Larguei o rádio. –Red?

—Estou vivo, Mhoritz, não se desespere. Vou viver por muito tempo para infernizar você.

—Espero que sim. Vou sentir sua falta, seu psicopata irritante. –Keen entrou correndo e se abaixou do outro lado de Red. -Cuide dele, vou atrás do atirador.

—Jenna... –Tentou.

—Cuide dele, Elizabeth.

Prendi o rádio no cinto, peguei a lanterna e a arma, então corri pra fora da sala.

A base era maior do que parecia (como uma Tardis cheia de brinquedinhos do FBI), havia muitas salas e muitos lugares onde alguém poderia se esconder. Me perguntei que tipo de pessoa colocaria uma bomba em algum lugar e ficaria lá dentro para atirar nas pessoas. Não fazia sentido.

A maior parte das pessoas lá dentro estava procurando pelo atirador (Aram me disse pelo rádio), outra parte tentava achar as bombas e outra tentava encontrar alguma saída. A construção toda ia pelos ares a qualquer momento, com todo mundo lá dentro. Tínhamos que sair.

Cruzei com alguns poucos agentes enquanto procurava. Todos em grupos. Achei melhor ir sozinha, não queria distrações, nem vozes humanas nervosas. Sozinha eu trabalhava melhor sobre pressão.

Depois de quase tudo ser revirado, eu parei me encostei numa parede. Tentei pensar. Lógica devia ser usada ali.

Havia mais de uma bomba. Um atirador. Saídas bloqueadas. Sem comunicação lá dentro. Tudo no escuro. Estavam nos prendendo como cordeirinhos encurralados por lobos famintos.
Espera. Encurralados. Era isso!

Comecei a correr, tentando me lembrar do caminho. Eu nunca havia vasculhado a base toda, por isso não fazia ideia de onde estava. Peguei o rádio.

—Aram?-Chamei, parando de andar.

—Sim.

—Estou na frente de um quadro onde estão alguns agentes mortos. Me guie até uma saída.

—Que?

—Me leve até uma saída, como um maldito GPS humano!

—Tudo bem, tudo bem. Só um segundo. –Chiado, som de papel sendo desdobrado. Vozes ao fundo. –Aqui. Hã... Você não está longe de uma das saídas de emergência. Continue andando.

—Em que direção?

—Na direção do extintor de incêndio. Depois vire à esquerda.

Comecei a andar, com Aram ditando as direções. Pouco depois, eu estava na frente de uma porta enorme de aparência metálica. Olhei em volta, nada de bombas. Mas...

Coloquei a arma e o rádio no coldre, então abri uma caixa que estava perto da porta. Ela continha alguns fios, que no mínimo estavam ligados àquela saída. Ali, uma bomba que mais parecia uma aranha. Peguei o rádio.

—Achei uma das bombas.

—Como fez isso?-Aram perguntou, chocado.

—Não sei. Me diga como parar essa merda.

—Como é que eu vou saber desarmar uma bomba?

—Se vira. Quero instruções. Nunca aprendi a desarmar bombas.

—Nem eu!

—Aram, dê um jeito! Coloque alguém na linha, alguém que saiba. Não sei por que, mas acho que logo essas drogas vão explodir. Ah, mande agentes para as saídas, as bomba estão lá.

—Como sabe disso?

—Aram!

—Tudo bem, tudo bem, estou indo. –Se afastou do rádio, falando com alguém, que devia ser Meera. –Já estão indo.

—Ótimo. Agora... Que fio eu corto?

—Não é sempre o fio azul?

—Achava que era o preto. –Alcancei um canivete do cinto. Era bom andar com um, sempre. Nunca se sabe quando vai precisar desarmar uma bomba. –Mas todos são pretos.

—São quantos fios?

—Oito. Espera... Nove. São nove. Parece uma aranha.

—Uma aranha não tem nove pernas.

—Eu disse que “parece”. –Respirei fundo. –Como desarmo isso?

—Não sei...

—Aram!

—Aqui é a Meera. –Avisou. Eu não tirei os olhos da bomba. –Como é a bomba?

—Parece uma aranha, mas tem nove “pernas”. Todos os fios são pretos.

—Tem algum relógio?

—Não. Mas se eu ficar em silêncio, ouço um “tic tac” bem baixo. –Silêncio. –Meera, como eu desarmo isso?

—Corte o nono fio. Aquele não pertence às “patas da aranha”.

—Tem certeza disso?

—Não.

—Que ótimo. Se não responder em alguns segundos, é por que morri. –Prendi o rádio no cinto de novo e segurei o nono fio.

Respirei fundo. Cortei. Nada aconteceu. Mas o “tic tac” parou. Alcancei o rádio de novo.

—Desarmei!-Gritei, me afastando da bomba. -É o nono fio!

—Vou avisar os outros agentes. –Desligou.

É, eu agora desarmava bombas. Meu salário devia aumentar depois dessa.

Ouvi o som de uma arma engatilhando, então me virei. O atirador estava no meio do corredor, comigo na mira. Tentei alcançar minha arma, mas não seria rápida o suficiente.

Um tiro.

O atirador caiu no chão, morto. Ergui o olhar. Ressler. Sorri.

—Meu herói. –Declarei. –Essa foi por bem pouco.