Dangerous

Emeraude Reddington Ataca


Segui o conselho de Reddington e não contei nem a Donald sobre Miguel. Tudo o que contei foi sobre Maria, minha mãe. Foi meio difícil, porque eu não conseguia parar de chorar, então levou mais tempo do que pensei.
No dia seguinte, pedi à Meera que me liberasse, pois eu tinha que ir à cremação da minha mãe. Ela achava, como todos e até mesmo eu, que minha mãe era Cassandra Mhoritz, mas não perguntou nada e me liberou o dia todo. Donald se ofereceu pra ir junto, porém eu achei melhor não. Não queria contar toda a história pra ele, incluindo que além da minha mãe, eu havia encontrado meu pai.
Red me pediu para encontrá-lo num crematório longe dali. De novo, como no dia anterior, eu comecei a chorar sem parar. Com a urna que tinha as cinzas da minha mãe, acompanhei Red e Dembe até o jato que nos levaria para um lugar na Holanda que, de acordo com Reddington, minha mãe adoraria.
—Como a conheceu?-Perguntei, a urna bem fechada no meu colo. Nosso destino não estava muito longe.
—Ela trabalhou pra mim. –Arregalei os olhos. –Não do jeito que está pensando, era minha empregada.
—Ah.
—Mas depois ficou grávida e se demitiu. Foi embora da cidade antes que pudesse fazer algo para ajudá-la. Quando a encontrei, ela já tinha dado a luz a você.
—Então foi meu padrinho.
—É. Aí eu tive que viajar, e ao voltar, descobri que Martin e Cassandra tinham te sequestrado. O resto você já sabe.
—Eu me lembrei de uma coisa. Não sei quando aconteceu, acho que devia ser o meu primeiro ano com você. Eu estava embaixo da cama, e não queria sair. Queria meus pais. E você me prometeu que eu ia vê-los de novo um dia.
— Você fazia muito isso, se esconder embaixo da cama. Não estava falando de Cassandra e Martin. E sim de Maria. E Miguel, pois sabia que um dia, infelizmente, você ia acabar cruzando por aí com ele. –Olhou para longe, parecendo ver algo que eu não via. –E foi exatamente o que aconteceu, encontrou seus pais.
—É, encontrei.
O local onde jogaríamos as cinzas da minha mãe era um lindo lago cercado por tulipas de diversas cores. Red tinha razão, era um belo lugar, ela adoraria.
—Quer dizer alguma coisa?-Perguntou, parado ao meu lado. Dembe estava um pouco afastado, olhando em volta.
—Eu não a conheci... Não conheci minha mãe, mas tenho certeza de que... A amaria muito. Eu... –Parei de falar, reprimindo o choro.
—Maria era uma mulher incrível e de bom coração. É uma pena que tenha partido tão cedo. O mundo precisa de mais pessoas como ela.
Reddington me ajudou com as cinzas, já que minhas mãos estavam tremendo. Quando terminamos, me sentei na beira do lago, deixando algumas lágrimas escaparem, a cabeça baixa. Red sentou ao meu lado e passou o braço por cima dos meus ombros.
—Não há nada de errado em chorar, Jen.
***
Me concentrei o máximo possível no trabalho, mas era difícil. Perdi a conta de quantas vezes me perdi nas conversas ou nos planos, de quantas vezes precisavam repetir meu nome até eu voltasse à realidade e mentisse dizendo que estava prestando atenção, quando na verdade não estava.
Eu não parava de pensar em Maria, e, infelizmente, em Miguel. Ele era um criminoso, e meu pai. Tinha que guardar segredo sobre ele, e isso estava começando a me incomodar. E não só a mim. Donald percebeu que havia algo errado.
—Sabe que pode me contar qualquer coisa, não sabe?-Perguntou, andando de lá pra cá na minha frente. Estava sentada no outro lado da mesa dele.
—Sei.
—Então me conte o que há de errado.
—Não tem nada errado, Ress. É impressão sua.
—Jenna...
—Já disse que não há nada errado! Acredita em mim!
—Então qual é o problema?
—Nenhum, droga. –Eu queria contar, mas Red tinha razão. Miguel ia destruir minha carreira antes que eu pudesse explicar que mal o conhecia.
—Como quer que eu confie em você se...
—Ah, é isso? Não confia em mim?
—Confio, mas parece que você é que não confia em mim. –Suspirei.
—Por favor, dá pra esquecer isso?
—Me diz o que tem de errado. –Parou de andar, se apoiando na mesa com as mãos.
—Não insiste. Não há nada de errado. Vai ter que acreditar se quiser. –Levantei e saí.
***
Eu tinha que voltar ao trabalho em vinte minutos, então tomei um banho rápido, me vesti e me apressei pra sair logo. Mas, assim que pisei na sala, sabia que não voltaria em vinte minutos. Aliás, sequer sabia se voltaria.
—Como entrou aqui?-Exigi.
—Não vamos nos ater aos detalhes inúteis. Precisamos conversar.
—Não, não precisamos. Saia daqui agora, Miguel. –Minha arma estava no balcão da cozinha, mas provavelmente eu não chegaria a tempo nela antes de levar um tiro.
—Eu só quero conversar.
—Com uma arma em mãos?
—Tem que admitir que você atiraria em mim se pudesse.
—Isso é verdade. –Provavelmente descarregaria a arma nele. –Não temos o que conversar.
—Temos. É minha filha, sou seu pai...
—Não, pra mim não é.
—Por favor, sem essa. Posso fazer um exame de DNA se quiser.
—Ele até pode dar positivo, mas não o considerarei meu pai.
—Já entendi. Cabeça dura igual sua mãe.
—Por que a deixou?
—Por que era o melhor, para ambos. Ela era meu ponto fraco. Ia ser um alvo para os meus inimigos.
—Que nobre! Deixá-la morrer, pobre, sozinha, com uma filha, para que ninguém a machucasse. Quanta nobreza! Estou até emocionada.
—O sarcasmo puxou de mim, sem dúvida. –Revirei os olhos.
—Olha, nada do que diga vai me fazer mudar de ideia sobre você. Então vá embora, e me deixe em paz.
—Depois de tantos anos? Depois de finalmente conhecer você?
—Preferia quando você não existia pra mim. Era bem melhor. –Ele abriu a boca para retrucar, mas a porta abriu e Ressler entrou. Demorou alguns segundos para ele registrar a cena, então puxou a arma e a apontou para Miguel. –Ress...
—Sabe quem é ele, não sabe?-Perguntou. –É Miguel Cortez, um criminoso procurado...
—É, eu sei, infelizmente.
—Abaixe a arma.
—Não, garoto. –Miguel disse. –Abaixe você. Agora. Diga pra ele, filha. Mande-o abaixar a arma. –Ress olhou de mim pra Miguel.
—Que história é esse, Jen?-Abri a boca, mas Cortez foi mais rápido.
—Ela é minha filha. Jenna não te contou?
—Jenna?
—Red disse que ele é meu pai. –Contei. –Soube faz uma semana.
—E quando ia me contar?-Dei de ombros, sem saber o que dizer.
—Abaixe a arma, agente. –Miguel mandou. –Ou vou atirar em você. Diga pra ele abaixar a arma, Jenna. Diga.
—Ress... –Tentei. Ele balançou a cabeça negativamente, sem olhar pra mim. –Ressler, ele vai atirar.
—Vou mesmo. Tem três segundos para abaixar.
—Ress!
Miguel atirou. Me abaixei ao lado de Ressler, tirando o casaco e pressionando o local de ferimento. Miguel saiu sem falar nada, sabendo que o barulho havia alertado os vizinhos. Alcancei o celular e liguei para a emergência. Só restava esperar.
—Vai ficar tudo bem. –Murmurei. –Eles logo vão chegar.
Segurei a mão dele com a mão livre. Ele a soltou e virou o rosto para o outro lado. Os para-médicos chegaram. Ress sequer olhou pra mim.
Ele estava com muita raiva.
***
Liguei pra Meera, enquanto ia para o apartamento de Ressler, e avisei que não ia poder voltar ao trabalho, e que sentia muito. Desliguei antes que ela me passasse um sermão de meia hora. Com Donald no hospital e comigo sumindo o tempo todo, só restava Elizabeth.
Entrei no apartamento e saí catando tudo o que havia deixado ali. Enfiei meus pertences numa bolsa e olhei em volta. Eu tinha, mais uma vez, mentido para Ressler. Seria um milagre se ele me perdoasse.
Quando voltei para casa, encontrei Aline espiando por uma fresta da porta do apartamento dela. Parei, achando aquilo um pouco estranho.
—Tudo bem?-Perguntei. Ela fez um gesto pedindo que eu me aproximasse. –O que aconteceu?
—Tem um homem no seu apartamento. Ele entrou ali, sem pedir.
—Um homem?
—É. E não é o seu namorado.
—Hum, ok. Hã... Tranque a porta. Vou ver quem é.
Esperei a menina trancar a porta, então saquei a arma e entrei no meu apartamento. Apenas para encontrar Reddington sentado no meu sofá.
—Você assustou minha vizinha de doze anos. O que quer?
—O agente Ressler acabou de contar o que houve aqui. Não vai demorar e logo estarão batendo na sua porta, para prendê-la.
—O que eu fiz?
—É filha de Miguel. Com certeza vão achar que trabalha pra ele, como uma espiã infiltrada no FBI.
—Mas... Eu sequer o conheço direito...
—Eu sei, mas eles não. Você tem que desaparecer.
—Não vou forjar minha morte de novo.
—Não achei que forjaria. Apenas saia do país, com outra identidade...
—Não posso fazer isso.
—Pode. Vou ajudar você se fizer algo por mim. –Guardei a arma no coldre e cruzei os braços.
—O que?
—Quero contratar seus serviços de Dangerous. Vai matar pra mim nomes que não coloquei na lista, mas que precisam ser eliminados. Se o fizer, ajudo você a sumir e a provar sua inocência.
—Eu não faço mais esse tipo de coisa.
—Bom, então vou te visitar todos os domingos na prisão. –Se levantou.
—Tá. Eu... Se vai mesmo me ajudar... Então tudo bem. Apenas me diga o alvo... E eu estarei lá.
***
Viajei para São Petersburgo no mesmo dia, os documentos em nome de Emeraude Reddington. Red me arrumou um apartamento longe do centro da cidade, onde seria minha “base de operações”. Esperei alguns dias até que recebi a primeira ordem.
“Alvo: Alexander Hollizies.
Onde: Kupetz Eliseevs Food Hall, Nevsky Prospekt 56, esquina com a Malaya Sadovaya.
Hora: 20:30
Apague essa mensagem ao terminar a missão.”
Junto com a mensagem, veio uma foto do empresário. Não parecia que ia me dar trabalho.
Procurei uma das malas que Red mandou pra mim, com disfarces, e montei o visual “vadia”, que sempre funcionava. Coloquei uma faca escondida na bota e me olhei no espelho. Até que loira eu ficava bem.
—Pronta.
***
Encontrei Alexander no endereço que Red me passou, mas o homem parecia esperar alguém. Outro cara se aproximou, então eles conversaram e saíram andando. Suspirei e os segui.
Minutos depois Alexander e o amigo entraram num restaurante. Parei de lado de fora, bolando um plano. Não podia chegar na mesa e seguir com o plano. Pouco depois os céus me presentearam. Alexander levantou e foi para os fundos do restaurante, em direção ao banheiro.
Entrei, passando direto pela mesa do empresário e segui atrás dele. Um garoto estava saindo do banheiro assim que ia entrar. O parei.
—Há quantos homens lá dentro?-Perguntei, em russo.
—Um só. –Assenti. O garoto se afastou e saiu da minha linha de visão.
Ok, parte da matança chegando.
Entrei no banheiro. Alexander estava na frente do espelho, ajeitando o terno. Eu não tinha muito tempo, então tinha que ser bem rápida.
Se achei que pudesse me aproximar sem ser vista, errei. Alexander me viu assim que passei pela porta e se virou pra mim.
—Alexander Hollizies?-Fez que sim.
—Quem é você?
—Sua nova amiga.
O puxei pela frente do terno e o beijei. O plano deu certo, porque o idiota nem desconfiou e correspondeu. Agarrei a ponta da faca e a tirei da bota. Sem soltar Alexander, o acertei no peito, até que caísse no chão. Quando parou de respirar, soube que tinha terminado.
Enfiei a faca de volta na bota, fechei o sobretudo para esconder o sangue que manchou o vestido, e saí o mais rápido possível.
Primeira missão concluída.