—Sete minutos. Morreu por sete minutos e retornou. Sabia que Donald quase desmaiou?
—Está falando isso por maldade?-Perguntei. Red riu.
Três dias haviam se passado desde que morri. Ou melhor, morri e voltei. Como isso aconteceu era um mistério. Red insistiu em histórias de pessoas que passam por experiências de quase morte, voltando à vida e contrariando a ciência.
Depois de sair do hospital, Reddington me fez ir com ele para uma de suas casas em Nova York, longe da confusão que o FBI estava ultimamente.
—Não. Estou apenas dizendo o que Lizzy me contou. O que viu, naqueles sete minutos?
—Vi... Um lugar... Não havia nada, como... Não sei explicar. Mas havia uma ponte, e a água que passava por ela era transparente, e dava pra ver uma cidade, vista por cima. Do outro lado da ponte, estavam... Daniel, Paul, Luke, Ivan, Demetri, Adrian... E a minha mãe. Dei um passo para a ponte, e minha mãe disse... “Não a cruze, filha. Aqui só há lugar para os mortos”. Então eu acordei no hospital. Red, o que foi isso? Um sonho... Uma alucinação... Ou...
—Foi sua experiência de quase morte, Jenna.
—Foi um pouco assustador, mas... Não tinha como temer aquele lugar. Não com minha família do outro lado. Um dia vamos cruzar essa ponte.
—Vamos. Mas não agora. –Assenti.
—Imagino como Ressler ficou. Ele passou pelo mesmo com Audrey, porém ela não voltou. Queria ter falado melhor com ele... Mas você me sequestrou. –Cruzei os braços.
—Foi necessário.
Eu tinha acabado e sair do hospital. Ressler e Keen me esperavam do lado de fora, enquanto uma enfermeira me acompanhava. Aí do nada saiu um homem encapuzado (Dembe) e me enfiou dentro de um carro. Foi tão rápido, que eu nem consegui reagir.
—Preciso ligar e falar com Ressler. –Avisei.
—Ele virá, essa noite, assim como Lizzy. Convidei ambos para jantar aqui essa noite.
—Ah. Mas precisava mesmo me sequestrar?
—Sim. Não teria emoção, de outra forma.
—Idiota.
—Sugiro que suba, tome um banho e se arrume para o jantar. Há um vestido na sua cama, comprado especialmente para essa ocasião.
—Me comprou um vestido?
—Sim. Lamentavelmente você prefere blusas, calças e botas, quando fica mais bonita de vestido.
—Está me cantando, Raymond?
—Não. –Sorriu.
—Bom mesmo. –Levantei. –Vou me preparar para o jantar.
—Não se apresse.
Devagar, subi até o quarto de hóspedes que Red havia me emprestado. Tomei um longo banho, e saí atrás do vestido. Era verde escuro, longo, e com detalhes dourados. Bem a cara de Reddington escolher um vestido assim pra mim.
Me vesti, coloquei o par de brincos dourados que estavam na penteadeira, e catei a caixinha de maquiagem (coisa que eu realmente achava desnecessária no dia-a-dia). Pronta, fiquei na frente do espelho por um tempo, me observando.
—Isso tudo é pra mim?-Olhei para a porta. Ressler entrou. Agarrei uma parte do vestido, para não tropeçar nele, e corri até Donald, o beijando repetidas vezes. –Ok, ok, espere um momento. –Se afastou um pouco. –Você está linda.
—Obrigada.
—Não acredito que Reddington te manteve aqui durante dois dias e só ligou hoje pra avisar.
—Ele é assim mesmo. –O beijei mais uma vez.
—Sete minutos, Jen. Os sete minutos mais longos da minha vida. Não acredito que está aqui agora.
—Eu também não. Mas não dá pra planejar tudo.
—O que acha de um atraso para o jantar?
—Red odeia atrasos. Vamos ter que descer logo. Se arrume. –Suspirou.
—Tudo bem.
—E seja rápido, Donald. Não temos a noite toda.
***
—Uau. Estou considerando esse atraso. –Declarei, assim que Ressler saiu do banheiro, completamente pronto. –Por que Red faria um jantar de gala?
—Vamos descobrir. –De mãos dadas, saímos do quarto. Keen saiu do corredor, um vestido longo, porém vermelho.
—Red realmente caprichou na escolha das roupas. –Sorriu.
—Aposto que ele gosta de vestir bem as garotas dele.
—Não somos as garotas dele. –Lizzy e eu avisamos ao mesmo tempo, então rimos.
—Espero que não. –Descemos. A mesa estava posta. Parecia que a Rainha da Inglaterra e o Obama vinham jantar ali.
—Pra que toda essa produção, Raymond?-Perguntei, sentando ao lado de Ressler. Red estava na cabeceira da mesa. Lizzy se sentou ao lado dele, na minha frente, e Dembe ao lado dela.
—Comemorar um fato importante. –Respondeu.
—Que seria seus planos de dominação mundial funcionando?
—Engraçadinha. Não. Estamos aqui hoje, comemorando o fato de Jenna Mhoritz ter vencido a morte. Um brinde. –Encostamos as taças.
—Viva eu.
Era bem a cara de Reddington me sequestrar para um jantar, e trazer Keen e Ressler. Sério, a mega produção do jantar para apenas cinco pessoas era completamente desnecessária. Mas, o dinheiro era dele, afinal.
—Me lembrei de uma coisa. –Ressler disse. Os outros pareciam entretidos numa conversa qualquer. –Não comemoramos seu aniversário de trinta anos. Íamos jantar, lembra?
—A gente comemora depois, e do vinte e nove também.
—Como?-Sorri.
—Depois do jantar você descobre.
—Ah, o amor. –Red disse, erguendo a taça e olhando para Ressler e eu. –Lembro-me como se fosse ontem que os dois estavam trocando farpas e até mesmo socos.
—O amor é assim mesmo. –Rimos.
***
—Red me fez uma proposta ontem. –Comentei, tirando o vestido. –Me perguntou se eu não queria passar uns tempos aqui com ele. –Ressler olhou pra mim, parando de tirar a camisa.
—Que?
—É o que ouviu.
—Já reparou que às vezes ele age como seu pai, e às vezes como se quisesse ficar com você?
—Já. É só brincadeira. Mas, se eu não tivesse você, ou outra opção, acho que daria uma chance pra ele.
—Ah, daria?-Sorri.
—Hurrum.
—Ainda bem que você me tem. –Ri.
—É, ainda bem. Mas sabe que ele não é de se jogar fora?
—Como é que é, senhorita Mhoritz?
—Ops, eu disse algo errado?-Avançou na minha direção, enquanto eu recuava, prendendo o riso.
—Não esqueci que íamos comemorar o seu aniversário. Já mudou de ideia?
—Claro que não. –O beijei. –Temos dois aniversários atrasados. É melhor se preparar, querido. –Riu.
—Então tudo bem.
***
—Pensou na minha proposta?-Red perguntou, sem tirar os olhos do tabuleiro. Ele já teria me massacrado no xadrez se não fosse Dembe, atrás dele, me passando dicas silenciosas.
—Sobre ficar aqui?
—Sim.
—Acho que... Talvez por uns dias. Tenho que voltar ao trabalho logo. –“Matei” um dos bispos dele. –Rá! Toma essa, Raymond.
—Dembe, pode parar de ajudá-la. –Mandou, sem nem olhar para trás. –Sei que está aí.
—Ah, não. Eu preciso de ajuda aqui. Dembe, e agora?
—A torre. –Sussurrou.
—A minha ou a dele?
—Vocês dois, parem com isso. –Red mandou. Empurrou meu rei para fora do tabuleiro. –Xeque-mate. –Bufei.
—Não sei por que ainda jogo com você. Sério.
***
Antoine Lamar era um dos primeiros nomes da lista que eu ouvi, ao entrar para a equipe. Ele era um ex-médico que gostava de fazer experiências em pessoas. Lizzy e eu quase nos ferramos na mão dele, mas ela o matou, antes que ele pudesse fazer algo comigo. Elizabeth quase virou uma Wolverine mulher, mas ficou bem.
Agora, depois de tanto tempo, Red nos entregou Cristoan Lamar, irmão de Antoine, que estava decidido em continuar o “trabalho” do irmão. O endereço que conseguimos levou Keen, Ressler e eu para o “laboratório” dele.
O lugar era muito escuro, e no subterrâneo. A entrada que encontramos ficava na casa de Cristoan.
Seguimos por um longo corredor, que abriu num espaço bem maior, onde havia pessoas amarradas nas paredes, ou presas em jaulas. Todas estavam mortas.
—Merda. –Murmurei. Uma mulher, que devia ter minha idade, se mexeu. –Ressler, acho que ela está viva. –Ele se apressou para checar o pulso dela.
—Está, mas não por muito tempo... Ei, cadê a Keen?-Olhei em volta.
—Vou atrás dela. –Me afastei, entrando em outro corredor, luzes vermelhas e pequenas ficavam nas paredes. Lizzy estava bem a frente. Alguma coisa saiu do escuro e a atacou. –Ei! Ei! Parado!
A forma maior, e masculina, derrubou Lizzy. Ele segurava algo que parecia uma faca. Me aproximei, ele acertou um chute na minha arma e avançou na minha direção, me derrubando, então saiu correndo.
—Keen. Keen, fala alguma coisa. –Me sentei, me apressando pra perto dela. Havia um corte no pescoço, de onde muito sangue saia. –Não. Não. Não. Droga. Lizzy, calma. –Tirei o casaco, pressionando contra o corte. –Precisa levantar, tenho que tirar você daqui agora.
—O que aconteceu?-Ressler perguntou, correndo na nossa direção.
—Alguém atacou Lizzy. Foi por ali. Vai.
—E vocês?-Ajudei Keen a levantar.
—Vou levá-la para o hospital.
—Tá. –Voltou a correr.
Pouco depois eu estava colocando Elizabeth no carro, e passando o cinto. Logo estávamos na estrada. Eu com certeza ia ganhar uma multa, estava muito acima do limite. Mas nem me importava.
—Você vai ficar bem, Lizzy. Eu prometo. –Olhei pras minhas mãos, manchadas de sangue. Não ia conseguir perder mais ninguém. –Aguenta mais um pouco, por favor. Estamos chegando.
Avancei contra as portas do hospital, quase passando por elas. Freei bem a tempo. Saí do carro rapidamente e abri a porta do carro, soltando o cinto e ajudando Lizzy a sair.
—Preciso de ajuda! Por favor! Ajuda!-Alguns enfermeiros correram para ajudar, colocando Keen numa maca, então a levaram. Limpei as mãos na calça jeans e peguei o celular, discando o número de Red. –Dembe, passa pra ele, por favor. –Voltei pro carro, precisava buscar Ressler.
—O que houve, Mhoritz?
—Lizzy está no hospital. Um cara a esfaqueou. Pode avisar Cooper por mim?
—Claro. Me diga o endereço. –Dei o nome do hospital e o endereço, então desliguei.
***
—Ressler?-Chamei, sem resposta. As pequenas luzes vermelhas me deixavam nervosa. –Ressler, onde você está?-Disquei o número dele, tive que ligar duas vezes até conseguir. –Ress, o que houve?
—Estou... A um quarteirão daí.
—O que aconteceu?-Saí da “clínica”. –Ressler... O que aconteceu?
—Ele me acertou.
—Com o que?-Entrei no carro, acelerando o máximo que o carro conseguia. A ligação caiu. Encontrei Ressler encostado contra um muro, sangue manchando a parte de baixo da camisa. –Donald!-Me abaixei ao lado dele. –Droga, vamos.
—Estou bem.
—Está? Não parece. Vamos, rápido, rápido. –O coloquei no carro, e dirigi de novo para o hospital.
***
—Keen e Ressler estão no hospital. –Cooper disse, parecendo agitado. Agitada estava eu, que nem na mesa de Aram estava. –Como vamos continuar com o caso agora?
—Eu posso fazer isso, senhor. –Olhou pra mim, hesitante. Qualquer pessoa de juízo relutaria em me deixar seguir sozinha em um caso. –O caso já está resolvido, só precisamos pegar Lamar. Ressler disse que foi ele quem o atacou.
—Sim, eu sei, mas não posso deixá-la sair sozinha.
—Harold, eu posso fazer isso. Sei que posso. Não sou tão desmiolada quanto antes. Keen e Ressler vão continuar no hospital, não podemos esperar. Lamar pode fugir até lá. –Cooper suspirou, refletindo. Aram parecia estar assistindo algo interessante, olhando de mim para Harold.
—Tudo bem. Tem permissão de seguir sozinha. Mas tome cuidado.
—Pode deixar. Aram, preciso das imagens das câmeras daquela rua. Pra onde Lamar foi depois de esfaquear Ressler?
—Só um momento. –Pediu, digitando. Cooper se afastou, observando. –Aqui. Ele ainda correu por mais alguns quarteirões, antes de roubar um carro.
—Pode me dizer onde esse carro está agora?-Digitou mais um pouco.
—Sim. Anote o endereço.
***
—FBI! Pro chão, agora!-Cristoan se ajoelhou, as mãos em gesto de rendição, o algemei, mais forte que o necessário. –Parece que não foi muito longe. –Os agentes que me acompanhavam foram verificar os outros cômodos. –Nem preciso dizer que está preso. E que está bem ferrado. Atacou dois agentes federais, e matou muita gente.
—Estava apenas continuando o trabalho do meu irmão.
—Trabalho? Loucura deve estar no seu DNA. Vamos, de pé. Você está preso, Cristoan Lamar. E nem tente dizer que têm direitos, ou quebro você em pedaços.
***
—Você o pegou.
—Peguei. –Confirmei, tentando esconder um sorriso. Cooper parou, refletindo novamente. –Senhor, eu realmente entendo que não confie no meu trabalho...
—Não é isso, Jenna. Apenas... Recebi ordens de cima, para mantê-la longe de casos importantes, sozinha. É claro que essa ordem é ridícula. Você é uma boa agente.
—Obrigada. Mais alguma coisa? É que eu ia ver... Ressler e Keen.
—Só mais uma coisa. Gostaria que interrogasse Lamar.
—Eu?
—Sim. Você. Algum problema?-O sorriso finalmente escapou.
—Não, senhor.