Dangerous

Missão Las Vegas


—Tudo bem, sempre que me faz vestir essas roupas de “vagaba” eu sei que tem algo errado. Pode começar a falar.
—Esse é o alvo. –Me estendeu uma foto pequena. –Vai tirá-lo do salão, levá-lo para um dos quartos, e rendê-lo.
—Isso não tem nada a ver com a lista, né? Porque você não trouxe Keen pra cá. Trouxe eu. A Dangerous.
—Não, não diz respeito à lista. E não trouxe Lizzy por que... O papel não serviria pra ela. Lizzy é delicada. Você é... Como dizem... Uma “dama fatal”.
—Ouviu isso, Dembe? Ele disse que sou uma dama fatal.
Reddington tinha me abordado na saída pro trabalho, dizendo que precisava de mim pra uma missão não-oficial. Então lá fui eu com ele, pra Vegas. Cooper me esganaria se soubesse. Era por isso que ele não sabia, nem ninguém, muito menos Ressler, aquele fofoqueiro.
—Mas por que o visual de vadia?-Perguntei, tirando os olhos da janela do carro.
—Será minha acompanhante.
—Por que eu sempre sou a garota de programa?
—Acompanhante, Mhoritz.
—Eu podia ser sua filha, ou esposa, ou sei lá... Empregada, assistente, o caralho que seja. Mas por que a vadia?
—Por que quem faz o plano sou eu.
—Isso deve significar alguma coisa na língua dos homens. Não gostei disso.
—Assim será mais fácil conquistar o alvo. Acredite. Seu nome é Jéssica.
—Jéssica? Por que Jéssica? Por que não outro nome? Eu não quero me chamar Jéssica.
—Então que nome você quer?
—Nenhum, Jéssica tá bom. –Olhou feio pra mim. –Tava brincando. Agora... Quem é esse cara?-Apontei pra foto. –Por que está atrás dele?
—A única coisa que precisa saber é que vai pegá-lo. Em seguida ligue para Dembe, e ele subirá para buscá-los.
—E você não vai junto?
—O cassino-hotel para onde estamos indo é de um conhecido meu, se ele desconfiar que estou sequestrando seus hóspedes, não vai hesitar em fazer um escândalo envolvendo a polícia e quem mais ele conseguir chamar. Preciso ser visto no cassino, enquanto o seu alvo some.
—Entendi. Mas tipo assim... Você é um criminoso. Não devia ficar andando por aí. E se alguém avisa o FBI?
—Há muito mais criminosos do que pode imaginar lá dentro. Estamos em Las Vegas, Jenna. E o que acontece em Vegas, permanece em Vegas.
—Então tá.
***
Red e eu entramos no cassino, comigo pendurada no braço dele. Era maior do que eu esperava, e estava cheio de gente. A maioria eram homens. Criminosos, supus.
—Qual é o plano?-Sussurrei, enquanto Red andava até uma mesa onde três homens estavam sentados, jogando alguma coisa com cartas.
—Improvise.
—Ah, maravi...
—Shh. Boa noite, senhores.
—Raymond!-Um deles, o mais velho, disse, largando as cartas. Red se sentou na cadeira vaga, me apoiei no encosto dela. –Veio jogar uma partida com seus amigos?
—Se não roubarem dessa vez, posso tentar. –Olhei em volta discretamente, localizando meu alvo no bar. Eu só precisava de um motivo para ir até lá. –Você, Jéssica, já pode ir.
—E não vai me pagar?-Perguntei, olhando feio pra ele. –Não passei duas noites com você de graça.
—Pago você amanhã.
—É bom mesmo. –Comecei a me afastar, a tempo de ouvir o mais velho se pronunciar de novo.
—Não é muito nova pra você, Ray?-Red apenas riu.
Me encostei ao bar, ao lado do alvo, lembrando que não sabia o nome dele. Comecei a pensar na melhor tática para me aproximar, então vi que não era preciso, eu já tinha ganhado atenção dele.
—Acompanhada?-Perguntou, largando o copo que segurava e virando pra mim.
—Por enquanto... Não. –Ergui os olhos, ele era bem alto, de cabelos castanhos bem escuros. Não devia ser muito mais velho do que eu. –Jéssica.
—Cedric.
—Olá, Cedric. Está acompanhado?-Sorriu.
—Agora estou.
Foi mais fácil do que pensei convence-lo a ir para o quarto dele. O difícil foi nocauteá-lo, já que não se desgrudava de mim. Porém, nenhuma missão era impossível. Deixei o corpo inconsciente de Cedric no chão e disquei o número de Dembe.
—Pacote pronto, só vir buscar. –Minutos depois, ele estava batendo na porta. –Como vamos tirá-lo daqui?
—Pelo elevador dos fundos. –Se aproximou, puxando nosso alvo por um dos braços. Me apressei em ajudar.
—Caramba, ele é mais pesado do que pensei. Espera, espera. –Catei uns óculos escuros do sofá e coloquei no rosto de Cedric. –Pronto, hora de levar nosso amigo bêbado para casa.
E lá fomos Dembe e eu levando Cedric. O infeliz era muito pesado, mesmo para nós dois. Se eu soubesse, teria o jogado pela janela, para a lixeira lá embaixo.
Entramos no elevador, duas senhoras nos seguiram.
—Ele está bem?-Uma delas perguntou. Usava tanta maquiagem que nem parecia de verdade.
—Está sim, senhora. –Menti. –Um pouco bêbado. Sabe como é.
—Ah, sei, sim. Vegas é um ótimo lugar para aprontar. –Piscou pra mim.
—Hã... É. Isso aí. –As duas desceram antes que nós. Olhei para Dembe, segurando o riso. –Que raio foi isso?
Levamos Cedric para o carro, que estava atrás do cassino. Red já estava no banco de trás.
—A gente devia colocar esse idiota no porta-malas. –Sugeri.
—Seria muito suspeito, não acha?-Red perguntou. –Vamos logo, antes que alguém sinta falta desse idiota.
—Havia câmeras, não havia?-Entrei no carro, Dembe acelerou para longe. –Fomos gravados.
—Não se preocupe. As câmeras ficam apenas na parte do cassino. Alguém os viu?
—Só umas madames bizarras. Mas elas acham que nosso amigo aqui está caindo de bêbado.
Dembe e eu tivemos que levar Cedric de novo, dessa vez para um hotel onde Reddington era bem vindo para fazer o que queria, sem problemas. Amarramos Cedric em um dos banheiros, e fomos ajeitar planos para o dia seguinte.
—Outro alvo. Barry Lowen. –Me entregou uma foto do homem. –Vai pegá-lo amanhã. Dessa vez, vamos juntos.
—Onde vamos encontrá-lo?
—Ainda não sei, mas quando souber, te digo. –Suspirei.
—O que vamos fazer com esses caras? Por que não nos livramos de Cedric lá?
—Por que seria perigoso. Tenho assuntos a tratar com os dois. Matá-los antes disso seria idiotice.
—O que está aprontando agora, Raymond?
—Nada. Descanse. Precisa estar bem disposta amanhã. Vamos a um jantar importante. –Sorriu e saiu da sala. Olhei para Dembe.
—Ele tá armando alguma coisa, né? Posso sentir daqui o cheiro de confusão.
***
—Você sabe que se Cooper ou Martin souberem o que estamos fazendo, vou pra rua em dois tempos, não sabe?-Perguntei, seguindo Red para o elevador. O visual “vagaba” estava de volta. –Ou pior: presa.
—Fique tranquila. Você está comigo.
—É isso que me preocupa. Vim para Vegas, com você, para sequestrar pessoas. Os “chefões” do FBI vão me comer viva. Martin só tá esperando uma oportunidade para convencer as pessoas que eu devo estar afastada de qualquer coisa envolvendo a lei.
—Martin não fará nada, ou o pescoço dele está em jogo.
—Por que eu sinto que isso é no sentido literal mesmo? Você está proibido de matar pessoas por mim.
—Sério? Ainda vai mudar de ideia.
—Não sei como isso funciona com a Lizzy, mas comigo é diferente.
—É?
—Para de zombar da minha cara. –Suspirou.
—Você é tão mal humorada. Já reparou?
—Imbecil.
—Também amo você. Agora vamos trabalhar.
Entramos no salão de jantar, de braços dados. Numa mesa nos fundos estava nosso alvo. Red puxou uma cadeira pra mim e se sentou ao lado. Barry parecia confuso.
—O que... Raymond?
—Eu mesmo. Quanto tempo, Barry. Sabe quem é minha amiga?-O homem olhou pra mim, testa franzida, então compreensão passou pelo rosto dele.
—A Dangerous.
—Isso mesmo. E se não vir comigo agora, ela vai cortar sua garganta. –Sorri.
—Não vai. O salão está cheio. Não seriam idiotas.
—Jenna é irresponsável e incontrolável. Quem poderia impedi-la de fazer o que quer?
—A resposta é ninguém, Sr. Lowen. –Avisei. –Eu não arriscaria. –Barry não disse nada, olhando de mim para Red algumas vezes. –Veja uma coisa aqui. –Ele se inclinou para o lado, olhando para onde eu apontava. Havia uma faca afiadíssima presa num coldre na minha coxa. –Não quero manchar meu vestido de sangue, mas se precisar... –Dei de ombros.
—Você vai se levantar, Barry, e nos seguir. –Tirou os olhos da faca, olhando para Red. –Qualquer gracinha, e a Dangerous age. Se correr, saiba de duas coisas: há alguém do lado de fora esperando por nós. E Jenna tem uma mira excelente. –Barry engoliu seco e levantou. Red e eu fizemos o mesmo.
—Sábia escolha, Sr. Lowen. –Entrelacei o braço com o dele. –Sem gracinhas. Mato você com testemunhas ou sem. E acho que ambos concordamos você vale mais vivo, não é?
Barry parecia estar num corredor da morte. Cercado nas laterais por Dembe e eu, e com Red na frente, ele parecia saber que não tinha escolha, nem como fugir. Andava como um robô, o medo parecia dizer para que não fizesse nenhum movimento em falso, ou eu usaria minha faca. Foi um bom plano de ameaça.
—Ótimo. –Red disse, assim que Dembe trancou a porta. Soltei Barry e me afastei para pegar a algema. Não podíamos deixar o homem solto. –Jenna, você...
Houve um som alto. Me virei rapidamente, puxando a faca. Barry tinha uma arma em mãos, e sangue manchava a camisa impecavelmente branca de Reddington. Merda.
Acertei um chute em Barry, derrubando-o, e o algemei. Só para garantir acertei um soco nele, apagando-o, então me abaixei ao lado de Red.
—Raymond, não. –Murmurei, ajudando-o a sentar. –Droga, droga. Dembe, e agora?
—Está tudo bem. –Red disse, fazendo pouco caso. Quis esganá-lo. –Tranquem Barry no banheiro, com Cedric.
—Você levou um tiro, Raymond. –Dembe disse. –Precisa cuidar disso, agora. –Se virou para mim. –Cuide de Barry, e eu cuido de Raymond.
—Pode fazer isso?-Perguntei, levantando.
—Posso.
***
Fiquei andando de um lado para o outro na sala, após trancar Barry no banheiro. Havia sangue no chão e no sofá, mas eu não tinha forças para limpá-lo, nem sequer olhar para ele. Red havia levado um tiro. Caramba, essa missão ia de mal à pior em segundos.
Dembe saiu do quarto quase meia hora depois. Sozinho.
—Como ele está?-Perguntei.
—Bem, só precisa descansar.
—Descansar? Raymond Reddington? Impossível. –Parei de andar. –Devíamos sair daqui. Levar Cedric e Barry para um lugar mais afastado. O que houve hoje pode acabar chamando atenção de alguém.
—Você tem razão. Mas Raymond é teimoso e não vai...
A porta explodiu com um chute. Dembe e eu nos afastamos dela, ambos prontos para lutar se necessário. Várias pessoas entraram, entre elas Keen e Ressler.
—Ai, merda. –Murmurei.
—Jenna?-Donald perguntou, abaixando a arma. Olhou para mim, pra Dembe, pro sangue, então pra mim de novo. –O que está acontecendo aqui?
***
—Você foi pra Las Vegas, com Reddington, e sequestrou duas pessoas?
—Senhor, eu tenho quase certeza de que eles são criminosos e...
—Não importa o que eles são!-Cooper gritou. Tive a impressão de a pequena sala vibrou com o grito. –Você sabe que o que fez foi errado.
—Desculpe, isso não...
—Toda vez que Reddington aparece com um plano absurdo, você vai atrás dele.
—Achei que tivesse a ver com a lista.
—Se tivesse, Keen saberia. E ela garantiu que não sabia dessa excursão à Vegas. –Olhei pra baixo, cruzando as mãos. Harold estava completamente furioso. Eu sabia que estaria. Ele nos fez voltar a Washington no mesmo dia, com Red estando ferido ou não.
—Sinto muito.
—Sente mesmo? É o seu emprego em jogo, Jenna. Um passo em falso, e você está fora.
—Desculpe.
—Não tem que se desculpar, não comigo. E sim com você mesma. Sabe o quão difícil foi convencer o diretor a deixá-la ser transferida para cá? Tem sorte de não ter sido descartada assim que sua equipe se foi. Sabe que Martin está esperando uma oportunidade de chutá-la daqui, e mesmo assim foi com Reddington cometer um crime em Las Vegas. Se isso se repetir, você está fora. Mesmo que eu interfira. E se for preciso, eu vou interferir, mesmo que seja em vão. –Olhei pra ele.
—Mesmo depois dessa... “Excursão à Vegas”?-A expressão dele suavizou um pouco.
—Só veio para cá por que eu pedi para que fosse transferida. E fiz isso pela garotinha de olhos tristes que esbarrou em mim na base de treinamento Dangerous. –Desviei o olhar.
—Desculpe. O que houve em Las Vegas não vai se repetir.
—Espero que seja verdade. Ou a única prejudicada será você.