Enquanto pesquisava sobre os gêmeos, me dei conta que já era 15h00min PM, senti minha barriga reclamar, já que ainda não havia comido nada, desde o recreio da escola, resolvi comer algo, desliguei o notebook, e fui até a cozinha, fiquei pensando no que comer depois de minutos pensando em comidas deliciosas, voltei à realidade resolvi comer um pouco de macarrão com carne assada, para beber um bom e grande copo de coca-cola. Senti um bruto remorso de ter comido algo, eu estou tão gorda para estar devorando tudo o que vejo pela frente.

Enfim, resolvi ir ao banheiro, escovei os dentes, claro que eu não poderia ficar com bafo de onça, né?! Quando terminei vi minha imagem no espelho, vi que parecia um desastre ecológico, resolvi tomar um banho. Tirei minha roupa calmamente e entre debaixo da água, que estava muito agradável, meu banho mais parecia um show, cantava minhas musicas preferidas- não é que eu não queira ser imodesta, mas minha voz é sensacional - depois vesti um short jeans claro, uma blusa preta com uma caveira brilhosa. Penteei meu cabelo e fui arrumar a bagunça que fiz, logo depois fui pesquisar mais sobre os gêmeos e a tal banda Tokio hotel, olhei as musicas e resolvi escutar uma das muitas musica da banda, fiquei ali o resto da tarde, estava tão curiosa que pesquisei com muita atenção sobre os caras daquela banda, principalmente o andrógeno que chamava muito minha atenção, pensava comigo mesma esse “Bill” é muito estranho, este estilo, essa maquiagem, jamais sairei com um cara assim!

Enquanto pesquisava, não percebi o passar das horas, e minha mãe já havia chegado, e estava preparando a nossa janta, eu estava exausta, então troquei de roupa, vesti um vestido velho e sem um pingo de fome, talvez um pouco, mas depois daquilo que eu havia assistido há uns dias fiquei refletindo.

Flashback.

A garota do cabelo engraçado estava dispersa no sofá de sua casa querendo encontrar alguma programação que lhe distraia, mas nada de interessante passa, nem mesmo nos canais infantis. Entretanto, nesse troca-troca de canal, ela pausa em um que abordava o tema de adolescentes gordas alucinadas para emagrecer. Mesmo sendo um palito, ela se determinou a assistir ao documentário de uma jovem de cabelos castanhos avermelhados e olhos verdes.

– No meu tempo de pureza eu comia feito uma leoa, parecia uma esfomeada e era bem egoísta quando o assunto era pra dividir o lanche com os colegas, mas eu nem sabia o mal que estava fazendo a mim mesma. Repentinamente, eu comecei a ganhar uns quilos indesejáveis e quando fui notar, eu estava igual a uma baleia gestante. Meus pais, na mesma hora, tiveram vergonha de me acompanharem à escola, festas, e eu me sentia um lixo sendo ridicularizada pelos demais e sendo motivo de desonra para eles. Desesperei-me em perder o peso, tratamentos, corridas a manhã, tentativas frustradas de dietas incomuns e etc. Nada, nada disso ajudou! Foi daí que eu optei por vomitar a comida e simplesmente, o resultado foi dez, nunca me senti tão alegre em minha vida. Agora estou eu aqui, com meus dezenove anos, feliz e com um namorado, meus pais já não se envergonham de andar comigo e hoje eu sou causa de orgulho em minha família.

Aquele testemunho daquela garota havia deixado de boquiaberta a Amy. Após o relato, mostraram a foto do antes e depois da moça e a baixinha pasmou-se mais. Um resultado satisfatório. Veloz, ela levanta-se do móvel e dispara a correr para seu quarto. Posiciona-se na frente de seu espelho e estuda seu corpo esbelto.

– Ah meu Deus! Eu estou virando um caso perdido!

Flashback off.


– Amy, venha comer - Minha mãe berrou e eu permaneci imóvel ali, tentando escolher entre comer ou emagrecer. Ela é muito amável comigo, sempre estará do meu lado para o que der e vier, talvez não goste muito dessa minha conduta. Aos meus 12 anos, eu testemunhei o divórcio de meus pais e entrei em depressão, até meus catorze anos frequentei uma psiquiatra que diversas vezes alertava a minha mãe, dizendo que meu caso era sem solução, já que eu estava com uma depressão muito grave e nada queria tirar-me da fossa, só desejava ter minha família unida novamente. Enfim, dizem que o tempo cura a dor certo? Bem, comigo esse ditado popular surtiu efeito, não é que eu tenha esquecido meu pai, ele mora na Alemanha em Berlim, algumas vezes vou visitá-lo, mas nós temos que aprender, pois nem tudo é um mar de rosas.

– Já vou mãe! – Respondi-lhe apenas fechando a tampa do notebook. Abri a porta e desci as escadas em espiral.

– Amy prenda esse cabelo. – Ela falou como se estivesse com raiva de mim, mas logo deu um pequeno sorriso. Prendi rapidamente meu cabelinho de abóbora em um simples rabo de cavalo, e perguntei:

– Tá bom, assim?- Ela confirmou com a cabeça. Acomodamos-nos na cadeira e ela desatinada a jantar, ataca a comida. Porém, eu prossigo encarando o prato com um grande pedaço de pizza quatro queijos com desdém. Acho que ela reparou, pois deixou de abocanhar a refeição para me analisar.

– O que você tem meu anjo? Fiz o seu preferido e agora está o fitando com puro desprezo. Essa não é você!

– Só não estou com aquela fome louca. Vou beber só o meu suco e ir para o meu quarto, ok?

– Nada de ok mocinha, você irá pelo menos beliscar uma partezinha da pizza.

Nada respondi. Apanhei o alimento com lentidão do utensílio e sem uma gota de vontade, mordisquei-a. Foi um pedaço perfeito para me deixar com uma sede de ir ao banheiro.

– Está bem mesmo? – Diz ela cética de que algo em mim está normal.

– Sim mãe. Com licença agora, eu tenho de ir ali! A pizza estava deliciosa.

Largando-a desconfiada, aumentei a velocidade nas pernas, anelando para chegar ao banheiro. Abri a porta de forma deselegante e dirigi-me ao local que eu tanto queria alcançar. Ergui a tampa do sanitário e pus o dedo dentro da boca, quase atingindo a úvula. Em seguida, senti a ânsia de vomito e despejei tudo aquilo que estava encaminhando-se para meu estômago. Se eu estou fazendo o correto, isto não eu posso garantir, mas pelo visto, isso auxiliará para que eu não me transmude e vire uma obesa. Elevei a cabeça e mirei-me no espelho da farmacinha, tenho de ser confiante que isso só é para o meu bem. Fechei a tampa do recipiente e pressionei o botão, dando descarga. Umedeci as mãos na pia e lavei também a boca.

É. Eu não irei me arrepender disso!


–x-

06h00min AM

Ouvi o despertador tocar. Mais um dia entediante no colégio. Presumo que hoje irei dormir em todas as aulas, pelo simples fato de ter ido para a cama somente as cinco da manhã, eu só descansei uma hora e tudo culpa da Selena e dessa banda estranhíssima e alemã. Levantei-me e desliguei o mesmo com um soco. Anotação: após chegar da escola, comprar despertador novo. Fui em direção ao castigo banheiro, realizei minha higiene matinal quase que desmaiando sobre a cerâmica. Ao concluir aquele banho friento, guiei-me para meu closet. Decidi excluir a calça hoje, trajei uma meia calça rasgada, um short jeans preto desfiado, a farda de cima. Encalcei meu all star e prendi meu cabelo para trás, fiz minha maquiagem básica, e peguei minha mochila. Destinei-me à cozinha, mas resolvi não pegar um biscoito, tenho de não ceder a tentação de salgados e doces.

Ontem à noite eu liguei para o meu carona, noticiando-lhe que hoje eu iria só, preciso movimentar essas minhas pernas e assim, eu custo mais a chegar ao colégio. Descerrei a porta de fora e pus o pé direito para fora, velozmente um vento sereno chocou-se contra minhas madeixas alaranjadas, esvoaçando-as. Tranquei a porta com a chave e corrigi a mochila nas costas. Dobrei a esquina e topei-me com uma criatura muito familiar. Quem era? A Selena e ela não pintava em seu rosto um ar de desanimo e sim de uma notável alegria, sem excluir sua braveza que tinha como marca registrada. Usava um all star vermelho e de cano alto, uma calça jeans cheia de rasgões, a camisa do uniforme, uma jaqueta de couro preta e um bracelete pontudo no pulso, como de cotidiano, seu liso cabelo cor de carvão com um mesclado de roxo, lilás e azul estavam soltos.

– Hey! – Chamei-lhe atenção. A mesma girou o pescoço, estupefata com o grito. Quando me visualizou, fez feição de porco maconhado.

– Oi. – Cumprimentou-me curtamente e seca. Hábito dela, isso não me deixa magoada. Virou-se para seguir rumo ao nosso estabelecimento de estudo. Apressei meus pés para alcançá-la.

– Que sorrisinho discreto foi aquele no canto da sua boca naquele segundo? – Tracei uma linha fina em minha boca.

– Não te interessa.

– Quando houver uma liquidação de amabilidade, você corre pra comprar ok? – Repliquei com um sarcasmo adorável.

– Engraçadinha.

– Sabia que esse é o meu ponto forte? – Impliquei de novo.

– Você é tão curiosa que chega a dar fobia! – Brada visivelmente esgotada das minhas provocações. Bem que comentam, ela tem pavio curtíssimo.

Observei-a amedrontada, mas isso já podia ser previsível, vindo de uma garota tão rude.

– E você é muito irascível.

– Não me diga. – Ironiza.

– Não vai me dizer o motivo do sorriso?

Ela suspendeu a ação de caminhar, pregou as pálpebras e suspirou pesadamente. Depois disso, revelou outro sorriso, bem mais aberto e entusiasmado.

– Vou me mudar para a Europa. – Alguma coisa explodiu em minha mente. Como assim transferir-se de país? Ir para o outro lado do mundo? Ela é a única pessoa que ainda dirige a palavra a minha pessoa, excluindo os mestres e os outros funcionários daquele colegial. Agora eu vou virar um indivíduo invisível ali.

– What?

– Eu vou morar com meus... – Ela pausou por alguns segundos e abaixou a cabeça. Um silêncio absoluto e meio que desconfortante reinou entre nós duas. – Meus autênticos pais.

Pronunciou ligeira e erguendo a cabeça abruptamente.

Espere aí! Isso daí é muita informação para minha consciência processar. Então a Selena era adotada esse tempo todo? Estonteada da notícia espantosa, jogo meu olhar para o céu pintando-se de azul, suplicando ao altíssimo Deus uma luz milagrosa que me ajude a depreender tudo isso.

– Então... – Minha voz soa falha, pois eu ainda tentava crer naquilo. – Você não é americana?

– Me deixe simplificar a história para você. Eu sou originária da Alemanha, mas eu nasci com umas complexidades no sistema respiratório, ou seja, eu precisei de um novo pulmão, pois o meu estava lascado e a qualquer minuto aquilo geraria um tumor no qual eu não me safaria. Enfim, meus genuínos pais trouxeram-me às pressas para os Estados Unidos, pois lá em meu país ainda não havia o tratamento correto para isso e descobri que como minha mãe teve problemas com a Inglaterra, não podemos ter ido para lá. O transplante foi muito delicado, mas tudo correu bem. Só que quando eu estava na incubadora, a estúpida enfermeira cometeu um equívoco ao dizer a uma mulher que eu era sua filha. Nós tínhamos o mesmo nome e havíamos nascido no mesmo dia e horário. Sintetizando, o que ocorreu foi uma troca.

Felizmente, esse resumo elucidou muito a história mal relatada. Contudo, eu ainda estava era muito descrente de tudo aquilo.

– E você vai?

– É óbvio. Eu nunca gostei dos E.U.A, minha paixão sempre foi a Europa desde pequena!

– E quando você vai?

– Este domingo. – Mother of Metal! ESTE DOMINGO? Isso me rememorou de uma coisa.

Eu vou passar um mês com o meu pai. Um mês inteiro tendo entretenimento garantido com ele.

– Coincidência. Meus pais são separados e todo ano eu passo um mês na casa dele e é também neste domingo que eu irei para Berlim.

– Mas que diabo é isso? Teu pai mora lá também?

– Qual voo você irá?

– O de cinco da madrugada.

– Interessante...

Nada mais falei. Fiquei meio aérea com tudo isso, mas sinto que desta vez a minha ida a Europa irá desandar.


Continua...