Dama de Sangue

Uma pequena reflexão


Antes de prosseguir com a história, faço aqui uma pequena pausa para explicações. Receio que é possível que o rumo da narrativa tenha deixado um leitor tradicional confuso e, desta forma, é meu dever sanar todas essas confusões. Para isso, digo que Livia não é exatamente uma típico mocinha como nas comuns histórias. Não há nela a coragem dos heróis, nem mesmo a fidelidade e a delicadeza das princesas. É medrosa e meio aproveitadora. Deixa-se, naturalmente, guiar-se por seus instintos, depois de muito refletir e chegar a conclussão nenhuma porque, para ser bem sincera, essas reflexões que costumamos ter sozinhos acabam sempre nos levando aonde queremos e não de fato aonde deveríamos ir. Para uma discussão de verdade, precisaríamos de ao menos duas pessoas, assim as ideias seriam trocadas e, sem dúvida, se chegaria a algum lugar. De modo que pensar bastante antes de agir como Livia fazia ou simplesmente agir por impulso como aparentemente Valentine faz não têm qualquer diferença.

Livia é do tipo de pessoa que se distraí fácilmente e que sente a necessidade de ter a sua mente ocupada. Uma palavra é capaz de acalma-la ou destruí-la. Imagine que já quase morria de medo por ouvir um simples relampejar no meio da noite e que, só pela presença de Heitor, todo seu medo magicamente se foi. E imagina também que Valentine disse-lhe que ela precisava de um médico e, só nisso, todo o medo se voltou terrivelmente. Percebe o leitor que poucas palavras são capazes de manipula-la sem problemas, mesmo que Livia seja quem, muitas vezes, acredite estar manipulando.

Mas é isso o que os bons fazem, manipulam sem que o outro perceba a manipulação. Fingem-se de inocentes e se livram de toda a culpa dos fatos. São esses deveras os mais espertos, os mais astutos e os mais perigosos. Depois dessa pequena reflexão, proseguiremos com a história.