"Você precisa me ensinar isso, Ryan! Eu não consigo nem fazer uma linha reta direito!" Brendon exclama do lado do maior, que estava na frente do espelho, fazendo pássaros no seu rosto.

"Não é difícil, Brendon" ele diz e continua traçando. Ele consegue sentir o menor hesitar do seu lado, um suspiro baixo saindo por seus lábios.

"Faz em mim? Por favor! Algo que tenha a minha cara!" ele diz, olhando para o grande espelho, procurando uma resposta no rosto do homem na sua frente.

Ryan suspira e vira para o menor, seu lábio formando um bico - e já era uma boca enorme, só para ajudar. Ele acena e se vira para a mesa atrás dele. Ele pega um lápis e começa a desenhar logo abaixo dos olhos. A sua pele era macia, e ele logo nota que tinha acabado de se barbear. Ele murmurava alguma música enquanto o maior desenhava, e era reconfortante.

"Tá. Eu não sei. Você pode tipo, tirar" ele diz e vira o menor para o grande espelho. Ele não tinha muita certeza do que tinha feito, e não estava muito orgulhoso também. Não era nada muito extravagante.

"Ryan!" ele exclama. "Tá perfeito! Eu pareço um boneco de madeira, mas tá muito, muito, muito legal!" ele olha para o espelho, para as bochechas vermelhas e arruma seu cabelo. "Obrigado", ele vira para o maior, os olhos brilhando.

Ele sorri para o maior, que não conseguiu não sorrir de volta.

Ele nunca conseguia.

***

"Ele deixou um código? Qual?".

"Sente-se, Ryan. Aceita café?" Sarah diz e, sem esperar a resposta, alcança uma xícara para ele.

"Uh, claro".

"Então" ela começa depois de tomar um gole de café. "Você veio ficar uma semana aqui, Jon?"

"Sarah... fantasma" ele diz.

"Ah, sim, sim. Depois que vocês saíram, ele apareceu. Acho que ele estava bem irritado" ela toma um pouco do café. "Tá muito forte? Eu sempre tomo forte, mas se quiserem água-".

"Sarah" Jon diz, a interrompendo.

"Está bem" ela levanta e anda em direção a uma mesinha, pegando o telefone que estava ali em cima. "Ele mexeu nos cacos do copo que nós usamos, e ele acabou formando uma palavra, talvez? Aqui, eu tirei uma foto" ela estica o aparelho e os três se espremem no sofá para ver.

"R4S7F9?" Ryan diz em voz alta. "É isso?".

"Aparentemente" Spencer diz, entregando o telefone para a mulher de vestido verde militar. Ela estava com os olhos bem delineados, não tão borrados como o primeiro dia que Ryan a havia visto. Ela parecia mais viva, de alguma forma.

"Algum de vocês têm alguma ideia?" ela diz, coçando a parte de trás da sua cabeça.

Todos permanecem em silêncio, analisando as letras e números mentalmente.

Ninguém tinha a mínima ideia.

"Brendon, você precisa ser mais específico" Ryan diz, baixinho, mais falando consigo mesmo do que qualquer outra coisa.

"Ele parecia irritado," Sarah diz, colocando a xícara na mesa de centro, "com medo".

"Eu não sei mais o que fazer" Ryan diz, os dedos de uma mão massageando uma têmpora. "Eu não sei o que ele quer, nem como eu posso ajudar. Ele podia ser mais específico ou" ele pausa, olhando para a xícara, "seguir em frente".

Todos permanecem em silêncio.

Não havia o que se fazer.

***

"Mãe" eu sussurro. "Mãe".

Ela estava sentada na minha antiga cama, ainda com seus pijamas, olheiras em baixo dos olhos. Ela segurava uma camiseta de quando eu era criança, desgastada. Ela olhava sem expressão nenhuma para a roupa, como se não estivesse realmente ali.

"Só você pode me ajudar, mãe".

Ela coloca a camiseta dentro de uma mala, junto com um conjunto de roupas antigas.

"Boyd!" ela grita, "preciso da sua ajuda".

Ela só chamava meu pai assim quando tinha alguma coisa errada.

"Eu preciso que leve isso pra creche que o Brendon ajudava" ela diz, mais baixo, quando meu pai finalmente entra no cômodo. "Precisamos ir pra Los Angeles esvaziar o resto do apartamento" ela diz, cabisbaixa.

"Tem certeza?" ele diz, pegando a mala.

"É isso! Mãe, pensa!" eu grito, esperando que ela pudesse entender.

"Temos que comprar as passagens"

Meu pai coça a parte de trás da cabeça e começa a sair do quarto. Eu tinha que ser rápido.

Eu procuro o porta-retrato que ficava na cabeceira do meu quarto, e com a concentração que encontro eu consigo derrubá-lo.

"Cuidado!" minha mãe exclama, pegando o porta-retrato do chão e analisando as faces dos quatro homens que estavam dentro da moldura. "Querido! Eu tive uma ideia!" ela diz, sem retirar os olhos da fotografia, "liga pra esse aqui, o Spencer. Ele pode ajudar".

***

A porta mogno nos encara, e eu consigo sentir o nervosismo passando por nossos poros, de todos nós.

Spencer tira a chave do bolso e coloca lentamente na fechadura da porta, que range um pouco, mas finalmente abre.

Logo que ela abre, eu consigo me lembrar. O cheiro, ainda era o dele. Os móveis estavam cobertos por lençóis brancos, as janelas e portas fechadas. Havia caixas pelo chão, alguns armários estavam abertos. O lugar estava uma bagunça.

Eu permaneço em silêncio, e ninguém se pronuncia. Tinha um clima pesado no ar, e parecia que tinha caído sobre nós.

Aquela era a pior sensação que eu já tivera na vida.

Jon limpa a garganta do meu lado, e só então eu entro no apartamento. Spencer anda na frente, abrindo janelas e portas, sem falar nada. Eu permaneço de pé, perto da porta, observando o vazio a minha volta.

"Nós podemos começar com, uh, essas caixas e, talvez, essas roupas" Jon aponta para um canto, onde havia uma pilha de roupas dobradas.

Spencer anda até ela, pegando metade, abrindo uma caixa e colocando as roupas ali. "Eu vou precisar de ajuda, tem mais caixas na cozinha, Ryan".

"Uh, claro" eu ando até a cozinha, tentando me lembrar do caminho.

A cozinha estava toda tapada pelos lençóis brancos, e em cima da mesa de jantar estavam várias caixas, ainda não montadas, achatadas uma em cima da outra. Eu conseguia sentir meu estômago embrulhando.

Eu pego a pilha e ando até a sala, encontrando Jon e Spencer fechando uma caixa grande no meio do tapete.

"Peguei as caixas"

"Ótimo" Spencer diz, apontando para a branca mesa de centro, "deixa ali, temos que abrir mais algumas e ver se tá tudo certo". Ele começa a abrir uma caixa no momento em que eu me viro para colocar a pilha em cima da mesa, e quando eu volta a olhar para a sua direção, ambos estavam olhando curiosamente para dentro de uma caixa.

"O que foi?" eu digo, curioso.

Jon olha rapidamente para mim e depois volta a olhar para a caixa. "Uh"

Eu chego mais perto, e bem no centro da caixa cheia de camisas sociais estava uma camiseta, velha, com um logotipo no canto.

"Ryan, não é... Sua camiseta? Da escola?" Spencer diz, baixo.

Eu permaneço olhando para a caixa. "É". Eu consigo sentir minhas bochechas ficarem vermelhas.

"Eu-" Jon começa, "eu preciso perguntar?".

Aquela camiseta não tinha passado na minha cabeça por séculos, e eu nem me lembrava que ela tinha ficado com o Brendon. Quando isso tinha acontecido?

Então eu lembro.

***

"Isso não quer dizer nada, Ryan" ele diz e pressiona os lábios contra os meus novamente. "Isso fica entre nós"

Eu não consigo me soltar, me afastar. Seus braços estavam em volta do meu pescoço, acariciando os fios de cabelo que pendiam.

Eu coloco minhas mãos por baixo da sua camiseta, segurando a sua cintura. Ele começa a me empurrar e quando eu me dou conta, eu já estou na parede. Ele move suas mãos para o meu rosto, as mãos macias acariciando-me.

Eu não sabia se ia me arrepender disso depois, mas eu acreditava que valia a pena.

Eu movo minhas mãos para cima, tirando a sua camiseta. Ele faz o mesmo, e nossos corpos se unem, o calor do corpo do menor se transferindo para o meu. Sua língua explorava todos os cantos da minha boca, e eu conseguia sentir que ambos ansiavam por mais, que só aquilo não ia adiantar.

Eu o empurro para a porta do meu quarto, depois eu o jogo na minha cama. Eu vou atrás, ficando em cima do seu corpo. Suas mãos acariciavam minhas costas, e seus lábios estavam macios encostados nos meus.

"Ryan" ele sussurra no meio do beijo, e depois morde meu lábio inferior.

Eu conseguia o sentir por dentro do seu jeans.

"Eu não sei-" é o que eu consigo dizer antes de ansiar seus lábios novamente.

Ele começa a desabotoar meu jeans, e eu me sentia um pouco envergonhado, mas eu não podia parar, não queria parar, então eu começo a fazer o mesmo.

"Brendon" eu digo quando ele finalmente tira minhas calças e boxers, e eu o ajudo a jogá-las longe. "Isso não é certo"

Mesmo dizendo aquilo, eu continuo a abaixar o seu jeans, logo depois a sua boxer vermelha. "Não mesmo" ele diz e une nossos corpos, e o quando eu finalmente o sinto, um calor corre por todo o meu corpo.

Ele estica a mão e me puxa para mais perto, me beijando dominantemente. "Relaxa" ele diz, e coloca a outra mão no meio de nós dois, e eu ansiava por aquilo mais do que qualquer coisa.

Ele segue um ritmo, devagar e depois rápido, e eu fecho meus olhos, segurando os seus longos cabelos e deixando a sensação se espalhar por mim.

Eu não sabia o que estava fazendo, mas provavelmente o Brendon também não sabia.

"Brendon, eu vou" eu digo quando não estava mais aguentando.

"Espera, eu" ele diz incerto, mas me vira na cama, me deixando de costas, e se move para meio das minhas pernas.

Quando eu finalmente sinto sua boca, úmida, sua língua, eu penso que iria desmaiar. Aquilo era muito, muito bom. Eu não conseguia adivinhar se ele já tinha feito aquilo antes, mas que era bom era. Era diferente com ele. De todas as vezes que eu já havia recebido esse tipo de "presente", as mulheres nunca foram… bem, como ele estava sendo.

Eu consigo me aguentar por mais um tempo, me segurando nos lençóis, os olhos fechados.

"Brendon" eu sussurro, e ele segue um ritmo, sua língua traçando linhas. Ele se tocava ao mesmo tempo, seguindo o ritmo da sua boca, e a visão de ele fazendo isso era a melhor coisa que eu já tinha presenciado.

Eu juro que por um instante, eu conseguia ver estrelas.

"Brendon, eu não consigo mais" eu digo, e ele finalmente se afasta, sua presença sumindo, o vazio me enchendo enquanto eu venho, o líquido escorrendo por toda a cama e pelo Brendon.

Ele também não consegue se segurar, vindo nos pés da cama. Eu ainda conseguia sentir minha cabeça girar quando ele finalmente deita do meu lado, uma mão acariciando meu peito.

"Isso foi..." ele diz, beijando meu pescoço.

"Perfeito" eu digo, ainda ofegante, e pressiono meus lábios nos seus por um instante.

"Ryan, você tá cansado?" ele diz, traçando uma linha no meu peito com seus dedos.

"Por quê?"

Ele hesita, mas depois sussurra no meu ouvido, "eu quero você dentro de mim".

***

"Ele foi no meu apartamento e se sujou com suco, essa camiseta era velha e ele pegou emprestado" eu minto, olhando para a caixa e depois para os olhos dos dois homens em mim.

"Ryan, você tá escondendo algo de MIM?" Spencer diz, o olhar desafiador.

"Não! Nunca escondi nada de vocês!". Só, talvez, um relacionamento inteiro, eu penso, mas não falo.

"Você pode falar, sabe, isso pode ajudar com essa coisa do fantasma" Jon diz, uma sobrancelha erguida.

Eu deveria contar? Isso não seria uma quebra de promessa?

Se isso fosse ajudar, porém, eu o faria.

Eu pego a camiseta e me sento no único sofá que não estava coberto. "Tudo bem. Eu nunca contei porque eu tinha prometido que iria ficar entre nós. Só por isso" eu aperto a camiseta, sentindo-a.

Os dois se sentam nas poltronas na minha frente, me fazendo lembrar que nós estávamos na casa dele, do Brendon. Isso era tudo dele.

Seus olhares questionavam, mas no fundo eu acho que eles já sabiam o que eu iria falar.

"Eu e o Brendon," eu começo, olhando para a camiseta, "tivemos uma coisa".

"Coisa? Desde quando, Ryan?" Spencer questiona.

"Desde... 2006, talvez? Eu não sei!" eu grito quando vejo seus olhares assustados. "Começou a ficar grande entre 2007 e 2008. Nós não queríamos que vocês soubessem porque não era... Muito sério, talvez?"

Jon e Spencer se olham, e Jon finalmente diz "Eu disse".

"Espera aí, o quê?" eu exclamo.

"Eu sempre soube, o Spencer que não quis admitir"

"Droga, Ryan" Spencer diz, parecendo derrotado.

"O que deu errado?" Jon me pergunta quando eu estou prestes a argumentar alguma coisa.

Eu olho de volta para a camiseta amassada, tentando formular os pensamentos na minha mente. "Foi minha culpa" eu quase sussurro, não tirando os olhos do logotipo da minha antiga escola.

Os dois ficam apreensivos, esperando eu falar.

"Eu nunca admiti que gostava de homens. E, de fato, eu nunca mais gostei de nenhum. Eu... Fui orgulhoso demais, eu pensava que se eu o ignorasse tudo ia se resolver".

Eu sinto Spencer suspirar na minha frente. "Ryan, isso é normal".

"Mas isso levou à separação da banda! E," eu olho para os olhos azuis do meu amigo, "ele morreu por minha culpa".

"Não! Isso não tem nada a ver!" Jon diz, se ajeitando na cadeira.

"Como ele morreu, me diz?" eu digo, um pouco alto demais, e meus dois amigos se calam.

Ele morreu por misturar muitos remédios, a maioria para depressão, e álcool. Se a separação da banda não tivesse ocorrido há tão pouco tempo, eu não estaria me culpando. Na realidade, foi uma bola de neve.

Orgulho muitas vezes pode arruinar um futuro inteiro. Pode destruir sua alma.

E agora eu vou me culpar para sempre.

"Ah, Ry" Spencer diz e se senta do meu lado, colocando uma mão em volta dos meus ombros. Só então eu percebo uma lágrima escorrendo pela minha bochecha. Eu a limpo rapidamente, tentando me restaurar.

***

Estava ficando escuro, e eu coloco a última caixa da sala de estar perto da porta. Jon e Spencer estavam atrás de mim com outra caixa grande.

"Nós vamos levar isso para o carro, você pode pegar as coisas do quarto? Nós... vamos te dar o momento" Spencer diz, passando pela porta, seguido pelo Jon.

Eu olho para a porta fechada no final do corredor, e ela me encara de volta. Eu coloco a mão na maçaneta gelada e, com cautela, a giro para entrar no cômodo.

O quarto não estava coberto ainda, a cama estava feita e os armários fechados. Havia somente um abajur e um porta-retrato na cabeceira - sua família, eu logo noto. Eu percebo que ele tinha pendurado os nossos discos na parede, organizados por tamanho. A janela estava fechada, portanto o quarto estava escuro.

Eu caminho rapidamente até ela, a abrindo, sentindo o sol na minha pele. Eu consigo sentir o cheiro de álcool, por mais que fraco, vindo de dentro do quarto. Eu conseguia sentir o seu cheiro, também.

Eu suspiro e caminho lentamente até o armário, o abrindo e notando apenas uma pilha de roupas antigas que ainda não tinham sido encaixotadas, bem no fundo do guarda roupa. Eu as pego com as duas mãos, me certificando para que elas não caíssem. Eu me sento na cama, analisando-as.

Eu me recordava de algumas; um jeans apertado, uma camiseta v, a jaqueta da nossa primeira turnê.

O moletom lavanda.

Aquilo trazia muitas recordações, e eu começo a me questionar se eu realmente deveria estar aqui, mexendo nas suas coisas. Isso parecia impessoal.

Ou talvez pessoal demais.

***

"Eu não acredito".

"Você achou mesmo que ia dar certo? Olha o que eu e o Jon queremos escrever! Você não concorda com nada!".

"Eu tenho certeza que nós podemos chegar a uma conclusão juntos".

"Não, você não vê, Brendon? Isso não vai dar certo! Essa banda vai ser arruinada!" eu digo, finalmente olhando nos olhos enormes na minha frente. Ele não queria deixar transparecer, mas eu percebi no primeiro instante que ele estava tremendo, incerto, prestes a desmoronar. Eu via por seus olhos.

"Tem certeza, Ryan? É por causa da banda? Só por isso?" ele diz, subitamente, o olhar zangado se tornando para me fitar.

"Por que mais seria?".

"Você não consegue admitir, consegue?" ele ri, uma risada abafada. "Não consegue admitir o que nós tivemos, a tensão, você não aguenta, não é?" ele diz, gesticulando com as mãos enquanto falava. "Você se sente pressionado perto de mim".

"Não! Brendon, não fala besteira!" eu exclamo e seguro um de seus ombros, um gesto suposto a ser reconfortante, mas ele se desprende rapidamente.

"Seu ego tapa a sua visão, Ross" ele coloca as mãos no rosto. "Não acredito que fui ingênuo de pensar que essa banda poderia seguir em frente como se nada tivesse acontecido. Eu sou um idiota".

Eu não sei o que falar. Eu não sabia mais o que era verdade.

"Eu nunca quis me distanciar-" eu começo a me aproximar novamente, mas ele me empurra e anda em direção à saída do café em que nós estávamos.

"Eu assino a merda do documento. Pode ir, Ryan, viver sua aventura. Quer saber? Eu não me importo! Boa sorte lidando com o seu ego pelo resto da sua vida!" ele sai pela porta, colocando as mãos na jaqueta para se proteger do frio.

Eu permaneço olhando para a porta, e quando me dou conta, percebo que todos os clientes do café olhavam para mim. Alguns tinham pena no olhar, alguns apenas tentavam decifrar o que eu estava sentindo.

Só que eu não sinto absolutamente nada.

Eu mergulhei em um vazio.

***

Eu levanto da cama, levando as roupas e o porta-retrato para a última caixa. Eles já tinham levado quase todas para o carro, eu noto, já que só faltavam mais três caixas perto da porta. Eu suspiro e começo a andar até o corredor do condomínio, mas a porta da frente se fecha bruscamente quando eu estava prestes a passar.

Eu continuo olhando para ela, questionando o vento, um gato, uma criança que tenha fechado a porta. No fundo, no entanto, eu sabia.

Eu coloco a caixa no chão. "Brendon?" eu chamo, já não esperando uma resposta. Eu ando até o corredor do apartamento, lentamente, incerto. Quando eu já estava pensando em voltar, uma porta se fecha.

Depois o banheiro. O quarto de hóspedes. A despensa.

A última porta, o seu quarto, não se fecha. Ao contrário, ela se expande ainda mais, convidativa.

Eu estava com um fio de medo, mas eu não poderia desistir, poderia?

Eu então dou passo a passo até o fim do corredor, chegando até a porta. O quarto estava do jeito que eu o deixei, porém a cortina estava tremulando com o vento.

"Eu, uh" eu começo, me sentindo um pouco idiota, "não sei o que você está querendo que eu faça".

Eu permaneço olhando para o vazio do quarto por algum tempo. Era oficial, eu me sentia ridículo fazendo aquilo.

Eu rio para mim mesmo e começo a andar para a saída novamente, pensando como tudo isso parecia um sonho. De repente, eu acordo com o som de alguma coisa quebrando. Eu me viro para ver o abajur todo em pedaços no chão.

"Droga" eu ando até perto da bancada, juntando o maior número de pedaços que eu podia segurar. Quando eu começo a me erguer, eu vejo.

Eu coloco os cacos no chão, delicadamente, e começo a mover a mesa de cabeceira para o lado.

Eu consigo sentir meu estômago se embrulhar quando eu vejo do que se tratava.

Um cofre.

Eu tento o abrir, em vão. Deveria haver um lugar para colocar uma chave-

Eu abro uma janelinha preta, revelando um teclado pequeno e uma telinha verde em cima. Uma senha.

Eu penso em tudo que consigo. O aniversário dele. Da mãe dele. Eu tento até o meu e, derrotado, me sento de frente ao pequeno cofre na parede.

Eu suspiro, olhando para os números.

Então tudo cai em cima dos meus ombros. As mentiras, o egoísmo, a separação... A morte. Eu ainda pensava que eu ia acordar desse pesadelo, que eu ia esquecer tudo isso, que minha vida ia ser normal novamente.

Quer dizer, eu nunca acreditei em fantasmas. Como eu ia saber se tudo isso não era minha imaginação, que eu tinha ficado louco? Eu estava indo em uma médica, mas ela realmente não era uma boa profissional. Ela só fez piorar.

Eu coloco as mãos no rosto. Eu não queria estar nessa situação. Eu iria me recuperar, algum dia? Seria possível?

Eu me lembro do seu sorriso. Da sua risada, da cantoria, do calor do seu abraço. Eu puxo meus cabelos com força quando finalmente lembro que aquilo nunca mais poderia ser meu, ser visto por mim.

Eu nunca mais ia sentir a sua presença.

Um pensamento estranho passa pela minha cabeça, e um fio de esperança começa a pender dentro de mim. Eu pego meu celular e procuro uma foto.

Eu digito no cofre mais uma vez, o barulho e a luz verde confirmando sua abertura.

Eu abro a pequena porta, as letras ainda na pequena tela.

R4S7F9