Crônicas de Auradon

A vilã de um vilão


O resto daquele dia foi a mesma chatice de todo o primeiro dia em uma escola interna, apresentação de quartos e funcionários, um tour pela escola, criação da grade estudantil e essas coisas insuportáveis infinitas. Aí chegou a noite, finalmente. O Ben tinha falado sobre algum tipo de confraternização e coisas do tipo, mas não eu não estava nem um pouco afim de sair da minha banheira.

–Anda Otávia! Se você demorar mais um segundo nesse banheiro eu juro que te transformo em sushi de polvo. - a voz de Tiffany ecoou pelo quarto, me acordando do excelente sonho onde eu governava todo os reinos ao lado de Carlos. Ainda não entendi porque escolheram a pessoa que eu mais odiava para ser minha companheira de quarto.

–Já vou, já vou. - saí da banheira e me sequei. Enrolei uma toalha e saí. Nossos olhares se encontraram no momento em que eu abri a porta, então fechei a cara e fiz um olhar desafiador. -Todo seu madame. - fiz uma reverência irônica.

–Gwen estava te procurando, parecia louca para te contar algo, mas não me importa. - ela entrou batendo a porta atrás.

O que será que Gwen queria me dizer? Não tínhamos segredos entre nós, não tinha nada sobre ela que eu não sabia e vice-versa. Então ouvi uma batida na porta, foi bem rápida e seguida de uma voz um tanto grossa, mas impossível de não se reconhecer.

–Ot! Tá aí? - a voz de Gwen era muito engraçada. Era feminina, porém grossa, bem característica.

–Pode entrar! - respondi abrindo o armário e olhando os tons de roxo, cinza e preto. Peguei uma camisa de pijama lilás e um calção preto.

–Você não vai acreditar! - ela entrou como um foguete, mas não fazia muito o estilo estérica. -Adivinha quem vai na confraternização? Carlos!

Meu coração parou. Ele era maravilhoso, e como Gwen era enxerida, descobria muitas coisas pra mim, ainda mais depois que eu contei que tinha uma queda por Carlos e ela ficou parecendo um cupido tentando nos juntar.

–Sério? - olhei para ele com uma cara de surpresa. Meu roxo deve ter se tornado totalmente branco, porque pelas risadas incontroláveis dela, meu rosto deveria estar muito engraçado.

–Sim. Ouvi ele falando com o Jay hoje mais cedo, estava pedindo ajuda para ir bem arrumado para se encontrar com uma pessoa. Só não escutei quem era porque fui arrastada por uma multidão de pessoas da banda.

–Sua inútil! - joguei um colar nela, o que a fez rir. -Preciso estar bonita também, me ajuda?

–Não sou muito boa com isso, mas posso tentar. - disse ela me olhando um pouco receosa.

Eu não era muito o tipo de menina que se arrumava todo só pra chamar a atenção de alguém. Mas Carlos era muito especial. Além de apaixonado por roupas - assim como eu - ele tinha um estilo muito interessante. E ele era engraçado, seu sorriso era fofo e me encantava de um jeito bem incomum.

–Talvez eu possa ajudar. - a voz de Tiffany era realmente irritante, mas ia ter que me acostumar. Ela saiu do banheiro já pronta para a festa. Vestia um vestido de um ombro só, com alguns babados em cima. Ele ia até um pouco acima do joelho e era verde água. Seu cabelo estava preso em um grande coque bem no alto da cabeça. A maquiagem era bem básica, mas em compensação estava com um grande colar prata com diamantes pendurados, combinando com seu salto prata super brilhante.

–E quem disse que eu quero sua ajuda? - perguntei desafiadora.

–Bom, se quer ir a uma coisa formal com esses trapos que chama de roupa? Vá fundo, só não diga que não tentei ajudar. - ela se virou e estava prestes a sair quando Gwen cedeu.

–Espera, ela aceita sua ajuda, mas o que você quer em troca? - eu a olhei com uma cara de quem estava muito irritado com aquilo. Sério? Pedir ajuda para quem mais odeio? NUNCA!

–Eu? Nada demais, só trocar de armário. O meu é muito pequeno. - um sorriso malicioso apareceu em seu rosto.

–Eu não v... - Gwen me cortou. Ela não entendia que eu não estava nem um pouco afim de barganhar com aquela víbora?

–Feito, mas depois da festa.

–Ótimo. - Tiffany sorriu. Vamos começar.

–Eu estou de saída, tenho que me arrumar também. - então Gwen me deixou sozinha com aquela maníaca.

–Já tenho as ideias perfeitas para uma roupa. - ela se aproximou.

–Não chega perto de mim seu monstro. - eu me afastei. Aquela coisa nunca ia me tocar.

–Olha só Otávia, também não estou nem um pouco feliz de estar aqui, estava muito bem com meus escravos pessoais lá na Ilha, mas aconteceu e não tem como impedir. O máximo que podemos fazer é nos adaptar e realizar nossos desejos. Não tenho nada contra você, só acho que sua ajuda seria muito boa.

Eu rolei meus olhos. Sério mesmo que aquela menina estava querendo uma aliança? Mas se bem que ela tinha razão em alguns pontos, não dava pra voltar, a gente ia ter que se formar aqui e passar uns bons anos nesse inferno. Então nada melhor que me tornar a rainha desses adolescentes - não que eu não seja uma - metidos a herói.

–Certo, mas não força a barra tá? - eu cedi e esperei ela me analisar e analisar minhas roupas.

Estava na hora. Dei uma olhada no espelho antes de ir, e não posso deixar de admitir, Tiffany fez um excelente trabalho. Eu estava usando um vestido que na parte de cima era um rendado preto, e a saia era roxa com um pano bem fininho preto por cima, mais longo atrás. Estava de saltos pretos brilhantes, em contraste com meu anel de polvo prata com uma pedra lilás e colar de conchas prata. Meus cabelos não estavam mais espetados, mas sim na altura do pescoço, em estilo chanel. Estava realmente linda.

Ao chegar no jardim de eventos da escola, vi que a maioria já tinha chegado. Não foi como essas cenas de filme onde todos olham para a moça e ela fica toda feliz, até achei que só de a Gwen ter notado foi muito. Fui ao encontro dela, que usava uma roupa social básica.

–Nossa! Realmente demais. - ela me fitou de cima a baixo. Achava estranho quando nos conhecemos, mas já havia me acostumado.

–Obrigada. - agradeci, sentando na mesa, junto de Francis, Gwen, Adam - o filho do Aladdin - e Rachell - a filha da Rapunzel, e não, não sabia da existência deles.

–Olá Otávia. - disse Francis com um sorriso, e se voltou para conversar com Adam.

–Esses são Adam e Rachell. Ele é o colega de quarto do Francis e ela a minha. - Gwen me apresentou a eles, chamando minha atenção.

Depois dessas apresentações chatas e uma conversa um pouco agradável, me levantei e fui dar uma volta com Gwen. Eu odeio admitir, mas quando estou insegura ela é meu amuleto. Nunca confiei tanto em alguém quanto confio nela. Crescer sem pais verdadeiros não é fácil, muito menos quando você cresce um uma ilha onde todos são odiados e as situações são péssimas. Então, me apeguei muito fácil a ela, mesmo nossos pais não sendo muito próximos. É estranho pensar que ela é conhecida por seu pai, mas ele morreu antes de seu nascimento e ninguém conhece sua mãe, então melhor nem ocupar tempo falando sobre ela.

Os jardins eram muito mais bonitos do que eu imaginava que seriam, então andar por eles ocupariam uma grande parte do meu tempo. A conversa com Gwen estava muito boa, já que sempre que conversávamos sério, eu podia ser quem realmente era no fundo, uma menina insegura que usa seu poder para provar que não é qualquer uma.

Enquanto conversávamos, avistei de longe duas pessoas. Ao chegar mais perto percebi que era Carlos e Jane, a filha da Fada Madrinha. Depois dos problemas que aconteceram a uns meses atrás - aquele que a Malévola ficou louca - os dois se aproximaram muito, e isso era evidente. Na festa eu percebi que ele estava me olhando constantemente, mas também não sei se é porque não consigo disfarçar.

Cada vez mais nos aproximávamos, e eu estava ficando muito nervosa. Foi então que eu vi o sorriso malicioso na cara da Gwen. Ela sempre fazia essa cara quando ia fazer alguma coisa diferente. Meu coração começou a bater muito forte, eu achava que ia explodir.

–Gwen, não faça o que está pensando. - eu a alertei antes de qualquer coisa.

–Então você que vai falar com ele. - ela me disse ainda com aquele sorriso.

–Eu não vou falar com ninguém!

–Assim você não desencalha, quem vai falar sou eu.

Ela então apressou o passo, e eu fui atrás dela para tentar segurá-la. Tarde demais, quando eu vi ela estava falando com a Jane e o menino de braços cruzados olhando. Gwen ria enquanto falava e Jane não parava de virar o rosto para me ver, até que ela concordou com a cabeça e foi falar com Carlos. Depois disso, ela e Gwen saíram, e ele veio andando na minha direção. EU NÃO ACREDITAVA QUE ELA TINHA FEITO ISSO COMIGO!

–Oi. - ele disse com aquele sorriso no rosto que quase me derreteu.

–O-oi. - eu respondi nervosa, mexendo com minhas mãos.

–Então, a Gwen falou comigo umas coisas. Quer dar uma volta pra gente conversar um pouco?

–Claro, pode ser... - eu disse, ainda muito nervosa.

Então nós andamos, e andamos e andamos. Ele me falou de como era legal ser um dos quatro mais poderosos e como foi legal ir para o preparatório. Ele me disse que primeiro foi estranho, mas que com o tempo ele viu que as coisas não eram como pareciam e que se acostumou. Espero que isso aconteça comigo. Ele falou dos seus amigos e a vida que eles tinham seguido ali dentro da escola e como era bom não se sentir mais tão pressionado. Até que ele tocou no assunto que eu rezei para não tocar.

–Então Otávia, eu percebi que você me olhou a noite inteira, e eu sei que não foi um olhar normal...

–É...que...eu adoro seu estilo e o da sua mãe e achei super interessante sua roupa. Gosto do jeito que você com... - ele me cortou. Pra que? Não faça isso comigo, eu imploro!

–Olha, eu até te entendo, mas o que eu quero dizer, sem querer ser grosso, é que...eu não sei como dizer, mas é que, tipo, eu não estou muito afim de começar um relacionamento com ninguém. Não é você, é que eu não quero mesmo.

–Eu te entendo... - NÃO, EU ENTENDO. Como ele pode fazer isso. Eu não sei pinta nem nada. Tá, talvez eu tenha dado, mas como ele sabe que eu gosto dele? Ele nem de deixou tentar.

–Eu quis falar logo, mesmo não te conhecendo bem, porque eu não quero te dar falsas esperanças. - meninos e suas falsas esperanças. -Tem muitos meninos por aí que estão solteiros, e você é linda e moderna, tem estilo e atitude. Mas isso não quer dizer que não podemos ser amigos. - e ele sorriu de novo.

Mas dessa vez não me derreti, me enfureci. Como alguém faz isso comigo? Ele pensa que tem o direito de dar um fora na filha da mulher mais poderosa de todos os mares? Não ia acabar assim. Minha garganta ferveu com palavras que eu adoraria falar, palavrões, xingamentos, coisas que daria para fazer uma enciclopédia de tanta quantidade. Mas eu não falei. Eu respirei fundo, contei até cinco, e abri a boca.

–Não, não podemos. Você é um metido que se acha o melhor só porque ficou famosinho. Sabe tudo aquilo sobre gostar daqui e querer ficar? Então, você me deu um motivo para querer ficar: acabar com a sua vida. - então me levantei.

–Carlos De Vill, você acabou de ganhar uma vilã, e o nome dela é Otávia.