Crônicas de Auradon

Inversão de papéis


Acordei totalmente revigorada, com aquela vontade de ser má, do jeito que eu gostava. E pensar que quase virei uma “mocinha” só por causa de um menino. Essa escola finalmente me veria do meu verdadeiro jeito, com meu verdadeiro espírito.

–Tá aí? – Gwen bateu na porta atrapalhando meu pensamento.

–Entra. – eu disse. Tiffany tinha saído mais cedo para sei lá o que, então uma companhia não seria tão ruim

–Soube de ontem, eu sinto muito, realmen...

–Para, sério. Foi bom para mim, acordou meu verdadeiro eu. E pensar que as pessoas nesse mundo só acordam com um beijo do amor verdadeiro.

E ela ficou me olhando, com uma cara confusa, mas deu de ombros, já que me conhecia. Botei uma roupa casual qualquer: uma calça jeans preta, uma camisa branca com tentáculos rosa, um All-Star cano alto roxo, um cordão de concha que combinava com o anel de escamas de peixe prata.

Quando saí do quarto parecia que não tinha ninguém ali, mas quando desci a escada vi aquele monte de pares de olhos me observando. Parece que as coisas se espalham rápido por aqui. Reconheci alguns rostinhos, mas tinha muita gente ali que eu não conhecia. Não posso negar que tinham até uns meninos bonitinhos, mas evitei olhar. Olhava apenas para frente, com meu olhar de superioridade.

Cheguei até meu armarinho, que para minha felicidade, era roxo. Enquanto mexia ali escutei uma voz que despertou algo em mim, algo neutro, que eu não entendia o que era, um sentimento muito estranho. Quando olhei para o lado, vi aqueles olhos verdes, aquele cabelo negro, aqueles lábios rosa. Ela trajava uma saia coral cintura alta, com uma camiseta branca com gola polo, mas o que mais me irritava eram aquelas sapatilhas pérola sem graça. O rabo de cavalo no alto da cabeça com aquele laço branco imenso me deram ânsia de vômito.

–Otávia! – como sua voz era irritante. –Quando soube que você viria eu quase morri, te procurei em todos os lugares mas não conseguia te achar, até que me falaram de você. Mal chegou já está popular hein? Se bem que você sempre marcou muito presença de acordo com o que minha mãe dizia. – ela falava tão rápido que eu não sabia se era rap ou uma frase. – Sempre tive vontade de te conhecer, não sei se sabe, meu nome é...

–Melody, eu sei muito bem quem você é. – adorava cortar as pessoas. Olhei bem fundo nos olhos dela e apertei os meus, tentando ser ameaçadora.

–Ai! Que demais! – ela dava pulinhos histéricos e batia palmas compulsivamente.

–O que você quer? Me empalar como seu pai fez com minha mãe?

–Não, que horror. Eu quero te conhecer, sempre adorei as histórias que minha mãe me contava sobre a sua mãe e sobre você.

Aquele jeito de nerd compulsiva me irritava muito. E pra piorar ela resolveu passar o dia me seguindo, ela até mudou o horário para ficar mais perto de mim. Eram só mais olhares para mim, não que eu não gostasse, mas ela me fazia parecer...boa!

Depois de um dia inteiro escutando aquela vozinha insuportável, eu finalmente pensei que poderia deitar na minha cama e descansar os ouvidos, ler um livro e planejar como dominaria a escola. E mesmo com Tiffany no meu quarto, era melhor que ficar sendo perseguida pela Melody. Mas quando abri a porta, vi a pior cena da minha vida.

–Oi Otávia. – disse Tiffany com sua mala e seu lado do quarto todo desfeito. –Novidades, vou mudar de quarto, parece que alguém implorou e até chorou para ficar aqui com você, e como não cheguei a me adaptar.

Minha cara deve ter sido de extrema confusão, porque aquela risada que a patricinha deu não foi nada legal. Mas porque? Eu já estava aprendendo a lidar com ela. Estava tudo indo certo. Quem foi o coração infeliz que poderia ter feito isso? Ah, claro, Melody!

–Oi!!! Agra somos colegas de quarto. Não é demais? Eu acho super legal, poderemos conversar todos dos dias e conviver sempre! – aquela voz de novo não. Acho que eu ia chorar pela primeira vez na vida.

Me joguei na cama e vi Tiffany indo embora e rindo, enquanto Melody entrava com aquele sorriso que quase distorcia o rosto dela. E enquanto arrumava sobre suas coisas, ela começou a falar sobre a vida dela e sobre como eu era legal, e como as histórias que a mãe dela contava eram muito interessantes. E pensar que o que ela falou naquela hora era mais do que eu tinha falado na minha vida.

–Melody, por favor, PARA! – não consegui me conter. –Eu já entendi o quão legal eu sou e o quanto você gosta de mim, mas por favor, me dá um descanso. Não to mais aguentando, sério. Para um pouco.

–Desculpa. – aquele olhar não era nem um pouco legal. –É que eu sempre te admirei, e agora que eu te conheci, senti como se tivesse realizado um sonho. – até triste ela falava correndo. –Eu só queria ser igual a você.

Realmente se senti honrada. A filha da inimiga da minha mãe querendo ser igual a mim? Isso era no mínimo estranho, mas o que eu posso fazer, eu sou tão demais que pessoas querem me copiar.

–Mas você não tem nada a ver comigo. Olha suas roupas, seu estilo, seu jeito. Você é alegre, eu sou triste, você é luz e eu sou sombras.

–Eu nunca quis ser assim, minha mãe que quer que eu seja. Você é forte, esforçada, valente. Eu sou uma sombrinha. Quem é a filha da Ariel perto das outras princesas? Eu sou um peixe, eu tenho que ficar em um aquário, meu lugar é no mar, é o que todos dizem. Mas você, ninguém mexe com você, eles tem medo de você.

–Mas é porque minha mãe quase matou seu avô e virou uma tirana dos mares.

–Todos dizem que não somos nossos pais, que o legado deles não é o mesmo do nosso. Eu não quero ser a princesa fofa que vive o impossível. – ah não, lágrimas não, lágrimas são um péssimo sinal. –Eu quero ser a menina que chama atenção, eu não ligo para a riqueza nem esse lance de amor e felizes para sempre. Eu quero viver a vida.

Ok, essa menina era estranha. Mas era um passo para o sucesso. Todo vilão precisa de um acólito, um servo, um seguidor. E talvez eu tivesse acabado de encontrar o meu. Talvez tivesse achado a minha chance de ser alguém na escola. Tudo bem que preciso de mais seguidores, mas se eu passar a imagem de mãezona eu vou atrair mais meninas como a Melody. E de todos os planos para aquela noite, consegui completar um: planejar como dominaria a escola.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.