Crying In The Rain.

It hurts, does't it? The inner emptiness.


Um mês se passou. Consegui pagar o que devia ao hotel e comprei uma casa simples e pequena, porém muito confortável para apenas uma pessoa.

Minha vida estava voltando ao normal e, tudo isso, graças ao emprego que consegui como caixa de uma loja de R$ 1,99 em frente ao bar onde Leana trabalhava.

Leana Silver. Esse nome me dava enxaqueca, desespero.

Fazia um mês que ela estava desaparecida. Às vezes, durante a noite, me pegava pensando nela. Já chorei angustiado. Quero muito saber o que aconteceu.

Fui até a geladeira da minha casa e busquei um vinho. Esse vinho me lembrava das noites de natal que eu passava com minha familia, com aqueles que eu amava incondicionalmente.

Suspirei de tristeza e fui até a sala, me joguei no sofá e comecei a beber, até que minha campainha tocou.

Fui atender e avistei uma mulher com cabelos curtos e repicados. Ela usava uma blusa preta, em cima da mesma uma jaqueta de couro, uma calça jeans escura e coturno. Seus olhos me fitavam e ela sorriu. Sorri também.

Puxei-a pela cintura e selei meus lábios aos dela.

– Posso entrar?

– Claro que pode, Taylor. - Respondi, sorrindo.

E então passamos a noite inteira jogando conversa fora e tomando vinho e algumas cervejas.

Mais tarde a levei para o meu quarto, onde ficamos até amanhecer.

xxx

– Está precisando de ajuda?

Olhei para o lado e avistei Leana.

– Leana, meu Deus! Onde você estava? Estive tão preocupado!

Eu gritava, pois tinha a impressão de que ela estava longe, não conseguia me ouvir. Ela deu um sorriso fraco.

– Também sinto sua falta.

Fui tentar abraçá-la, porém a mesma virou poeira.

– Leana! - Eu gritava desesperado - Leana! Leana!

– Amor…

Sentei na cama depressa ao ouvir uma voz doce, porém agitada. Olhei para o lado e avistei Taylor preocupada e confusa.

– Estava tendo um pesadelo? - Ela perguntou.

Passei a mão na testa e vi que estava suando frio.

– Sim… - Disse baixinho.

Ela selou seus lábios com os meus demoradamente. Fechei meus olhos para apreciar mais o momento, porém quando o fiz, meu estranho sonho se passou pela minha mente novamente.

Desviei meus lábios dos dela, olhando para o chão, com uma expressão confusa. Por que era exatamente como eu estava. Confuso.

Por que não conseguia tirar Leana da cabeça? Por que ela sumiu tão de repente? Por que ela ainda não me procurou?

Não dou sorte com mulheres, mesmo.

Olhei para o lado e vi Taylor se levantando e indo ao banheiro. Ela parece mesmo gostar de mim, porém eu nunca me entreguei por inteiro ao seu amor, como ela costuma fazer.

Tenho certeza que no momento que eu o fizer, ela irá me dar um pé na bunda também.

Ou não. Talvez eu esteja apenas traumatizado.

Mas isso tudo é culpa de Carolline. E agora, de Leana.

Ouvi a porta do banheiro abrir, me levantei da cama e busquei alguma roupa.

– Vamos, tome banho, se não vai se atrasar. - Taylor disse, bocejando. - Vamos comprar um café antes de ir, e eu preciso conversar contigo.

Ela disse séria. Eu balancei minha cabeça e entrei no banho.

Ao entrar no banheiro, olhei para a pequena janela que lá havia, agora, consertada.

– Eu tenho medo de me apaixonar desde então.

– Eu também, Le. Porém isso aconteceu.

Deu um sorriso torto e senti minhas bochechas corarem. As delas fizeram o mesmo.

Puxei Leana pela cintura para colar nossos corpos, então senti seus braços entrelaçando meu pescoço e também senti seus lábios macios e doces no meu.

Desviei meus pensamentos dessas cenas, porém a dor que sentia em meu peito não era possível ela desviar. Ela estava lá.

O vazio interior.

Sai do banheiro, peguei algumas coisas das quais eu iria precisar e as coloquei em meu bolso, fui até a parede, puxei Taylor pelo seu jeans e dei um sorriso antes de selar nossos lábios, começando um beijo.

Ela me correspondeu, levando uma de suas mãos até minha cintura, pressionando seu corpo contra o meu, e a outra no meu rosto, acariciando-o.

Seus beijos carinhosos porém maliciosos durante a manhã faziam com que meu dia começasse muito bem. Eu gostava dela. Gostava de sua presença. Porém…

– Vamos. - Taylor disse, me puxando para fora pela minha mão.

Andamos de mãos dadas até onde vendia um café que nós adorávamos, perto de seu trabalho. Taylor também era comerciante, trabalhava em uma loja que vendia materiais de construção e a loja era sua propriedade.

Sentamos em uma mesa e pedimos o de sempre, que logo chegou.

– Bom, você disse que precisava conversar. - Disse, tomando um gole do meu café.

– Sim. - Ela tomou um gole do seu café e continuou. - Você sabe que amanhã é véspera de Natal, certo?

Arregalei os olhos. Até semana passada eu sabia, porém eu tinha me esquecido. Como poderia ter me esquecido?!

Taylor deu uma gargalhada, eu sorri e cocei a cabeça.

– Pois é. Eu sabia, porém havia esquecido e…

– Eu quero que você passe comigo. - Disse por fim, dando um sorriso largo. Também dei outro sorriso.

– É claro que eu passo.

– Mas… - Ela começou. - Meus pais moram no Canadá, James.

Taylor disse sério, fiquei indignado. Ela não podia estar falando sério. Respondi seco:

– Você quer mesmo que eu volte para aquele lugar, mesmo depois de tudo que eu te contei que aconteceu comigo e com a minha familia? E se eu esbarrar com eles em algum lugar? Eu demorei tanto tempo pra superar… Quer mesmo que todas memórias voltem à tona?

Perguntei sério. Taylor desviou seus olhos para seu café e ficou mexendo no mesmo, tomou o ultimo gole e me olhou com uma expressão indecifrável, seus olhos carregavam tristeza. Percebi que havia magoado ela.

A mesma se levantou e foi embora, sem nenhuma olhada para trás, sem nenhum sorriso, nem um beijo de despedida.

Suspirei enquanto colocava as mãos em minha cabeça para segurá-la. Estava com a sensação de que ela ia cair se eu não o fizesse.

Fui para o meu trabalho e lá comecei a pensar.

Talvez eu não encontrasse minha família.

– Seu nome será Carolline! - Disse minha mãe sorrindo com o pequeno bebê em seu colo.

Olhei para o lado e avistei Katerina jogar seus cabelos longos, cacheados e castanhos para trás e cruzar seus bracinhos, fazendo bico.

Eu ri e fui até sua direção, jogando ela no chão e fazendo cosquinha na mesma.

Sorri de leve ao lembrar dela. Minha irmãzinha querida. Eu a amava tanto, sentia tanto sua falta. Seria muito bom se eu esbarrasse com ela pelas ruas do Canadá.

Sentia desespero e os braços do meu pai praticamente me empurrando para fora de casa, enquanto minha mãe chorava e Carolline sorria. E, no meio desse alvoroço, ouvi uma voz baixinha querendo me dizer algo. Essa era a voz de Katerina, que dizia:

– Meu maninho, eu te amo. Vou provar que Carolline está mentindo, você vai ver.

Suspirei e levei dois de meus dedos até meus blocos oculares, sentia que essas memórias estavam me dando enxaqueca.

Olhei o relógio que marcava dez horas da noite. O tempo havia passado rápido, e já estava na hora de ir embora.

Guardei tudo e, com a ajuda de outros funcionários, fechei a loja.

Fui em direção à uma floricultura que eu sabia que havia lá perto e comprei um buquê de rosas bem vermelhas que eu sabia que Taylor amava.

Para cortar caminho até chegar em sua casa, entrei em umas ruas desconhecidas e por um momento senti uma estranha sensação. Parecia que eu estava sendo perseguido… Vigiado.

Andei com os passos mais rápidos, e logo reparei no bar onde Leana trabalha. Ou trabalhava, já que está desaparecida à um mês.

Senti aquele aperto chato no peito de novo e percebi então, que ele nunca foi embora, eu só esqueço dele as vezes.

Dói, não é? O vazio interior.

Cheguei até a casa de Taylor e hesitei algumas vezes, porém finalmente bati na porta. Esperei alguns minutos e avistei Taylor abrindo a porta, ela estava com uma camisola branca quase transparente.

Sorri de lado e mostrei o buquê. Ela ficou surpresa por que, com certeza, eu não costumo fazer coisas assim e ela sabe disso.

– Desculpa. - Disse, por fim. - Eu vou com você para o Canadá.

Ela riu satisfeita e eu fiz o mesmo. Selamos nossos lábios e senti ela me puxando para dentro de sua casa, colando seu corpo ao meu. Fechei meus olhos e comecei um beijo.

E, novamente, ao fechar os olhos, a imagem de Leana aparecia na minha cabeça.

Eu me odiava por isso.