Quando acordei, parecia que tinha um peso enorme no meu corpo. Fui abrindo devagar meus olhos, até perceber que estava no quarto de Taylor e me lembrar da noite passada.

Me espreguicei e esfreguei meus olhos. Nunca imaginei que um dia ia aceitar voltar para aquele lugar que eu tanto fugi. Só de pensar em ver minha mãe novamente, meu pai… Carolline. A unica pessoa que eu ia ficar feliz em ver seria minha pequena Katerina.

Que, tenho que admitir, já não é mais tão pequena. Virou uma mulher muito linda. Lembro-me quando me contava sobre as namoradas que tinha. Eu jurava segredo, pois meus pais são homofóbicos. Katerina vai ter muitos problemas quando resolver assumir sua opção sexual, porém, eu sempre deixei claro para ela que estaria defendendo-a em todos os momentos.

Levantei da cama com meus pensamentos em minha irmã. Será que ia esbarrar com ela na rua, nesse natal?

Fui até a sala e avistei Taylor, com algumas roupas no chão e outras malas já prontas.

– Que bom que acordou. Vamos, vá para casa e me encontre aqui. - Ela sorrindo.

No meu interior, eu estava tremendo. Porém tentei não demonstrar muito e sorri também, tentando ao máximo mostrar entusiasmo.

Ao chegar em casa, separei roupas de frio, pois era inverno e no Canadá neva. Tomei um banho e coloquei uma calça jeans escura, tênis, uma camisa do Iron Maiden e uma jaqueta de couro.

Quando voltei para casa de Taylor, ela já estava na porta me esperando para irmos para a rodoviária.

Eu estava mais calmo, devia ser por causa do sorriso de Taylor, ela não o tirava do rosto.

– Vou ver meus pais de novo. - Ela disse, sempre com o sorriso sincero e largo, o que me fez sorrir também. - Quanto tempo faz que não os vejo.

Abaixei a cabeça e pensei no que ela falou. Pois é, grande probabilidade de eu ver meus pais novamente.

Ela levantou minha cabeça pelo meu queixo, fazendo olhá-la. Agora sua face trazia pena.

– Ainda dá tempo de desistir. Pode ficar, se quiser.

Pensei por alguns segundos, parecia que Taylor tinha certeza que eu ia abandonar tudo. E… Bom, era o que eu mais queria.

– É… - Comecei. - Eu não vou parar agora.

Disse por fim. Não ia decepcioná-la. Ela sorriu e me deu um abraço forte, que foi retribuido no mesmo instante por mim.

O abraço era gostoso, quente, não queria mais largá-la. Comecei a pensar em minha família e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

– O ônibus chegou. - Minha voz saiu em um sussurro. Limpei minhas lágrimas antes que ela pudesse ver e dei um sorriso sincero e largo, buscando suas mãos e a levando para dentro do ônibus comigo.

Olhando aquelas estradas, comecei a ter alguns flashbacks.

– Maninho!

Ouvi a voz doce de minha irmã, e, quando fui olhar para a direção de onde ela vinha, já senti um peso em cima do meu corpo. Katerina havia me jogado no chão, como sempre.

– Para! - Implorei, rindo.

– Não! - Ela riu também, não deixando barato, continuando a fazer cócegas por todo o meu corpo.

Ela parou e saiu de cima de mim, eu sentei e mostrei o dedo médio para Katerina, que fez o mesmo. Nós dois caimos nas gargalhadas.

– Toma, seu presente. - Ela disse, sorrindo.

Abri o pacote e lá dentro havia algo que eu estava economizando para comprar. Sorri e feliz a abracei.

– Obrigado! Você sabe o quanto eu queria uma camisa do Iron Maiden! É minha banda preferida!

Ela riu comigo e me abraçou forte.

– Eu sei, por isso eu falava pra você largar de comprar a camisa por que era muito cara. Não queria que você comprasse, eu queria comprar.

Sorri de leve. Olhei para baixo e vi essa mesma camisa no meu corpo. Outra lágrima escorreu, a limpei e olhei para o lado, onde avistei Taylor dormindo.

Voltei meu olhar para a janela, e as lembranças voltaram.

– Aqui - fui em direção à Carolline. - Para você.

Ela sorriu docemente, como sempre fazia, e sempre me encantava. Abriu o presente, onde tinha um vestido vermelho.

– Quero que use neste natal. - Disse sorrindo e ela me abraçou calorosamente.

– Vou usar. É lindo.

Nós esperamos nossos tios e primos chegarem e, à meia noite, fizemos a ceia. Todos felizes, nada poderia dar errado. Eu tinha tudo que queria naquela noite.

Minha família, nada mais que isso.

Meus pensamentos foram cortados quando senti um peso caindo sobre meu colo. O ônibus tinha balançado um pouco e uma mulher caiu em cima de mim e de Taylor, o que fez com que ela acordasse.

A mulher tirou os cabelos ruivos do rosto para que pudesse me olhar e suas bochechas ficaram da cor de seus fios.

– Me desculpe!

Eu ri. A mulher olhou para Taylor e deu um sorrisinho tímido.

– Me desculpe, por ter te acordado.

Taylor deu de ombros e voltou a fechar os olhos.

Balancei a cabeça, sorrindo de leve. Esfreguei meus olhos e bocejei, realmente estava cansado.

Estava ansioso e nervoso demais, isso acabou com as minhas energias. Em questão de segundos, já havia pego no sono.

Comecei a ter um sonho bom, onde eu estava em um parque e uma mulher aparecia e nós nos abraçávamos e riamos de conversas jogadas fora. Essa mulher era Leana.

Era assim que eu conseguia encontrá-la, apenas nos sonhos.

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Senti uma mão me balançar e assim eu acordei. Olhei para o lado, tentando abrir os olhos e acho que eu vi Taylor.

– Oi? - Perguntei, sussurrando.

– Chegamos. - Ela disse, sorrindo.

Olhei para a janela e vi que já era noite. Tentei sair da cadeira, minhas costas estavam me matando. Me espreguicei e suspirei fundo.

Peguei minhas malas e ajudei Taylor a pegar as delas.

– Vamos lá. - Eu disse, tentando me encorajar.

Senti uma de suas mãos geladas entrelaçarem os dedos nas minhas, também geladas, devido a neve.

Começamos a andar pelas ruas do Canadá e a nostalgia foi me pegando aos poucos.

Os dias que eu brincava com Carolline e Katerina na casa abandonada, a noite que tive com Carolline na mesma casa, quando trabalhava, meus amigos que perdi… Tudo.

– Aqui. - Taylor apontou para uma casinha modesta. - É onde eles moram.

Parei por um segundo. Eu definitivamente havia congelado, e não era por causa da neve.

– O que houve? - Ela perguntou, preocupada.

Não conseguia responder, nem ao menos raciocinar. A casa dos pais dela eram exatamente do lado dos meus pais.

Comecei a andar em direção à casa dos meus pais, ouvi Taylor me chamar algumas vezes, porém não dei ouvidos.

Cheguei perto da janela e vi todos meus primos, meus pais e Carolline na ceia.

Fiquei olhando para todos os movimentos de Carolline. Um ódio me subiu a cabeça. Por que ela havia feito aquilo, afinal?!

O que eu fiz para ela? Eu a amava, se ela não quisesse, não me levasse para a casa velha.

Dei mais uma olhada na minha antiga família, e percebi que Katerina não estava lá.

Novamente aquela sensação de perseguição me contagiou. Olhei para os lados, em busca de ver alguem me vigiando.

Nos fundos da casa de meus pais, avistei uma sombra. Semicerrei meus olhos e consegui ver melhor a figura.

Não podia ser… Minha expressão agora era de terror. Eu estava vendo coisas, não é possível.

Era Leana lá, me olhando, sem nenhuma expressão facial? É claro que não. Esfreguei meus olhos novamente, e ela ainda estava lá.

Apenas me olhando, sem mexer um músculo.

De repente senti uma mão me puxando, meu coração foi à mil. Virei para ver quem era, com aquela minha expressão de terror.

– Está tudo bem? - Taylor perguntou, com a mesma expressão que eu, ao me ver.

Não respondi, apenas virei meu rosto para a direção onde Leana se encontrava e, agora, apenas vi neve. Nada de Leana. Nenhum sinal. Nenhum rastro. Nenhuma prova.

Me virei novamente e balancei a cabeça para espantar esses sentimentos. Estava ficando louco, só pode.

– A casa dos meus pais. - Disse sério. - É aqui.

Taylor abriu a boca para falar algo, mas logo a fechou.

– Eu… Sinto muito. Me desculpa. - Agora ela estava chorando, eu puxei pela cintura para colar em mim. Taylor olhou em meus olhos. - Eu não devia ter te forçado.

– Mas você não me forçou, amor. - Passei a mão em seu rosto, acariciando-o. - Eu vim por que eu quis. Por que eu quero passar o Natal com você e com sua família.

Ela abaixou a cabeça ainda chorando e a levantou alguns segundos depois.

– Eu te amo.

Essas palavras me pegaram de surpresa. Sorri, ainda acariciando seu rosto, selei nossos lábios.

– Eu… Eu te amo.

Disse meio inseguro. Eu sabia que não a amava, por que disse aquilo? Fiquei intrigado comigo mesmo.

– Vem, vamos entrar. - Ela disse, puxando minha mão até a casa de seus pais.

Dei uma ultima olhada para o local onde vi Leana. Nada novamente.

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Entrei na casa e, aos poucos, fui me enturmando com os pais de Taylor, que me fizeram sentir em casa.

A ceia foi ótima, conversamos, rimos, comemos e bebemos muito, até que eu comecei a pegar no sono, então Taylor me puxou pela mão com um sorriso doce no rosto e me levou para um dos quartos.

– Durma bem, meu amor.

Taylor disse, grudada em mim, acariciando meu rosto e olhando em meus olhos. Devagar, selamos nossos labios e ela saiu do quarto.

Embora estivesse com sono, não conseguia dormir, pensando na imagem que havia visto de Leana.

Eu pensava muito nela, sabia que não havia esquecido-a. Sabia que era errado estar com Taylor pensando em outra mulher.

Mas não podia evitar. Era estranho, pois em tão pouco tempo, Leana já fazia parte de mim, de minha vida. Mesmo depois de ter sumido, ainda penso nela. Sinto que não descansarei até reencontrá-la.

Pois eu sabia desde o início, há algo naquela mulher que me intriga… E algo dentro de mim tenta me avisar que eu vou descobrir isso.

Em breve.