Crying In The Rain.

If only someone had the chance to witness.


- Aqui está seu café, senhor.

Agradeci com a cabeça e coloquei uma nota de dois reais em cima do balcão e comecei a tomar meu café amargo.

Suspirei fundo. Já se fazia dois dias que Rick estava desmaiado, em minha cama. Ainda era um vampiro morto-vivo, disso eu tinha certeza. Mas, estava cada vez mais morto do que vivo.

Estava morando com Leana agora, concordamos que estávamos passando por momentos muito difíceis para ficarmos sozinhos agora. E, por mais que ela não admitisse, sempre a escutava chorar, toda noite, depois que ela achava que eu estava dormindo.

Eu não conseguia pegar no sono, porém fechava meus olhos e ficava pensando em tudo que vem acontecendo, e tentava ser forte. Precisava ser. Leana precisava de mim. Taylor precisava de mim. Rick precisava de mim.

Respirei fundo mais uma vez, tentando me acalmar. Pressionei dois de meus dedos em meus blocos oculares, estava começando a ficar com uma puta dor de cabeça, não aguentava tanto peso em meus ombros.

E então, comecei a ouvir passos vindo até mim, e a figura da qual escutava, sentou-se ao meu lado.

- Um café, por favor. - Ouvi a pessoa pedir e, mesmo sem ver seu rosto, reconhecia sua voz. Arregalei meus olhos.

Subi minha visão pelo corpo do homem, e fui chegando até seu rosto. Minha respiração se alterou, e de repente, parecia perdido.

- Rick?! - Perguntei, com a voz falhando.

- Oi, James. - Ele me respondeu, seco. Algo estava diferente, porém, o mesmo sorriu para mim. Sempre aquele sorriso malicioso que me dava, todos os dias, quando a gente fazia ou falava alguma merda, ou simplesmente não falava nada.

O sorriso que só Rick poderia ter. Meu melhor amigo.

Fechei e abri meus olhos por alguns instantes, pensei que poderia estar ficando louco. Mas não estava.

Lá estava Rick, sorrindo, à minha frente.

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- Mas… Como? - Consegui falar, já com a garganta seca.

- James, você está estranho. - Rick pigarreou antes de continuar. - Pare de me olhar assim cara, ou vou achar que está interessado em mim.

Ri por um segundo e ele fez o mesmo. Mas então meu sorriso desapareceu, assim que lembrei de Taylor.

- Cara… Você perdeu umas coisas enquanto estava desmaiado.

- É? E o que foi?

- Sobre Taylor.

- Adoraria ouvi-lo James, mas preciso ir para casa agora, depois nos falamos.

Franzi o cenho.

- Mas é importante.

- Desculpe. - Rick já se levantava quando eu involuntariamente o puxei pelo pulso, com força.

- Relaxa, cara. Não vou te encher com histórias da minha vida amorosa.

- Mas eu preciso mesmo ir, James.

Rick parecia desesperado e se soltou com um safanão, e o observei saindo da cafeteria, enquanto eu estava com um ponto de interrogação muito grande na minha face.

Rick era meu melhor amigo. Ninguém melhor do que eu - ou Leana - para conhecê-lo e saber de todas as suas manias. E, assim, posso confirmar que ele nunca deixaria de me escutar, mesmo se fosse sobre a minha vida amorosa, quanto mais se eu falasse que era importante.

Algo estava definitivamente errado.

Sai da cafeteria e parei um pouco, respirando fundo, sentindo o ar puro. Olhei para os lados para me certificar de que ninguém estava reparando em mim e dei uma daquelas minhas corridas de vampiro até em casa.

Quando abri a porta, Leana estava na poltrona, lendo. Ela parecia tão concentrada no livro, que não havia me ouvido chegar. Me encostei na porta e fiquei observando-a.

Leana era linda. Desde o dia que a conheci, sabia que algo me intrigava naquela mulher. E, o mais engraçado era, de que todas as hipóteses, nunca sonharia que uma delas era ela ser vampira.

Ela estava com uma calça de pijama branca e azul, e uma blusinha combinando, um pouco acima da barriga, e seus cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo, um tanto bagunçados, mas continuava linda.

Involuntariamente, comecei a sorrir enquanto a observava ler atentamente, molhando a ponta de seus dedos para virar as páginas, percebendo cada movimento que a íris de seus olhos faziam ao ler cada palavra, cada frase, parágrafo.

Eu amava aquela mulher, sei que amava. Sempre amei, sempre vou amar.

Respirei fundo, e finalmente Leana virou sua cabeça em minha direção e me viu. Levantou uma de suas sobrancelhas e abriu um sorriso malicioso. Corei ao ver que ela percebeu que eu ja a observava a um tempo.

- A casa é sua, sabe. - Disse, ainda com o sorriso travesso no rosto. - Pode entrar sem pedir minha permissão.

Ainda corado, apenas sorri, indo em direção à ela, sentando ao seu lado.

- Do que fala esse livro? - Perguntei, um tanto curioso.

- De um serial killer. - Leana disse, antes de marcar a página, fechar o livro e colocá-lo no braço do sofá.

Ela sorria para mim e, agora, eu estava deixando de corar, e sorri para ela da mesma forma. Fiquei olhando ora para seus olhos, ora para sua boca. Um de seus fios de cabelo soltou de seu rabo-de-cavalo e toquei em seu rosto, botando os fios atrás de sua orelha. Comecei a acariciar seu rosto com carinho, e ela sorria para mim.

- James… - Leana começou, mas parecia incerta se gostaria de terminar sua frase. Seus olhos brilhavam, e eu os olhava com atenção, ainda acariciando seu rosto. Agora sua expressão estava séria. - Você… Você realmente me ama?

A forma de como ela fez a pergunta gaguejando, percebi de que estava muito nervosa, e isso me pegou de surpresa. Porém, engoli em seco e continuei olhando em seus olhos.

Assenti com a cabeça, embora soubesse que não era o bastante apenas fazer esse gesto. Escorreguei meus dedos até seu queixo, puxando seu rosto para perto do meu, e selando nossos labios.

O beijo foi carinhoso, faminto, e mostrava o quanto um sentia saudade do outro. E então desci uma de minhas mãos até seu braço, sentindo seus pelos arrepiados assim como os meus, e a outra ainda acariciava seu rosto.

Olhei bem em seus olhos. Aqueles olhos castanhos com um brilho do qual nunca vi na vida. Olhos unicos, lindos.

- Eu te amo, Leana. - Disse por fim, percebendo o quanto nervoso estava.

Ela me deu um meio sorriso, parecia um tanto abalada, mesmo com a minha confissão óbvia. E então, puxou meu cabelo e selou meus lábios aos dela novamente, começando um beijo. A puxei pela cintura, fazendo com que ela deitasse em cima de mim no sofá, e deslizei minhas mãos pelas suas costas. Subi novamente, agora tirando sua camisa, enquanto ela também tirava minha camisa e arranhava meu abdômen.

Desci minhas mãos até suas calças, e ela fez o mesmo com a minha, abrindo-a. A olhei e sorri maliciosamente. Sabia que o que ela queria era o mesmo que eu, estava estampado em nossos olhos.

Ela retribuiu o sorriso, e nos beijamos novamente.

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Abri meus olhos e percebi que havia tirado um cochilo, e então senti algo em meu abdômen, e vi que era Leana. Respirei fundo e sorri, acariciando seu rosto.

Para a minha surpresa, ela estava acordada e olhou para mim, abrindo um sorriso. Retribui o sorriso da mesma forma.

Ela subiu um pouco a cabeça para me dar um beijo rapido e voltou a deitar em meu abdômen, enquanto eu acariciava seus cabelos.

O momento estava tão bom, que havia esquecido de todos os problemas. Porém, em instantes, me lembrei de Rick, da maneira que ele me tratou e como ele se curou tão rapido, e meus músculos ficaram duros.

- Leana… - Falei, engolindo em seco. - Por que você não me avisou que Rick havia acordado? O encontrei na cafeteria, levei um susto em vê-lo de pé, tão bem.

Leana se levantou em um movimento brusco e olhou para mim. Desviei meus olhos para baixo, ela ainda estava com o lençol que havia no sofá. Olhei em seus olhos novamente, estava ainda com a mesma expressão.

- Do que você está falando?

Franzi o cenho.

- Er… Do Rick ter melhorado. Obviamente você o viu passar por aqui, antes dele ir na cafeteria.

- Não, não vi.

- Você saiu em algum momento?

- Apenas para tomar banho, mas ele continuava na cama, imóvel, do jeito que deixamos.

- Impossível. - Senti meu sangue ferver. - Leana, pode falar. Você saiu. Sei que você deveria ficar cuidando dele, mas não tem problema, não vou ficar bravo com você. Apenas quero a verdade.

Leana não falou mais nada, apenas se levantou e se amarrou no lençol e me jogou minha cueca. Vesti a mesma e a segui, subindo as escadas até meu quarto.

Ela hesitou antes de abrir a porta, e me olhou preocupada. Enfim, abriu a porta.

Pisquei algumas vezes para ter certeza de que não estava sonhando. Impossível. Não podia ser.

- Mas… Como? - Perguntei a mim mesmo, em um sussurro.

Rick ainda estava lá, do jeito que deixamos, exatamente como Leana havia me dito. Cheguei perto de minha cama e botei a mão na testa de Rick. Estava fervendo.

Minha respiração estava ofegante e de repente perdi o controle: estava oficialmente desesperado.

- Então, se esse é o Rick, quem diabos é o cara igual a ele com quem conversei hoje na cafeteria?

Leana deu de ombros, ainda com aquele olhar preocupado. Algo me dizia, que ela tinha algumas hipóteses.

As próximas palavras que saíram da boca de Leana me deram a certeza disso.