Crying In The Rain.

Every minute is a range, every moment lasts a day.


Eu supostamente deveria estar feliz por finalmente acharmos um jeito de conseguir prender Carolline e ela ter o fim que merece. Sozinha, em uma tumba.

A morte seria bondade demais e, uma eternidade de sofrimento é tudo que eu mais queria para ela. Não poderia estar mais feliz com a minha vingança.

Mas definitivamente algo me encomodava, e isso era ver Katerina e Brian sentados em minha cama, juntos, bolando um plano e vendo feitiços de como aprisionar Carolline.

O fato de minha irmã estar em meu quarto, em minha cama, respirando o mesmo ar que eu, não me encomoda. É claro que não.

Brian que me encomoda.

E então, lá estava eu, sentado em uma cadeira encostada na parede do quarto, fitando-os sem desviar meu olhar por um segundo, de braços cruzados.

Por uma hora e meia.

Estava ficando realmente cansativo, e então resolvi procurar algum outro alvo para começar a olhar e, é claro, meus olhos pararam em Leana. Ela olhava fixamente para Brian e Katerina, mas algo - meus ciúmes - me dizia que estava apenas observando a beleza de seu mago.

E então meus olhos começaram a rodar pelo quarto e pararam em Taylor, que lia um livro. No momento que a olhei, ela me olhou também, o que significa que durante essa hora e meia estava dando algumas olhadas para mim.

Dei um sorriso torto e vi que Taylor reagiu a minha reação, ficando com as bochechas coradas e, em seguida, fitando seu livro novamente.

Rolei meus olhos que pararam em Rick, que me olhava com um daqueles sorrisos de que entendia o que estava se passando por aqui. Taylor demonstrando seus sentimentos por mim e eu me mordendo de ciumes de Leana.

Desviei meus olhos para o chão, pensativo.

- Bom, então é isso. - Katerina, finalmente, se dirigiu a palavra para nós e não para Brian.

A olhei e vi que todos também fizeram o mesmo.

- Nós temos um feitiço aqui para fazer, apenas precisamos que vocês colaborem para que ela seja pega e, enfim, entrar na tumba. - Brian falou e tudo que eu queria fazer era mandá-lo calar a boca porque não suportava sua voz, mas, em vez disso, eu apenas fiquei ouvindo.

- Não posso mais destraí-la. - Falei, seco.

- Nós sabemos disso, por isso que Taylor irá destraí-la. - Katerina falava, e meus olhos se arregalaram.

Me virei para Taylor, que me olhou com indiferença. Sorri de lado. Realmente ela não tinha mais medo de nada, havia se tornado uma mulher… Corajosa.

E eu gostava disso.

- E como eu posso fazer isso? - Ouvi Taylor perguntar.

- Você vai dar em cima dela. Ouvi dizer que Carolline é fácil. - Brian disse, e deu uma risada de um segundo depois.

Olhei para Rick e ele me olhou no mesmo instante. Ambos entendemos que isso foi uma indireta. Senti meu sangue subir e tudo que eu queria nesse momento era fechar meu punho na cara de Brian.

Mas, em vez disso, mantive a calma. Respirei fundo. E continuei ouvindo o plano.

- Você quer que eu dê em cima dela? - Taylor perguntou, um tanto indignada. - Não é melhor Elena fazer isso?

- Não. - Katerina respondeu seca. - Não quero meter Elena nisso, ela vai me esperar aqui, na casa de James, junto com Leana.

- Que? Não vou ajudar? - Ela perguntou, um tanto decepcionada.

- Não, não quero que se machuque. - Brian disse e os dois começaram a se olhar por alguns segundos.

Desviei meu olhar para o chão e, em seguida, para Rick. Percebi que ele me olhava e, de algum modo, compreendia o que eu estava sentindo. Respirei fundo e fitei minha irmã novamente.

- James, - Ouvi Katerina se direcionar à mim - você vai ficar espionando Taylor com Carolline e, se algo der errado, você entra e ajude-a. Você vai segui-las até a tumba, onde, atrás delas, irá fechá-la, sem Carolline perceber e, quando ver eu e Brian, já será tarde demais para sair.

- E depois? - Leana quis saber.

- E depois eu e Katerina começamos o feitiço. - Brian disse. - Taylor vai levá-la, à todo custo, Carolline para dentro da tumba e sair logo após, sem ser pega.

- Por que eu não posso levar? - Quis saber.

- Todo ser sobrenatural que lá entrar, não sai mais. - Brian explicou e eu assenti a cabeça.

- Então… - Ouvi uma voz a mais na conversa, olhei para trás e avistei Elena na porta. - O plano vai começar ou não?

- Sim. - Leana falou e se levantou, se direcionando à sala com Elena. - E nós vamos ficar aqui.

Elena não disse nada, apenas parecia um tanto decepcionada pela própria namorada não a botar no plano.

- Vai ser melhor assim. - Falei e Elena me olhou por alguns segundos e assentiu com a cabeça, parecendo que havia entendido o lado de minha irmã nesse momento.

Ficamos em silêncio por alguns segundos até que Taylor se levantou, me olhou por alguns segundos antes de olhar à todos.

- Eaí, vamos?

Todos nós nos olhamos por alguns segundos e assentimos a cabeça, quase que ao mesmo tempo.

xxx

- Olá… Você é a Carolline, estou certa? - Ouvi Taylor falando, de longe, assim que Carolline abriu a porta.

Taylor estava segura de si em suas palavras. Dei um sorriso torto pelas suas atitudes inesperadas.

- É… Sou eu. - Carolline respondeu e, pela sua expressão e tom de voz, parecia um tanto surpresa e desconfiada com a situação, porém estava segura de si também.

- Eu sou a garota que você hipnotizou para matar o James. - Taylor falou direta, sem medo, e seca. Ficaram em silêncio por alguns segundos. - Devo dizer que não precisava me hipnotizar para isso.

Dei um sorriso de lado ao ouvir suas palavras. Sabia que era mentira, e ela era uma ótima mentirosa. Carolline de princípio ficou calada, apenas avaliando-a lentamente com os olhos. E então, ela sorriu de um jeito malicioso. Típico de Carolline.

Ela havia mordido a isca.

Vi Carolline abrir um pouco mais a porta para Taylor, permitindo que ela entrasse. E assim o fez.

xxx

Os minutos que se passavam enquanto eu esperava escondido, pareciam eternos. Sempre com o ouvido na sintonia das frases dentro da casa, tentando perceber se havia algo de errado.

E então, enquanto passava os minutos lentamente, ouvi a porta da casa de abrir. Virei-me para aquele lado e vi uma cena um tanto traumatizante. Nunca ia pensar que veria duas garotas das quais já fiquei, se beijando.

Mas era exatamente essa cena que estava vendo.

Taylor a jogava na parede com calma e delicadesa, porém faminta. Parecia até que estava gostando, mas sei que era um sacrifício para tal, já que Taylor é hétero.

- Tem um lugar especial que gostaria de te mostrar. - Ouvi Taylor sussurrando de um jeito sensual no ouvido de Carolline.

Abri um meio sorriso, imaginando se essas palavras fossem para mim. Mas logo balancei a cabeça, afastando esses pensamentos famintos de mim e voltei a me concentrar nas duas.

Taylor estava levando Carolline calmamente pelas mãos, em direção à tumba. Esperei chegarem até certo ponto para poder segui-las sem ser notado.

- Onde estamos indo? - Carolline perguntou, um tanto curiosa e desconfiada, ainda sendo levada pela mão de Taylor.

- É surpresa. - Taylor disse, em um tom doce, enquanto sorria de um jeito delicado e apaixonante.

Carolline retribuiu o sorriso e parecia não mais desconfiada, enquanto deixava ser guiada.

Chegaram na tumba e Carolline parou por alguns segundos, levantando uma de suas sobrancelhas e largando a mão de Taylor.

Conseguia ouvir o coração batendo forte da mesma batendo forte, porém ela continuava respirando fundo e mantendo a calma. Taylor sorriu e buscou a mão de Carolline de novo, acrescentando:

- Venha, - Ouvi Taylor falar, sempre de forma doce - não precisa ter medo. Não irá se arrepender.

Um pouco receosa, Carolline ficou parada por alguns segundos. Mas logo cedeu, deixando Taylor guiá-la escadas abaixo.

Comecei a ofegar, tenho que admitir que estava um tanto nervoso. Deixei elas descerem as escadas e, após esperar um longo instante, fechei a tumba atrás delas.

- O que é isso?! - Ouvi um grito de raiva de Carolline. - O que estão tentando fazer?

- Taylor, cuidado!

Ouvi a voz de Katerina, e então corri para baixo, avistando Carolline presa em um pedaço da tumba um tanto fechado, como havia planejado.

Apenas uma coisa saiu errado. Taylor estava lá dentro, Carolline a segurava com toda a força.

Olhei para Katerina espantado.

- Não entre lá. - Katerina disse, apavorada. Olhei para ela e em seguida para Brian, que também estava surpreso.

- Nós três somos seres sobrenaturais. - Falei, ainda apavorado, olhando para Carolline com Taylor todo segundo.

- Sim. - Brian falou, um tanto seco. - Se entrarmos, não saimos. Mas Taylor pode sair.

- Chega. - Carolline disse, segurando Taylor fortemente. - Me tirem daqui, ou quebro o pescoço dela.

Antes mesmo de alguém tomar alguma atitude contra isso, me desesperei, fazendo algo que talvez me arrependesse.

Mas deixo meus arrependimentos para mais tarde.

- James! - Ouvi Katerina chamar, desesperada, em vão.

Entrei no espaço com feitiço, junto de Carolline, jogando-a no chão, fazendo-a largar Taylor e a empurrando para fora do buraco.

- James! - Taylor gritou, ao cair no chão. Ela se levantou rapidamente, ficando de frente para mim. Nos olhamos por alguns segundos, seus olhos me olhavam, desesperados por alguma solução.

Mas não existia nenhuma.

Katerina correu para perto de mim.

- Cuidado! - Gritei - Não entre aqui.

- Precisamos ajudá-lo a sair. - Katerina disse e em seguida correu para Brian. - Vamos reverter o feitiço.

- O que?! - Brian exclamou, surpreso. - Não podemos fazer isso.

Revirei os olhos.

- É claro que não podem.

- O que está acontecendo aqui?

Ouvi uma voz familiar e meu corpo todo estremeceu, porém já estava me acostumando com aquela sensação. Virei meus olhos para o lado e avistei Leana, com os olhos arregalados, ela também tinha percebido que havia algo de errado em nosso plano.

- James… - Leana disse enquanto corria em minha direção, porém parava onde havia a barreira do feitiço que sabia que se entrasse, não sairia jamais.

Olhei para trás e lá estava ela, Carolline, sentada em cima de uma pedra, com um sorriso vitorioso.

- Bom, a brincadeira acabou. - Disse ela, se levantando da pedra e andando vagarosamente em circulos e parando ao meu lado, olhando diretamente para minha irmã e Brian. - Me tirem daqui.

- Não. - Falei, com firmeza. - Não façam isso.

Avistei minha irmã foleando seu grimório.

- Kat… - Falei, e então ela desviou sua atenção, olhando para mim. - Não faça isso.

- Claro que vou fazer, não posso deixá-lo aí preso com a Carolline. - Katerina se virou para Leana. - Le, cadê o Rick?

- Na porta da tumba. - Leana respondeu rapidamente.

- Pegue algumas velas com ele e volte o mais rapido que puder.

Leana assentiu com a cabeça e, depois disso, apenas vi seu vulto, saindo da tumba.

Olhei para trás e Carolline estava sentada novamente na pedra, apenas os observando. Pensei por algum segundo sentar também, mas estava muito tenso para tal.

Logo Leana chegou com Rick, os dois carregavam velas, assim como Katerina havia pedido. Ela e Brian começaram a espalhá-las pela tumba, com um tanto de pressa.

Segui Leana com o olhar, que se encostou em uma das paredes rochosas da tumba, junto de Rick. Mais de longe, sentada segurando os joelhos e muito triste, havia Taylor.

Naquele momento, fiquei com uma vontade de abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem, mas não podia, pois não ia ter certeza de minhas palavras.

E, ah, também porque eu estou preso na tumba com uma vadia. Olhei para trás e avistei Carolline apenas observando os magos.

Ouvi minha irmã proferir algumas palavras em latim, de mãos dadas com Brian, que também proferia as mesmas palavras.

Minhas mãos começaram a suar, e comecei a ficar tenso. Um vento, efeito do feitiço, corria e passava pelo meu corpo. As chamas das velas se acenderam saindo, começaram a ficar dançantes e cada vez maiores e mais fortes, assim como as palavras de minha irmã e de Brian ficavam cada vez mais altas e de formas mais fortes, sendo proferidas.

E então, de repente, aconteceu algo.

Eu vi Katerina caindo bruscamente no chão. Tentei correr para ajudá-la, porém a barreira invisível me impediu. Sinal de que o feitiço não deu certo.

Leana, Rick, Taylor e Brian ficaram em frente ao corpo deitado de minha irmã.

- Gente? O que houve? - Perguntei, um tanto aflito.

Todos continuaram sentados, apenas Taylor, que se virou para mim, com os olhos cheios de lágrimas. Minha respiração começou a falhar, algo definitivamente estava errado.

- Sinto muito, James… - A ouvi sussurrar, perto de mim. - A culpa é toda minha.

Leana a olhou e pegou em seu braço, e as duas começaram a chorar juntas.

Taylor saiu correndo e Leana me olhou por alguns segundos, e nossas respirações pararam. Por fim, ela abaixou a cabeça e apenas vi um vulto, ela havia saído da tumba também.

Vi Brian se levantar com o corpo de minha irmã em seu colo, e o mesmo estava mole. Senti várias lágrimas quentes caindo sobre o mesmo. Brian me olhou por alguns segundos e saiu, devagar, da tumba, com o corpo de Katerina nos seus braços.

E então, caiu a ficha. Cai na desgraça naquele momento, junto com meu corpo, de joelhos na terra que havia na tumba.

Rick chegou perto, mas não tão perto, se certificando que não passaria da barreira, e ficou de joelhos, me olhando nos olhos. Ele também estava chorando.

- Cara…

- A Kat… Minha irmã… Ela? - Falei em um sussurro, pois não tinha mais forças. - Por que?

Rick balançou a cabeça, olhando para o chão e depois de alguns segundos, para mim novamente.

- O feitiço era muito forte. Ela não resistiu… E sabia que corria esse risco.

- O que? - Perguntei, um tanto indignado. - Como sabe disso?

- Estava escrito no grimório. - Rick falou, mostrando a página do livro que estava nas mãos de Katerina.

Comecei a chorar desesperadamente.

- Você ainda está preso aí, cara? - Rick perguntou, como se não fosse óbvio.

Apenas assenti com a cabeça.

- Quero ficar sozinho.

- Vamos dar um jeito de te tirar daí, cara. - Rick disse, se levantando. - Não se preocupe.

- Ok. Apenas vá. - Falei com a cabeça baixa, fitando o chão.

Podia ficar fitando o chão o dia inteiro. Imagens e momentos juntos de Kat começaram a correr pela minha mente, me deixando louco.

- Então… - Ouvi a voz de Carolline, me deixando enjoado por finalmente lembrar que estava preso com a mesma. A olhei, sem me preocupar com as lágrimas correndo do meu rosto. - O feitiço não deu certo, estamos presos aqui certo?

- É… Certo. - Respondi de maneira seca.

Carolline chegou perto de mim e me puxou pela camisa, me levantando e me pressionando na parede. Seus olhos ficaram pretos de repente e, de um jeito bruto, ela roçou seus lábios nos meus. A empurrei com toda minha força para longe, até ela cair no chão e se recuperar rapidamente.

Ouvi Carolline soltar uma gargalhada, ao se encostar na parede rochosa em minha frente. De algum jeito, parecia que ela estava adorando a situação.

- Até que passar a eternidade aqui não será tão ruim assim. - Disse, por fim, esboçando um sorriso diabólico.