Melanie acordou com sua mãe gritando à porta:

—Acorde imprestável, você tem aula hoje, levante e faça algo produtivo.

Ela se alongou, e então levantou da cama com seu típico sorriso no rosto. Afinal, com uma vida igual à dela, não há lugar para pessimismo.

Foi direto para o banheiro, tomando seu banho e cantando ao chuveiro, tentando fazer seu dia melhor. Fez toda a sua higiene, e vestiu um vestido semelhante à um vestido de boneca, e colocou um laço no seu cabelo de duas cores.

Seguiu para o quarto de seu irmão, onde mesmo com a porta fechada, sentia-se um cheiro tanto quanto “suspeito”:

—Ei, irmão, tá na hora da aula, desça para tomarmos café juntos! – disse ela, com esperança.

—Não enche meu saco, eu não quero descer e ver a cara dessa família de merda!

Notava-se que ele estava alterado, e Melanie percebeu que ele estava chapado logo á essa hora da manhã. Logo concluiu que ele deveria ter fugido de casa de novo para se drogar e voltou à poucas horas. Mesmo tendo certeza disso, ela ficou calada. Mesmo sabendo que não era o melhor pra ele, recusava-se à colocar seu irmão em encrencas, o amava demais para isso.

Colocou novamente seu sorriso no rosto e desceu as escadas, indo para a cozinha. Na mesa, seu pai lia o jornal com cara mal-humorada, e sua mãe bebia café com um olhar vazio para o nada. No fogão, estava sua empregada, provavelmente a única pessoa que a tratava bem na casa, fazendo panquecas:

—Senhorita! Que delicada escolha de roupas! Eu fiz panqueca para você, espero que goste! – diz ela com um sorriso simpático.

—Obrigada Rosy, elas devem estar mesmo deliciosas!

Rosy se virou, e sua expressão simpática se desfez pra uma expressão de nojo. Elas não suportava a menina, mas ainda assim tratava Melanie bem, ela era paga pra isso. Melanie se iludia, achando que sua única amiga na casa era sua empregada, mas nem ela á suportava:

—Seu irmão não vai para a escola hoje? - seu pai perguntou, com aquele típico jeito frio.

—Bem, pai, eu chamei ele mas ... – fez uma pausa, pensando na desculpa que iria dar para não ferrar com seu irmão.

—Mas o que Melanie? O que ele tá aprontando naquele quarto? – questionou o pai, já bem desconfiado.

—N-nada ! Ele só tá sem fome e disse que não tá se sentindo bem... Eu acho que hoje ele não vai querer ir.

—Hum? Vou confirmar por via das dúvidas, não quero criar vagabundo que mente para não ir para a escola.

—Não! Não entre no quarto dele!

—Porque Melanie?! O que você quer esconder de mim?! – falou com um tom ríspido e nervoso.

Diante do tom intimidador de seu pai, nada mais ela podia fazer, então só abaixou a cabeça e esperou pelos gritos, que logo vieram:

—MAS O QUE ?! VOCÊ AINDA TÁ DEITADO SEU INÚTIL ?! LEVANTA DA MERDA DESSA CAMA AGO- QUE CHEIRO É ESSE ?! E ESSE PÓ BRANCO NA ESCRIVANINHA ?! ALÉM DE INÚTIL É VICIADO AGORA ?! VOCÊ VAI PRA CLÍNICA AGORA SE LIMPAR SEU MERDA! – falou o pai, aos berros.

— EU NÃO VOU VOLTAR PRA PORRA DAQUELA CLÍNICA, EU TÔ LIMPO! SE EU QUERO OU NÃO SER DROGADO NÃO É DA SUA CONTA! – rebateu o irmão.

Melanie levantou a cabeça e viu seu pai descendo as escadas, ligando pra os guardas costas que tinha contratado especialmente pra aquelas ocasiões.

Após uns vinte minutos chegaram dois homens altos e fortes e subiram as escadas. Ouvia-se a porta sendo arrombada e o seu irmão resistindo contra os homens. Descendo ás escadas vinha seu irmão carregado pelos braços pelos seguranças, se debatendo, mas então ele veio para o lado de Melanie e disse:

—FOI VOCÊ QUE ME DEDUROU PRA ELE NÃO É ?! EU TÔ NA MERDA POR SUA CULPA SUA ABERRAÇÃO! EU QUERIA QUE VOCÊ NUNCA TIVESSE NASCIDO!

Melanie ficou estática, vendo seu irmão ser levado, com as palavras duras dele ecoando na sua cabeça, e começou á chorar sem parar. Logo descendo as escadas vinha seu pai, ajeitando seu smoking e gravata:

—Já não me basta um filho drogado, ainda tenho que suportar um bebê chorona. – disse friamente.

Ela engoliu seu choro, lutando contra as lágrimas. Pegou sua mochila, saiu de casa e dirigiu-se ao carro no jardim, que a esperava para leva-la á escola.

Apesar de sua família ser tão quebrada, ela amava a mesma, mas parecia a única que amava lá. Seu pai era um homem sério e severo, de negócios. Traia sua mãe sempre que podia, com muitas mulheres diferentes, sexo era o que o relaxava de sua rotina cansativa de negócios. Sua mãe era uma alcóolatra, sabia que seu marida a traía, mas preferia ficar infeliz e casada com um homem rico do que se divorciar e ficar além de pobre, mal falada. Seu irmão era um viciado, usava drogas muito pesadas e muito frequentemente, e por isso ficava quase sempre agressivo e alterado. Mas isso tudo era só dentro de casa. Por fora eles eram a família perfeita, uma família rica, com dois filhos saudáveis: um menino inteligente, bonito e talentoso. Uma menina doce, educada e obediente; e claro um casal perfeito amoroso, com anos de casamento e ambos bem sucedidos. Todos pensavam que eles eram assim, porque eles agiam por fora assim. Pra uma família rica e de status como aquela, aparências era mais importante que tudo, não deixar ninguém olhar através das cortinas.

Melanie chegou na sua escola, e logo foi bombardeada por seu agressores, mas ela não se importava. Ela só queria chorar até não poder mais, e foi o que ela fez.