Hot like me (Zero)

Ano de 1942[1]

—Estou preocupado, muito preocupado, América.

—Preocupado? –Indagou a menina loura, confusa –É com a Guerra na Europa, chefe? Bom, os Nazistas estavam vencendo até ano passado, mas agora que entramos nessa, o Alemanha sequer terá chance![2] Estamos vencendo eles nos principais pontos estratégicos, e o... –Ela pensou um pouco antes de dizer o nome seguinte, como se ele fizesse sua boca ter um sabor amargo –Rússia está fazendo Ludwig ter que retroceder bastante em direção à Berlim, então essa guerra está praticamente ganha...! –A jovem demonstrava imensa animação e orgulho ao pronunciar essas palavras, porém, para sua surpresa, seu chefe fez um gesto para que ela se calasse.

—Não, querida América, não é com a guerra que estou preocupado. –Disse ele, sutil, porém com convicção –Ainda temos muito trabalho a fazer quanto ao Eixo, mas não é essa a fonte de minhas preocupações.

—O que te preocupa, então, chefe? –Perguntou Estados Unidos da América, semicerrando seus olhos cristalinos enquanto tentava encontrar a fonte de preocupação de seu presidente.

—Uma amiguinha sua, lá de baixo... –O homem falou, virando-se em direção à sua mesa, sério. Quando ela não adivinhou quem era, ele suspirou e tornou a encará-la nos olhos –Brasil.

—Ahh, Brasil? Luciana? –A menina pareceu subitamente desconcentrada, como se tivesse se lembrado de algo constrangedor –Por que ela o preocupa, Senhor?

—Bem, bem, América. Bom que você me perguntou isso. –Ele sorriu para ela, de soslaio, encarando a loirinha, que estava com um olhar entre o confuso e o envergonhado –Como sabe, ou devia saber, Brasil está sob comando de um homem chamado Getúlio Vargas. –Ela assentiu, e por isso ele continuou –Esse nosso amigo, digamos que ele tem algumas tendências... fascistas, coloquemos assim [3]. –O presidente falou lentamente e gesticulando bastante, para garantir que seu país compreendesse, na totalidade, as informações que ele lhe dava e acompanhasse seu raciocínio –E isso a está aproximando dos países do Eixo. O que não é bom para nós, evidentemente, porque caso Brasil se alie à Alemanha, perderemos um possível e importante ponto de comunicação e desembarque que nos daria acesso à África, o que pode determinar nossa vitória ou derrota. Ou, no mínimo, influenciar bastante.

Agora, América parecia preocupada. Brasil, Brasil. Aquela garota, ex-colônia de Portugal, maior país da América Latina e quinto maior do mundo. Dona da floresta amazônica, muita água e recursos naturais. Luciana, aquela que raramente lutava contra outros países, por qualquer coisa que fosse, não por falta de potencial, mas por ausência de vontade, informação e afinco.

—Então, o senhor quer que eu a faça participar dessa guerra do nosso lado, ainda que ela seja... pacífica? –A loira perguntou, expondo seu brilhante sorriso ao colocar as mãos nos quadris de forma sedutora.

—Exatamente, querida América. Convença-a. Faça acordos com ela, se precisar, mas convença-a a tomar um posicionamento. O chefe dela está sendo muito... –ele procurou a palavra por alguns instantes –neutro. Nem aqui, nem ali, sempre em cima do muro de forma muito hábil. Não queremos isso, queremos países aliados, com posicionamentos claros e força. Iremos conversar com o chefe dela e com ela; Convença-a, América. Não permita que ela se alie ao Ludwig, está entendendo-me?

—Estou, sim, senhor. –Respondeu a jovem com confiança, semicerrando os olhos da cor do céu. –Sairei agora e, assim que eu voltar por essa porta, terei Brasil como aliada, pode confiar em mim. Não irei desapontá-lo, chefe.

—Assim espero, América. –Ele respondeu, resoluto e sério, mas com um pingo de divertimento no olhar, como se esperasse que a conversa que seu país teria com o país latino fosse ser interessante –Lembre-se a quem pertence esse continente.

Ela assentiu com certeza, respirando devagar. Virou-se lentamente, pegando alguns documentos, caneta e sua inseparável arma. Ajeitou a jaqueta e o top com o desenho de sua própria bandeira, passou a mão pelos cabelos claros e sorriu. Seu chefe a encarava. Ele sorriu junto. Ela assentiu novamente e virou-se.

Caminhou sorrindo até a porta. Seu chefe tinha razão. Ela daria conta daquilo. Convenceria Luciana, a colocaria de seu lado naquela guerra, nem que precisasse obriga-la. Se bem que, sabendo do comportamento da sul-americana, provavelmente algumas trocas e acordos bastariam. Ela gostava de América, e a loira sabia disso. Luciana tinha uma admiração secreta por ela, mas quem a culparia? Quem não seria seduzido por aquele país, aquela garota loura de olhos azuis, pele clara, pernas fortes, coxas grandes e peitos salientes? Ela, que exalava confiança e poder por cada poro de seu corpo. América tinha poder sobre o mundo todo, e sabia disso. Nem todos gostavam dela, tudo bem –nem todos os países têm bom gosto, pensava ela –mas a maioria, sim. Até mesmo Arthur ficava meio sem-graça perto dela. Luciana não tinha a menor chance de dizer “não”.

E foi com essa confiança que chegou até a porta e a abriu, passou por ela e saiu, fechando a porta atrás de si, após dar uma última olhada em seu chefe, que a espiava com um sorriso convencido. América sabia porque o Chefe tinha tanto orgulho dela: ela era uma das nações mais poderosas do planeta. Certamente venceria aquela guerra, e com certeza convenceria Luciana a juntar-se a ela. Porque ela tinha o poder, e porque ela podia. E, com todo esse poder, ninguém jamais seria capaz de negar qualquer coisa a ela.