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O estacionamento estava tão cheio quanto a última noite. Seria mais difícil para encontrar pistas. O grupo se dirige ao segundo andar, onde haviam encontrado com o monstro verde, e separam-se.

- Velma, fosse cobre a ala esquerda; eu cobrirei a ala direita; Salsicha e Scooby, façam o que vocês fazem de melhor- liderava Fred, mas nunca com um tom autoritário.

- Faremos! - responde o cachorro, animado. Ele se sentia bem em fazer parte da turma, sempre teria a quem recorrer e sabe que será acolhido, assim como foi pelo dono quando era pequeno.

E então foram cada um em sua direção. Fred enquanto caminhava se distraía olhando os carros, imaginando como seria o motor de cada um, o estofamento; era um caso perdido esperar que ele encontrasse uma pista sozinho, a única pessoa que o puxava para a terra não estava ali. Porém, era extremamente engenhoso nas aulas de marcenaria e de construção.

Já Velma era focada, nenhum detalhe passava despercebido. Em questão de minutos depois que se separaram, ela já havia achado, embaixo de um carro, uma pequena poça de gosma verde, possivelmente do cadáver nojento do outro dia. Ah! Se apenas estivesse com sua garrafa! Dane-se Salsicha e sua seca! Por que comeu tanto daquele sorvete! Porém não se abalou. A garota-gênio pegou seu frasco de perfume de bolso e coletou a amostra.
Ouvem um grito. Dois, na verdade. Só podiam ser o garoto magricelo e seu cachorro covarde. Velma se levanta e percebe uma trilha da mesma gosma que parecia se dirigir até o barulho dos medrosos. Não podia ser uma coincidência.

***
Daphne abre a porta a força e já se posiciona para o caso de luta. Mas no lugar de algum monstro ou um assaltante de 2 metros e extremamente musculoso (era assim que imaginava), os seus olhos encontram uma guria linda.
Rosto fino, boca grossa, sobrancelhas naturalmente perfeitas, pele escura e saudável e um longo cabelo negro escorrido. Tudo isso acompanhando dos olhos verdes brilhantes, assustados com a entrada bruta de Daphne. A menina derruba suas pulseiras no chão.

- Mil desculpas! - Daphne não parava de repetir enquanto ajudada a pegar as pulseiras do chão - Eu achei que era outra pessoa. Havia alguém na biblioteca e... Enfim, desculpas.

Imagina. - responde a garota, cordialmente - Eu devo ter te assustado. Minha casa está em reforma e o diretor me permitiu usar o vestiário do colégio por enquanto. Prazer, Alice. Alice May- ela se aparenta.

Daphne se apresenta também e entrega as pulseiras que havia coletado. O telefone começa a vibrar: K-GHOUL. AGORA. ENCONTRAMOS PISTAS. A mensagem era de Velma.

- Eu tenho que ir! - Daphne se dirige a garota, ainda envergonhada com toda a situação

-Boa mudança. Foi um prazer conhecê-la.

Alice responde com um sorriso e um aceno com a cabeça. Enquanto Daphne sai, ela vira para o espelho um pouco embaçado e retoca o seu batom, vermelho.

***

Como Salsicha e Scooby foram parar no térreo era um mistério. Mas o que era aquela cratera dentro de um estacionamento era algo maior. Mesmo cercada por cavaletes, não era surpresa que eles tenham caído lá dentro. Mas ninguém tinha notado?

- Pra que toda essa gritaria? - pergunta Fred, sua voz ecoando pelo buraco.

O jovem e o cachorro não se moviam. Apenas tremiam abraçados encostando-se em uma parede.

Fred e Velma se olham e seus olhares confirmam o óbvio: teriam que descer. Como havia uma corda, não foi difícil chegar até embaixo. Enquanto o menino foi socorrer os desastrados, Velma seguiu a trilha com o olhar, que continuava lá dentro, e o que ela viu explicou muito bem a reação dos amigos. Dois homens, provavelmente trabalhadores de obra (percebeu pelos capacetes), totalmente ressecados, enrugados, envoltos pela substância. Talvez fosse mais horrível que a aparição pois a cena era mais real, mais crua. Todavia, em nome da ciência, ela se arrisca e pega mais um pouco da amostra.

- Temos que seguir em frente. - comandou Velma. - Essas devem ser parte das cavernas subterrâneas de Crystal Cove. Essa trilha tem de chegar em algum lugar. Também sinto ar vindo da mesma direção.

Fred concordou com a cabeça e levantou o amigo, que andava apoiava em si. Teriam que seguir em frente, não importava a escuridão desconvidativa ou o vento frio e cortante que atravessa a caverna.

***

O sol se pôs no topo do cume enquanto Daphne estacionava o carro rosa no espaço de chão de britas em frente à K-Ghoul, a estação de rádio de Crystal Cove. O céu alaranjando bem forte se levantava acima da colossal antena do lado do pequeno estabelecimento. A gangue já deveria estar lá dentro com Anjinha Dinamite, pensou Daphne.
Anjinha era a interlocutora da rádio e uma grande amiga da turma. Era uma mulher alta e malhada, devia ter seus 35 anos, seu cabelo afro sempre perfeitamente escovado. Trabalhava lá havia uns 5 anos já mas na verdade não era a dona. Na verdade, ninguém havia visto o dono, talvez nem ela mesma.
Entrou e todos viraram os olhos em sua direção. Pareciam bastante abalados e Salsicha pressionava uma compressa de gelo em sua perna.

- O que aconteceu? - ela perguntou, as sobrancelhas levantadas.

- Olá, menina! - gritou a interlocutora entusiasmada, destoando do clima do ambiente.

- Senta que eu vou te contar - Velma se adiantou; era a que parecia mais calma

E começou: logo após encontrarem os corpos (Velma foi bem detalhista nessa parte) na caverna, Velma, os garotos e Scooby caminharam por uma boa meia-hora até encontrarem uma luz natural dentro da caverna, seguindo a trilha da substância verde. Surpreendidos, eles saíram da caverna pra entrar direto no depósito da Fruitmeir's. Felizmente ninguém percebeu sua entrada e sua saída. Foram, então, direto ao departamento da polícia contar toda a história. A polícia se dirigiu junto com eles ao estacionamento e coletou os corpos que foram enviados pra análise. O grupo estava esperando o contato de Velma que trabalhava no mortuário mandar alguma resposta.

- E foi isso! - terminou Velma, suspirando.

Daphne ficou bastante aflita pelos amigos. Olhando para Velma foi que se lembrou do colar. Não podia falar a verdade para a amiga.

- Achei isso aqui na sala. Acho que você deixou lá e não percebeu. - notou que os olhos de Anjinha se abriram mas achou que não fosse nada. Talvez também tenha se fascinado com a beleza do pingente.

- Obrigado! Nem havia notado mesmo. - Velma falou, parecendo menos abalada com tudo.

Foi colocar o acessório de volta na bolsa quando nota a falta de seu frasco. Seu frasco com a amostra da substância do monstro! A única pista concreta que tinham.
Revirou e revirou a bolsa e nada. Foi então que seu olhar atravessou a sala e encontrou Scooby, com a boca verde. O mesmo tom da gosma. Os seus pequenos olham começam a cerrar-se. A boca a se contrair e as bochechas a ficarem vermelhas. O cão nota que é culpa dele.

- Desculpa. Toda essa estória me deixou com fome. - falou em um tom baixo e reprimido.

- Você não podia ter feito isso! - ela gritava com raiva, a turma espantada com a reação - Isso pode ser radioativo ou algo mais! Você quer morrer ou algo parecido?!

- É sorvete. Fruitmeir's. - Scooby respondeu rápido

Parecia que Velma havia se enfurecido ainda mais. Pra ela, aquilo era uma piada. Estava prestes a se avançar no mascote quando Daphne se antecipa e pega o frasco na mão. Vira a última gota no dedo e prova daquilo.

- Turma. Scooby está certo! Isso aqui é sorvete.
Salsicha interrompe:

- E pela cor, é novo sabor: gelatina de maçã verde.

Uma música indie de batida pesada começa a tocar. 20 horas. O programa de Anjinha havia começado