Em um dos bairros mais antigos da cidade, famoso por seus bares movimentados, onde se podia dançar e ouvir boa música, Mathews parou na frente de uma porta, conferiu o nome que tinha nas mãos com o pequeno letreiro iluminado, pendurado logo acima. Estava certo, era aquele o lugar. Uma estreita escada de madeira gasta e mal iluminada, levava para o andar de cima, à medida que subiu o som de música e o burburinho de vozes aumentavam, por fim, chegou a um grande salão tenuemente iluminado e mais cheio do que ele esperava. Logo na entrada, havia um balcão de bar de estilo antigo com bancos altos na sua frente com algumas pessoas sentadas, bebendo, mais no centro, havia algumas mesas e cadeiras, quase todas ocupadas, dispostas diante de um pequeno palco, onde um conjunto tocava rocks clássicos e famosos, acompanhado pelo animado e não muito afinado coro da plateia. Como estava escuro, Mathews não conseguiu avistar Teresa, aproximou-se do bar e pediu uma cerveja, esperaria até o show terminar.

— Eu pensei, que a apresentação já teria terminado a essa hora – ele falou ao barman, que o servia.

— Começou atrasada, mas já deve estar terminando – o homem avisou, antes de se virar para atender os outros clientes.

Mathews ficou encostado no balcão, aguçando a visão, tentando achar Teresa, no meio de toda aquela gente.

O show estava atrasado, Teresa não conseguia tirar os olhos da porta de entrada, mas a pouca luz dificultava sua vigília, além que seus amigos escolherem uma mesa bem próxima do palco. Por um instante, achou ter visto Mathews, porém não dava para se levantar e ir até lá, teria que esperar o show terminar.

— O que tanto você olha para trás, Tê? – Uma das colegas, sentada ao seu lado, perguntou, curiosa.

— Eu combinei com um amigo me encontrar aqui, estou tentando ver se ele chegou – ela revelou, não conseguia prestar atenção nas músicas, só pensava se Mathews estaria ali, em algum lugar, ou não. E se ele não viesse ou desistisse e fosse embora, esses pensamentos a deixaram aflita.

Assim, que a última música tocou, Teresa se levantou e andou rapidamente, desviando-se das mesas e cadeiras, em direção da porta, parou no espaço vazio da entrada, olhou em volta, quando sentiu uma mão segurando seu braço, um arrepio percorreu seu corpo, ela se voltou e encarou os olhos azuis de Mathews, sorriu aliviada.

— Eu pensei que você não vinha – ela confessou seu medo, chegando mais perto para vencer o barulho.

— Claro, que eu viria – ele declarou, a olhando nos olhos – Vamos sair daqui e ir para um lugar mais calmo, onde possamos conversar?

— Vou me despedir das minhas amigas, fique aqui que eu já volto – ela pediu, se afastando, rapidamente, em direção a uma mesa cheias de garotas, enquanto Mathews a observava falar algo, seguido de gritinhos e risadas, olhando na direção dele, acintosamente, depois, Teresa retornar, ao som de palavras de incentivo nada sutis.

— Suas amigas são muito animadas e bem indiscretas – Mathews reparou, achando tudo aquilo engraçado.

— Nós somos intimas o bastante para acharem, que possam ter essa liberdade. Nós moramos juntas, dividimos o apartamento. Vamos! – Ela o convidou, ainda rindo das brincadeiras a suas costas, andando em direção a porta, mas antes que saíssem, um rapaz alto e moreno se aproximou, interrompendo a sua passagem.

— Você já vai, Teresa? – ele a interrogou com um olhar surpreso e um sorriso brilhante – Pensei, que poderíamos beber algo, depois do show.

— Ah, Dani! O show estava ótimo, mas eu já tinha um compromisso. Preciso ir, agora – Teresa disse, com pesar, olhando Mathews pelo canto do olho, o sorriso do rapaz desabou em decepção.

— Entendo – respondeu, resignado – Mas mesmo assim, foi ótimo você ter vindo, obrigado, Teresa – completou com um abraço apertado, que fez o coração de Mathews se acelerar, ele reconheceu um rival – Obrigado, também – Dani se dirigiu a ele, entretanto, Teresa não os apresentou.

— Tchau – ela se despediu, Mathews a guiou com a mão nas suas costas, marcando terreno, apesar de curioso, ele não perguntou nada sobre Dani, pois sabia que tudo teria o seu tempo.

— E, agora, para onde vamos? – Teresa quis saber, assim que saíram na rua movimentada, no frescor da noite.

— Para qualquer lugar, onde eu possa conhecer com você melhor.

— Então, pode ser ali – Teresa apontou um pequeno bar de aparência bem simples.

— Não era isso que estava planejando para um primeiro encontro, eu estava esperando impressioná-la, levando você a um restaurante bem caro e elegante – ele confessou, mas concordou.

— Fica para outra vez – ela brincou. Assim, escolheram uma das poucas mesas vazias no local, um garçom sonolento veio anotar seus pedidos.

— Então, é uma promessa, que haverá outra vez? – Mathews quis saber, a olhando nos olhos.

— Por que não haveria? – Ela respondeu, de modo casual, com um sorriso travesso – Mas, me diga, o que você faz aqui em uma cidade como a nossa, Mathews?

— Eu estou aqui para ajudar na organização da aquisição indústria Saramego pela empresa onde trabalho, então conhecer a sua língua ajudou bastante para essa minha vinda.

— É uma pena a Saramego ter sido vendida, ela era o orgulho desse lugar. Meu pai trabalhou lá por muito anos. Eu até mandei meu currículo, há algum tempo, para me candidatar como estagiária, estava empolgada, mas agora não sei.

— Posso ajudar você quanto a isso, conseguir uma vaga com estagiária, se quiser.

— Nada disso, não precisa, o que tem que ser, será. Mas, pelo menos, essa mudança o trouxe você para aqui. Quando tempo você vai ficar?

— Obrigado, não está sendo mesmo muito fácil nosso trabalho, estamos encontrando muita resistência local, posso até dizer um pouco de má vontade, por isso não tenho nada definido sobre o tempo da minha permanência por aqui – ele revelou seus pensamentos, para a sua própria surpresa, não estava acostumado a se abrir assim, principalmente, sobre negócios.

— Tudo mundo está com medo de perder o emprego – Teresa completou – Que com a nova aquisição, setores sejam fechados ou reduzidos.

— Realmente, isso poderá acontecer, mas ainda estamos avaliando. Agora, me conta sobre esse estágio que você.

— Na área de produção, eu faço engenharia – Teresa informou, para a surpresa de Mathews.

— Engenharia? Nunca pensei que fosse essa sua área.

— Que bom que surpreendi você — Teresa disse, em tom ironia – O que esperava?

— Não sei, mas nunca engenharia – Mathews falou, divertido dando de ombros. – Para falar a verdade, não pensei sobre isso.

Depois de algum tempo naquele bar, o barulho em volta deles aumentava, os frequentadores ficavam mais animados e falavam mais alto, proporcionalmente, a quantidade de garrafas que se acumulavam sobre as suas mesas.

— Vamos embora daqui? Eu não gosto de confusão e de barulho – Mathews olhava em volta, parecia bem incomodado com o ruído.

— Somos um povo barulhento, cheio de energia. Mas é claro que podemos sair daqui! – Teresa falava alto para vencer o som ao redor deles, compreensiva ao olhar a expressão perturbada dele, ele ergueu a mão para pedir a conta, pagou rapidamente e saíram para a rua ainda mais movimentada, já que aquela era uma área de vida noturna intensa, frequentada pelos jovens locais.

— Desculpe, mas eu não suporto barulho nem multidão – ele explicou com uma pontinha de irritação,

— Algum trauma de infância? – Teresa indagou, em tom de brincadeira.

— Foi – Mathews confessou, sério, para a surpresa dela – Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, eu me perdi dos meus pais no meio de uma grande festa, onde havia muita gente, muito barulho de vozes e música alta, demoraram muito tempo para me encontrar, achei que tinha se esquecido de mim, desde então odeio lugares barulhento e com muita gente – ele revelou para ela algo que, raramente, contou para alguém.

— Eu lamento muito, Mathews – Teresa falou com sinceridade.

— Meu carro está logo ali – disse, a guiando pelas ruas até chegar a uma pequena transversal, parou diante de um carro, espantando, olhou ao redor, procurando por algo.

— O que foi? – Ela indagou, preocupada, estranhando a atitude dele.

— Esse não é o meu carro! – exclamou, erguendo as sobrancelhas. – Acho que fui roubado.

— Você tem certeza que foi aqui que estacionou?

— Tenho certeza, me lembro bem desse lugar – Mathews afirmou, tirando o telefone do bolso — Vou ligar para alguém nos buscar.

Ele não parecia estar muito preocupado em perder um carro durante a apressada conversa ao telefone, em seu idioma.

— Eu lamento tanto, Mathews, me sinto culpada, porque se não tivesse convidado você para esse lugar, isso não teria acontecido – ela aproveitou a deixa, assim que ele desligou o telefone.

— Por favor, Teresa. Você não tem culpada de nada, além disso, o carro é da empresa e está no seguro. Mas, vamos sair daqui, senão nós que seremos assaltados. A propósito, qual é o seu nome completo, caso precise colocar no relatório da empresa?

— Ah, claro! Teresa Ramirez – ela informou – Vai precisar do meu endereço ou identidade? – quis saber, solícita.

— Não vai será necessário – Mathews confirmou, quando um luxuoso carro de uma marca alemã preto parou junto a eles. – Nossa carona – afirmou abrindo a porta para ela. – Agora, dê seu endereço para levarmos você em casa.

— Rápido! – ela disse, abismada com a destreza que o carro chegou até eles.