Coração de Lata

O sequestrado, o falido e o quebrado


— Castiel! Vocês mataram ele! Me solta, quero sair daqui! - Dean gritava incontrolável enquanto tentava se desvencilhar das mãos de Sean. Ele estava enlouquecido, e se atiraria novamente do carro se fosse necessário. Pouco importava se estava machucado... A dor em ver seu robozinho destruído era muito maior que qualquer dor física.

— Cala a boca, viadinho! O cara lá era um robô... Muito louco isso! Depois tu compra outro, que tu é rico... - tentou amenizar Frank.

— Isso se sobrar dinheiro depois que o outro lá pagar o resgate, né mano?

Frank concordou com o gêmeo, e deu um leve sorriso, enquanto Dean continuava a gritar e se debater.

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Enquanto isso, na mansão, Sebastian já havia sentido falta de Dean. Quando ele chegou com o jantar, não encontrou o louro, e nem seu robozinho de estimação. O mordomo não queria, entretanto, alarmar Sam. Seu patrão andava muito estressado com o trabalho ultimamente, isso era perceptível, apesar de Sebastian não saber o real motivo. E o mordomo sabia o quanto o Winchester se preocupava com o marido... Achou melhor não perturbá-lo em sua viagem. Logo Dean e Castiel haveriam de aparecer. Deviam estar escondidos em algum canto qualquer da mansão, que era grande...

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Quando Dean e os gêmeos chegaram ao seu destino – uma cabana de pouco luxo, no meio do nada – o louro já havia cansado de berrar, e choramingava baixinho. Agora seu corpo doía dos pés a cabeça. Sentia como se tivesse todo quebrado por dentro, e talvez estivesse mesmo. Mas o que doía mais era seu coração. Será que haviam encontrado seu robozinho? Seria possível consertar os horríveis danos que ele sofrera? E as últimas palavras que ele dissera ao amante foram ríspidas e impacientes... O louro não conseguia deixar de se culpar por isso.

Sem conseguir firmar os pés no chão, Dean foi arrastado sem muito cuidado pelos dois irmãos até um colchão fedorento, no meio de um quartinho empoeirado e cheio de tralhas. Em seguida, teve seus braços e pernas amarrados por cordas grossas, e foi deixado sozinho.

Sem os dois brutamontes por perto, o louro tentou colocar a cabeça para funcionar. Que situação absurda ele se metera! Estava machucado, preso, e totalmente indefeso nas garras de dois criminosos. Sentia-se imensamente culpado. Sam tanto lhe prevenira para não se afastar de casa... Se ele tivesse lhe ouvido... Nada de mal teria acontecido com Cass. E Sammy... O pobrezinho já andava preocupado com dinheiro. Imagina se ainda lhe cobrassem uma fortuna de resgate. Talvez ele nem mesmo tivesse o suficiente. .. Fora o desespero de saber que seu marido estava em perigo.

Ele precisava fugir... Não tinha outro jeito... Tentou se desvencilhar das cordas, mas só conseguiu com isso sentir mais dor. Analisando, era provável que tivesse quebrado umas costelas, pois a dor nessa região era exagerada. Sua perna direita também estava machucada, com um ferimento visível. E além disso devia ter torcido o tornozelo... Ou seja... Se ele conseguisse por algum milagre se livrar das cordas, dificilmente conseguiria ir muito longe...

Os pensamentos do rapaz foram cortados quando uma mulher entrou no aposento e notou-o preso, naquele estado deplorável. Ela deu meia volta, resmungando alto.

— Seus idiotas! Vocês sequestraram um cara!?

Dean então ouviu passos e um bater de porta.

— Esse é marido do Sam Winchester. Sabe de quem eu estou falando? É um viadão, super ricaço! Tu tinha é que agradecer a gente, isso sim! Vamos ficar ricos Clo...

O homem ia falar o nome da mulher em voz alta, mas foi impedido, provavelmente por ela própria.

— Onde estão as máscaras? Vocês esconderam o rosto?

Ouve um minuto de silêncio até que a voz feminina se fizesse ouvir de novo, em tom de revolta.

— Se não sabem fazer as coisas direito, então é melhor não fazer. Agora vamos ter que matar esse cara!

Dean engoliu em seco. Realmente se eles haviam se livrado de Castiel para evitar uma testemunha viva, porque haveriam de polpá-lo? Ele já estava morto!

— Matar não! - Retrucou um dos homens. - Ele vale dinheiro, mulher! Assim que pagarem o resgata e gente solta o viadinho, e se manda com a grana para o México.

— Que plano brilhante... - ironizou a moça. - Fala como se fosse muito fácil...

— Ela tem razão, mano... Ele sabe como é a nossa cara... Demos mole.

— Porra, é que uma oportunidade como essa a gente não podia perder... Com ou sem máscara. Então a gente mata ele assim que pagarem o resgate, pronto.

O silêncio denunciava o pacto que se selara. Dean sentiu seu estômago congelar. Ele ia morrer ali, pagando por todos os pecados que cometera. O plano dos criminosos ainda incluía levar seu marido à falência, para em seguida torná-lo viúvo. Logo o pobre Sam, que já tinha perdido a mãe em situação similar. Era triste demais! Em seguida o louro lembrou de Cass aos pedaços no asfalto e sua cabeça girou.

Dean agora não conseguia raciocinar direito. Seu impulso foi de apenas se contorcer, fazendo o máximo de força que conseguia para tentar se livrar das cordas. Sem sucesso, chorou de dor e desespero por horas, até pegar no sono, de fraqueza e exaustão.

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Enquanto isso, na mansão, Sebastian recebeu um telefonema alarmante.

— Alô! Gostaria de falar com o Sr. Sam Winchester.

— Ele não está. Quem deseja? - perguntou o mordomo, já apreensivo, pois o outro tinha voz metalizada, modificada por algum aparelho.

— Se não passar o telefone pra ele agora, o Sr Dean Winchester morre. - respondeu Frank, que era quem falava pelos sequestradores.

— E... Eu... Já... Falei... Ele não está! - Respondeu Sebastian com a voz trêmula. - Mas eu posso avisá-lo, e aí você me passa o seu número que...

— Acha que eu sou burro! - Vociferou o sequestrador. - Eu ligo amanhã, nesse mesmo horário. É bom que ele atenda, senão pode dar adeus pra essa versão gay do boneco Ken.

Antes que Sebastian pudesse falar qualquer coisa, Cloette – esse era o nome da mulher -, que estava ouvindo a conversa, se intrometeu, logicamente também com a voz modificada.

— E não se atreva a chamar a polícia, se não fazemos com você o que fizemos com o robô. Já acabamos com ele. Está em pedaços, na South Congress. Bem, isso se o lixeiro ainda não levou...

O pobre mordomo engoliu em seco, e respondeu um fraco “não vou chamar a polícia, fique tranquilo”. Em seguida ouviu a ligação cair.

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Sam estava no aeroporto com Oliver. Sentado, segurava a cabeça em um gesto de desespero. Mas ele ainda não sabia do sequestro do marido... Nada ia bem para sua empresa, e, em vez de conseguir reerguê-la, a cada dia parecia que se afundava mais em dívidas e problemas. Já tinha demitido mais da metade dos funcionários. Viajava em classe turística, o que para o Winchester era um suplício. Naquele dia, estavam finalmente voltando para casa depois de mais uma longa viagem mal sucedida.

— Estou arruinado, Oliver... Sério, cara. É melhor pra você arrumar outro emprego. Não sei quanto tempo a gente vai aguentar.

— Calma... Eu não vou te deixar na mão. Estou preparado para qualquer coisa. Tenho minhas economias... Aliás, você também tem as suas... Relaxa!

— Relaxar como? Não posso deixar a empresa do meu pai falir! Tudo que ele construiu com tanto esforço... Eu sou um incompetente! - o moreno esfregou a testa, agoniado. A vontade que tinha era de explodir. Morrer. Jamais imaginou que pudesse chegar ao fundo do poço daquela maneira.

— Sam, os tempos são outros... - amenizou Oliver. - Você é um cara competente, já te disse isso milhões de vezes... A culpa não foi sua! Eu entendo que é difícil, mas não adianta entrar em desespero. Se tudo der errado, abre falência, e com o seu patrimônio pessoal basta fazer umas aplicações que você ainda continuará em boa situação financeira... É a vida, cara...

Eles teriam continuado a conversa se o celular de Sam não tivesse tocado naquele exato momento.

— Sebastian! Sim, o Oliver está aqui ao meu lado... Você quer falar com ele? Por quê?

O mordomo apenas insistiu. Não conseguiria dar uma notícia daquelas para o patrão ao telefone. Oliver podia falar com mais jeito, pessoalmente.

Winchester achou muito estranho seu mordomo ter alguma coisa a tratar com seu amigo Oliver, a quem mal conhecia. Logo pensou em Dean e seu coração disparou agoniado. A medida que via o rosto do outro empalidecer, com o ouvido grudado ao celular, o moreno mais se desesperava.

— O que aconteceu, Oliver! Me conta logo! Foi alguma coisa com o Dean!?

Mas Oliver permaneceu calado até Sebastian se despedir.

— Já estamos voltando para Austin. - o louro por fim falou. - Chegamos amanhã de manhã. Fica calmo, que eu estou aqui com ele.

Os olhos de Sam já estavam marejados, prevendo desgraça.

— O que aconteceu, Oliver? - o homem perguntou com a voz alterada. Ele tremia dos pés a cabeça de nervoso.

Oliver Queen olhou para ele com cara de piedade. Antes que conseguisse dizer qualquer coisa, Sam segurou-o pelos ombros.

— É o Dean? Ele morreu!? Fala logo!!!

— Não, Sam, fica calmo, ele não morreu! Vai ficar tudo bem... Fica tranquilo. Senta, que eu vou te contar...

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Arthur, um dos criados da mansão Winchester, foi enviado à South Congress por Sebastian, para tentar averiguar a informação de que Castiel poderia estar acidentado por lá. É claro que ele não sabia de toda a verdade... A informação passada pelo mordomo era de que o androide havia saído com Dean, se perdido na South Congress, e possivelmente se quebrado, pois não sabia atravessar as ruas sozinho.

Já era início da madrugada quando Arthur chegou, e sendo a South Congress uma rua bastante extensa, dirigiu de uma ponta à outra, procurando por sucatas robóticas.

Na primeira passagem, Arthur não encontrou nada. Passando uma segunda vez, notou o que parecia ser um sapato caído no chão – e não estava vazio. O homem então saltou do carro e verificou que de fato tinha achado um pé de robô – muito provavelmente de Castiel...

A rua estava deserta, e a movimentação de Arthur, em frente ao hotel South Congress, chamou a atenção de George, segurança do estabelecimento, que saiu para averiguar.

— Boa noite! - cumprimentou o segurança em voz alta, impondo autoridade. Se aquele vagabundo estivesse planejando fazer alguma besteira, já estaria intimidado... Em seguida George notou que o “vagabundo” estava bem vestido e segurava o que parecia ser o pé de um androide...

— Boa noite – respondeu Arthur – um tanto sem graça de ter sido pego aquela hora da noite vagando pelas ruas, segurando aquele pé nas mãos. - Por acaso você viu um robô por aí? Eu trabalho na mansão dos Winchester... E sabe como são esses ricaços... Eles perderam o robô... Me mandaram procurar a essa hora da noite, imagina você... - o homem sorriu sem graça. Ficou aliviado quando George sorriu de volta e fez sinal para que entrasse no hotel.

— Miss Brook encontrou pelas ruas, algumas horas atrás... - o segurança levou o outro até a recepção e apontou um amontoado de sucata robótica em um canto escondido. Lá jazia os restos de Castiel: cabeça, tronco, braços, pernas... Todo despedaçado, mas não parecia faltar nenhuma parte a não ser um pé – que Arthur agora carregava consigo. O homem estremeceu se lembrando do androide humano, que lhe era tão familiar. Coitado... Arthur suspirou. Se é que fazia sentido ter pena de robô...