Coração de Lata

Lágimas - de desespero, de dor, de emoção...


— Sequestrado!!?? Como assim sequestrado!!?? Meu marido não sai de casa, Oliver! Isso só pode ser algum engano.

Sam não conseguia processar aquela informação. Oliver se perguntou se tinha mesmo sido uma boa ideia contar a ele antes de embarcarem... Fariam uma viagem dos infernos. Mas o Winchester já sabia que tinha alguma coisa errada, e não sossegaria até descobrir o que era... Stephen simplesmente não teve como lhe esconder a verdade por muito tempo.

— Eu não sei, Sam... Mas fica calmo, pelo amor de Deus. Não adianta se desesperar...

— Como não me desesperar!? E se eles machucarem o Dean... E se eles... - os olhos do moreno se encheram de lágrimas, e ele não conseguiu mais controlar o pranto. Enterrou a cabeça nos ombros do amigo e chorou como um bebê.

Queen ficou calado. Não tinha mais o que dizer. Seu amigo já estava arrasado por causa da empresa, e agora essa notícia... Pobre homem. Ele torcia do fundo do coração que Dean estivesse bem, e que conseguisse voltar para casa depressa, e sem muito trauma. Pelo bem da sanidade mental do seu amigo...

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Enquanto isso, preso em seu cativeiro, Dean ora acordava, ora dormia um sono turbulento e cheio de pesadelos. Estava com sede, machucado, dolorido e febril. Lá pelas tantas começou a gritar alto e a se debater.

— O que está acontecendo aqui? Por que tanto escândalo?

A luz do aposento se acendeu ofuscando o louro, cujos olhos já haviam se acostumado com a escuridão.

— Me deixa sair daqui! - gritou ele, em desespero.

— Não adianta gritar, mocinho... Você sabe que estamos longe de tudo aqui. Ninguém vai te ouvir, então polpa a garganta...

Cloette então se aproximou do rapaz. Não imaginava que fosse tão bonito... Estava suado e sujo. Sujo inclusive de sangue... Sua expressão era de dor. Mas mesmo assim era impossível não notar suas feições delicadas, e o corpo forte e bem proporcionado. Homem bonito assim, tinha que ser gay... A mulher suspirou.

— O que eles fizeram com você? - ela perguntou então, em tom de reprovação, percebendo o quanto estava machucado.

— Eles mataram o Castiel! Me sequestraram! E mataram o Cass... – Repetiu ele, agoniado, e com os olhos se enchendo de lágrimas.

— Castiel era o robô? - Cloette perguntou achando estranho. Os gêmeos haviam lhe contado sobre ele. Sabia que eles o haviam destruído...

O louro acenou a cabeça afirmativamente.

Aquele ali era tão bonito, que não bastava ser gay... Tinha que ser doido também... Pelo jeito Dean considerava que o robô fosse vivo... Cloette deu um sorrisinho de lado.

— Quando eu perguntei o que eles fizeram com você... Eu estava me referindo a esses machucados... - disse a mulher, examinando mais de perto o corpo do rapaz.

— Eu tentei fugir, e pulei do carro... - o louro respondeu, agora com a voz baixa e sufocada pelo choro.

Cloette não falou mais nada. Saiu do aposento e voltou com um copo de água, que Dean bebeu de um gole só. Ela pegou também anticéptico e gases, e foi até delicada limpando a ferida da perna do louro, enquanto ele gemia de dor.

— Sinto muito que isso tenha acontecido com você, viu? Muito mesmo... Eles são dois idiotas...

Dean pediu para ser desamarrado – as cordas machucavam cada vez mais - mas isso a moça não fez. Retirou-se depois de fazer um curativo nele, e disse para tentar se acalmar e dormir.

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Sam foi chorando de Londres – sua cidade de origem – até Austin, seu destino. Oliver tentava consolá-lo como podia, mas a situação estava difícil. Pediu para uma das comissárias arranjar algum tranquilizante, o que ela fez prontamente. Mas nem com remédio o pobre homem conseguiu se acalmar um pouco. Agora para ele o problema que enfrentava com a empresa era tão diminuto que nem lhe passava mais pela cabeça. E quando passava, Sam chorava mais, lembrando de como pudera se sentir tão infeliz por tão pouco. Agora sim, perigava perder o que tinha de mais precioso na vida.

— Coitado daquele homem... O que será que aconteceu com ele? - cochichavam e comentavam os outros passageiros.

— Nossa, deve ter sido uma tragédia muito grande... Pobre rapaz... Tão bonito...

Oliver aconselhava Sam a ter fé, a rezar, a pedir para Deus que o ajudasse. E foi isso que o Winchester fez.

— Meu Deus, por favor, pode tirar todo o meu dinheiro. Eu não preciso ser dono de uma empresa milionária, não preciso morar em uma casa rica, não preciso que os outros me julguem competente. Eu não me importo mais com isso... Por favor, me perdoe por ter dado tão pouca atenção a quem eu amo mais que tudo nessa vida. Me dê mais uma chance de viver feliz ao lado dele. Não o leve de mim... - o moreno suplicou em pensamento, enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos, mais uma vez.

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O dia seguinte passou vagarosamente para Sam e para Dean, até o momento em que Frank ligou novamente para a mansão dos Winchester, já de noite.

Dean passou o dia na mesma posição. Deitado e amarrado, no escuro, e com muita dor. Poucas vezes teve a visita de um dos sequestradores. Geralmente, era Cloette quem entrava para vê-lo, e foi quem lhe deu as refeições: pão velho - que o louro se negou a comer – e água. Frequentemente, entretanto, o rapaz pôde perceber a presença dos três em uma sala próxima de onde estava. Eles passavam boa parte do tempo lá, e era possível para ele ouvir a conversa e barulho dos criminosos.

Pelas conversas, Dean descobriu que Cloette era namorada dos dois – e ambos aceitavam aquela situação numa boa. Pessoas estranhas...

Quando Dean ouviu Sean falar sobre a ligação que fariam à mansão Winchester, algumas horas mais tarde, o louro sentiu seu coração palpitar. Será que deixariam ele falar com o marido? Provavelmente não... Mas Dean precisava tanto... Precisava contar sobre Castiel. Precisava pedir perdão. Precisa saber se tinham salvo o seu robozinho e se ele poderia ser consertado... Precisava dizer para Sam não ficar triste, que tudo ficaria bem. Precisava contar que estava doendo, e quem sabe ouvir uma palavra de carinho e apoio.

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Sam foi para casa imediatamente, assim que chegou no aeroporto de Austin. Oliver se ofereceu a ir com ele, e ficar com o amigo o quanto ele precisasse, mas o moreno não aceitou. Preferia ficar sozinho. Ou pelo menos sozinho com Sebastian, que era para ele praticamente um membro da família.

Sebastian podia ser uma pessoa seca e de poucas palavras, mas conhecia Sam desde garoto, e sentia muito carinho pelo patrão. Assim que o viu chegar, vermelho e descabelado, o mordomo deu-lhe um forte abraço e fez algo que jamais faria em um dia comum - sentou-se com ele na sala, para conversar e fazer companhia. Insistiu para que comesse alguma coisa e tentou distraí-lo com assuntos não relacionados ao sequestro.

A cada toque do telefone, o empresário dava um pulo de desespero. Estava com muito medo, mas também muito ansioso para falar logo com o sequestrador de seu marido. Quando finalmente Frank ligou, o homem atendeu o telefone de prontidão.

— Sr Winchester?

— Sim, sou eu. Pode falar.

— O negócio é o seguinte. Eu estou aqui com o seu marido... Quero 30 milhões na minha mão. Amanhã. Senão pode dar adeus pro bonitão aqui...

O estômago de Sam gelou. Como conseguir 30 milhões de dólares até o dia seguinte? Aquilo seria absolutamente impossível! Sam queria falar alguma coisa, mas não sabia o que, e sua voz não saía. Qualquer erro de sua parte poderia colocar a vida de Dean em risco.

— Ei! Tá silêncio aí pra quê? Se tiver falando com a polícia eu meto bala nele agora mesmo!! - o sequestrador ameaçou, desconfiado.

— N... Não... Não tem polícia aqui não! Nem eu vou falar com a polícia! Eu juro! Por favor, não faça nada com o Dean! - Sam engoliu em seco. Estava falando a verdade. Jamais entraria em contato com a polícia... Sua mãe fora assassinada em seu cativeiro, assim que a polícia localizou e adentrou o local. O pai de Sam se lamentou o resto da vida pela decisão de pedir ajuda às autoridades. Sam jamais cometeria o mesmo erro...

— É melhor mesmo, senão já sabe...

— O problema é que eu não tenho como conseguir tanto dinheiro até amanhã! Eu... A minha empresa está mal, sabe? É... Hmmm... - o homem começou a gaguejar. Estava muito nervoso.

— Se não tem como pagar então tchau. - ameaçou o sequestrador, mais uma vez. - quer se despedir do seu maridinho?

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Dean ouvia a voz de Frank ao telefone, e sabia que Sam era quem estava do outro lado da linha. Estava tão nervoso que o ar lhe faltava. Quando o sequestrador perguntou se o Winchester queria se despedir dele, Dean, que prometera a si mesmo que se manteria firme caso tivesse a oportunidade de falar com o marido, começou a chorar como um bebê. Era impossível segurar a emoção, só de pensar em ouvir a voz de Sam.

Nessa hora Frank, Sean e Cloette entraram no quarto onde Dean estava. Frank segurava o celular, e ligou o viva voz. Depois enfiou o aparelho no rosto do louro, que não conseguiu evitar um soluço.

— Dean! Dean! Você está aí!? - Sam quase teve um treco de tanto desespero. Seu coração batia como um tambor acelerado, e tão freneticamente que chegava a doer.

— Sammy... - a voz de Dean saiu fraca, entrecortada e muito chorosa. Ele não conseguia falar mais nada.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu vou tirar você daí... - respondeu o moreno, sem conseguir segurar o choro também.

Os sequestradores cortaram a conversa dos dois por aí... Agora Winchester já podia ter certeza de que eles não estavam blefando. Dean estava mesmo em seu poder.

— E aí? Vai pagar o resgate amanhã ou não? - perguntou Frank com a voz debochada.

— Eu vou... Eu vou deixar todo o dinheiro que eu conseguir... Juro! Eu não me importo com dinheiro... Eu só quero o Dean de volta. Por favor, não machuquem ele. Ele não fez nada a vocês. É um homem bom. - falou o moreno em meio ao choro.

— Mas não basta tudo o que você conseguir! Eu falei 30 milhões...

Frank ia ficar de conversa fiada? Cloette tomou o celular da mão do homem e terminou logo com a conversa.

— Vamos combinar uma coisa? Você deixa uma porcentagem do dinheiro, e a gente te devolve uma porcentagem do seu marido... Agora vou te explicar onde deixar a grana.

Sam ficou agoniado ao ouvir tais palavras, mas prestou atenção nas instruções da mulher, e anotou tudo direitinho – com a letra muito trêmula.