Coração de Lata

E fica tudo na mesma?


No dia seguinte Dean e Castiel fugiram cedo e foram para o hotel South Congress, que adotaram como seu refúgio. Ali, se permitiam amar livremente. Dean tinha se decidido, e, apesar de sentir um enorme frio na barriga ao pensar no momento em que confrontaria o marido, estava em paz. Tinha largado todo o preconceito de lado e aceitado o robô como seu verdadeiro amor. Castiel parecia a mais feliz das criaturas, e isso, por si só, era motivo para encher o coração do louro de alegria e amor.

Enquanto Sam Winchester não voltava aos Estados Unidos, Dean e Castiel viveram dias inesquecíveis. Dormiam e acordavam lado a lado, fugiam para se curtir, apenas os dois, passeando pelas ruas de Austin e se hospedando no South Congress para momentos de maior intimidade.

Enquanto isso, Sam tentava como podia conseguir o investimento de que tanto precisava, mas seus esforços eram em vão. Parecia que estava sempre rodando em círculos e esgotando todas as suas energias e esperanças. Finalmente, sentindo-se infeliz e derrotado, resolveu voltar para casa. Chegaria de surpresa. Precisava ver Dean. O marido era tudo o que lhe restara de bom no mundo, e era ao lado dele que pretendia se reerguer, se não financeiramente, pelo menos emocionalmente.

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— S... Sammy? - Dean ficou branco como um fantasma quando viu que o marido estava na sala de televisão quando ele entrou. Dean acabara de pular a janela do quarto, voltando de mais um passeio. Castiel vinha logo ao seu encalço. Sorte que o moreno não os viu chegar...

O louro imediatamente imaginou que Sam já devia estar ali há algum tempo e que ele precisava pensar rápido para explicar ao marido onde tinha estado esse tempo todo. Afinal, ele não tinha o direito a ir a lugar algum... No segundo seguinte, lembrou-se que não precisava mais se justificar. Ele havia ensaiado aquela conversa por bastante tempo e estava pronto para terminar o casamento ali mesmo.

Sam estava de costas e estranhamente não se desvirou. Provavelmente estava chateado com ele... Dean então fez um sinal para Castiel sair, o que o robozinho prontamente fez, e se aproximou de mansinho.

— Sammy... - Chamou o louro.

Sam pareceu se assustar com a voz do outro, e virou-se de supetão. Para espanto de Dean, o moreno estava com o rosto inundado por lágrimas.

— Você está chorando? O que houve? - Quis saber o mais velho alarmado. Não era comum ver um homem daquela tamanho chorando como um bebê.

Sam puxou o louro para um abraço e enterrou a cabeça em seus ombros. Ele se sentia péssimo, mas era bom finalmente estar com o homem que amava.

— A gente precisa conversar... - Sam disse de uma só vez, tomando fôlego.

O coração de Dean parou de bater por um segundo. E se Sam tivesse descoberto tudo? E se ele já soubesse que Dean estava apaixonado por Castiel e que pretendia deixá-lo? O louro não esperara aquela reação do marido. Não esperara que ele chorasse, se desesperasse, nem que implorasse para ele ficar. Ver seu Sammy naquele estado partia seu coração, mas ele precisava ser firme, pela sua própria felicidade...

Mas quando Sam começou a falar, Dean respirou aliviado. Todo aquele desespero não tinha nada a ver com ele, e sim com o fato de que sua querida empresa ia de mal a pior... Como o seu marido podia se preocupar tanto com coisas supérfluas e materiais? Como podia sofrer daquela maneira por conta disso?

O louro deixou o marido desabafar. Sam sentiu sair um enorme peso de seus ombros ao finalmente compartilhar todo o seu desespero com o outro. Contou de como não estava mais conseguindo investimentos, e de como a empresa agora devia dinheiro...

— Desse jeito a gente vai à falência. - concluiu o moreno com a voz chorosa e os olhos vermelhos.

Dean engoliu em seco. Pelo jeito a situação estava mesmo ruim... Se fosse há alguns meses atrás ele sugeriria ao marido que vendesse tudo o que tinham e se mudassem para uma casinha modesta em um lugar tranquilo, onde ambos pudesse arrumar um emprego. Mas na atual circunstância, aquilo não era mais uma opção para ele. Tudo o que Dean podia fazer era torcer para que os negócios da empresa melhorassem.

— Eu estou aqui com você, Sammy. Vai dar tudo certo. - foi tudo o que o louro pôde dizer, enquanto limpava as lágrimas do marido e acariciava seus cabelos.

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— E então, conversou com ele? - Os olhinhos de Castiel brilhavam como duas estrelas, cheias de expectativa.

Dean baixou a cabeça. Sam acabara de adormecer, e ele se retirara de mansinho para contar ao amante sobre a conversa dos dois. Sabia que o robô ficaria decepcionado, mas ele teria de entender.

Enquanto Dean falava, notava a esperança do outro se transformar em decepção e tristeza. O louro abraçou o robozinho e pediu perdão, mas eles teriam que esperar. Teriam que esperar até a situação de Sam melhorar um pouco.

— Mas e se empresa nunca se recuperar? E se for a falência? A gente nunca vai poder ficar juntos? - Castiel parecia apavorado.

— Claro que vamos, meu amor! É só até o Sam se reestruturar emocionalmente. Talvez se a empresa falir isso vá demorar um pouco mais, só isso...

O robozinho se calou, mas suspirou tristemente. Dean sentia imensamente decepcioná-lo daquela maneira.

— Cass, eu realmente sinto muito, mas como posso destruir esse homem ainda mais, nesse momento em que ele já está tão frágil? Ele pode até... Sei lá... Nunca se sabe... - Dean engoliu em seco só de pensar na possibilidade de Sam fazer alguma besteira. Nunca o vira desesperado daquele jeito. O louro jamais se perdoaria se qualquer coisa acontecesse ao moreno por sua causa.

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Aquela noite, enquanto Sam dormia pesadamente, de tão cansado que estava, Dean não conseguiu pregar os olhos. Se por um lado ele estava frustrado por não ter conseguido sair daquela situação desconfortável, por outro ele tinha a desculpa perfeita para não mudar sua vida bruscamente, e permanecer por mais algum tempo ao lado do marido.

Dean olhava o moreno adormecido ao seu lado, e sentia seu coração doer. Ele gostava de Sam, gostava muito... E não gostava de vê-lo sofrendo...

De manhã cedo, o ex-mecânico foi todo carinhoso com o marido. Levantou bem cedo para servir o café-da-manhã a ele na cama, e fez companhia ao moreno até a hora dele sair para o trabalho. Sim, Sam não queria nenhum dia de descanso. A empresa precisava dele...

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E foi assim que a situação de Dean, Sam e Castiel ficou na mesma durante muito tempo. Sam sempre trabalhando, tentando recuperar a empresa. Viajava muito, e tinha pouco tempo para ficar com o marido. Dean dava carinho e atenção a ele quando estava em casa, mas não faziam sexo. Sam se desculpava por estar sempre cansado, mas das poucas vezes que tentou uma aproximação mais intima, foi Dean quem tratou de inventar uma desculpa e se safar. Não queria contato sexual com o ele, tendo a convicção de que estava com Sam apenas temporariamente, até que as coisas melhorassem. Ele gostava muito do marido. Mas ele amava Castiel ainda mais... Dean e Castiel estavam sempre juntos e era com o robô que o louro se satisfazia sexualmente.

Quanto à Castial, nas primeiras semanas após a conversa entre Dean e Sam, apesar de visivelmente decepcionado, esperara as coisas se desenrolarem pacientemente. A medida que o tempo foi passando, ele mostrava-se cada vez mais inquieto.

Agora Dean e Castiel se hospedavam raramente no seu querido hotel South Congress, pois evitavam gastar dinheiro. Naquele dia, entretanto, com Sam ausente mais uma vez em uma viagem de negócios, os dois amantes se viram sem muita opção ao serem surpreendidos por uma tempestade daquelas enquanto passeavam pelas ruas de Austin.

Enquanto a chuva molhava tudo lá fora, robô e humano se amavam intensamente. O tempo passou tão depressa que quando se deram conta já estava de noite.

— Cass! Olha a hora! Precisamos voltar depressa! - disse Dean, alarmado.

Os dois ainda estavam pelados, e o robozinho abraçava o louro por trás.

— Que saco esse negócio de hora... - lamentou-se o androide.

— Eu sei... Mas se o Sebastian perceber...

— O que que tem? - provocou Castiel. - Problema dele...

Dean não queria discutir. Eles tinham que voltar correndo. Sem responder, o rapaz começou a pegar suas roupas do chão e vesti-las rapidamente, enquanto jogava as de Castiel em sua direção. - Coloca isso aí! - ordenou apressado.

O robozinho suspirou.

— A gente não precisa viver desse jeito, Dean... - reclamou - As vezes penso que você não me ama...

O louro bufou. Aquilo não era hora de discutir relação.

— Deixa de ser besta e coloca logo essa roupa para a gente ir embora!

Castiel saiu cabisbaixo e Dean irritado, depois que o robô demorou ainda um bom tempo para se vestir e os dois puderam rumar para casa.

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— Frank, aquele não é o marido daquele milionário? O Sam Winchester?

— E eu lá sei, Sean... Não fico lendo essas revistas de celebridade... Coisa de viado.

Sean não gostou do comentário, e deu um tapão nas costas do irmão gêmeo. Não era viado, só gostava de saber das coisas...

Frank estava a um passo de revidar e dar um murro na cara de Sean. Mas não o fez, pois teve uma brilhante ideia.

— Você disse Sam Winchester?! Esse cara é mais que milionário!

— Pois é... O que será que o Dean está fazendo na companhia de outro homem? Traindo o marido, será? Sam é tão rico e tão bonito... - comentou Sean, intrigado.

— Isso pouco me importa, vamos levar o louro com a gente! Pedir um resgate bem gordo!

Não seria a primeira vez que os gêmeos Quintana sequestravam alguém. Eram bandidos, criminosos mesmo... E estavam precisando de dinheiro.

As ruas estavam escuras e com pouco movimento. Frank e Sean estavam a pé, mas com o carro estacionado logo adiante. Enquanto um correu para entrar no veículo, o outro se aproximou de Dean e Castiel por trás e ameaçou-os com a arma.

— Você vem com a gente, bonitão. - disse Sean, segurando o braço de Dean com força. O rapaz engoliu em seco e sentiu um enorme frio na barriga. Precisava permanecer calmo...

O que aconteceu em seguida, foi muito depressa. Frank passou de carro ao lado dos dois, e Sean, puxando Dean consigo, entrou dentro no veículo. Frank virou-se para trás e atirou em Castiel, que corria atrás deles. Não podiam deixar a testemunha viva.

— Não!! - Dean estava em pânico. - Deixem ele em paz! Por favor!! Não atirem!

Mas Frank e Sean nem prestaram atenção aos apelos do rapaz. Gritaram horrorizados quando a bala que pegou no robô não lhe causou um ferimento comum. Castiel levara um tiro que lhe furara a testa, e continuava correndo em sua direção. E nada de sangue...

— Monstro!!! - retrucaram os gêmeos em uníssono, atirando sem parar. Por fim Frank deu ré e pegou o robozinho em cheio. Quando Dean olhou para trás, ele estava em frangalhos. Braços e pernas espatifados. Cabeça arrebentada. Era uma cena horrível.

— Nãooooooooo!!! - O louro se desesperou. Conseguiu abrir a porta do carro, no meio da confusão, e se atirou para fora com ele em movimento mesmo, e em alta velocidade. Ele não podia deixar Castiel naquele estado. Precisava salvá-lo.

Ao bater com o corpo no chão, o louro ouviu um baque e sentiu uma dor intensa. Tentou levantar, mas teve dificuldade... Antes que Dean pudesse tentar qualquer outra coisa, o carro se aproximou de novo e Sean, que assim como Frank era muito grande e forte, puxou o rapaz para dentro do carro.

— Seu idiota! Quer morrer? Nós precisamos de você vivo! - reclamou o criminoso irritado.