— Amores proibidos? – perguntava Edgar, um pouco impressionado e ao mesmo tempo inibido.

— Me fartei de ler histórias dessas quando era mais mocinha. São demasiado tristes. – retorquiu Laura.

— Aprecio a sua sinceridade. – disse Edgar encantado. — Mas vejo que nesse aspeto temos gostos de leitura diferentes. Histórias de amores proibidos não me desagradam. Muito pelo contrário: me agradam imenso.

— Não compreendo como tanto sofrimento o pode agradar tanto. – respondeu Laura um pouco incomodada.

— Acho lindo se sofrer por amor! – disse Edgar inspirado.

— Sofrer por amor?

— Sim… pois é nos momentos difíceis que ele é posto à prova, ganhando normalmente força.

— O senhor me parece um romântico… - respondeu Laura sorrindo.

— E sou! – respondeu Edgar com convicção. — Não tenha a menor dúvida!

A senhorita…

— Eu…? – perguntou Laura curiosa.

— Me faz lembrar uma personagem de um conto de fadas.

— Um conto de fadas?! – questionou Laura se rindo, achando graça à espontaneidade de Edgar.

— Me perdoe se estou falando bobagem, mas é que o seu apreço pelos livros…que bobagem! – se envergonhava Edgar, o que impedia que ele continuasse falando.

— Fale, por favor. – pediu ela.

— A senhorita… me faz lembrar… a Bela de A Bela e a Fera… meu Deus, me sinto um bobo… - dizia Edgar embaraçado.

— Gostei! – respondeu Laura se rindo. — O senhor tem piada!

— É que devido ao apreço que a senhorita tem aos livros…todas as outras moças estão no salão de baile, enquanto a senhorita se encontra aqui na biblioteca…

— É verdade… todas elas me devem achar sei lá… doente… - disse Laura se rindo.

— Bobagem! – retorquiu Edgar. — Você é encantadora!

Edgar deixou ficar Laura um pouquinho embaraçada com este elogio e por isso, a mocinha decidiu voltar ao assunto inicial:

— Gosto muito desse conto de fadas, pela mensagem moral maravilhosa que transmite. – disse Laura. — Nessa história, a estética é apenas uma metáfora da ética.

— Como assim? – perguntou Edgar deslumbrado com a inteligência da moça.

— A Bela representa uma personagem bondosa e a Fera uma personagem maldosa. A Fera se transforma num príncipe, pois através do amor que recebe da Bela se converte gradualmente numa pessoa boa. É essa a mensagem: que o Amor pode converter algo de mau em bom.

— Lindo! – respondeu Edgar fascinado. — A senhorita acredita mesmo nesse poder? Eu acredito!

— Sim. – respondeu ela.

— Então se acredita no poder da conversão, também pode acreditar em amores proibidos, ou melhor dizendo, amores difíceis, pois amores proibidos não existem. -

Laura se riu com o comentário de Edgar, o que o deixou um bocado ofendido, pensando ele que ela estaria desprezando sua opinião:

— Está rindo! – disse Edgar.

— Me perdoe! Não me leve a mal… mas o senhor tem mesmo piada. – dizia ela. -

A justificação de Laura deixou Edgar mais tranquilo o que o também se fez rir.

Os dois se estavam rindo às, fazendo assim crescer a empatia entre eles só que foram subitamente interrompidos por uma terceira pessoa que chegou à sala:

— Laura! – disse uma voz feminina.

— Mamãe! – disse Laura, mal viu esta senhora.

Edgar olhou para trás e viu uma senhora elegante de meia-idade, com um ar frio e altivo.

— Você sumiu do baile sem mais nem menos! – disse a dama com um ar repreensivo, avançando em sua direcção.

Edgar se sentiu constrangido ao ver a mãe de Laura lhe dando um raspanço à sua frente.

— Tio Estevão, me deixou pegar um livro.

— Não é altura para você fazer isso, menina! – lhe disse a mãe friamente.

Entretanto, só depois de a dama ter repreendido sua filha, é que resolveu cumprimentar o jovem com quem ela estava falando:

— Boa noite. – disse ela de uma forma indiferente para Edgar.

— Boa noite, minha senhora. – respondeu Edgar constrangido. — Me chamo…

— Laura, vamos embora. – interrompeu a mãe de Laura, não deixando Edgar terminar sua frase.

Laura avançou em direcção à porta, indo sua mãe logo atrás, como se fosse um policial escoltando um ladrão. Edgar, ainda bastante embaraçado, também saiu da sala, deixando, no entanto, algum espaço entre elas para não dar muito nas vistas. Reparou que elas estavam retornando ao salão de baile, o que foi para ele um alívio, pois teria sido um desconsolo se aquela moça se fosse já embora.

Ao retornar ao salão, a mãe de Laura começou a falar com umas amigas, enquanto sua filha se sentou no sofá atrás:

— Laura, vá dançar! – disse a dama.

— Não tenho vontade, mamãe. – disse ela, com o objetivo de contrariar sua mãe.

A dama, aborrecida, virou costas a sua filha e continuou a prosa com as outras damas.

Entretanto Edgar apareceu e se aproximou de Laura. Tendo ela sentindo sua presença, se levantou do sofá e se aproximou também dele. Discretamente voltaram a falar:

— Você está bem? – perguntou Edgar.

— Estou, sim. Porque haveria de ter motivos de estar mal? – perguntou Laura com um certo orgulho.

— Que bom! – disse Edgar sorridente, encantado com o jeito de Laura. — A senhorita quer dançar? – perguntou ele.

Laura ao início não soube bem o que dizer, mas acabou por responder:

— Até quero…

Edgar satisfeito por ter recebido uma resposta positiva, lhe deu o braço e a conduziu até ao centro do salão onde começaram a dançar.

A mãe de Laura, que estava distraída com as fofocas entre suas amigas, quando reparou que sua filha estava dançando, ficou embasbacada. Ela ali estava, nos braços do moço, com quem a tinha visto na biblioteca e pela sua expressão parecia muito divertida.

Quando pararam de dançar se foram sentar no sofá. Laura se sentia cansada e Edgar também e sobretudo com calor.

— Quer tomar alguma coisa, um refresco, um suco?

— Um suco, talvez… - respondeu ela.

— Sendo assim, eu vou buscar um suco para você. – disse ele.

— Eu vou… - disse Laura se levantando.

— Não, por favor. Já que vou pegar um para mim também pego para você.

— Está bom! – respondeu Laura sorridente.

Laura se voltou a sentar no sofá, enquanto Edgar foi buscar duas bebidas para os dois.

Quando chegou à mesa das bebidas, Edgar sem querer chocou com um outro rapaz, que também estava na festa e quem sem querer lhe entornou um pouco de seu vinho em sua casaca.

— Me desculpe! – disse o tal rapaz.

— Não tem problema, amigo. Essas coisas acontecem! – disse Edgar de uma forma descontraída.

Foi num instante ao toilete tentar e assim lavou a sua nódoa. Quando regressou, pegou nas duas bebidas que tinha e se dirigiu então ao salão de baile. Porém, ao chegar, teve uma desagradável surpresa: Laura já não estava no sofá! Olhou à volta e não a viu, o que o deixou completamente desolado. Não perdendo a esperança, começou a procurar por ela: deu voltas e mais voltas, fartando-se de ver pessoas bebendo, conversando, dançando, rindo, mas nenhuma delas era Laura.

Seus amigos, Gonçalo e Pedro, repararam na expressão triste e na inquietação de Edgar e por isso, resolveram ir ter com ele:

— Edgar! – disse Pedro, o anfitrião da festa. — Tudo bem com você? Parece um pouco atordoado.

— Edgar! Você desapareceu… onde você estava? – perguntou Gonçalo.

— Vocês viram Laura!!!?

— Laura! Quem é Laura? – perguntou Gonçalo.

— Laura… a filha de Dona Filomena e do Dr. Camargo? – perguntou Pedro.

— Não sei os nomes dos pais dela… só sei que se chama Laura. – dizia Edgar, olhando à volta a ver se a via. — Uma moça que adora ler, Pedro! Encontrei-a na biblioteca…

— Ahh! Então sendo assim só pode ser mesmo essa: Laura Camargo.

— Onde está ela, Pedro!? – perguntava Edgar com ansiedade.

— Meu Deus, Edgar! Você parece mesmo desesperado! – comentou Gonçalo. — A moça por acaso, é assim tão linda?

— Não diga bobagem, Gonçalo! – comentou Edgar um pouco incomodado com a futilidade do amigo. — O encanto de uma mulher vai muito para além da sua beleza…

Ela é sim… encantadora! Um doce…

— Hmmm… estou vendo que essa Laura te deu mesmo a volta à cabeça… - comentou Gonçalo, enquanto observava outras meninas presentes na festa. — Mas se vocês me dão licença, eu acho que vou cuidar de minhas “Lauras”! – completou Gonçalo, com um ar maroto. — Até já!

Gonçalo se afastou, deixando Edgar apenas com Pedro:

— Você me ajuda a encontrá-la, Pedro?! – pedia Edgar, numa aflição completa.

— Edgar, tenha calma… a moça pode ter ido embora, mas ela não deve ter sumido do país, nem da cidade! – brincou Pedro se rindo.

— Ir embora??!! – questionou Edgar revoltado. — Ela ia abandonar o baile assim?! Sem se despedir de mim?! Pedro, nós estávamos conversando naquele sofá e eu saí de ao pé dela para ir pegar dois refrescos para a gente…

— E agora ela já não está ali… - comentou Pedro. — Mas olha… não tem problema, não. Eu posso ficar com a bebida! – disse ele, tirando um dos copos da mão de Edgar. — Amigo… divirta-se! Tem muita moça neste baile, como pode ver… Laura não é a única mulher no mundo… - completou Pedro, que logo de seguida saiu de ao pé do amigo para ir dançar com uma moça a quem tinha achado graça.

Edgar ficou assim ali, sozinho, se sentindo abandonado, triste, desolado, traído pelos seus próprios sentimentos. Teria aquela moça fugido dele?