Conspirator Poison

- Cena 5 – What’s it? -

Eram quase onze horas da manhã e fazia frio naquela manhã de Dezembro. Eu continuava sem fome e enfim todos tinham acordado.

Quer dizer, todos menos o Chris, o infeliz sortudo que devia estar ferrado no sono, já que dividira o quarto com o Jim, e talvez soubesse o que era uma noite perdida (claro que o Chris não dormiu nada...).

Mick e Paul estavam acabando com a comida, digo, “tomando café” no quarto do Corey, onde a maioria de nós estava, assistindo Tv, porque não tínhamos o que fazer mesmo. Decidi ficar longe de Mick, porque sentia um estranho zumbido no ouvido direito quando ele falava comigo.

Depois de escutar muitas gargalhadas por parte do Shawn e do Corey, fiquei recluso (ainda muito puto) em um canto perto da janela alta de cortinas claras, que não contrastaram muito bem com a cor da parede cor-de-milho-de-Iowa. Restringi-me a escutar The Police nos fones ligados ao meu notebook (que eu trouxera por precaução), não prestando muita atenção ao site que eu estava e o que lia nele.

“Integrantes da banda americana Conspirator Poison fogem de sessão de autógrafos”, dizia um dos artigos que escolhi por acaso. Nunca tinha ouvido falar dessa banda e não havia fotos porque, segundo a matéria, os integrantes não permitiram. Deu-me certa vontade de rir quando dei um pouco mais de atenção ao que estava lendo, e foi divertido imaginar o tal guitarrista pondo fogo em algum livro só para ativar os sprinkles.

- He, que idiotice... – tirei os fones do ouvido ainda em tempo de captar o que uma voz na Tv dizia.

“... ‘Destruction, da banda de Seattle Conspirator Poison...”

Shawn permitiu-se uma expressão intrigada enquanto que James levantou-se do chão, levando consigo o copo de suco de maça pela metade e dizendo que ia acordar o Chris.

Como eu não tinha nada a perder (e nem a ganhar) e como também ninguém fez objeções ou quis mudar de canal, larguei o notebook e dispus-me a prestar a devida atenção.

- Deve ser mais uma bandinha sem-noção... – disse Sid com um grande bocejo, enquanto jogava xadrez com Craig – Aê, esquisito, nem pense em mover esse bispo de merda!

O sampler desviou-se do jogo para olhar a Tv, ignorando um briguento Sid.

Como definir esse momento?

Era o prólogo de outro jogo.

***

Conspirator Poison

- Cena 6 – Invitation -

- Não acredito que em menos de doze horas já começaram a fazer um escândalo desses..! – reclamou Leidan, desligando violentamente seu notebook – Que merda!

Todos nós ficamos calados. A noite chegara muito rápido em Seattle. Jason, Dalton e Michael ainda estavam adormecidos, então somente eu e Leidan resistimos ao sono.

Gostei daquele hotel estilo cinco estrelas, mas preferia muito mais estar na minha casa. Me desliguei momentaneamente desse papo de “escândalo”, porque o próprio Tommy Leidan fazia escândalo do escândalo... Ridículo.

Também não estava me importando com o que dissessem. Que falassem.

Fiquei assim por um bom tempo, mesmo que Leidan achasse que eu escutava-o. Estirei-me no chão frio, num estado de semi-consciência. A qualquer momento Sam, nosso empresário, iria irromper por aquela porta e nos xingar dos palavrões mais horríveis e centenários.

- Ah, cara... Quero férias! – disse Leidan, afundando-se entre travesseiros.

Ri descaradamente.

- Você realmente achou que essa vida eram só “dinheiro e garotas”? – perguntei, olhando para o teto branco.

- Por acaso tenho cara de rapper? – retrucou com a voz abafada.

Ri mais uma vez, o sono querendo me vencer.

Às vezes esquecia o jeito moleque e reclamão de Tommy Leidan e o quanto suas expectativas com relação à vida eram altas exigentes. Sabia disso, é claro.

Acho que nem eu, Jason, Dalton, Michael ou Leidan tínhamos uma perfeita noção do que era dar o nosso sangue (literalmente, talvez?) e ir além do nosso limite físico.

Mas estávamos tentando, apesar de sessões de autógrafos e pedidos de fotos e blá, blá, blá... Enfim, provações que testavam a nossa paciência (com toda a certeza, ainda não esqueci o(a) mal-amado(a) que me passou a mão!).

A campainha do quarto soou naquele meio tempo e reparei que somente eu não adormecera. Levantei-me de um salto e abri a porta, pensando em preleções sobre responsabilidades.

Mas não era o Sam.

- Erm... Solicitaram que entregassem isto para os... Senhores. – anunciou uma moça de sotaque meio afrancesado que segurava uma bandeja de prata com um envelope grande e de aspecto formal.

Um convite?

- Obrigad... Valeu. – peguei o convite e fechei a porta na cara dela.

Li.

É, enfim algo interessante.

Como definir esse momento?

Era a oportunidade perfeita de sair à caça.