Envolvi-me tanto quanto me iludi, sentimento sorrateiro, traiçoeiro, bandido! Que cada momento me rouba um sorriso e a cada sorriso me rouba um suspiro. Porque entrou no meu coração dessa forma tão brutal, mas tão especial?! Depois que você saiu e deixou um buraco tão profundo que a solidão me cobre. Eu nunca pensei em plano B por mim sempre seria Eu e Você, mas não foi isso que aconteceu, o meu plano B é esquecer você.

Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apagam. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás.

_ A cicatrização está demorando em acontecer por falta de zinco em seu corpo. Chamamos de deficiência nutricional. – o médico que aparentava seus cinquenta anos no máximo, disse depois de olhar meu exame sanguíneo que fui obrigada a fazer.

Sorri irônica e olhei para o os olhos azuis ao meu lado:

_ Passarei um remédio para recuperar suas vitaminas e te darei uma lista de alimentos que te ajudaram a recompor o zinco. – o medico continuou. Assenti e ele saiu da sala, provavelmente foi buscar minha ficha medica.

Batia meu pé freneticamente no chão e mantinha meus braços cruzados em frente ao meu peito:

_ Desculpa... – ouvi sua voz e o encarei confusa.

_ Tudo bem. Foi bom vim ao medico! – respondi irônica e voltei a encarar um ponto inexistente á minha frente.

_ Desculpa... Por ter causado isso. – ele disse tocando meu braço enfaixado. Ele não estava me pedindo desculpa por me obrigar a vir aqui.

_ Ah. Você só se achou no direito de me machucar já que também te machuquei. – respondi sem encara-lo e doeu lembrar-me das magoas.

_ Acho que passei do ponto! – ele disse depois de um longo suspiro.

Não respondi, não assenti, não concordei.
O medico logo voltou e me passou tudo que ele havia dito.

***

_ Sua peste! Onde se meteu? – perguntou a Benson, assim que tive a má ideia de me sentar ao lado dela.

_ Ian me levou ao medico... – sussurrei e vi sua feição mudar de preocupada para irritada.

_ Ele não se cansa de se fazer de bonzinho?! – ela perguntou se virando para frente. Suspirei e tentei prestar atenção na aula.

_ Estão se aproximando novamente. – Lilly surgiu não sei de que inferno e disse maliciosa. Revirei os olhos e me calei.

Você conseguiu… esmagar com tudo oque tinha aqui dentro do meu coração, abalar tudo oque tinha na minha cabeça, tirar o chão dos meus pés, fazer cair lágrimas dos meus olhos, desmoronar completamente o meu mundo… e me pergunto, por que o único pedaço que sobrou de min, o único! Grita com todas as forças, que te ama? Talvez seja o nosso próprio senso de autodestruição? Bom vai saber… só sei que, me odeio muito por isso.

Tem horas que me dá vontade de sumir… ir pra bem longe. Então eu lembro que não importa para onde eu vá, o que eu estou sentindo sempre irá comigo.

***

Às vezes eu gostava de ficar sozinha em casa. Sem as manias da Selena, sem as, milhares garotas que entravam aqui e iam direto para o quarto do meu irmão e principalmente sem o próprio. Meus fones me fazia companhia e eu podia até sentir minha cama me acolher.

Throw dirt on me, and grow a wildflower: Atire terra em mim, e crescerá uma planta selvagem. Essa era a única musica do Eminem, que eu me identificava.

Levantei-me e fui até o banheiro. Fechei a porta do mesmo e tomei um banho sem pressa de acabar. Voltei para o quarto e vesti uma roupa legal até demais para ficar em casa. Limpei os traços de maquiagem em minha pele e fiz um rabo de cavalo nos cabelos. Caminhei até a minha cômoda e abri a primeira gaveta da mesma. Lá estava meu companheiro da tristeza. Não que eu estivesse triste, eu só não sentia mais nada.

Caminhei até a janela, carregando comigo a caixa de cigarros e um isqueiro velho. Fumar na janela é terrivelmente poético, dentro de todos os clichês que pode surgir, este é um dos melhores que me faz sentir, em minha solidão, eu vi um papel de protagonista, não importa se você não está sofrendo, que fumar na janela é o único que está vivendo.

Eu gosto de fumar, porque eu acho que , enquanto eu fumo , minha vida vira fumaça... E aonde ela vai você não sabe!

“Você pode esquecer seus problemas sozinha, não precisa dessa arma.” A voz da Benson passava pela minha mente com essas palavras, ela odiava-me ver fumando e sorri ao lembrar-me disso. Eu me sentia bem, era como se ao puxar aquela fumaça e ela atingisse meu pulmão poderia chamar as inutilidades para saírem de meu peito. Soltando a fumaça era como se eu estivesse livre de cada incomodo real dentro de mim.

Caminhei pelo quarto, guardada em minha solidão e busquei em focar em mais uma tragada. O som da campainha tocando me fez guardar meus amiguinhos no bolso do short. Desci as escadas ajeitando meu casaco sobre os ombros e abri a porta sem me tocar muito em quem poderia ser.

_ Oi... – sua voz me fez perder todo o raciocínio. Encarei seu rosto, meio perplexa por ele estar ali.

_ Oi. – respondi levando as mãos até os bolsos do casaco.

_ Está sozinha? – ele perguntou e assenti mordendo os lábios.

Dei espaço na porta para ele passar e foi oque ele fez:

_ Você deixou a receita medica em minha mão e eu te trouxe isso. – ele disse erguendo uma sacola plástica em minha frente.

_ Não precisava... – respondi pegando a sacola e notando que ele havia comprado meus remédios.

_ É justo. Já que fui eu que causei... – ele disse observando cada canto de minha casa. Ele nunca tinha entrado ali mesmo.

_ Se você diz! – respondi colocando a sacola sobre o sofá e ficamos em silêncio por alguns minutos.

_ Você fuma? – perguntou com a cara mais obvia do mundo.

_ Por quê? – perguntei nem um pouco afim de interrogatórios.

_ No seu bolso tem um maço te cigarro e isqueiro, que pude ver quando se virou e seu hálito não cheira a mais nada que não seja enxofre. – ele respondeu e eu quase o considerei um dos melhores detetives do universo.

_ De vez em sempre. – respondi depois de um longo suspiro.

_ Algumas pessoas fumam para esquecer dores, lembranças. Quando estão bem tristes e solitárias. Porque fumou hoje? – ele perguntou como se fosse o assunto mais normal do mundo.

_ Nada interessante. – respondi encarando meus pés na intenção de esquecer seus olhos hipnotizantes.

_ Entendi. – falou sem animo.

Nossos olhares continuavam baixos e recaídos. Eu mal conseguia olhar pro seu rosto sem desejar sua boca:

_ Missão cumprida. Vou indo! – ele disse passando por mim e indo até a porta. Acompanhei-o até a mesma e abri.

_ Até amanhã, professo James. – falei quando ele já estava fora.

_ Até Lucy! – ele respondeu sorrindo fraco e caminhou até seu carro.

Você pode tentar, mas nunca saberá o que se
passa aqui dentro de mim.