Confia em Mim?

Eu não sou um demo, seu noob!


[TOM POV’S]

Eu não faço a mínima idéia de onde eu estava indo, só sei que eu vi aquele parque abandonado na minha cabeça e alguma coisa falava que eu precisava estar lá. Pensei que fosse o demo desgraçado em forma de mulher sensual que apareceu no meu quarto dia anterior e falei que não iria em lugar nenhum, mas então eu fiquei com uma baita vontade de chorar e aquilo me corroia completamente, então, resolvi ir até o lugar da minha mente.

Era completamente verde e vazio, não tinha ninguém ali. As árvores faziam um barulho gostoso e senti uma paz interior, queria que o Bill estivesse ali comigo.

Caminhei um pouco mais sobre a grama verde com alguns girassóis enormes até chegar em um orvalho com uma copa extremamente grande e brilhante, onde podia-se ver ninhos de pássaros e micos, todos em uma perfeita harmonia com a natureza.

-Tudo aqui é tão lindo... – Pensei seriamente em voltar para casa e chamar Bill para aquele lugar, para que pudéssemos deitar embaixo da sombra daquela árvore, cantar a canção de ninar que nossa vó cantava para nós e afagar seus cabelos negros como nunca cansava de fazer.

Mas depois me lembrei que não me lembrava como voltava para casa, e me desesperei por causa disso.

-Estás mais calmo agora, Tommi? – A menina de cabelos negros com mechas brancas falou calmamente, sempre com aquele sorriso encantador nos lábios, agora na minha frente, esperando eu ter alguma reação.

-Vo-você... – Por incrível que pareça, não consegui ficar com medo e raiva por que... Porque ela era linda por demais e aqueles olhos tão parecidos com o meu...

-Tom, eu sou legal. Juro. – Ela fez uma cara de cachorro pidão, segurando duas mechas do cabelo com as duas mãos. – Você tem medo de mim ainda?

-N-nã-não... – Gaguejei, arregalando os olhos para seu corpo magro e alto. – Acho que não. – Suspirei. Não tinha como ficar com medo ou ter repulsa por alguma coisa naquele lugar.

-Que bom, agora posso te explicar quem sou eu, sim? – Ela bateu as mãos, com um sorriso carinhoso. Que merda! Tudo nela me lembrava o...

-Bill... – Sussurrei sem pensar. Ela deu uma risada e pegou minha mão, levando-me para a sombra do enorme orvalho.

Lá tinha uma toalha de piquenique e em cima dela tinha frutas frescas e um pote de cerejas. Lambi os lábios ao vê-lo, eu amava cerejas.

-Sabia que vos ia gostar! –Ela falou alegremente e infantil, sentando em cima da toalha, fazendo menção para eu sentar também.

Peguei rapidamente o pote e alguma coisa voou, grudando no meu rosto. Grunhi resmungando alguma coisa e peguei o pedaço de papel, suspirando logo em seguida.

-Eu achei esta foto tão bonita! Quem tirou? – Ela falou animada, mordendo uma maçã. Pude ver que ela tinha os dentes da frente levemente tortos. Suspirei novamente.

Olhei para a foto. Bill tinha um livro que consegui ver que era de biologia em sua mão, olhava para a câmera com um meio sorriso inseguro, ajeitando uma mecha de seu cabelo que tentava sair da sua orelha. Eu o apertava pela cintura, fazendo sua cabeça repousar em meu pescoço e dava um sorriso de orelha a orelha. Estava feliz, naquela época foi quando eu comecei a voltar a falar com ele.

-Helena. – Falei simplesmente.

-Ah... Sinto muito por ela. – A menina falou com um meio sorriso triste, mastigando a maçã. – Ela ainda está viva. –Arregalei os olhos para ela.

-Sério? – Falei um pouco mais feliz e com uma pontada histérica. – Onde ela está? Porque não dá mais notícias?

-Não posso responder Tommi. – Ela falou doce, olhando para o céu. – E afinal, você quer saber quem eu sou ou não?

-Quero.- Murmurei, tentando tirar da cabeça a expressão doce de Helena, mandando Bill dar um sorriso mais bonito para a foto.

-Sou uma Persönliche Beziehungen, mas somos mais conhecidos como Fluffy, por sermos fofos e irresistíveis. – Ela deu um sorriso orgulhoso pelo “trabalho”. – Fluffys são espíritos que já terminaram seu trabalho na terra e voltam para cá pra ajudar as pessoas que tem problemas de relacionamento.

-E-eu não tenho problema de relacionamento. – Falei de prontidão. – E também... Como posso te tocar se você é um fantasma?

-Ah, você pode me sentir porque eu só apareço para você.

-E para o meu irmão. – Falei rapidamente. Ela deu uma risada gostosa. Ah, eu adorava aquela risada.

-Sim, eu apareci para ele, mas ele não me reconhece como você me reconhece. – Ela falou, jogando o resto da maçã em algum lugar que não pude ver, era muito longe.

-Como assim? – Falei, franzindo a testa.

-Sou outra pessoa perto dele. Características físicas e psicológicas são totalmente diferentes do “eu” que você conhece. – Ela falou simplesmente, dando um sorriso superior, mas sempre carinhoso. Isso que me encantava.

-Você me assusta. – Murmurei com um sorrisinho.

-Tens certeza?

Ela levantou graciosamente de onde estava e sentou no meu colo. Na verdade, ela caiu no meu colo. Eu dei um gemido pelo baque em meus países baixos e segurei sua cintura, a ajeitando no seu devido lugar. Ela virou e colocou as pernas uma de cada lado do meu corpo, sempre com aquele sorriso bobo na cara. Eu não conseguia ver nenhuma malícia no que ela estava fazendo só pela expressão de seu pequeno rosto.

-Me diga o que você vê. – Ela arregalou os olhos para mim, ficando parada como uma estátua entalhada em meu colo. Suspirei ao ver como o rosto na minha frente era lindo.

A face pálida e comprida com bochechas rosadas em contraste com os lábios carnudos quase vermelhos, os olhos cuidadosamente maquiados de preto deixando os olhos quase dourados brilhantes e tão convidativos... Aqueles orbes que basta eu estar na frente de um espelho para fitá-lo, mas ao mesmo tempo é tão diferente do meu. Tão mais bonito.

Fechei os olhos, inspirando o cheiro de lavanda que vinha de seus cabelos negros jogados ao lado do rosto com a franja caindo um pouco nos olhos. Era tão perfeito, tão exato, tão...

-Bill... – Murmurei, aproximando meu rosto do dele ainda de olhos fechados, entreabrindo meus lábios...

Então eu o beijei suavemente. Na verdade, foi apenas um toque de lábios, mas apenas aquele toque me fez tremer até o pêlo do dedo do pé e nascer borboletas no meu estômago. Eu gostava de sentir aquilo, então aprofundei mais o beijo, tocando nossas línguas em uma sincronia perfeita. O seu hálito quente escorrendo como mel em meus lábios. Aquilo era tão bom, eu podia até sentir o pequeno gosto amargo da luxúria e principalmente do pecado.

Mas então, ele se separou de mim, muito cedo e eu abri os olhos devagar, soltando um suspiro de reprovação.

-Ainda fala que não tens problema de relacionamento? – A voz fina da Fluffy me tirou do transe.

O que... O QUE EU FIZ? Eu beijei a Fluffy! Mas, mas... Eu não beijei exatamente ela.

-E-eu be-be-beije-jei ... – Tentei falar, mas eu só conseguia gaguejar. Ela soltou uma risada e jogou a cabeça para trás, segurando meus ombros para não cair.

-E então... O que você pensa sobre isso? – Ela falou agora séria, jogando a cabeça para um lado.

- Como assim o que eu penso? Argh! Olha, eu não quero nada com você, ok? E você só porque tem super poderes fica pegando pesado... – Falei, a empurrando do meu colo e levantando. – Eu vou embora, e espero que nunca mais apareça pra mim, tá ligado? – Era pra ser duro e autoritário, mas eu gaguejei demais para sair alguma coisa que preste. Mesmo assim, ele me olhou com um expressão magoada. NÃO, GOLPE BAIXO!

-Porque, Tommi? – Ela afinou a voz, se encolhendo na grama. – Eu só quero te ajudar! Tá na cara que você gosta...

-NÃO OUSA CONTINUAR! – Gritei meio histérico, me agachando perto dela. – Se quiser ser minha amiga, está aceita, mas se for para me enganar, saia da minha vida.

E caminhei para longe dela, com mil pensamentos em minha cabeça.

**********

10- Billzinho, Billzão...(?)

[BILL’S POV]

Tom anda tão estranho... Ele está tão frio comigo, como se não quisesse que eu soubesse de alguma coisa. Não fala, não conversa, não demonstra mais afeto. E eu fico aqui... Sozinho, esperando o dia em que ele virá falar comigo.

Eu acordei feliz. Nosso primeiro dia de aula depois do recesso. Precisava encontrar novas pessoas, já que meu irmãozinho não quer mais me dar atenção... Mas eu não queria pensar nisso, eu ficava triste.

Acordei bem cedinho e me arrumei como sempre, só que agora com os óculos de grau que mamãe comprou pra mim, já que estava com astigmatismo e miopia... Eu devia ter ouvido ela e parar de ler no escuro, já que Tom sempre dormia mais cedo que eu, e eu não queria deixar a luz acessa para não atrapalhá-lo.

O resultado não ficou tão feio, eu estava parecendo um nerd, mas todo mundo fala que eu sou um nerd mesmo... Não vai fazer muita diferença.

Desci e tomei café e pão com mortadela, meu sanduíche preferido. Em dias normais eu acordava o Tom, mas eu estava com medo dele me dar um gelo, ou me mandar tomar naquele lugar por acordá-lo cedo. Não sei...

Resolvi que iria acordá-lo já que não queria que ele chegasse atrasado na aula de alemão, porque as notas dele estavam péssimas, ele tinha que estudar mais e faltando aula não ia ajudar muito.

Fui até o quarto e o vi dormindo de boxer cinza, estirado na cama de qualquer jeito de barriga pra baixo, deixando suas costas largas a mostra.

Eu não sei o que deu em mim, mas senti todo o meu corpo se arrepiar e meus países baixos protestarem com um grito de guerra. Suspirei para tentar se acalmar, mas meus olhos não saíram daquelas costas definidas, junto com aquele par de braços...

Eu estava ficando excitado pelo meu irmão. SOCORRO!

Desviei o olhar, chegando mais perto e tocando devagar o seu ombro, tentando o virar de barriga para cima, mas ele só se mexeu, tirando minha mão de seu ombro. Senti novamente aquela onda passar pelo meu corpo.

Respirei fundo e coloquei as palmas das minhas mãos em suas costas, depois o balançando para que acordasse.

-Tom... Hoje tem aula, você vai se atrasar. – Sussurrei, mas ele continuou dormindo. – Tommi, aula! –Falei um pouco mais alto.

Ele gemeu em protesto e então eu sabia que ele tinha acordado. Retirei as mãos de suas costas e fui para a porta, um pouco aliviado por não ter que ficar mais ao seu lado.

-Bill? – Tom murmurou.

Eu gelei perto a porta. Será que ele ia me matar por tê-lo acordado? Será que ia ficar de mal comigo? Será que ia me pegar e me jogar pela janela?

-Sim? – Guinchei, sem virar.

-Que horas são?

Nossa, eu às vezes penso que sou muito dramático.

-Seis e quarenta. – Falei mais calmo. – Eu só te acordei porque, ér, você tem aula, né? Aí, ér , você podia se atrasar e então eu pensei que seria, uma boa...

-Tudo bem, Bill. – Ele deu uma risadinha sem graça. – Pode ir na frente.

Suspirei. Eu queria ir com ele.

-Tá. – Falei amuado, pegando minha mochila preta e rosa. – Não demora tá?

-Uhum. – Ele falou, pegando qualquer roupa.

Fui para a escola amuado. Eu sempre fui com o Tom para a escola, e com ele eu me sentia seguro e feliz, mas aí ele dá a louca e manda eu ir sozinho pra escola. SOZINHO, sem ninguém naquelas ruas frias...

Quando vi Zuzk e Yuki me esperando na frente da escola quase chorei de emoção. Corri e as abracei.

-AH QUE LINDO VOCÊS ME ESPERARAM! –Gritei, arrancando olhares de alguns alunos que passavam. – Coisa linda do titio! –As beijei na bochecha.

-Tá Bill, já chega, nós já entendemos! – Zuzk falou rodando os olhos e mexendo nos cabelos azuis.

-Tom te largou, você veio até aqui olhando para os lados em busca de alguém que quisesse te estuprar e ficou emocionado quando nos viu. – Yuki completou dando uma risada divertida e debochada. – Não se preocupe, nós não vamos fazer a mesma coisa que o bastardo do seu irmão.

Olhei pra elas com certo orgulho. Elas me conheciam tão bem...

-Vamos, temos aula de Ciências. – Yuki falou em seguida, puxando nossas mãos. – VOCÊ TÁ USANDO ÓCULOS?

Nossa, elas viram depois de milênios.

-É... Minha mãe me levou no oftalmologista. – Falei meio incomodado. Eu odiava críticas.

-OWN QUE COISA FOFA DA MAMÃE! – Zuzk pulou no meu colo, apertando minhas bochechas e fazendo caretas.

-JÁ CHEGA! – Gritei meio histérico, a tirando do meu colo enquanto ela dava gargalhadas.

Vi Tom passando pelo portão da escola com a maior cara de sono e olhando para baixo, não prestando atenção na sua mochila que estava aberta. Virei um pouco a cara para vê-lo com clareza.

-Olha aí, o bastardo chegou! – Yuki falou com uma risada divertida. – Ele tá bem, Bill? Parece que fumou dorgas noite passada.

Dei uma risada e o continuei olhando. Eu acho que ele ia bater...

-AÍ! PUTA MERDA! - Tom gritou, fazendo todos do pátio rirem dele estirado no chão, com livros caídos ao seu lado. Ele tinha batido no poste de luz.

As duas começaram a rir descontroladamente enquanto eu passava pelo pátio com toda dignidade que eu tinha para socorrer meu gêmeo.

-Você tá bem? - Murmurei, segurando suas mãos para que ele levantasse, mas isso não aconteceu, ele gemeu de dor, e segurou o ombro. – Você deslocou o ombro?

-A-acho que sim... – Ele falou baixo, soltando gemidos mais altos de dor. – Porra Bill, me ajuda!

Eu não sabia exatamente o que fazer. Várias pessoas já tinham feito uma rodinha ao redor da gente. Logo Zuzk e Yuki chegaram rindo, mas pararam ao verem Tom se contorcer de dor em meu colo.

-Aconteceu o que? – Yuki perguntou com os olhos arregalados.

-Acho que ele deslocou o ombro. – Sussurrei com os olhos cheios de lágrimas. Tá, eu tava chorando porque meu irmão dorgado tinha batido em um poste de luz e deslocado o ombro. Grandes coisas.

-Espera, eu sei colocar no lugar! – Zuzk falou, empurrando o povão para que pudesse passar. – Passa ele pra mim.

Coloquei o tronco de Tom apoiado no corpo de Zuzk e ela o abraçou por trás, o apertando um pouco. Logo depois ouvimos um estalo vindo do ombro de Tom e seu grito desesperado.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH FILHA DA MÃÃÃE!

-Nossa, de nada Tom. – Ela falou, o colocando novamente contra o meu corpo.

Ele grunhiu e me abraçou, enfiando o rosto na curva de meu pescoço e segurando o ombro.

-Me leva pra enfermaria, Bill? – Ele sussurrou contra meu pescoço.

E novamente eu senti aquelas sensações estranhas nos meus países baixos e aqueles calafrios...

EI! NÃO É HORA DE SE EXCITAR!

-Vamos. – Apoiei seu outro braço em meu ombro e o puxei para cima. Dessa vez ele levantou. Yuki recolheu seus livros e Zuzk mandava o povão embora. – Está doendo muito? – Choraminguei.

-Até parece que é você que tá sentindo dor. – Ele falou dando um sorriso. Own, eu me derretia com aquele sorriso.

Fiquei olhando para o seu rosto todo o percurso com um pequeno sorriso, parecia que ele percebeu, pois toda hora olhava pra mim com um sorriso tímido também.

-O que aconteceu? – A enfermeira falou, pegando Tom de meu colo e o colocando na maca, antes parando para tirar sua blusa.

-UAU TOM, andou malhando? – Yuki perguntou com os olhos fixados no peitoral dele. Zuzk deu um empurrão nela, fazendo uma cara de censura. Ela só sorriu e continuou olhando pra Tom, esperando a resposta.

-Hum... Não? – Ele falou meio envergonhado, mas eu sei que estava é com ego massageado.

-Aposto que sim. – Yuki rebateu, com os olhos fechados. – Ninguém tem peitoral assim sem malhar.

-Pois eu tenho. Licença se eu sou demais. – Nossa, até machucado ele se achava. Com certeza, ele não tinha mudado nada.

-Ok, moçinho, já chega. Preciso que saiam para não causar conflito com os outros alunos, só um pode ficar. – A moça chegou, com uma faixa de gases, passando uma pomada no ombro de Tom.

-Eu fico! – Yuki gritou, sentando na cadeira. – Pode ir pra aula Bill, eu sei que você não quer faltar, hoje vai entregar os testes!

Eu de fato, não queria faltar a aula, queria muita saber minha nota em ciências, porque estava errando tanta bobagem na última unidade... Mas também eu não queria que a Yuki ficasse ali com o Tom ali, era muito... Perigoso.

Ah, qual é! Qual era o perigo? Tom pegar ela? Por que eu estava tão preocupado com isso?

Assenti rapidamente e peguei minha mochila, indo em direção a porta.

-Hey, Bill! – Tom falou alto, fazendo-me parar em frente a porta. Será que ele ia pedir pra eu ficar?! Own, eu acho que sim.

-Sim? – Me virei já com um sorriso nos lábios. Ah, eu adoro tanto meu irmão...

-Pode pegar minha prova de alemão com o professor, já que não vou poder ir pra aula?

RETIRO TUDO QUE EU DISSE. Mas que blasfêmia! Eu pensando que ele ia pedir pra eu ficar... VAI SONHANDO, BILL, VAI SONHANDO.

-ér, tudo bem. – Suspirei amuado, com um bico. Ninguém entendeu, mas eu não precisava que ninguém entendesse.

Sai da enfermaria com um bico enorme. Bulhufas! Porque Tom não queria minha companhia?

Fiquei pensando nisso e resmungando até chegar à classe de Tom. Suspirei e abri a porta, eu morria de medo daquela sala.

- Ér... Com licença professor, vim aqui a pedido do meu irmão. – Falei entrando na sala e tentando ao máximo não olhar pra aquele povo da treva que parecia que se dorgava o dia inteiro.

-Sim, Mr. Kaulitz. – Ele falou com uma cara de tédio, lendo um livro grosso. Não me dirigiu um olhar, que poço de educação.

-Ele não vai poder comparecer por que... Ele bateu em um poste e deslocou o ombro. – Tom ia me matar depois que descobrir que contei isso para sua classe inteira. Fechei os olhos e me amaldiçoei internamente.

A sala inteira começou a rir, alguns jogaram papel nas minhas costas, mas eu permaneci ali parado, concentrado no professor que agora fuzilava seus alunos.

-E? – Perguntou, passando a página do livro e ajeitando os óculos fundo de garrafa. Nossa, porque todos os professores são tão iguais?

-Ele me pediu para vim pegar a prova dele de alemão. – Murmurei, passando os olhos na mesa, procurando alguma coisa interessante. Achei um exemplar de “Otelo”. Quase suspirei de admiração, tinha um tempo que estava louco para ler mais uma obra de William Shakespeare.

O professor pegou uma pasta de zíper azul com um “2° ano” escrito e a abriu, tirando vários papéis totalmente organizados e alinhados. As provas.

-Aqui está. – Ele estendeu um dos papéis brancos para mim.

O peguei rapidamente, quase pulando de curiosidade para ver a nota, mas não foi tão difícil identificar o “B+” escrito em caligrafia itálica com uma caneta vermelha logo na primeira página.

Meu coração se encheu do orgulho. Então todas aquelas tardes de estudo resultou em alguma coisa.

Não contive uma risada alta e um gritinho (bem afeminado) de alegria, fazendo uns movimentos obscenos. Senti olhos me fuzilando e outros dando risadas debochadas.

-A bicha entrou em colapse. – Um mano Brown lá no final da sala falou, fazendo uma coisa muito feia com um dos dedos das mãos. Fiz a melhor cara de tédio que pude.

-Não fale assim do Bill, verme. – Uma menina bonita de cabelos negros falou, com um bico infantil. –Olhe pro seu traseiro froxo.

A sala toda começou a gritar um montes de “É isso mesmo, idiota!, ou “Depois dessa eu me isolava, maluco!”Eu até me senti importante, mas era assim na minha escola, eu era querido por todos, mas mesmo assim nunca pensei que eles me defenderiam tão bem.

-Já chega! – O professor gritou, finalmente levantando os olhos para a classe. – Por favor, Mr. Kaulitz peço que se retire.

-Tudo bem... Até mais pessoal. – Falei ainda meio tímido, colocando uma mecha atrás da orelha e abrindo a porta.

-Até Bill! – Eles falaram que nem coral de igreja, bem sincronizado.

Andei pelos corredores com um sorriso enorme. Sabe, as pessoas sempre falam que certas coisas massageiam seu ego. Foi isso mesmo que senti. Talvez eles não se dorgassem tanto assim... Só um pouquinho.

-OI BILL!

Eu pulei dando mais um grito (afeminado²) de surpresa ao ver a menina de rastas loiras – Agora presas em Maria Chiquinha com umas xuxas coloridas e brilhantes. – Com uma blusa branca folgada que caía por um de seus ombros, deixando seu top preto a mostra. Suas calças eram folgadas e tinha aquela estampa de uniforme militar com vários bolsos, ela se locomovia com um skate cheio de adesivos coloridos colados. Seu sorriso se tornou debochado e suas mãos foram para sua cintura, fitando-me com um ar divertido.

-Ér, ooooooooooi. – Falei tentando ser simpático, mas eu estava muito nervoso para sair alguma coisa que preste.

-Não tem aula de ciências agora? – Ela perguntou pegando o skate e enfiando em uma mochila toda surrada que estava em suas costas.

-Tenho sim e na verdade... – Olhei para meu relógio de pulso e me assustei. – Estou muito atrasado, preciso ir.

-E o Tom? – Ela me ignorou, ficando na minha frente com o mesmo olhar carinhoso, mas ao mesmo tempo meio debochado. –Ele deslocou o ombro não foi?

-Olha, porque sumiu naquele dia? – Perguntei de repente, franzindo a testa. – E como sabe de tudo isso? Porque está aqui na minha escola? – Lembrei-me disso rapidamente.

-Devia ficar com ele na enfermaria. – Ela ignorou minhas perguntas novamente, chegando mais perto. – Eu sei que você quer ficar, não é?

Eu não sei, mas tive uma ligeira impressão que ela me deu um sorriso malicioso.

-A Yuki tá com ele. – Falei, deixando transparecer um pouco da minha indignação sobre o caso. - Ela ficou para eu poder ver minhas notas em ciências.

-Mas você não quer. – Ela falou de prontidão, agora me empurrando pelos corredores. – Vamos lá, vocês tem muito que conversar não? Ele te deve explicações.

Parei na frente da sala do primário, arregalando os olhos para ela.

-Eu estou ficando com medo de você! – Quase gritei, segurando meus cabelos. Logo minha expressão se tornou desconfiada. – Você está me perseguindo? Está nos espiando?

-Eu te conto tudo depois, mas primeiro tens que entrar naquela porta ali e fazer acontecer. – Ela apontou para a porta branca da enfermaria, com uma pequena janela no centro.

-Promete? –Falei a fitando meio apreensivo. – Promete mesmo?

Ela assentiu com a cabeça, com um sorriso carinhoso e me empurrou para que eu entrasse.

-Ér... Oi! – Falei com um sorriso sem graça.

Tom estava sentado na maca, olhando seus pés, enquanto Yuki arrumava sua mochila. Ela olhou para mim confusa.

-Tu não ias pra aula de ciências?

O que eu falaria? “Ah, é porque eu quero muito ficar com meu irmão gêmeo porque sinto uma baita excitação por ele, e isso é bem melhor do que ouvir a reprodução humana pela milésima vez!”

Não mesmo.

-Eu peguei a prova de alemão dele e queria... – Ele olhou para mim. Parecia nervoso. – Queria conversar com ele sobre isso.

Yuki deu um sorriso compreensivo e pegou sua mochila cheia de penduricalhos.

-Então eu vou pra aula de ciências e pego a prova pra você, ok? – Ela bateu no meu ombro e deu um aceno para Tom. Olhei todos os detalhes das suas mãos balançando e o que seus olhos trasmitiam, mas não vi nada demais, então sorri e fechei a porta para ela.

-E ENTÃO? QUANTO EU TIREI? – Tom gritou, tentando olhar o papel em minha mão.

-Bom Tom, eu... – Fingi tristeza, olhando para baixo e mexendo meus pés nos velhos passos do rebolation que eu sempre fazia quando estava pensativo. – Eu estou decepcionado.

Os olhos de Tom ficaram apagados, sem luz alguma, vi a tristeza neles. Suas costas estavam arqueadas para frente, deixando os dreads caírem em seus ombros, agora mexendo as mãos freneticamente.

-Bill, eu... Eu realmente pensei, olha, eu realmente pensei que tinha melhorado... – Ele tentava dizer, ainda olhando para baixo, meio constrangido.

Aquela sua expressão estava apertando meu coração. Aquilo era tão ruim de ver, ele ali, triste e abatido. Corri e sentei do seu lado, passando a mão sem suas costas, em forma de carinho.

-Fiquei decepcionado com você, Tom. – Coloquei o papel em sua mão. – Eu realmente pensei que você tiraria uma nota ruim.

Ele soltou um grito (macho, claro.) de felicidade, pulando da maca e me fitando com novamente o brilho em seus olhos.

-EU NEM ACREDITO, MEU DEUS! – Ele gritou novamente, dessa vez me levantando da maca com um só braço e me rodopiando pela enfermaria. –Ah, obrigado, obrigado!

-Tudo bem, agora me coloca no chão. – Falei segurando o seu ombro bom com um sorriso meio constrangido.

Tá, eu fiquei bastante constrangido por ele ter pegado no meu traseiro, mas estava feliz por ele estar feliz.

-Ah irmãozinho, o que eu seria sem você... – Ele me abraçou agora ternamente, deslizando as mãos pelas minhas costas. – Hum?

-Talvez um péssimo em alemão? – Murmurei com o rosto em seu pescoço, inspirando seu perfume cítrico que dei para ele de aniversário.

-Eu não seria nada.

O clima ficou meio tenso, e agora eu estava me sentindo pouco à vontade, mas a aconchegado ali em seus braços, então não me mexi, deixando ele me embalar pelos seus carinhos.

-Eu te amo. –Eu sussurrei automaticamente, roçando meu nariz em seu pescoço. – Pra sempre.

Seu corpo se arrepiou com meu toque e ele ficou pouco à vontade, me soltando logo em seguida.

-Eu também te amo.

Assustei-me ao ver que sua face era de dor, agora manchada de lágrimas. Em um gesto voluntário, depositei vários selinhos em seu rosto, roçando meus lábios em suas lágrimas. Parei do lado de seus lábios, dando-lhe um beijo demorado perto de seu piercing.

Para a minha surpresa ele me beijou.

É SÉRIO, ELE ME BEIJOU!

E foi de língua.

Suas mãos agora ensaiavam apalpar minhas ancas, segurando o cós da minha calça. Eu apertava suas costas sob a camisa branca, deixando algumas marcas avermelhadas com minhas unhas compridas. Sua língua dançava com a minha, em uma dança improvisada e confusa.

Aquilo era tão novo para mim, eu mal sabia o que fazer quando ele enfiava a língua em minha boca... Ninguém nunca tinha me beijando assim, nem mesmo o Damiam porque eu nunca deixava.

Optei por sugá-la, a deixando lá por mais tempo possível, mas demorou uma eternidade para eu pegar o ritmo da coisa, e mesmo assim eu ainda estava beijando ridiculamente ruim.

Cedo demais, ele me soltou, com a respiração irregular e os olhos confusos. Parecia ter acabado de cometer um pecado.

Tá, ele cometeu um pecado.

Tom me fitou por mais um segundo e depois pegou sua mochila e saiu da enfermaria quase correndo, fechando a porta delicadamente.

Fiquei ali brisando por mais uns minutos e pensando no que eu tinha acabado de fazer com meu irmão. Tentei achar alguma coisa errada naquele ato, mas eu não conseguia, eu só sentia uma enorme vontade fazê-lo novamente.

Tinha sido doce, foi inocente, o que tinha de errado com aquilo?

Será que foi realmente inocente assim?