Confia em Mim?

Quer uma ajudinha com isso?


Ok, agora Tom estava me tratando como se eu fosse um monstro preste a comê-lo. Não ficava perto de mim, toda vez que eu chegava perto dele, ele recuava, não queria que eu o tocasse... Isso estava me deixando deprimido. Mas eu sabia porquê ele estava assim.

Eu tinha gostado do beijo.

E eu queria mais.

Talvez ele não tenha gostado como eu gostei e não queria dizer isso pra mim, para não me magoar. Pobre Bill, sempre desprezado e pisoteado pelos homens. POR QUE NINGUÉM ME QUER?

Eu fiquei me perguntando isso por um tempão, enquanto Yuki e Zuzk riam. Sim, elas estavam RINDO QUE NEM UMAS HIENAS GRIPADAS. Do meu sofrimento. Idiotas.

-Bill, você é tão noob em amor que eu fico chega atordoada. – Zuzk falou com uma risadinha debochada. – Tá legal, você gostou do beijo que você teve com seu irmãozinho, tudo bem, nós não vemos irmãos praticando incesto aos bandos na rua, mas pra mim isso é só mais uma anomalia do mundo.


-Anomalia? – Falei, arregalando os olhos. – Você é louca! Eu não sou anormal!


-É porque a Zuzk é totalmente ignorante. Ela quis dizer que é pecado, anormal, um tabu. – Yuki falou, fazendo as equações de matemática como se fosse cruzadinha.

-É verdade, mas eu queria beijar ele de novo. – Falei amuado, pegando um livro de filosofia e abrindo na página indicada na minha agenda. – Ele é tão gostoso...


As duas pararam tudo e olharam pra mim, chocadas, logo soltaram uns gritos ruidosos.

-MEU DEUS BILL, VOCÊ ESTÁ LOUCO DE PAIXÃO, HEIN? – Yuki logo bufou, jogando minha agenda da “Plush Poison” na minha cara. Ela é uma delicadeza em pessoa.

-QUEM DERA YUKI, NOSSO BEBÊ DEMONSTRANDO SEU LADO SEXUAL. – Zuzk logo retrucou, me cutucando com o cotovelo e aquele sorriso malicioso. – Uuuuuuuui!


Claro que eu fiquei que nem o tomate que minha mãe devia estar cortando lá embaixo na cozinha para a salada do almoço. Credo! Eu disse mesmo aquilo?

-Ér, eu... – Comecei a gaguejar, olhando para a janela. – Eu...

-Ó QUE BONITINHO ZUZK? - Yuki gritou, apertando minha bochecha. – Ele fala e depois fica com vergonha! Own!


- QUAL É A RAIZ QUADRADA DE MIL DUZENTOS E QUARENTA E TRÊS? – Gritei, olhando para o dever de matemática, tentando tirar aquela conversa do ar.

-QUAL É A RAIZ QUADRADA DE QUANDO BILL TÁ COM TESÃO? – Yuki gritou, ainda dando uma risada maliciosa.

-TOOOOOOOOOOOOOOM! – Zuzk gritou, e elas fizeram uns gestos com as mãos.

-Com licença, crianças! – Minha mãe entrou no quarto com uma muda de roupas minhas. – Tem uma amiga sua lá embaixo perguntando se pode subir. Mando ela subir?


-Quem é, Bill? – Yuki perguntou, jogando os livros pro lado com uma súbita curiosidade. – Eu não sabia que você tinha outras amigas.

O problema era que eu não fazia idéia de quem seria essa tal “amiga”.

-Como é o nome dela? – Perguntei confuso. Tentava me lembrar de qualquer garota da minha escola que tenha falado comigo esses dias, mas só me lembro de conversar com Yuki e Zuzk, minhas discípulas desde maternal.

-Ah! Eu não perguntei... – Mamãe falou, colocando minhas roupas no meu armário. – Querida pode subir aqui? – Ela gritou para a porta.

-ESTOU SUBINDO!


Então ouvimos passos rápidos nos degraus da escada e logo a menina de dreads apareceu no vão da minha porta, com um sorriso brincalhão suas roupas puídas.

-OI BILL! – Ela gritou, com aquela cara feliz.

-Ah, ooooooooooi! – Falei entusiasmado, levantado e a abraçando. Agora me lembrava bem dela, a menina desconhecida que tinha super poderes ou coisa parecida. – Como achou minha casa?


-Ah! Perguntei para as pessoas lá da escola... – Ela falou, entrando no quarto e jogando sua mochila surrada de um lado do meu quarto e dando um sorriso simpático para minha mãe. – Obrigada por me receber, dona Simone!


-O prazer foi meu! – Mamãe falou, indo para a porta. – Vais ficar para o almoço?


-Hm... – Ela olhou para mim em tom sugestivo.

-Ela vai ficar sim, mãe. – Falei, fazendo menção para ela sentar do meu lado no tapete roxo do meu quarto. – Senta aqui.


Mamãe fechou a porta do quarto e ela se sentou ao meu lado, dando olhares para minhas amigas.

-Bom, Zuzk e Yuki, essa é...


Então descobri que não sabia o nome dela. MEU DEUS!

-Não gosto do meu nome, me chame de Nap. – Ela falou rapidamente, com um meio sorriso nos lábios. Ela tinha a mesma coisa de Tom, aquela coisa... Sei lá, aquele olhar de “vou te comer uhuhuhu”. Era muito assustador.

-Tudo bem! – Yuki falou, quebrando o clima tenso. – Prazer em conhecer!


-Eu também. – Zuzk murmurou, mas pela cara dela, não estava nada prazeroso.

Silêncio.

-Bom, eu vou indo, tenho que pegar meu irmão na brinquedoteca. – Zuzk quase sussurrou, com uma expressão meio agoniada, levantando com seus livros e sua bolsa.

Eu não sei, mas Zuzk não foi com a cara da... Nap, ela simplesmente não conseguia olhá-la por muito tempo, até fazer uma expressão de desgosto. Mas ela tinha acabado de conhecê-la!

-Já, Zuzk? – Yuki estranhou, junto comigo. – Tens certeza?


-Sim. – Ela falou meio dura. – Vem comigo?

Yuki olhou para mim e depois para Nap, com as sobrancelhas erguidas, em sinal de preocupação. Dava pra ver, qualquer sinal de tristeza que a Zuzk apresentava, ela logo chegava aos prantos com sua preocupação, porque bem...

Zuzk já tentou se matar com os remédios da mãe, quando o irmão gêmeo de seu irmão morreu em um acidente com o ônibus da escola. E quem a salvou? Sim, a Yuki que por acaso foi fazer uma visitinha rápida para a amiga quando soube do ocorrido, ela logo chamou a ambulância e então... Nós cuidamos dela como se fosse nossa filha ,e ela melhorou com o tempo, mas mesmo assim é bem cuidadosa com o irmão que ficou.

-Vou sim... – Yuki parecia se sentir triste pela amiga ter mudado de humor. – Eu vou indo, ok Bill? Nós nos vemos por aí, Nap!


-Claro. – Nap, falou, olhando minha agendinha da plush poison.

Então as duas passaram pela porta do quarto, fechando delicadamente.

-Então, Bill! – Nap bateu as mãos, tirando dos meus devaneios. – Como foi com o Tom?


-Ér, foi... Interessante né? – Falei meio sem graça, dando uma risadinha.

Então ela pendeu para trás e deu uma gargalhada feliz, mas com um toque cínico na voz. Ela tinha aquela aparência aveludada, delicada, mas ao mesmo tempo tão forte... Isso me encantava.

-Só interessante? – Ela debochou com aquele sorriso lindo malicioso. Ah, ela era tão linda!

-Ér... – Eu estava incrivelmente embaraçado. Seus olhos me sondavam com um toque divertido e protetor, esperando a minha reação totalmente encabulada. Desisti de tentar falar, eu não conseguiria. Suspirei fundo e fechei os olhos.

- Tu gostas dele, não é?


Não era para eu ficar tão impressionado assim. (A CRIATURA TINHA PODERES TELEPÁTICOS TAMBÉM, SOCORRO, MINHA MENTE ESTÁ SENDO SONDADA!), ela parecia saber de tudo da minha vida, tanto quanto o Tom.

-E-eu... – Hesitei em falar mais da minha vida para aquele ser tão lindo e amigável, ela já parecia saber a resposta, mas queria que eu falasse com as minhas própria palavras, que não foram tão inspiradoras ou bonitas assim.

-Eu gosto sim. – Sussurrei bem baixo, olhando para o livro no meu colo. –Mas meu amor é ilegal.


-Tu não gostas de quebrar regras, Bius? – Ela falou divertida, me cutucando para eu olhá-la. –Vamos lá! Amor não pode ser ilegal.

-E as pessoas? Qual será a reação? – Perguntei quase choramingando. Estava odiando falar sobre aquilo.

-Se você realmente amá-lo, tu não vai ligar para o que os outros irão pensar, Bill! – Ela insistiu, segurando meu rosto com suas longas mãos.

Minha mente girava com altos pensamentos que não chegavam a lugar nenhum, cenas minhas e de Tom rolando em grama verde quando tínhamos seis anos até as cenas da enfermaria... Meus pêlos se eriçavam só de pensar nas sensações que senti com aquele beijo. Quase enlouquecedor.

Mas isso tudo foi interrompido quando lembrei de um detalhe.

-EI! TU TÁ ME DEVENDO EXPLICAÇÕES! – Gritei, apontando para ela. – Eu mal sei quem você é! Um ser humano é que não é.


Ela deu uma risada e sentou-se ereta, olhando para mim seriamente.

Então ela começou a falar sem parar coisas sem sentido para mim. Que ela era uma espécie de Fluffy, Persönliche Beziehungen e que ajudava as pessoas em relacionamentos. Eu entendi o que ela falou, mas eu boiava muito, porque... AQUILO NÃO É DESSE MUNDO!

-E então? – Ela falou, quando finalizou seu discurso. – Quer ajuda com o Tom, ou não?


-Eu... – Não era o que eu queria? Eu não queria o Tommi para mim? Então eu tinha que ser decisivo alguma vez na vida. – Quero sim.

Ela deu um sorriso tão grande que pensei que a boca dela ia ficar arregaçada e se lascar no meio.

-Então... – Ela pegou um caderno meu da fadinha e começou a escrever umas coisas que eu não conseguia ver. – Eu vou escrever algumas “regras” que você tem que usar com o Tom, ok?


-Regras? – Falei meio apavorado.

-São mais dicas, mas sempre tente usar perto dele, ok? – Ela fez um sinal meio bizarro para mim com as mãos.

-Tá certo então, né? Acho que vai ser fácil. – Falei já batendo palmas com um sorriso retardado. Ela me olhou de soslaio com uma cara meio emburrada, como se estivesse analisando.

-Pare com isso. – Ela disse e voltou a escrever no papel.

Eu parei e fiquei com a minha cara de pamonha, tentando ler o que estava escrito, mas ela sempre desviava, bufando alguma coisa.

-Ô BILL, QUE TAL TU PERGUNTAR SE O ALMOÇO TÁ PRONTO? –Ela gritou com um riso nervoso.

-Hum, você tá com fome né? – Falei, coçando o queixo. Ela bateu na cabeça, murmurando alguma coisa. – Então vou falar com a mamãe!


Desci as escadas rapidamente, cantarolando uma música infantil alemã e abraçando minha mãe por trás.

-E aí? Vão almoçar? – Ela perguntou, colocando tomate na salada.

-Sim, sim! Nap está com fome. – Falei, roubando uns tomates.

-Nap? – Ela perguntou com a testa franzida.

-É o apelido dela, não gosta do nome. – Falei com um sorriso, saindo já da cozinha. – Já vamos descer!


-Tudo bem. – Ela falou, continuando a arrumar a salada.

Parei na frente da escada. Aquilo estava me corroendo, eu precisava perguntar.

-Mãe, o Tom foi aonde? – Perguntei, meio indiferente.

-Ah, está na casa do Georg, não sei se vem para o almoço, a mãe de Georg disse que os dois estão fazendo um trabalho de filosofia, certo? –Ela parou o que estava fazendo e me olhou, como se quisesse saber se o seu filho mais velho 10 minutos estava mentindo para ela em plena semana de aulas.

-Certo, eu e Yuki estávamos fazendo também. – Falei com um pouco de sorriso, subindo as escadas.

Quando entrei no meu quarto, Nap estava esparramada na minha cama, cutucando no meu celular.

-Mas é muito folgada mesmo... – Resmunguei, pegando meus livros do chão e colocando na mochila. Ela riu, e colocou meu celular no lugar.

-Tom está falando do Georg sobre você. – Ela falou indiferente, pegando a mochila surrada e tirando umas coisas de lá.

-Séééééééério? – Perguntei animado. Ó, falem bem ou mal, mas falem de mim.

-Aham, ele gosta de ti também, né? Mas tu sabes que Tom é uma porta. – Ela falou com uma risada divertida.

-Hum. – Foi só o que falei, com um bico enorme. Ah, eu não gostava quando ela chamava o Tom de porta, não gostava mesmo!

-Ah, não fica assim, ele é legal. – Ela disse, me abraçando e em seguida me puxando para a escada. – Vamos almoçar.


E então descemos e almoçamos em paz. Nap e mamãe tinham coisas em comum e logo mamãe ganhou a confiança nela, ela ajudou mamãe a arrumar a cozinha e enxugar os pratos, enquanto eu lavava o banheiro, logo a porta de casa foi aberta com um enorme grito que eu já conhecia.

-MAMÃE, CHEGUEI! TROUXE O GEORG COMIGO, OK? – Tom gritou, chegando à cozinha com Georg atrás dele.

-Ah tem comida na geladeira, acabamos de comer... – Mamãe continuou secando os pratos, Nap agora olhava para Tom com indiferença, mas com um pequeno sorriso simpático.

-Tom, está é Nap, Nap, está é Tom! – Gritei do banheiro, pegando o balde e indo para a cozinha.

-Ah, prazer! – Tom murmurou, pegando a mão dela com um sorriso malicioso. Ok, aquilo não estava legal. – Gostei do cabelo.


-Meio óbvio né? – Ela falou baixo, aumentando o pequeno sorriso. Os dois meninos gargalharam.

-Aí, gostei de ti! – Georg falou, dando leves tapinhas nas costas dela. – Seu nome é Nap mesmo?


-Não, mas meu nome é ridículo, me chamem de Nap.


-Bom, eu vou subir com a Nap, nos vemos por aí. – Falei para os dois, puxando a Nap comigo.

Tá, eu não gostei nem um pouco como o Tom olhou para ela. Eu conhecia muito bem aquele olhar... De “Eu vou te comer, tu vai ver.” Poxa, ela era para me ajudar, não para atrapalhar!

-Tá, isso não estava nos meus planos. – Ela falou assim que eu fechei a porta do quarto. – O Tom não podia me conhecer! –Eu nunca tinha visto ela assim, espantada e amedrontada, ela sempre me passava uma imagem confiante e segura.

A coisa podia ser séria mesmo.

- O que você quer dizer? – Perguntei meio irritado, agora dançando rebolation na frente do meu grande espelho.

-Agora eu posso estragar tudo entre vocês! – Ela quase gritou, se jogando na minha cama.

Agora era o meu momento Gustav: “HÃ?”

-Você... Você acha mesmo que eu não sou capaz de conquistar o Tom? – Perguntei agora virado para ela, com uma expressão muito séria, nunca vista em mim mesmo.

-Olha, é que... – Ela gaguejou, ficando sentada na cama.

-Você acha mesmo que eu vou ser comparado a qualquer menina de dreads que aparece na frente dele? – Perguntei novamente, aumentando a entonação da voz.

-Bill, não leve a mal...


-Você acha... – Apontei meu dedo indicador para ela. – QUE O TOM VAI ME TROCAR POR VOCÊ?


-Bill! – Ela gritou, com censura.

-NUNCA, OK? EU QUERO MUITO ELE, EU O AMO, E NÃO É VOCÊ QUE VAI ESTRAGAR! – Gritei com a cara já emburrada, me trancando no meu banheiro.

Olhei-me no espelho com uma expressão determinada. Eu não ia deixar a Nap roubar o meu irmão e futuro namorado. Ponto final.

-Bill... – Ela murmurou do outro lado da porta. – Estou orgulhosa de você, bebê.


Aquelas palavras me tiraram da minha linha do raciocínio. Orgulhosa? Pelo quê? Que eu saiba, eu não tinha feito nada demais. Franzi a testa para o espelho.

-Orgulhosa? – Perguntei baixo, agora com dúvida e confusão na voz.

-Sim, Bill. Não está vendo? – Ela fez uma pausa, dando uma risada. – Você mudou.

Eu mudei?

Abri a porta e a olhei. Não demorou em seus pequenos braços estarem me rodeando em um abraço apertado e reconfortante.

-Bill, você está forte, determinado, decisivo, confiante... Pergunto a você: Você sempre foi assim? – Ela sussurrou no meu ouvido, com o rosto pousado em meu ombro.

Então eu realmente parei para pensar. Realmente eu NUNCA fui assim, ao contrário, eu era tímido, nunca fui muito determinado, era um completamente desacreditado e inseguro.

-Não... – Murmurei fraco, aumentando minha respiração e meu sorriso.

-Você cresceu, Bill. Não é mais apenas um nerd. – Nap continuou sussurrando. – Isso o amadureceu, tudo o que você passou... O Damiam, o seu amor pecaminoso... Agora você está pronto para conquistar o coração do Tom, porque não há ninguém nesse mundo que complete o coração daquela porta, do que você. Nem mesmo uma menina qualquer com dreads. – Ela completou, com uma risada, e me soltou.

-Obrigada... – Sussurrei, deixando escapar uma única e solitária lágrima de emoção. – Por tudo.


-Não tens que agradecer a mim. –Ela falou carinhosa, afagando o meu rosto. – Tens que agradecer a si mesmo.


Dei um enorme sorriso, dando um forte abraço nela novamente.

Sim, se prepare Tom Kaulitz, um novo Bill o espera.