Repreendia-se por não estar contente, mas era inevitável seus questionamentos e sua, eternamente negada, decepção. Não houve uma festa dada pela nobreza sem que aquele maldito intruso não a tirasse do sério com seus joguinhos e sorrisinhos dignos de um beijo soco, dignos de um soco. Um bom gancho de direita sem dúvidas. O que importa é que a Hellsing saiu da tradicional festa de Halloween, dada pela rainha, mais cedo (que o costume) indo diretamente até onde não devia. Caçava motivos lógicos para estar a procura da criatura, um dos menos constrangedores que encontrou era a data. O dia 31 de outubro, por mais clichê que seja, era uma das datas favoritas do conde, notou ter igual valor para a novata Policial que insistia em vestir uma fantasia laranja e roxa e distribuir doces para as crianças do bairro. Era comum a garota desaparecer da mansão nessa noite, Alucard não. Muito pelo contrario. Enquanto a menina ficava com a parte dos doces e prendas ele ficava com as malditas travessuras que começavam cedo e terminavam, com chave de ouro, com uma Integra louca o perseguindo com a maior arma que pudesse carregar. Sua maior curiosidade era o “porquê” do sumiço, no inicio da noite achava que o trunfo do vampiro esse ano era permanecer quieto o máximo possível e depois soltar uma bomba que faria Integra demolir o prédio sobre sua cabeça imortal e sadomasoquista.

Parou de viajar mentalmente quando quase tropeçou no final da escada pensando que os degraus ainda não haviam acabado. Talvez fosse uma espécie de aviso de seus ancestrais que foi ignorado completamente. Terminando de percorrer os corredores abriu a porta, do que seria a câmara do vampiro, sem nenhuma cerimônia. Encostou o ombro no batente cruzando os braços não acreditando no tamanho da ridiculosidade da cena. Seu bichinho de estimação estava em sua peculiar cadeira dormindo ou seja lá o que for.

“Morreu de vez?” Integra riu irônica ainda na mesma posição. Obteve um resmungo em resposta nenhum outro movimento se não as pálpebras se abrindo revelando uma íris bordo “Acabaram as ideias para joguinhos?” esperou algo como 'podemos jogar os seus agora' ou qualquer coisa ácida de duplo sentido, mas recebeu outro grunhido e um desvio de olhar. Agora estava incomodada, odiava ser ignorada seja por quem for “Está de TPM, é?” aproximou-se da figura negra que continuava olhando para outra direção ignorando os sons dos impactos dos saltos finos no piso frio.

“Precisa de alguma coisa, Mestre?” levantou uma sobrancelha e a encarou por rabo de olho quando a loira sentou em seu colo apoiando as costas no braço da cadeira onde descansava o punho.

“Não” Respondeu simples antes de pegar a taça com líquido semelhante a vinho na mesa ao lado “Só vim conferir se está vivo...” levou o cristal aos lábios afastando-os em seguida, claro que não ia beber “ou quase isso” só queria arrancar alguma reação do outro e teve sucesso.

“Estou de mal humor, se é o que minha mestra quer saber” desencostou o braço do apoio da cadeira procurando a cintura feminina como substituto

"Normalmente quando está de mal humor prefere torturar mentalmente qualquer desavisado da redondeza" brincou com a taça de cristal um pouco mais "Por que está se comportando bem de mais?"

“Porque já passa da meia noite, ou seja, já é dia primeiro de novembro e ainda não recebi minha parte do acordo” Integra rolou os olhos.

“Outra vez? Já não o teve o que queria ano passado?” descruzou as pernas em menção de levantar-se, mas o braço frio ao seu redor a impediu.

“Esse é o diferencial das datas comemorativas, Sir, elas se repetem todos os anos” já esquecera de sua posição impassível inicial “Julguei que minha senhora soubesse mais do que qualquer outro, esqueceu-se do acordo? Nem faz tantos anos assim” completou com um meio sorriso malicioso e vencedor.

Referia-se há (quase) exatos dez anos onde uma jovem Integra encontrava-se triste pela aproximação de datas anteriormente comemoradas junto a seu pai que falecera tão recentemente. Isso inclui o dia das bruxas quando ficavam próximos a lareira com a criança dividindo os doces com Arthur. Dessa vez ela estava só com as chamas, com a lenha e com uma, não mais tão empolgante, sacola de doces. A menina engoliu o choro quando uma sombra adotava as características do vampiro sentando-se ao seu lado. Acabou por dividir sua recente dor com o imortal, mesmo sabendo que ele não teria pra si algum sentimento.

“Sentirei falta dos presentes do papai” Soltou as palavras segurando as lágrimas.

“O mordomo pode lhe conseguir o que pedir, Mestre” foi simples e a menina riu.

“Os presentes do papai eram sua companhia” Voltou séria “Estava sempre ocupado, mas nessas datas dava-me toda sua atenção, principalmente no meu aniversário” Alucard manteve o silêncio e a menina apegou-se a primeira coisa que lhe veio a cabeça para poder mudar o assunto porque este já estava se tornando torturante de mais “E você? Costumava ganhar algo especial de aniversário?”

Algo que o centenário já havia esquecido ha muito, não fazia a menor ideia de que dia comemorava seu aniversário, seja de nascimento ou de renascimento. Deu de ombros e a menina entendeu.

“Se é assim, podemos escolher uma data nova” Sorriu de forma infantil como não fazia há meses “Que tal hoje?” Alucard levantou uma sobrancelha “Acho muito apropriado” riu contente apontado para uma bala em formato de dentes de vampiro dentro de sua sacola de doces.

“Se é o que a senhora deseja...” deu de ombros, há essa altura do campeonato não estava nem ai para uma data comemorativa humana, só faltava a menina dar-lhe um bolo com mais de quatrocentas vela acesas.

“Então, devo-lhe um presente” tateou a sacola de guloseimas tirando um bombom de embalagem vermelha pondo na direção do vampiro que encarou o doce com indiferença “Ah é verdade” abaixou a cabeça lembrando da situação de restrição alimentar do outro que estremeceu o corpo frio ao sentir lábios pequenos tocar-lhe a maça do rosto. Cerimônia que se repetiu pelos anos, mas não deixando de sofrer algumas alterações pela idade. A primeira foi quando a Hellsing tinha quinze anos, o vampiro virou o rosto e a menina acertou-lhe os lábios. Depois com dezoito Alucard exigiu um beijo 'decente' como ele mesmo descreveu.

“Aquilo não foi um acordo tão pouco uma promessa” Integra corrigiu rápido cruzando os braços e virando a face.

“De qualquer maneira uma rotina” Deu-se a razão

“Não distorça as coisas”

“De qualquer maneira quebrou a tradição” Voltou a carregar a cara impassível de antes “Além disso, exijo modificações, já que um mero beijo arranco-lhe a hora que eu quiser” Sorriu malicioso com a cara insatisfeita da mulher que provavelmente lembrará de todos esses malditos roubos.

“Exige?” levantou uma sobrancelha “O que você é para exigir algo?”

“Um injustiçado por sua quebra de trato” riu vitorioso

“Drama Queen” Sorriu de lado “Não haverá 'ajuste' nenhum em seu 'presente' ou seja lá o que isso for” foi interrompida.

“Nem mesmo algo a mais pelo descuido da parte de minha mestra em deixar passar a data?” sugeriu malicioso.

"Como assim deixar passar a data!?" levantou a voz ofendida.

"Passa da meia noite, já é dia primeiro" sorriu com as presas a mostra.

“Você não vale o que come” entreabriu os olhos aproximando-se do rosto frio que a puxou depressa para si tamanha a ansiedade.

Mesmo não podendo o sem-vida exigiu maior contado, um beijo molhado que era quebrado rapidamente para a outra ter o mínimo de ar para que seu sistema humano funcione. Apertava-lhe contra o corpo pesado com o baço enrolado na cintura e com o outro explorava a pele alva da coxa feminina através da abertura lateral do vestido negro. A outra apoiava-se no braço da cabeira com o braço esquerdo esticado e com o direito puxava os fios negros de trás da cabeça, hora para mais perto de si, hora para longe procurando um meio de respirar. Sentiu seu vestido ser puxado para cima e a fenda revelando mais do que deveria ao chegar no início da coxa. Gemeu alto sentindo a mão fria percorrer os músculos internos das coxas. Ela lutou para separar os rostos e fez questão de colocar os dedos na frente dos lábio, antes frios e agora quentes pelo contato, para garantir que não voltassem a se unir. Riu sádica com o gemido de reclamação do outro.

“Até o ano que vem, conde”

“Isso é como um acordo?” resmungou tentando retomar o que faziam antes, mas sendo repelido.

“Não, talvez como uma tradição”